A maquina partidária é a capacidade de influencia geopolítica, financeira e política, que um partido possui, não somente em termos de defender seu território político, como também aumentar sua influencia geopolítica, financeira e hierárquica dentro e fora de seu espectro político.
Na área geopolítica, uma maquina partidária, as políticas territoriais na relação de poder e influencia dentro de seu espectro político, aonde se visa manter seu poder e influencia política dentro de um determinado seguimento. Uma maquina partidária, envolve no seu sentido geopolítico, o gerenciamento e expansão de poder e influencia de um determinado partido em um determinado espectro político.
Uma maquina partidária, na sua área hierárquica, garante a influencia absoluta de um determinado partido dentro do seu espectro político. Com uma maquina partidária, na sua área hierárquica, garante a influencia expansionista de um determinado partido, além das bases do seu espectro político.
No âmbito financeiro, uma maquina partidária, garante á um determinando partido, se sobrepor pelo poder econômico. Mantendo sua influencia geopolítica e hierárquica, uma maquina partidária, representa a concepção total na sua "natureza política", em uma clara manifestação da hierarquia econômica, política e territorial de um determinando partido, dentro e fora de seu espectro político.
Uma maquina partidária, garante a "natureza política" de um determinado partido, no seu total e absoluto poder e influencia expansionista por meio do seu poder econômico, que se traduz na "natureza política", dentro e fora do seu espectro político, em uma influencia geopolítica, hierárquica e financeira, pelo "natureza política" do poder econômico que uma maquina partidária proporciona á um determinado partido político.
Uma maquina partidária, garante á um determinado político, a plena capacidade de estrutura e poder político, para se adaptar organicamente a qualquer mudança em uma sociedade.
Um partido político é uma organização de pessoas que compartilham uma visão política e ideológica semelhante e se unem para influenciar ou conquistar o poder de governar. Seu principal objetivo é lançar candidatos para cargos eletivos, visando implementar seu programa de governo e representar os interesses de seus eleitores.
Base ideológica: Os membros se unem em torno de um conjunto comum de ideias, valores e princípios que orientam suas propostas e ações políticas.
Busca pelo poder: Os partidos competem nas eleições para eleger seus representantes e, assim, ter a chance de exercer o poder político no Legislativo ou no Executivo.
Organização estruturada: Possuem uma estrutura interna com estatutos, hierarquia e mecanismos para tomada de decisão. A filiação é voluntária, e os membros devem seguir as normas internas.
Vínculo com a sociedade: Servem como intermediários entre a sociedade e o Estado, traduzindo as demandas e os interesses de grupos sociais em propostas políticas.
Atuação em diferentes níveis: Podem atuar em esferas nacionais, estaduais e municipais, organizando-se em diretórios que representam a direção do partido em cada nível.
Funções dos partidos políticos
Lançamento de Elaboração de programas de governo: Formulam propostas e planos de ação para a gestão pública, que são apresentados candidaturas: São responsáveis por indicar e apoiar candidatos para as disputas eleitorais.
Incentivo ao debate público: Contribuem para a discussão de questões políticas e para a formação da opinião pública.
Organização da representação política: Agrupam representantes eleitos, facilitando a governabilidade e a articulação no sistema político.
Prestação de contas: São obrigados a prestar contas das receitas e despesas, principalmente durante as campanhas eleitorais, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em uma democracia, os partidos são fundamentais para o funcionamento do sistema representativo, permitindo que a população tenha suas diversas aspirações e interesses representados no governo.
A direita política abrange ideologias que defendem o conservadorismo social, o liberalismo econômico e a manutenção da hierarquia social. Já a extrema-direita se diferencia da direita tradicional por ser mais radical, autoritária, nacionalista e, muitas vezes, antidemocrática.
Direita política
A direita pode incluir diferentes correntes, sendo as mais comuns o conservadorismo e o liberalismo. Suas principais características incluem:
Conservadorismo social: Valorização de tradições, costumes e instituições como a família e a religião.
Liberalismo econômico: Defesa de um mercado mais livre, com pouca intervenção do Estado na economia, menos impostos e privatizações.
Hierarquia social: Aceitação da desigualdade social como algo natural, onde o mérito individual é o principal motor para a ascensão social.
Compromisso democrático: A direita democrática aceita as regras do jogo político, incluindo o debate público e a alternância de poder.
Extrema-direita
A extrema-direita é uma versão mais radical e frequentemente mais agressiva da direita, com pautas mais intensas e antidemocráticas. Seus elementos centrais são:
Ultranacionalismo e nativismo: Defesa de uma identidade nacional ou étnica homogênea e purista, rejeitando a diversidade e o pluralismo.
Autoritarismo: Valorização de um regime de "lei e ordem" forte e centralizado, com tendências antidemocráticas.
Anticomunismo e antiliberalismo: Forte oposição a ideologias de esquerda e, em alguns casos, também a aspectos do liberalismo, que é visto como um enfraquecedor da unidade nacional.
Populismo radical: Muitas vezes capitaliza a insatisfação popular para promover uma agenda que se opõe às elites políticas tradicionais, vista como decadente.
Antidemocracia: Pode questionar ou rejeitar o funcionamento das instituições democráticas, defendendo soluções violentas ou ditatoriais.
Diferença-chave
A principal distinção está no grau de radicalismo e na relação com a democracia. Enquanto a direita democrática opera dentro do sistema político existente, a extrema-direita frequentemente busca desestabilizar ou subverter esse sistema com o objetivo de impor uma visão mais purista e autoritária da sociedade.
Exemplo prático: Um partido de direita pode defender um corte de gastos sociais para favorecer o livre mercado, mas respeitando as regras democráticas. Já um movimento de extrema-direita pode defender o mesmo corte, mas justificando-o com discursos nacionalistas e xenófobos, além de atacar as instituições democráticas que se opõem à sua agenda.
Confira abaixo o artigo do autor Guilherme Casarões
Volume 11, Número 2, Novembro de 2022
Artigos Inéditos
Artigos Inéditos
O movimento bolsonarista e a americanização
da polítiVolume 11, Número 2, Novembro de 2022
ca brasileira:
causas e consequências da extrema direita no poder
Guilherme Casarões
Angola e Moçambique: avanços e recuos
da democracia
Mathias Alencastro
Traduções
Ucrânia e Rússia: guerra e regimes políticos
Timothy J. Colton
Propaganda digital: o poder dos influenciadores
Samuel C. Woolley
Por que a democracia alimenta teorias
da conspiração
Scott Radnitz
Como os autocratas instrumentalizam os direitos
das mulheres
Elin Bjarnegård e Pär Zetterberg
CONSELHO EDITORIAL Bernardo Sorj
Sergio Fausto
TRADUÇÃO
REVISÃO TÉCNICA
Fabio Storino
Otávio Dias
Beatriz Kipnis
DIAGRAMAÇÃO Felipe Martins | Wonderweb
Journal of Democracy em Português, Volume 11,
Número 2, São Paulo, Novembro de 2022
Plataforma Democrática
ISSN 2527-1369
Índice de catálogo sistemático:
Democracia, Política e Governo, Sociedade, Partidos Políticos, Políticas Públicas.
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PERIODICIDADE: Semestral
O movimento bolsonarista e a
americanização da política brasileira:
causas e consequências da extrema direita
no poder
Guilherme Casarões
Guilherme Casarões, doutor e mestre em Ciência Política pela
Universidade de São Paulo (USP), é professor da Escola de
Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas
(FGV-EAESP). Possui pesquisas e artigos publicados nas áreas de
política externa brasileira, extrema direita e nacionalismo religioso,
relações Brasil-Oriente Médio e teoria das relações internacionais.
É um dos coordenadores do Observatório da Extrema Direita.
Quando Donald Trump se elegeu presidente dos Estados Unidos, em
novembro de 2016, diversos analistas convergiram num diagnóstico
razoavelmente preciso, ainda que depreciativo: graças ao populista de
extrema direita que chegava ao poder, a política norte-americana teria
se “latino-americanizado” (Encarnación, 2016; Tharoor, 2017). Eles
se referiam aos traços demagógicos, misóginos, protecionistas e per
sonalistas que tornaram Trump popular num país outrora avesso a esse
tipo de fazer político, mas que eram comuns na história das nações ao
sul do Rio Grande.
O argumento é correto naquilo que remete aos aspectos pessoais
que viabilizaram não somente a eleição de Trump, mas também o fun
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Journal of Democracy em Português
cionamento de seu governo, baseados na construção de um inédito
populismo norte-americano. Mas há nele um ponto cego fundamental:
enquanto na América Latina os movimentos populistas eram inclusi
vos, voltados à incorporação das massas empobrecidas na sociedade,
o populismo representado por Trump e pela extrema direita republi
cana é fundamentalmente excludente, baseado na construção de um
regime iliberal, potencialmente autoritário, em que minorias não são
autorizadas a participar do processo democrático.
Com a ascensão do bolsonarismo, estamos diante de um processo
de americanização da política brasileira. Ironicamente, Jair Bolsonaro
é o primeiro presidente “jacksoniano” do Brasil, emulando a visão
política do presidente Andrew Jackson (1829-1837), recentemente
reeditada por Trump. Considerado o primeiro populista norte-ame
ricano, o general e ex-parlamentar governou o país confrontando as
instituições, desobedecendo decisões da Suprema Corte de proteção a
povos nativos e implementando um modelo de democracia majoritária
e antielitista – em benefício de uma classe média branca e masculina
(Casarões, 2022).
Com isso, não quero sugerir que a extrema direita nacional não
tenha raízes, das mais variadas, nas ideologias radicais que emergiram
no Brasil ao longo do último século. Mas essa expressão particular
contemporânea do reacionarismo brasileiro, do qual o presidente Bol
sonaro é a face mais visível, constituiu-se a partir de ideias, gramáticas
e estratégias fortemente internacionalizadas – e, em larga medida, im
portadas das diversas correntes que compõem o mosaico da extrema
direita norte-americana (Encarnación, 2018). O bolsonarismo é, antes
de tudo, um movimento transnacional, que tem nos Estados Unidos
seu principal horizonte, tanto na formatação de uma ideologia como
na construção de uma nova realidade política.
Esta constatação explica dois movimentos observados no Brasil
desde a ascensão de Bolsonaro como candidato viável à Presidência
Journal of Democracy em Português, Volume 11, Número 2, Novembro de 2022
© 2022 National Endowment for Democracy and The Johns Hopkins University Press
Guilherme Casarões
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da República, em 2018. O primeiro deles é a insistente tentativa, por
parte do bolsonarismo, em legitimar-se a partir das conquistas políti
cas do trumpismo. Como cristas de uma onda global de extrema direi
ta, difi cilmente Bolsonaro teria conseguido se eleger sem as condições
internacionais oferecidas pela chegada de Trump à Casa Branca, tanto
no plano simbólico-estratégico como no plano material – que envolve
ram, entre outras coisas, o apoio direto à candidatura bolsonarista por
parte de grupos ligados ao governo americano.
O segundo é a transformação do Brasil no bastião da guerra cul
tural dos “defensores do Ocidente”: após a derrota de Trump na sua
corrida pela reeleição em 2020, os olhos da extrema direita americana
(e mundial) voltaram-se para as eleições brasileiras de 2022. Nas pala
vras de Steve Bannon, ex-estrategista da Casa Branca e o mais notório
representante da alt-right dos EUA, a disputa presidencial no Brasil
deste ano é a segunda mais importante do mundo – e a mais decisiva
da América Latina (Pagliarini, 2021).
Este artigo tem como objetivo analisar a ascensão da extrema direi
ta contemporânea no Brasil e situá-la no contexto da americanização
da política brasileira. Ele será dividido em quatro partes. Na primeira,
buscarei apresentar os elementos fundamentais do bolsonarismo como
expressão da direita radical, discutindo sua noção particular de demo
cracia majoritarista ou iliberal. Em seguida, demonstrarei como o bol
sonarismo se construiu como movimento transnacional, inspirado em
sua contraparte americana (o trumpismo), a partir de três movimentos:
emulação, articulação e internalização. Cada subseção, na segunda
parte, dará conta de um dos conjuntos de atores que dão forma ao mo
vimento bolsonarista: os templários digitais, os pastores patriotas, os
libertários tropicais e os conservadores em armas. Por fi m, a terceira
seção apresentará refl exões fi nais sobre o tema, diante dos resultados
das eleições presidenciais de 2022 no Brasil.
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Journal of Democracy em Português
O que é a extrema direita brasileira?
Não existe somente um movimento de extrema direita no Brasil.
Há vários, de tamanhos e matizes diversos, que se espraiam pela his
tória do século 20. A mais emblemática dessas manifestações políticas
foi o integralismo, ideologia de corte fascista que se cristalizou no pri
meiro partido de massas do país e que, até hoje, infl uencia movimen
tos e grupúsculos radicalizados em atividade. No entanto, de ufanistas
autoritários ligados ao falecido político Enéas Carneiro a ultracatóli
cos do Centro Dom Bosco, passando por skinheads e neonazistas, o
arco da extrema direita brasileira é amplo, plural e complexo (Caldeira
Neto, 2020).
O bolsonarismo é, sem dúvida, a expressão contemporânea mais
consolidada da extrema direita tupiniquim. Em gestação desde pelo
menos 2016, esse movimento possui afi nidades e sobreposições com
outros membros de sua família ideológica, mas não necessariamente
se confunde com eles. Além do tamanho – afi nal, 56 milhões de bra
sileiros foram às urnas eleger Jair Bolsonaro à presidência em 2018,
e 58 milhões votaram por sua reeleição em 2022 – e da capilaridade
genuinamente nacional, o bolsonarismo distingue-se de outros grupos
por sua maleabilidade ideológica e programática e por operar, ao me
nos em tese, dentro dos limites do jogo democrático, frequentemente
testando sua resiliência.
Mais ainda: trata-se de um movimento que, a despeito de arroubos
golpistas e autoritários por parte de seu líder, devidamente chancelados
por frações de seu entorno político e de sua base societária, oferece uma
visão – ainda que deturpada e pouco clara – de democracia. Não estamos
falando, por óbvio, de uma concepção liberal e pluralista do termo, com a
qual a Ciência Política trabalha, mas de uma construção democrática ilibe
ral ou majoritarista. Nela, concebe-se o sistema democrático não como um
empreendimento universal e inclusivo, senão como pura e simples expres
são de uma certa vontade da maioria, à qual as instituições devem servir.
Guilherme Casarões
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O grande dilema desse modelo de democracia, a possibilidade de
transformar-se em “tirania da maioria”, torna-se particularmente críti
co (e custoso) em sociedades culturalmente plurais nas quais um dos
grupos culturais é majoritário – ou, ao menos, se apresenta como tal
(Boxill, 1998). Essa tensão entre maioria e minorias tem sido o traço
mais marcante do Partido Republicano norte-americano, desde, pelo
menos, a década de 1980, novamente remontando à tradição jackso
niana do início do século 19 nos Estados Unidos.
Seja como for, ao contrário de outros movimentos de extrema di
reita que fazem parte desse ecossistema político, o bolsonarismo pre
tende-se democrático, mesmo quando não o é. Isso nos leva a uma
questão taxonômica essencial: a rigor, dentro do guarda-chuva concei
tual da extrema direita (far-right), o movimento capitaneado por Jair
Bolsonaro encontra-se na categoria de direita radical (radical right),
uma vez que aceita os pressupostos essenciais da democracia.
Adota, frente a eles, uma postura de insatisfação reformista: diante
de mazelas do sistema político, como a corrupção e os privilégios, ou
com o intuito de frear uma agenda progressista que supostamente con
tradiz o caráter conservador da população, o bolsonarismo aceita con
ceder poderes especiais ao líder político para subverter as instituições
e redirecionar políticas públicas, sempre em nome da vontade popular.
Distingue-se, pois, da ultradireita (extreme right), abertamente antide
mocrática e revolucionária no seu desejo de romper com o consenso
político vigente, almejando forjar uma nova sociedade que refl ita os
valores do movimento no poder, como no caso no nazifascismo euro
peu (Mudde, 2019).
Do ponto de vista substantivo, o bolsonarismo compartilha da
ideologia da extrema direita, defi nida por Mudde (2019) como uma
combinação de dois elementos: nativismo e autoritarismo. O primei
ro diz respeito a uma concepção de sociedade cujos únicos membros
“verdadeiros”, que merecem usufruir plenamente direitos políticos,
12
Journal of Democracy em Português
são nativos à comunidade. Se, no caso europeu e de alguns movimen
tos norte-americanos, essa característica legitima posições contrárias
à imigração e ao multiculturalismo, podendo também ser concebida
como uma espécie de etnonacionalismo (ou supremacismo racial),
para o bolsonarismo esse caráter nativista se manifesta no nacionalis
mo religioso e no anticomunismo – produzindo, por sua vez, uma base
ideológica supremacista cristã.
Para o movimento bolsonarista, o cristianismo representa o prin
cipal traço de pertencimento ao grupo, imaginado como uma espé
cie de monólito majoritário. Quando o então deputado Jair Bolsonaro
proclamou, em ato de pré-campanha em 2017, que “o Brasil é um
país cristão” e que as “minorias deveriam se curvar às maiorias, ou
adaptando-se ou desaparecendo”, ele foi capaz de criar uma síntese
efi ciente da dicotomia schmittiana amigo versus inimigo, na qual os
cristãos, que são “cidadãos de bem e patriotas”, opõem-se a todo tipo
de minorias – desde criminosos, de pedófi los a trafi cantes, até repre
sentantes legítimos de segmentos e pautas sociais, como ambientalis
tas, desarmamentistas, militantes LGBTQIA+ e feministas – unidos
pelo traço comum de uma alegada infl uência “marxista cultural”.
A reativação da cantilena do temor comunista permitiu ao bolso
narismo não somente criar um senso permanente de ameaça (interna e
externa), como também projetar a fusão entre nacionalismo e cristia
nismo como a única resposta possível às forças que pretendem subver
ter e desagregar a sociedade brasileira contra seus valores tradicionais:
Deus, pátria e família.
O autoritarismo, por sua vez, se exprime no desejo de concen
tração de poder nas mãos do chefe do Executivo para fazer valer a
uma suposta vontade popular (manifestada pela maioria nas urnas),
em detrimento dos mecanismos institucionais de freios e contrapesos
defi nidos pela Constituição. Expressões como “supremo é o povo”
(em oposição às decisões de ministros do Supremo Tribunal Federal
Guilherme Casarões
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contrárias ao governo) e “eu autorizo, presidente” (a favor de uma
suposta intervenção militar constitucional no contexto da pandemia
de Covid-19) dão a medida da natureza do autoritarismo que anima os
apoiadores de Bolsonaro, particularmente vocais nos inúmeros protes
tos pró-governo convocados ou estimulados pelo próprio presidente
ao longo dos últimos quatro anos, inclusive – e especialmente – em
tempos de distanciamento social.
Para além do permanen
te tensionamento institu
cional, o viés autoritário do
bolsonarismo se manifesta
na luta permanente contra
a imprensa e a sociedade
civil. O caso do jornalismo
profi ssional é emblemático:
Para além do permanente
tensionamento institucional,
o viés autoritário do
bolsonarismo se manifesta
na luta permanente contra a
imprensa e a sociedade civil.
Bolsonaro faz ataques públicos recorrentes a profi ssionais e veículos de
imprensa que publiquem notícias contrárias ao governo ou denúncias
de corrupção e improbidade administrativa. Ao mesmo tempo em que
fomentam a desconfi ança e a hostilidade de seus apoiadores contra a
mídia tradicional (os grupos Folha e Globo, em particular, além de jor
nalistas mulheres), o presidente, políticos próximos e infl uenciadores
de diversos nichos legitimam portais, sites e vozes pró-governo – cujo
trabalho mistura elementos de propaganda governamental, reportagens
difamatórias e desinformação sistemática. Por essas razões, a organiza
ção Repórteres Sem Fronteiras (RSF) rebaixou a colocação do Brasil no
ranking de liberdade de imprensa nos últimos anos e chegou a afi rmar
que “a relação entre imprensa e governo se deteriorou consideravelmen
te desde a posse de Jair Bolsonaro”1.
Há, em paralelo, um movimento aberto de controle, deslegitimação
e perseguição à sociedade civil organizada. Em um de seus primeiros
1. Ver: https://rsf.org/en/country/brazil.
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Journal of Democracy em Português
atos governamentais, Bolsonaro atribuiu à Secretaria de Governo, en
tão chefi ada pelo general Carlos Alberto dos Santos Cruz, a responsa
bilidade de “supervisionar, coordenar, monitorar e acompanhar as ati
vidades e as ações dos organismos internacionais e das organizações
não governamentais no território nacional”. A medida, considerada
controversa e até mesmo inconstitucional, foi o início de uma série
de investidas governamentais contra ONGs, sempre sob o pretexto de
que estariam ameaçando os interesses nacionais. Em 2020, o presiden
te chegou a responsabilizá-las pelas queimadas na Floresta Amazôni
ca: “Você que está numa ‘ongzinha’ aí pegando grana de fora. Vocês
sabem que as ONGs não têm vez comigo. A gente bota para quebrar
em cima desse pessoal. Não consigo matar esse câncer (...) que tem na
Amazônia” (Alessi, 2019).
Em linha com outros movimentos contemporâneos de direita ra
dical, o bolsonarismo também é populista. Mudde (2019) defi ne po
pulismo como uma ideologia fraca – que se acopla a ideologias for
tes, como o socialismo, o fascismo ou o liberalismo – que divide a
sociedade entre o “povo puro” e a “elite corrupta”, na qual se prega,
ademais, que a política deve ser a expressão da vontade geral do povo,
tendo o líder (ou o partido) como porta-voz dos anseios populares.
A personifi cação do salvacionismo durante a primeira campanha
presidencial de Bolsonaro, colocando-o como representante exclusivo
da rejeição ao sistema político e do ódio ao Partido dos Trabalhadores,
já seria indício sufi cientemente forte desse traço populista. No entanto, o
caráter messiânico do líder do movimento, traduzido em apelidos como
“mito”, “capitão” ou “messias” e potencializado pelo trágico atentado a
faca às vésperas da eleição de 2018, criou condições para que esse mes
mo populismo fosse empregado como instrumento de governabilidade.
Por meio do populismo, o movimento bolsonarista foi capaz de
colocar em marcha seu conceito de democracia iliberal. Bolsonaro
transformou-se no único porta-voz de uma ideia particular de povo,
Guilherme Casarões
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marcada pelos valores cristãos e conservadores, pela defesa da fa
mília tradicional e por um conceito difuso de liberdade – focado no
empreendedorismo desregulado, na liberdade irrestrita de expressão
e na posse de armas. O caráter hiperpersonalista do movimento e de
seus valores se expressa bem por um versículo bíblico exaustivamente
repetido pelo presidente: “e conhecereis a Verdade e a Verdade vos
libertará” (João 8:32), como se a sociedade e seu ideal de verdade não
existissem fora do que quer e diz o líder, como numa seita religiosa.
É justamente essa fusão entre povo, fé e líder que levou analistas a
rotularem o bolsonarismo como um movimento (e um governo) neo
fascista, convivendo imperfeitamente numa democracia institucional
fragilizada (Boito Jr, 2020; Caldeira Neto, 2020).
Finalmente, é importante frisar que o amálgama bolsonarista, que
reúne empresários grandes e pequenos, pastores e fi éis evangélicos,
membros das polícias e das Forças Armadas, envolve uma permanente
reescrita da história. As origens cristãs e agrárias do Brasil, bem como
sua matriz europeia, são ressaltadas pelas teses laudatórias ao Império,
pintado como um tempo de paz, unidade e prosperidade, em oposição
às turbulências da República. Nesse esforço revisionista, Bolsonaro é
comparado com os supostamente ilustrados imperadores brasileiros,
que corporifi cavam o cristianismo e asseguravam a ordem social e as
hierarquias tradicionais (Krause e Pachá, 2020).
A honestidade, a efi ciência e o compromisso democrático dos
militares são apresentados de maneira acrítica a partir de releituras
seletivas do período ditatorial brasileiro, a que Bolsonaro frequente
mente tece elogios públicos. A despeito da base predominantemente
evangélica do bolsonarismo, a ponte entre o Império e a ditadura de
1964 é a fé católica, representada, ainda hoje, pelo movimento Tradi
ção, Família e Propriedade (TFP), ligado ao movimento monarquista,
a empresários anticomunistas apoiadores do regime militar e a grupos
ideológicos infl uentes nas Forças Armadas (Estado de Minas, 2019).
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Journal of Democracy em Português
A ascensão do bolsonarismo
O sucesso do bolsonarismo, como pretenso movimento de massas, se
explica não somente pela ideologia de extrema direita e por sua capaci
dade de oferecer critérios de pertencimento (e até mesmo acolhimento)
a uma suposta maioria que deveria comandar os rumos da democracia
brasileira. Para entender sua rápida ascensão e capilaridade sem prece
dentes no Brasil contemporâneo, é fundamental analisar as estratégias
de construção das narrativas e de controle do debate público, que pas
sam, necessariamente, pela ocupação precoce e organizada dos espaços
digitais e pelo empoderamento de grupos-chave para a organização des
sa ideia de democracia majoritarista discutida na seção anterior.
Nesse sentido, deve-se resgatar as duas premissas deste artigo, que se
referem ao caráter intrinsecamente transnacional do bolsonarismo e sua
capacidade (e disposição) de “americanizar” a política brasileira. Apontar
as semelhanças entre o fenômeno político capitaneado por Bolsonaro e
aqueles observados ao redor do mundo, notadamente nos Estados Unidos
ou na Hungria, é um bom ponto de partida, mas insufi ciente para fornecer
uma explicação satisfatória para a força e a persistência do movimento
bolsonarista. É preciso compreender a tripla estratégia na qual ele se an
cora, que envolve etapas de emulação, articulação e internalização.
Em outras palavras, o bolsonarismo foi capaz de (1) identifi car e
reproduzir práticas e performances bem-sucedidas de movimentos glo
bais de extrema direita, sobretudo nas redes sociais, mas também no
campo da comunicação política pensada amplamente; (2) articular-se
com grupos internacionais específi cos que pudessem prover suporte
ideológico, societário ou material aos seus contrapartes brasileiros; (3)
alinhar narrativas domésticas e estrangeiras, seja no sentido de interna
lizar e legitimar pautas e movimentações do bolsonarismo, amplifi car
causas outrora negligenciadas no debate público, ou até mesmo fomen
tar percepções sobre inimigos internos e externos, compartilhadas com
outros grupos além-fronteiras.
Guilherme Casarões
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Os Estados Unidos são uma peça fundamental para a compreensão
do quebra-cabeça bolsonarista. De lá, foram importados a gramática,
a substância e o estilo de ação dos quatro grupos que hoje compõem o
movimento brasileiro: os templários digitais, construtores de narrati
vas políticas, identifi cados com a alt-right norte-americana e represen
tados no caso brasileiro por Olavo de Carvalho; os pastores patriotas,
articuladores dos valores cristãos (e, no limite, do projeto nacionalista
cristão) junto à sociedade, que emulam a agenda da direita religiosa
norte-americana e empreendem uma guerra cultural de longo alcance;
os libertários tropicais, defensores de uma agenda ultraliberal que se
estende da economia à educação e à liberdade incondicional de ex
pressão, mas sempre orientados por valores sociais conservadores, à
semelhança do paleolibertarianismo dos EUA; e os conservadores em
armas, grupo-síntese inspirado na Segunda Emenda à Constituição
norte-americana, que reúne olavistas, cristãos conservadores e ultrali
berais em defesa do armamento amplo e irrestrito da população.
Pode-se argumentar que a grande força do bolsonarismo é sua ca
pacidade de costurar múltiplos grupos de interesse e correntes de pen
samento liberais e conservadoras em um mosaico político-ideológico
minimamente coerente. Isso não teria sido possível sem a construção
de uma narrativa comum unifi cadora que representasse, de alguma
maneira, os anseios coletivos de um grupo considerável de brasileiros
que não se sentiam representados pelo sistema político – ou, no jargão
que se popularizou no contexto eleitoral, pela “velha política”. Ainda
que antipetismo e combate à corrupção (ou lavajatismo) fornecessem
alguma liga para esse movimento, cujas origens remontam às manifes
tações verde-amarelas pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2015
(ou, alguns casos, aos primeiros protestos de 2013), faltava-lhe uma
identidade mais clara. Aos poucos, ela foi se revelando no binômio an
tiglobalismo/nacionalismo cristão, elementos que se desenvolveram
de maneira concomitante ao longo da última década.
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Journal of Democracy em Português
Os templários digitais à sombra da alt-right americana
Os templários digitais, grupos de direita nascidos dos fóruns vir
tuais e das redes, foram os responsáveis por criar o ambiente emo
cional – de medo e ódio – que impulsionou o bolsonarismo em seus
primórdios. Para tanto, importaram ideias e métodos da alt-right. O
pendor por teorias conspiratórias, a linguagem violenta (associada à
nascente cultura troll) e os memes de grande poder de viralização são
as características mais visíveis dessa facção radicalizada da extrema
direita norte-americana que chegou ao Brasil. Há, ademais, uma di
mensão substantiva relevante, que chamaremos de antiglobalismo na
falta de uma expressão mais abrangente, mas que deve ser analisada
com atenção.
Na literatura recente sobre o fenômeno da alt-right, existe um de
bate extenso sobre os objetivos e a ideologia do movimento. Na au
sência de um conjunto claro de diretrizes, entende-se que a defesa de
uma identidade branca, muitas vezes traduzida na ideia de nacionalis
mo ou supremacismo branco, está no cerne das reivindicações desse
grupo. Para seus membros menos radicais, bastaria que houvesse mais
controle migratório e mais liberdade para defender políticas e ideias
de cunho racialista, de modo a assegurar a dominação branca numa so
ciedade multirracial ou multicultural. Para as franjas mais radicais, o
objetivo se aproxima do ideal nazista de pureza racial, transformando
os Estados Unidos em um ou diversos “etnoestados” de ascendência
europeia (Hawley, 2017; Main, 2018).
A alt-right, além disso, rejeita abertamente os valores da democra
cia liberal. Sua premissa básica é a de que, como existe uma desigual
dade natural entre membros da sociedade (seja ela racial ou biológi
ca), a igualdade civil torna-se obsoleta e indesejável. Por isso mesmo,
o movimento se opõe fortemente ao discurso feminista de igualdade
de gênero, ao discurso antirracista fundamentado na “teoria racial crí
tica” e corporifi cado em movimentos como Black Lives Matter, bem
Guilherme Casarões
19
como à comunicação politicamente correta, sob o argumento de que
são tentativas de cerceamento da liberdade de pensamento e expressão.
O traço mais distintivo dessa oposição é a linguagem agressiva, viru
lenta, irônica e muitas vezes preconceituosa. Nascida nas profundezas
da internet, a “cultura troll”, destinada a deliberadamente provocar
discórdia e reações emocionais para além dos limites da convivência
democrática, permitiu que o movimento circulasse amplamente suas
mensagens e se infi ltrasse no debate nacional (Hawley 2017: 19).
Ainda que existam traços visíveis de racismo e antissemitismo no
discurso bolsonarista, que levaram, inclusive, à acusação de membros
do governo Bolsonaro por apropriação de símbolos e performances
associados ao supremacismo branco da alt-right (Agência Senado,
2021), a dimensão racial não parece ser central ao movimento brasi
leiro (Carvalho, 2018). Para os templários digitais brasileiros, a opo
sição ao atual estado de coisas gira em torno de uma ameaça mais
difusa, mas também comum aos extremistas norte-americanos, a que
chamam de “marxismo cultural”. A teoria conspiratória do marxismo
cultural é produto direto do fi m da Guerra Fria, momento em que a
ameaça comunista representada concretamente pela União Soviética
teria dado lugar a uma força invisível (e virtualmente indestrutível)
da dominação ideológica da esquerda nas escolas e universidades, na
imprensa, nas artes e no governo (Mirrlees, 2018).
Segundo o discurso da alt-right, devidamente incorporado pelos
templários brasileiros, essa hegemonia esquerdista em nível global se
ria fi nanciada por bilionários como George Soros e Bill Gates e difun
didas por meio de pautas de organizações multilaterais como a União
Europeia e as Nações Unidas. O objetivo dessa agenda globalista seria
aculturar as sociedades, retirando-lhe os vínculos com Deus, a nação
e a família, com propósitos ideológicos (no caso dos marxistas cultu
rais) ou meramente mercantis (no caso dos chamados “metacapitalis
tas”). A guerra ao globalismo teria que ser realizada, antes de tudo, no
20
Journal of Democracy em Português
campo da cultura, por meio da eliminação das infl uências esquerdistas – de pautas como aborto, gênero, mudanças climáticas – e da retoma
da dos valores tradicionais e conservadores em todos os campos da
sociedade. Os antiglobalistas incorporaram, assim, as estratégias de
ocupação de espaços próprias da guerra cultural conservadora norte--americana (Hunter, 1991).
O pai intelectual dos templários digitais brasileiros é Olavo de
Carvalho. Filósofo autoproclamado e polemista profi ssional, ele foi
responsável por traduzir para a realidade nacional teses e argumentos
da guerra cultural que circulavam desde os anos 1970 nos EUA. A des
peito de esforços de adaptação dos talking points do conservadorismo
ianque aos problemas do Brasil, muito do que Carvalho produziu ao
longo da década de 1990, em livros e colunas na grande imprensa,
emulava os trabalhos de fi lósofos e ideólogos da direita radical ame
ricana (Carvalho, 2015)2. Munido de um denso repertório crítico à
esquerda e valendo-se de uma linguagem abertamente debochada e
agressiva, Carvalho articulou uma estrutura digital de difusão de suas
ideias ao longo dos anos 2000 – contando com um site de “notícias
alternativas” (Mídia Sem Máscara), um programa de rádio pela inter
net (True Outspeak) e o Curso Online de Filosofi a (COF), principal
espaço de conversão política e massifi cação ideológica pela internet,
amplifi cado pela forte inserção nas redes sociais.
A frustração com o governo Dilma Rousseff e as grandes mani
festações antipetistas que ganharam força após 2013 proporcionaram
o caldo de cultura ideal para a ascensão de uma nova direita no país.
A combinação entre recessão econômica, confl itos entre presidente e
Congresso e denúncias de grandes esquemas de corrupção, potencia
lizadas pela Operação Lava Jato, abriu um vácuo político-partidário
2. Entre os autores e obras que serviram de inspiração para o pensamento político de Olavo de
Carvalho estão Allan Bloom (The Closing of the American Mind, de 1988), Gary Allen e Larry
Abraham (Política, Ideologia e Conspirações, de 1972) e Michael Minnicino (The New Dark
Age: the Frankfurt School and ‘political correctness’, de 1992).
Guilherme Casarões
21
que foi ocupado por agrupamentos de orientação liberal na economia
e conservadora nos costumes, como o Movimento Brasil Livre, o Vem
Pra Rua e o Partido Novo (Rocha, 2021).
Na caminhada que culminou no impeachment de Dilma Rousseff,
em meados de 2016, Olavo de Carvalho fi rmou-se como o grande ideó
logo da nova direita brasileira, que passou a reproduzir acriticamente te
ses como a do “marxismo cultural” ou do “globalismo”. Muitos dos que
foram às ruas animavam-se não somente pela revolta contra o governo
do Partido dos Trabalhadores, mas contra o inimigo invisível que lhe
dava sustentação: a hegemonia
cultural da esquerda. Alguns
chegavam a ostentar cartazes
com os dizeres “Olavo tem ra
zão”, em alusão às declarações
paranoicas do escritor sobre o
suposto plano gramsciano em
No governo Bolsonaro, a
internalização da guerra
informacional se deu pela
criação do “gabinete do
ódio”, sediado no Planalto.
curso no Brasil. Ele mesmo se orgulhava de, com suas ideias, ter ajuda
do “a direita brasileira a sair do armário” (BBC Brasil, 2016).
Da alt-right americana, também se importou o ecossistema da guerra
informacional3 que viabilizou tanto o triunfo eleitoral de Jair Bolsonaro
como a formação do amálgama bolsonarista. Os templários olavistas,
ao longo de seu processo de gestação nos anos 2000, organizaram-se no
ambiente digital por meio de portais (Mídia Sem Máscara, Reaçonaria,
Implicante e Senso Incomum), páginas em redes sociais (Revoltados
Online, Vem Pra Rua e Movimento Brasil Livre) e debates no YouTube
(hangouts promovidos por celebridades da direita em ascensão, como
o próprio Olavo de Carvalho, o músico Lobão e o então deputado Jair
Bolsonaro). Em larga medida, a linguagem agressiva, o tom histriônico
3. Ironicamente, a expressão “information warfare”, que remete ao uso e gestão de tecnologias
de informação e comunicação no contexto de disputas políticas ou guerras multidimensionais
(ou “guerras híbridas”), inspirou a criação da plataforma InfoWars em 1999 por Alex Jones, um
dos mais proeminentes comunicadores da alt-right.
22
Journal of Democracy em Português
e o modelo de negócios reproduziam a fórmula bem-sucedida de in
f
l uenciadores da alt-right, como Paul Joseph Watson, Milo Yiannopou
los e Stephan Molyneux, além de sites como InfoWars, de Alex Jones,
e Breitbart News, de Andrew Breitbart e Steve Bannon (Prado, 2021).
No governo Bolsonaro, a internalização da guerra informacional
se deu pela criação do “gabinete do ódio”, máquina institucionali
zada de desinformação, sediada no Planalto e liderada pelos fi lhos
do presidente, Carlos e Eduardo Bolsonaro, além de fi nanciada por
empresários bolsonaristas (Lago, 2022). Mais recentemente, a cria
ção do canal de TV Jovem Pan, cujo objetivo expresso é ser a versão
brasileira da Fox News, ofereceu mais uma camada de legitimidade
às teorias conspiratórias e narrativas que animam a extrema direita
transnacional e brasileira.
Os pastores patriotas e a direita religiosa
além-fronteiras
A relação entre religião e política no Brasil passou por mutações
dramáticas ao longo das últimas décadas. Majoritariamente católico,
o país sempre possuiu forças políticas ligadas ao catolicismo, como o
Partido Democrata Cristão (1945-1965), além de sofrer signifi cativa
infl uência do Vaticano (por meio da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil) em determinadas áreas de políticas públicas, como a edu
cação, a assistência social e os direitos humanos. No entanto, o avan
ço das instituições republicanas e do sistema democrático consolidou
uma política secular e pluralista em termos religiosos, consubstancia
da no Artigo 5º da Constituição Federal de 1988 (Oro, 2005).
As transformações no panorama religioso brasileiro deram-se, so
bretudo, pela rápida ascensão da população evangélica no país, que
cresceu de 8% em 1980 para, aproximadamente, 30% em 2020. Aos
poucos, grupos evangélicos, sobretudo pentecostais e neopentecostais,
Guilherme Casarões
23
passaram a ocupar espaços legislativos, guiados pelo lema “irmão vota
em irmão” e animados pela chamada teologia do domínio, que preco
niza a ocupação dos espaços sociais (cultura, imprensa, artes, negócios
e política) rumo à construção de uma nação genuinamente cristã. Os
esforços desses movimentos religiosos se materializaram na Frente Par
lamentar Evangélica, criada em 1986 por iniciativa de políticos ligados
à Assembleia de Deus e que hoje reúne mais de 200 parlamentares de
inúmeros partidos, majoritariamente de centro e direita, e de diversas
denominações cristãs – e até mesmo alguns católicos (Smith, 2016; Al
meida, 2017).
A atuação política dos movimentos evangélicos também se redefi
niu nos últimos anos. Durante o governo Lula da Silva (2003-2010),
lideranças pentecostais e neopentecostais, concentradas em partidos
do chamado “centrão” político, conseguiram alavancar sua infl uência
ao estabelecer uma relação de coexistência com forças de esquerda,
contribuindo para a governabilidade naquele período. Com isso, ame
alharam cargos, concessões de rádio e TV, passaportes diplomáticos
e, sempre que possível, contiveram o avanço de pautas progressistas.
No governo Dilma (2011-2016), o relacionamento entre a presidente
e osevangélicos se esgarçou rapidamente, abrindo espaço para a con
siderável adesão dessas lideranças ao processo de impeachment, em
2016, sob a batuta do assembleiano Eduardo Cunha – e, na sequência,
ao governo Michel Temer (Casarões, 2020).
Àquela altura, a organização política dos evangélicos já nos per
mitia falar numa direita cristã brasileira, aos moldes de sua contrapar
te norte-americana. Nos Estados Unidos, país de maioria protestante,
essa direita religiosa deu uma guinada radical a partir da década de
1970, em reação às liberdades sexuais e ao uso de drogas no mo
vimento da contracultura, à ampliação de iniciativas de direitos de
homossexuais, bem como à legalização do aborto após a decisão Roe
v. Wade (1973) pela Suprema Corte (Ramet, 2005). Nos anos seguin
24
Journal of Democracy em Português
tes, essa coalizão cristã conservadora, cada vez mais radicalizada,
assumiu os três temas como seus cavalos de batalha: guerra às dro
gas, ao aborto e à chamada “ideologia de gênero”, guiando a agenda
política de presidentes republicanos como Ronald Reagan e George
W. Bush (Toplin, 2007).
Outrora ignorados ou minimizados no debate público brasileiro, os
temas próprios à direita cristã norte-americana passaram a povoar os
discursos e práticas de lideranças religiosas e políticas conservadoras
no Brasil. A guinada da bancada evangélica, de um “centro fi siológi
co” para uma “direita ideológica”, deu-se a partir de 2013, quando o
deputado Marco Feliciano, da Assembleia de Deus, assumiu a presi
dência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara e
passou a pautar ativamente o debate sobre direitos sob uma perspecti
va conservadora (Cowan, 2014).
Desde então, percebe-se uma disposição dos evangélicos de con
formar a moralidade pública da sociedade brasileira, a partir do enten
dimento de que constituíam uma “maioria moral”, em vez de simples
mente buscar proteger seus próprios valores religiosos (Oro, 2005).
Essa moralidade é articulada em quatro grandes eixos: econômico,
orientado pelo discurso de meritocracia e empreendedorismo alinhado
com a teologia da prosperidade; moral, no sentido da regulação do
comportamento individual, das identidades de gênero e da noção de
família; securitária, que remete a um conjunto de políticas repressivas
e punitivas, como a redução da maioridade penal e a criminalização
das drogas; e interacional, que construiu, entre os evangélicos, a pers
pectiva de demonizar as opiniões discordantes (Almeida, 2017).
A despeito da crescente força legislativa dos evangélicos, obser
vada na expansão de sua bancada no Congresso, faltava-lhes um can
didato majoritário com viabilidade eleitoral. Nas eleições de 2018,
Bolsonaro corporifi cou a expectativa de muitos evangélicos de chegar
ao topo do poder político. De mero parlamentar corporativista, conhe
Guilherme Casarões
25
cido por suas declarações grosseiras e apologia à ditadura militar, ele
passou a advogar pautas cristãs, com grande senso de oportunidade,
no contexto da crescente polarização política da última década. Com a
esposa Michelle e alguns de seus fi lhos frequentadores da Igreja Batis
ta, o católico Bolsonaro, aos poucos, acercou-se de lideranças evangé
licas (como o pastor Silas Malafaia e os pastores-parlamentares Marco
Feliciano e Magno Malta) e formou uma espécie de frente híbrida,
pan-cristã, “reunindo as vantagens eleitorais da identidade evangélica,
mas evitando as desvantagens” (Freston, 2020, 372).
Além das pautas conservadoras típicas da direita religiosa america
na, o pan-cristianismo de Bolsonaro viabilizou uma das mais ambicio
sas visões de evangélicos fundamentalistas e católicos tradicionalis
tas: a construção de um projeto nacionalista cristão (Casarões, 2020;
Pacheco, 2022). A melhor expressão desse modelo de sociedade, que
envolve a submissão do pertencimento à nação (ou da cultura cívi
ca nacional) a critérios e elementos de fé (Juergensmeyer, 1993), é
o próprio bordão de campanha de Bolsonaro: “Brasil acima de tudo,
Deus acima de todos”. A fusão entre nacionalismo e cristianismo na
ideia de Brasil cristão coloca-se como pilar da democracia majorita
rista propugnada pela extrema direita brasileira e foi um dos principais
elementos de união entre templários digitais e pastores patriotas na
conformação do movimento bolsonarista.
O projeto do nacionalismo cristão brasileiro ergue-se sobre as mes
mas bases do movimento observado nos Estados Unidos – e já muito
bem documentado e analisado (Goldberg, 2006; Perry e Whitehead,
2020; Stewart, 2020). Trata-se da mobilização, por parte de uma mi
noria altamente mobilizada e razoavelmente organizada, de narrativas,
símbolos, cosmologias e papéis sociais baseadas no entendimento da
Bíblia – muitas vezes literal – como único parâmetro moral da so
ciedade. Se, no Brasil, esse movimento é intimamente associado ao
bolsonarismo, nos EUA ele é uma das bases sociais do trumpismo.
26
Journal of Democracy em Português
No entanto, embora nem Bolsonaro nem Trump sejam exemplos
de uma vida religiosa, além de terem abraçado o cristianismo de ma
neira visivelmente oportunista, o apoio a essas lideranças (muitas ve
zes promovidas como messiânicas) se explica pela defesa das pautas
morais no campo das políticas públicas, pela promessa de uma nação
cristã, como também pelo empoderamento político de fi guras e insti
tuições religiosas (Posner, 2020).
Trump e Bolsonaro cercaram-se de religiosos em seu governo. O
presidente norte-americano escalou, entre outros, os evangélicos Mike
Pence (vice-presidente), Mike Pompeo (secretário de Estado) e Mark
Meadows (chefe de gabinete), além de nomear a católica ultraconser
vadora Amy Coney Barrett para a Suprema Corte. O brasileiro, por
sua vez, deu espaço a representantes da emergente direita cristã, como
Damares Alves (ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos),
fundadora da infl uente Associação Nacional dos Juristas Evangélicos
(Anajure), Ernesto Araújo (ministro das Relações Exteriores), com la
ços tradicionalistas católicos (Teitelbaum, 2020), o pastor presbiteria
no Milton Ribeiro (o quarto ministro da Educação do governo), além
de ter nomeado o também presbiteriano André Mendonça (ex-Advo
gado-Geral da União e ministro da Justiça) para o Supremo Tribunal
Federal, cumprindo a promessa de que nomearia um juiz “terrivel
mente evangélico” para a corte (Casarões, 2020).
O vínculo entre a direita religiosa dos dois países não se dá somente
por contatos informais entre lideranças evangélicas, mas também por
meio de organizações transnacionais, como a Capitol Ministries. Fundada
pelo ex-jogador de basquete Ralph Drollinger, a organização tem como
objetivo declarado evangelizar líderes políticos ao redor do mundo para
que legislem a partir de preceitos bíblicos, produzindo políticas públicas
“que satisfaçam a Deus” (Dip e Viana, 2020). Com a chegada de Trump
ao poder, em 2017, passou a concentrar esforços na América Latina,
f
i nanciada por membros infl uentes do governo, como Pence e Pompeo, e
Guilherme Casarões
27
auxiliada pela White House Faith and Opportunity Initiative (Rodríguez,
2021). O trabalho de evangelização de Drollinger em países como
Guatemala, Nicarágua, Peru e Paraguai (e, mais recentemente, Brasil),
com o apoio do círculo íntimo de Trump, o tornou conhecido como
“diplomata-sombra” da administração norte-americana (Schwartz, 2019).
Ademais da plataforma voltada às pautas conservadoras, um dos
assuntos centrais do trabalho da Capitol Ministries diz respeito às rela
ções com Israel. Unidos em torno do sionismo cristão, visão teológica
que preconiza a defesa da Terra Santa como condição para a segunda
vida de Cristo, a direita religiosa norte-americana e a administração
Trump passaram a defender, além-fronteiras, o reconhecimento de Je
rusalém como a capital “una e indivisível” israelense e a transferência
das embaixadas nacionais para a cidade. A promessa (ainda não cum
prida) de Bolsonaro durante a campanha de seguir as políticas trum
pistas com relação a Israel foi um ponto importante de contato com as
igrejas evangélicas no Brasil4 – e atraiu o interesse e envolvimento de
lideranças da direita cristã (Machado, Mariz e Carranza, 2021).
Os libertários tropicais e a ode à Primeira Emenda à
Constituição americana
À primeira vista, parece estranho associar o bolsonarismo, movimento
de matriz autoritária e iliberal, a qualquer tipo de ideal libertário – que não
somente prega o Estado mínimo em termos econômicos, como também
rejeita qualquer tipo de interferência estatal na vida privada e nas liberdades
individuais. De fato, a relação entre Bolsonaro e grupos ultraliberais é bem
mais recente e ocorreu, a rigor, já no contexto da campanha de 2018. Até en
tão, a expansão da ideologia libertária, iniciada em meados dos anos 2000,
4. A aproximação tardia de Israel por parte de Bolsonaro dizia respeito à sua tentativa de
construir uma identidade com movimentos evangélicos. Em 2016, o então deputado fi liou-se ao
Partido Social Cristão, ligado à Assembleia de Deus e, em seu primeiro grande evento na nova
legenda, viajou com os fi lhos para Israel e foi batizado pelo pastor Everaldo Pereira nas águas
do rio Jordão.
28
Journal of Democracy em Português
deu-se em paralelo à ascensão do conservadorismo olavista e religioso, en
contrando guarida em movimentos como Líber, Livres e Movimento Bra
sil Livre e recebendo suporte institucional e fi nanciamento de think tanks
como Instituto Millennium (IMIL), Instituto Mises Brasil (IMB) e Institutos
Liberais (ILs) espalhados por diversos estados do país (Rocha, 2021).
Ao contrário dos outros atores aqui analisados, os libertários tropicais
possuem conexões muito mais diretas e orgânicas com movimentos se
melhantes norte-americanos. As origens do Livres, que por algum tempo
esteve ligado ao Partido Social Liberal (PSL), remontam ao relaciona
mento de jovens liberais, como Fábio Ostermann, com o Cato Institute e
a Foundation for Economic Education. O Instituto Mises Brasil, por sua
vez, foi fundado pelo economista Hélio Beltrão Jr. em 2007, como bra
ço autônomo do Mises Institute e hoje oferece cursos de pós-graduação
em temas ultraliberais. Já a poderosa Atlas Network, think tank sediado
em Washington, possui fortes vínculos com as organizações ultraliberais
brasileiras, incluindo o Mises Brasil, o IMIL, instituição fi nanciada por
grandes grupos de imprensa nacionais e cujo maior expoente público é
o economista (e polemista) Rodrigo Constantino, além do Instituto de
Formação de Líderes, criado pelo empresário David Feffer, infl uente nos
setores do mercado fi nanceiro paulista (Baggio, 2018).
Quando Bolsonaro indicou o economista ultraliberal Paulo Guedes,
egresso da Universidade de Chicago, como seu futuro ministro da Econo
mia, ele selou a aliança política e eleitoral com os libertários. Alguns deles,
como os empresários Salim Mattar e Paulo Uebel, ambos do Millenium,
foram para o governo cuidar, respectivamente, das áreas de desestatização
e desburocratização. Outros, como Winston Ling, do Fórum da Liberdade,
tornaram-se apoiadores frequentes (e vocais) do presidente. Entre as pautas
unifi cadoras da ala libertária do bolsonarismo estavam a reforma adminis
trativa, a reforma da previdência e a agenda de privatizações. Ainda que a
ampla agenda reformista tenha estagnado, levando a uma “debandada” da
equipe econômica em meados de 2020, a maioria dos economistas e em
Guilherme Casarões
29
presários ultraliberais segue apoiando o governo – alguns deles, inclusive,
participando ativamente do bolsonarismo nas ruas e nas redes.
Em larga medida, a persistente adesão dos libertários tropicais à extre
ma direita deve-se à apropriação lato sensu da defesa da “liberdade” em
todas as esferas, viabilizando uma aliança com grupos evangélicos, em
torno do tema do homeschooling, ou com grupos ruralistas, defensores da
desregulamentação ambiental. Mas a despeito da apologia à liberdade no
programa de governo, essa certamente não era a prioridade de Bolsonaro
até a eclosão da pandemia de Covid-19, em março de 2020. Ao se opor
às medidas de isolamento social, o presidente passou a repetir um bordão
que virou uma de suas marcas registradas: “mais importante que a vida é a
nossa liberdade”. Com isso, acertou em cheio o coração (e o bolso) de um
sem-número de “empreendedores bolsonaristas”, fenômeno interclasses
que contempla cidadãos de realidades distintas, do executivo ao trabalha
dor informal precarizado, do grande empresário ao pequeno comerciante
local, unidos pela ideologia do empreendedorismo e da meritocracia em
oposição ao Estado (Nunes, 2021).
Mesmo com a postura insistentemente negacionista (e muitas ve
zes criminosa) diante da crise sanitária, Bolsonaro foi capaz de usar o
valor difuso da liberdade para mobilizar seus apoiadores no combate
às medidas restritivas, que passaram a ser encaradas como tirânicas e
ditatoriais. Essa manobra teve o duplo efeito de manter a base unida e
radicalizada, por um lado, e antagonizar atores políticos – do então go
vernador de São Paulo, João Dória, ao Supremo Tribunal Federal – com
vistas a amplifi car a narrativa conspiratória dos traidores da pátria (Kalil
et al, 2021). Vale lembrar que, nos primeiros meses de pandemia, o alvo
preferencial do bolsonarismo e de seu líder ainda era o Congresso Na
cional, em meio a pedidos de intervenção militar e uma reedição do Ato
Institucional nº 5, dos tempos da ditadura (Gielow, 2020). Aos poucos,
o rol dos inimigos passou a incorporar praticamente todas as institui
ções democráticas (inclusive agências governamentais, como a Agência
30
Journal of Democracy em Português
Nacional de Vigilância Sanitária ou o Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais) que se opunham às posições do presidente.
O agravamento da pandemia levou Bolsonaro a instrumentalizar
um conceito ainda mais amplo de liberdade, que incluía o direito de
adotar – e indicar – o tratamento precoce para a Covid-19 (baseado
em medicamentos sem efi cácia comprovada, como hidroxicloroquina
e ivermectina), de não usar máscaras, vacinar-se ou observar qualquer
medida sanitária adotada por prefeitos ou governadores. Embora mui
tas das posturas do presidente brasileiro fossem meras emulações do
que Donald Trump vinha fazendo nos Estados Unidos, da recomen
dação de remédios milagrosos ao estímulo à realização de protestos
em massa contra o isolamento social (Casarões e Magalhães, 2021), é
possível argumentar que Bolsonaro levou seu populismo sanitário às
últimas consequências – demitindo três ministros da Saúde em me
nos de um ano, participando ativamente de aglomerações e adotando
uma estratégia informal, porém deliberada, de imunidade por contágio
(Ventura, Aith e Reis, 2021a; 2021b).
A pandemia também uniu empreendedores libertários e parte da
classe médica em defesa das liberdades – e do uso de terapêuticas ine
f
i cazes. Quatro dias após Bolsonaro anunciar, em suas redes sociais, a
hidroxicloroquina como “uma possível cura” para a Covid-195, o em
presário Hélio Beltrão, do Mises Brasil, publicou um artigo na Folha de
S. Paulo intitulado “Liberem a Hidroxicloroquina”, em que defendeu o
uso ostensivo off-label do medicamento (Beltrão, 2020). Em poucas se
manas, dezenas de médicos se organizaram no grupo Médicos Pela Vida
(MPV), lançando um protocolo de tratamento e um manifesto subscrito
por milhares de profi ssionais de saúde (Canzian, 2020).
O que foi promovido como um movimento espontâneo reproduzia,
na verdade, processo idêntico ao ocorrido nos Estados Unidos, às ve
zes com dias de diferença entre os dois países. O tuíte de Bolsonaro
5. Ver: https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1241434576049840130
Guilherme Casarões
31
com a divulgação da cura pela cloroquina, por exemplo, veio dois dias
depois da primeira menção de Donald Trump ao medicamento como
um “divisor de águas” (e horas depois de seu primeiro tuíte a respeito
do assunto). O artigo de Beltrão, em que dizia que o governo seria
irresponsável caso não adotasse protocolos para uso da hidroxicloro
quina, foi publicado dois dias após a Job Creators Network, do bilio
nário Bernard Marcus, fundador da Home Depot, começar a circular
postagens pagas no Facebook exigindo que Trump acabasse com a
burocracia para que o governo distribuísse o remédio para os pacientes
com Covid-19 (Pearson, 2020).
Mais emblemático, contudo, é o caso do Médicos Pela Vida. Fun
dado em maio de 2020, o grupo reunia médicos de diversos estados
do país em torno da defesa de um “tratamento precoce” – expressão
posteriormente abraçada pelo presidente para justifi car a adoção de
medicamentos inefi cazes. O MPV desenvolveu uma relação simbió
tica com o bolsonarismo: tornou-se palco para a projeção de médicos
negacionistas e teorias conspiratórias sobre vacinas por meio de lives
públicas e canais de transmissão em aplicativos de mensagens, além
de oferecer assessoria informal ao governo por meio do famigerado
“gabinete paralelo”, responsável por formular recomendações de en
frentamento da Covid-19 junto ao Planalto ao largo do Ministério da
Saúde (BBC News Brasil, 2020).
Muito embora o movimento tenha origens e dinâmicas próprias,
vários argumentos que sustentavam a defesa pública do tratamento
precoce vinham de seu correlato norte-americano, o America’s
Frontline Doctors. Sua criadora, a médica Simone Gold, havia ganhado
notoriedade graças a um vídeo de julho de 2020, em que protestava em
frente da Suprema Corte em defesa da cloroquina, contra as máscaras
e o lockdown. Desde então, ela manteve contatos informais com o
então assessor especial de Bolsonaro, Arthur Weintraub, apontado
como um dos líderes do gabinete paralelo da Covid-19. Os argumentos
32
Journal of Democracy em Português
de Gold contra a vacina também se espalharam rapidamente entre
bolsonaristas, ecoados por comentaristas leigos da Jovem Pan e
médicos infl uenciadores nas redes sociais. Vale lembrar que a médica
é alvo de ações judiciais nos EUA por disseminação de fake news e
chegou a ser presa na invasão do Capitólio, em janeiro de 2021 (UOL
Notícias, 2021).
Em meio à guerra contra a comunidade científi ca, a rede de alt-science
formada no Brasil e espelhada no exemplo dos EUA também passou a
se preocupar com uma outra liberdade, a de expressão. O bolsonarismo
sentiu-se acuado em duas frentes: a legislativa e a digital. A controversa
proposta do Senado de criminalizar notícias falsas difundidas pela
internet, que se tornou particularmente sensível no contexto de extrema
desinformação sobre a pandemia, foi duramente rechaçada pelo presidente
e seus aliados como uma medida autoritária. No campo digital, ações do
STF para banir contas de bolsonaristas identifi cados com a disseminação
de informações falsas, bem como a iniciativa das próprias plataformas de
incluir alertas em postagens potencialmente falsas, foram recebidas com
revolta por Bolsonaro e seus aliados.
Em janeiro de 2021, a suspensão da conta de Donald Trump das
principais mídias sociais (Twitter, Facebook e Instagram), após in
centivar publicamente os ataques ao Capitólio, fez com que bolsona
ristas migrassem para redes mais abertas, populares entre a alt-right,
como Parler e Gettr, em defesa de um tipo de liberdade irrestrita de
expressão que só encontra respaldo na Primeira Emenda à Constitui
ção norte-americana (Haynes, 2021) – e que nada tem a ver com o
ordenamento jurídico brasileiro.
Os conservadores em armas e a ode à Segunda
Emenda à Constituição americana
Se a liberdade incondicional de expressão da Primeira Emenda
Guilherme Casarões
33
à Constituição americana uniu empresários, economistas, médicos,
jornalistas e militantes digitais em torno do direito de desinformar e
de agredir, é a tropicalização da Segunda Emenda que proporciona a
unidade mais orgânica do bolsonarismo – em torno do direito de se
armar. São a quarta e talvez mais abrangente categoria do movimento:
os conservadores em armas. Ao contrário da defesa das liberdades de
expressão e de mercado, novidades incorporadas por Bolsonaro em
sua trajetória rumo à presidência, o combate a políticas de controle de
armas (consubstanciadas no Estatuto do Desarmamento, de 2003) é
pauta antiga do ex-capitão. Ao longo dos anos, ele se destacou como
um dos mais engajados porta-vozes da indústria de armas e munições
no Congresso em prol da liberação, para fi ns comerciais, de porte e
posse de armas (Rede Brasil Atual, 2014).
Quando lançou sua candidatura, em meados de 2015, Bolsonaro
ampliou sua rede armamentista junto aos Estados Unidos, tendo como
principais contatos o ex-lutador Royce Gracie e Tony Eduardo, dono e
instrutor de clubes de tiro no Brasil e nos EUA frequentados pela famí
lia Bolsonaro e associados à simbologia da alt-right americana6. Eles
apresentaram Carlos e Eduardo Bolsonaro à maior feira de armas dos
EUA, a Las Vegas Shot Show, que os fi lhos do atual presidente passa
ram a frequentar assiduamente desde 2016, com claros propósitos po
líticos. Nessas oportunidades, construíram e sedimentaram laços com
a National Rifl e Association (NRA), lobby pró-armas norte-americano
de alcance mundial. Há indícios de que a NRA, aliada um fundo de in
vestimentos norte-americano, a MFS Investment Management, ajudou
a fi nanciar a campanha de Bolsonaro em 2018 (Seeing Red, 2022).
A NRA já atuava discretamente no Brasil desde os debates sobre
o Estatuto do Desarmamento, trazida ao Brasil pelos ultracatólicos da
6. O clube de tiro 88 Tactical, localizado em Omaha, no estado do Nebraska, tem Tony Eduardo
como um de seus diretores e é frequentado pelos fi lhos de Bolsonaro desde 2016. A instituição é
frequentemente acusada de usar simbologia neonazista e supremacista branca em suas postagens,
logomarcas e produtos (Agência Pública, 2021).
34
Journal of Democracy em Português
TFP, ligada ao movimento monarquista (Farinelli, 2022). Em 2005, o
porta-voz da associação, Andrew Arulanandam, chegou a dizer que
as iniciativas desarmamentistas no Brasil representavam o “salvo de
abertura” do movimento global de controle de armas – e que, caso
fosse bem-sucedido, os Estados Unidos seriam o próximo alvo (Gre
en e Varjacques, 2022). As previsões não se cumpriram, dada a força
persistente da NRA na política dos EUA, potencializada pela eleição
de um aliado incondicional, Donald Trump, em 2016 (Johnson, 2019).
O engajamento do trumpismo com o tema foi a janela de oportu
nidade para que o lobby das armas buscasse estabelecer relações mais
próximas com a extrema direita global, inclusive – e especialmente – no Brasil. Após vários decretos do governo Bolsonaro facilitando a
aquisição de licenças para CACs (Colecionadores de armas, Atirado
res desportivos e Caçadores), o Brasil viu o número de armas registra
das legalmente subir de 350 mil em 2018 para 1 milhão até agosto de
2022 (Lopes, 2022).
Inspirados pela maneira como a extrema direita americana (em suas
vertentes alt-right, cristã e libertária) encaram os second amendment
rights (Dawson, 2019), os conservadores em armas brasileiros defendem
a causa-mestra do bolsonarismo: o direito de se armar. Ela se soma ao
antiglobalismo dos templários, na crença de que a guerra cultural pode
desembocar na necessidade real de proteger os valores tradicionais; ao
nacionalismo cristão de evangélicos e ultracatólicos, animados pelo
preceito bíblico da proteção da família e da nação (Agência Pública,
2022); e ao libertarianismo de ocasião daqueles que creem que a
liberdade (inclusive de matar) é um direito fundamental do indivíduo.
A defesa das armas desembocou, em 2019, na criação de uma
versão brasileira da NRA: o Pró-Armas, grupo criado pelo advogado
Marcos Pollón, que se defi ne como “pró-Deus, pró-vida e pró-armas”.
Com o slogan “não é sobre armas, é sobre liberdade”, Pollón e mais 22
deputados abertamente ligados ao movimento foram eleitos em 2022.
Guilherme Casarões
35
Ele foi um dos destaques do maior evento conservador do Brasil, a
versão nacional da Conservative Political Action Conference (CPAC--Brasil), idealizada por Eduardo Bolsonaro logo que seu pai chegou à
presidência e transformada numa espécie de celebração das conexões
norte-americanas da extrema direita brasileira.
Mobilizados pelo mote “um povo armado jamais será escraviza
do”, frase inspirada em Benito Mussolini e reavivada por Bolsonaro
em meio à pandemia, olavistas, evangélicos e ultraliberais abraçam as
armas em preparação para contestar o resultado das urnas. O bolsona
rismo poderá até reproduzir a maior crise institucional da mais antiga
democracia das Américas – a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro
de 2021. O roteiro já está dado: alegações infundadas e sistemáticas
de fraude eleitoral, desconfi ança e tentativas de criminalização dos
institutos de pesquisa e a consolidação de uma identidade autoritária
e pretensamente majoritarista, de fundo nacionalista cristão, traduzida
na ideia de “Datapovo” (em oposição ao instituto Datafolha) e pouco
disposta a aceitar qualquer resultado das urnas que não seja seu pró
prio triunfo. À diferença dos EUA, contudo, o presidente brasileiro
conta com o apoio de importante setores das Forças Armadas, das po
lícias e das baixas camadas do estamento burocrático, precocemente
cooptadas e aparelhadas pelo bolsonarismo.
A estrutura do processo de americanização da política brasileira é
apresentada, de forma sintética, na Tabela 1, na qual se apresentam os
movimentos de emulação, articulação e internalização da gramática,
do estilo e das pautas da extrema direita norte-americana:
Journal of Democracy em Português 36
Templários
digitais
Pastores patriotas Libertários
tropicais
Conservadores
em armas
Emulação Linguagem
troll, estratégias
de ocupação dos
espaços digitais
e guerra cultural
de extrema
direita
Ecossistema
da guerra
informacional
baseado em
desinformação
Pautas da direita
cristã americana:
aborto, restrição
a direitos
LGBT+, guerra
às drogas
Nacionalismo
cristão
Sionismo
cristão (relações
privilegiadas
com Israel)
Liberdades
econômicas
irrestritas
Direito
incondicional
às liberdades
de expressão e
movimento (First
Amendment
Rights)
Desregulamenta
ção de políticas
públicas de
Educação (homes
chooling), Meio
Ambiente, entre
outras
Direito
inalienável às
armas (Second
Amendment
Rights)
Defesa armada
de valores
ideológicos
Articulação Steve Bannon
e outros
ideólogos e
comunicadores
da alt-right
Fox News
(Tucker Carlson
e Lou Dobbs)
Capitol
Ministries
Latino Coalition
for Israel
New Apostolic
Reformation
(NAR) e
International
Coalition for
Apostolic
Leaders
Cato Institute,
Mises Institute,
Atlas Network
America’s
Frontline Doctors
National Rifl e
Association
(NRA)
Membros
do Partido
Republicano dos
EUA
Internalização “Gabinete
do ódio” e
Secretaria de
Comunicação
do governo
(Secom)
Blogs e sites
bolsonaristas
(Terça Livre,
Conexão
Política, Folha
do Brasil, Jornal
da Cidade
Online)
Jovem Pan e
outros veículos
adesistas
(Record,
Correio do
Povo)
Ativismo
da Frente
Parlamentar
Evangélica
Fortalecimento
de organizações
políticas
evangélicas,
como a Anajure
Nomeação de
evangélicos
e católicos
tradicionalistas
para o primeiro
escalão do
governo
Lei da Liberdade
Econômica
e reformas
liberalizantes
“Gabinete
paralelo” no
enfrentamento da
Covid-19
Rede de alt
science composta
por grupos
como Médicos
Pela Vida,
infl uenciadores e
jornalistas
Associação
Nacional de
Educação
Domiciliar
Ativismo da
“bancada da
bala”
Movimento Pró
Armas
Conservative
Political Action
Committee
(CPAC) Brasil
Principais
representantes
políticos
Filipe G.
Martins
Carlos
Bolsonaro
Ernesto Araújo
Abraham
Weintraub
Damares Alves
Marco Feliciano
Nikolas Ferreira
Michelle
Bolsonaro
Paulo Guedes
Salim Mattar
Arthur Weintraub
Eduardo Pazuello
Eduardo
Bolsonaro
Marcos Pollón
Ricardo Salles
Bia Kicis
Tabela 1: movimentos da americanização da política brasileira a
partir das conexões transnacionais
Guilherme Casarões
Considerações fi nais
37
Este texto começou a ser escrito entre os dois turnos da eleição de
2022 e foi fi nalizado após a vitória de Lula da Silva. O resultado aper
tado da disputa (50,9% para Lula contra 49,1% para Bolsonaro, uma
diferença de 2 milhões de votos) é refl exo tanto do uso ostensivo da
máquina pública pelo presidente em busca da reeleição como da resili
ência do bolsonarismo, movimento amplo, relativamente coeso e espa
lhado pelo Brasil. No momento do fechamento deste artigo, apoiadores
do presidente Bolsonaro ainda ocupam algumas rodovias, que vinham
forçosamente fechadas desde a noite da divulgação dos resultados das
urnas, e muitos seguem acampados na frente de quartéis ao redor do
país. O mote comum aos protestos pós-eleitorais é a descrença nas urnas
eletrônicas (fomentada recorrentemente por Bolsonaro e seus aliados,
inclusive militares) e a demanda por intervenção militar a partir de uma
leitura deturpada do Artigo 142 da Constituição Federal. No entanto,
o próprio Ministério da Defesa, que realizou um processo paralelo de
verifi cação e auditoria das urnas, constatou que não há indício de irre
gularidades nas eleições brasileiras.
Mobilizados pelo silêncio do presidente – que ainda não reconheceu
ofi cialmente a derrota, ainda que tenha autorizado que seus ministros
iniciassem o processo de transição –, o bolsonarismo segue ativo em sua
contestação à ordem democrática, nas ruas e nas redes. Isso sugere que
o Brasil testemunhará uma transição conturbada de governo, ao menos
no plano social, rompendo o padrão das últimas quatro décadas de de
mocracia. Vimos processo semelhante nos Estados Unidos: a eleição do
democrata Joe Biden, em novembro de 2020, não foi capaz de desmobi
lizar o trumpismo – tornando-o, por vezes, mais reativo e virulento. Isso
talvez nos mostre que o bolsonarismo, graças à sua organização e capi
laridade, à sua identidade monolítica e majoritarista e a seus laços trans
nacionais poderosos, cujo principais interlocutores são a extrema direita
norte-americana, seja capaz de sobreviver à derrota de Jair Bolsonaro.
38
Journal of Democracy em Português
A resiliência do movimento bolsonarista será peça-chave para
uma eventual desestabilização do sistema democrático. Se, nos anos
Bolsonaro, esse movimento deu-se de dentro (do governo) para fora,
agora veremos o processo reverso, de fora para dentro. De todo
modo, já é possível afi rmar que, hoje, aproximadamente metade do
país opera sob uma lógica cívica completamente diferente daque
la que constituiu a cultura
política brasileira, tanto his
toricamente quanto desde os
albores da Nova República,
quatro décadas atrás. Se pu
dermos singularizar um gran
de legado de Jair Bolsonaro e
de sua poderosa e destrutiva
É possível afi rmar que,
hoje, metade do país opera
sob uma lógica cívica
completamente diferente
daquela que constituiu a
cultura política brasileira
historicamente.
versão da extrema direita brasileira, é o da americanização de nossa
política, a partir do que há de pior do populismo autoritário norte--americano – fundamentalista, reacionário e armado até os dentes
para defender sua própria visão excludente de sociedade. Ao longo
dos próximos anos, ou décadas, teremos um grande esforço para tor
nar o Brasil brasileiro de novo – resgatando parâmetros mínimos de
democracia, pluralidade e tolerância.
Guilherme Casarões
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Plataforma Democrática (www.plataformademocratica.org) é uma
iniciativa da Fundação FHC e do Centro Edelstein de Pesquisas Sociais dedi
cada a fortalecer a cultura e as instituições democráticas na América Latina,
por meio da produção de conhecimento e da promoção do debate pluralis
ta de ideias sobre as transformações da sociedade e da política na região e
no mundo. Realiza pesquisas e seminários para estimular o diálogo entre os
produtores de conhecimentos e os diferentes atores sociais e políticos sobre
temas da atualidade.
Plataforma Democrática oferece uma infraestrutura virtual com uma
biblioteca de livre acesso que inclui milhares de textos sobre temas relaciona
dos à democracia na América Latina e um banco de dados sobre instituições
de pesquisa na região.
As principais áreas de trabalho da Plataforma Democrática são:
Transformações Geopolíticas Globais e instituições democráticas:
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https://www.plataformademocratica.org/publicacoes#CambiosGeopoliticos
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https://www.plataformademocratica.org/publicacoes#MediosComunicacion
https://www.plataformademocratica.org/publicacoes#EnsaiosDemocracia
Sociedade civil e democracia:
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Bibliotecas virtuais:
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https://www.plataformademocratica.org/biblioteca-sociedade
Coleção Recursos de Pesquisa na Internet:
https://www.plataformademocratica.org/publicacoes#RecursosPesquisa
Journal of Democracy em Português, Volume 11, Número 2, Novembro de 2022
© 2022 National Endowment for Democracy and The Johns Hopkins University Press. O artigo do autor Guilherme Casarões.
Confira a noticia na Folha de São Paulo .https://www1.folha.uol.com.br/
E assim caminha a humanidade.
Imagem ; Site Mundo Educação . Portal UOL.
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