Quatro anos de prisão para a jornalista julgada em Xangai: este é o veredicto anunciado contra Zhang Zhan, condenada por sua cobertura do início da pandemia em Wuhan, na China. O julgamento, que começou nesta segunda-feira (28), durou poucas horas. Presa em maio passado, a jornalista de 37 anos foi acusada de "causar problemas" ao espalhar "notícias falsas" - uma acusação usada com frequência contra oponentes do regime.
Dois Z's para assinar seus vídeos: "Eu sou Zhang Zhan", dizia a ex-advogada, cujas reportagens produzidas pelo celular e que surgiam durante a noite em Wuhan, no início da primavera passada, muito desagradaram às autoridades. Desde então, o rosto redondo e a silhueta da jornalista diminuíram na detenção, de acordo com Ren Quanniu, um de seus advogados. Em greve de fome, alimentada à força por um tubo nasal, ela estaria muito fraca.
"Quando a visitei no centro de detenção preventiva", relatou Quanniu, "ela dividia a cela com muitos outros detidos. Ela tem espaço suficiente para se mover, mas de qualquer maneira ela está permanentemente amarrada".
Em seus vídeos e reportagens online, Zhang Zhan mostrou o caos dos hospitais no início da pandemia. Ela também criticou a gestão das autoridades locais e, em particular, o longo lockdown na capital Hubei. Detida já em 2018 por "problemas à ordem pública", e um ano depois, em 2019, após expressar seu apoio aos manifestantes de Hong Kong, ela agora é acusada de espalhar boatos nas redes sociais.
Primeira jornalista a ser julgada por sua cobertura de Wuhan, Zhang Zhan se recusou a se declarar culpada - uma vez que suas informações foram coletadas em primeira mão junto aos cidadãos - mesmo sabendo que poderia enfrentar uma sentença de prisão de 5 anos.
"Todos que procuraram lançar alertas foram criticados ou condenados, de maneira que a informação não circulasse. A posição oficial é imposta. E é aí que está o problema, pois o vírus circulou rapidamente, não somente na China, mas fora do país. Não se estava realmente informado do perigo que isso representava, do fato que poderia ser transmitido de uma pessoa para a outra, por exemplo", avalia a especialista em China e Sudoeste da Ásia Valérie Niquet, em entrevista à RFI.
Pesquisadora da Fundação pela Pesquisa Estratégica, na França, Niquet enfatiza o quanto a falta de transparência das informações agravou a crise sanitária. "Algumas pessoas falaram logo sobre isso [o coronavírus] em Wuhan e o governo fez de tudo para que não se soubesse no exterior. É este o principal problema que o sistema chinês causa para o resto do mundo. Tudo que possa ameaçar o controle absoluto do partido, o discurso oficial, automaticamente não pode ser aceito. Enquanto não houver transparência, o risco potencial de outra pandemia vinda da China sempre existirá." A informação é do Portal UOL, na tarde desta segunda feira (28).
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