sábado, 4 de outubro de 2025

Brasil e o fenômeno global.

 A maquina partidária é a capacidade de influencia geopolítica, financeira e política, que um partido possui, não somente em termos de defender seu território político, como também aumentar sua influencia geopolítica, financeira e hierárquica dentro e fora de seu espectro político.

Na área  geopolítica, uma maquina partidária, as políticas territoriais na relação de poder e influencia dentro de seu espectro político, aonde se visa manter seu poder e influencia política dentro de um determinado seguimento. Uma maquina partidária, envolve no seu sentido geopolítico, o gerenciamento e expansão de poder e influencia de um determinado partido em um determinado espectro político.

Uma maquina partidária, na sua área hierárquica, garante a influencia absoluta de um determinado partido dentro do seu espectro político. Com uma maquina partidária, na sua área hierárquica, garante a influencia expansionista de um determinado partido, além das bases do seu espectro político.

No âmbito financeiro, uma maquina partidária, garante á um determinando partido, se sobrepor pelo poder econômico. Mantendo sua influencia geopolítica e hierárquica, uma maquina partidária, representa a concepção total na sua "natureza política", em uma clara manifestação da hierarquia econômica, política e territorial de um determinando partido, dentro e fora de seu espectro político. 

Uma maquina partidária, garante a "natureza política" de um determinado partido, no seu total e absoluto poder e influencia expansionista por meio do seu poder econômico, que se traduz na "natureza política", dentro e fora do seu espectro político, em uma influencia geopolítica, hierárquica e financeira, pelo "natureza política" do poder econômico que uma maquina partidária proporciona á um determinado partido político.

Uma maquina partidária, garante á um determinado político, a plena capacidade de estrutura e poder político, para se adaptar organicamente a qualquer mudança em uma sociedade. 

Um partido político é uma organização de pessoas que compartilham uma visão política e ideológica semelhante e se unem para influenciar ou conquistar o poder de governar. Seu principal objetivo é lançar candidatos para cargos eletivos, visando implementar seu programa de governo e representar os interesses de seus eleitores. 

Base ideológica: Os membros se unem em torno de um conjunto comum de ideias, valores e princípios que orientam suas propostas e ações políticas.

Busca pelo poder: Os partidos competem nas eleições para eleger seus representantes e, assim, ter a chance de exercer o poder político no Legislativo ou no Executivo.

Organização estruturada: Possuem uma estrutura interna com estatutos, hierarquia e mecanismos para tomada de decisão. A filiação é voluntária, e os membros devem seguir as normas internas.

Vínculo com a sociedade: Servem como intermediários entre a sociedade e o Estado, traduzindo as demandas e os interesses de grupos sociais em propostas políticas.

Atuação em diferentes níveis: Podem atuar em esferas nacionais, estaduais e municipais, organizando-se em diretórios que representam a direção do partido em cada nível. 

Funções dos partidos políticos

Lançamento de Elaboração de programas de governo: Formulam propostas e planos de ação para a gestão pública, que são apresentados candidaturas: São responsáveis por indicar e apoiar candidatos para as disputas eleitorais.

Incentivo ao debate público: Contribuem para a discussão de questões políticas e para a formação da opinião pública.

Organização da representação política: Agrupam representantes eleitos, facilitando a governabilidade e a articulação no sistema político.

Prestação de contas: São obrigados a prestar contas das receitas e despesas, principalmente durante as campanhas eleitorais, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 

Em uma democracia, os partidos são fundamentais para o funcionamento do sistema representativo, permitindo que a população tenha suas diversas aspirações e interesses representados no governo. 

A direita política abrange ideologias que defendem o conservadorismo social, o liberalismo econômico e a manutenção da hierarquia social. Já a extrema-direita se diferencia da direita tradicional por ser mais radical, autoritária, nacionalista e, muitas vezes, antidemocrática. 

Direita política

A direita pode incluir diferentes correntes, sendo as mais comuns o conservadorismo e o liberalismo. Suas principais características incluem: 

Conservadorismo social: Valorização de tradições, costumes e instituições como a família e a religião.

Liberalismo econômico: Defesa de um mercado mais livre, com pouca intervenção do Estado na economia, menos impostos e privatizações.

Hierarquia social: Aceitação da desigualdade social como algo natural, onde o mérito individual é o principal motor para a ascensão social.

Compromisso democrático: A direita democrática aceita as regras do jogo político, incluindo o debate público e a alternância de poder. 

Extrema-direita

A extrema-direita é uma versão mais radical e frequentemente mais agressiva da direita, com pautas mais intensas e antidemocráticas. Seus elementos centrais são: 

Ultranacionalismo e nativismo: Defesa de uma identidade nacional ou étnica homogênea e purista, rejeitando a diversidade e o pluralismo.

Autoritarismo: Valorização de um regime de "lei e ordem" forte e centralizado, com tendências antidemocráticas.

Anticomunismo e antiliberalismo: Forte oposição a ideologias de esquerda e, em alguns casos, também a aspectos do liberalismo, que é visto como um enfraquecedor da unidade nacional.

Populismo radical: Muitas vezes capitaliza a insatisfação popular para promover uma agenda que se opõe às elites políticas tradicionais, vista como decadente.

Antidemocracia: Pode questionar ou rejeitar o funcionamento das instituições democráticas, defendendo soluções violentas ou ditatoriais. 

Diferença-chave

A principal distinção está no grau de radicalismo e na relação com a democracia. Enquanto a direita democrática opera dentro do sistema político existente, a extrema-direita frequentemente busca desestabilizar ou subverter esse sistema com o objetivo de impor uma visão mais purista e autoritária da sociedade. 

Exemplo prático: Um partido de direita pode defender um corte de gastos sociais para favorecer o livre mercado, mas respeitando as regras democráticas. Já um movimento de extrema-direita pode defender o mesmo corte, mas justificando-o com discursos nacionalistas e xenófobos, além de atacar as instituições democráticas que se opõem à sua agenda.

Confira abaixo o artigo do autor  Guilherme Casarões



Volume 11, Número 2, Novembro de 2022

 Artigos Inéditos


 Artigos Inéditos

 O movimento bolsonarista e a americanização 

da polítiVolume 11, Número 2, Novembro de 2022

ca brasileira:

 causas e consequências da extrema direita no poder

 Guilherme Casarões

 Angola e Moçambique: avanços e recuos

 da democracia

 Mathias Alencastro

 Traduções

 Ucrânia e Rússia: guerra e regimes políticos

 Timothy J. Colton

 Propaganda digital: o poder dos influenciadores

 Samuel C. Woolley

 Por que a democracia alimenta teorias

 da conspiração

 Scott Radnitz

 Como os autocratas instrumentalizam os direitos 

das mulheres

 Elin Bjarnegård e Pär Zetterberg

 CONSELHO EDITORIAL Bernardo Sorj

 Sergio Fausto

 TRADUÇÃO 

 REVISÃO TÉCNICA 

Fabio Storino 

Otávio Dias

 Beatriz Kipnis

 DIAGRAMAÇÃO Felipe Martins | Wonderweb

 Journal of Democracy em Português, Volume 11, 

Número 2, São Paulo, Novembro de 2022

 Plataforma Democrática

 ISSN 2527-1369

 Índice de catálogo sistemático:

 Democracia, Política e Governo, Sociedade, Partidos Políticos, Políticas Públicas.

 © Copyright - Todos os direitos reservados à:

 Fundação Fernando Henrique Cardoso

 Rua Formosa, 367, 6º andar, Centro, São Paulo/SP, CEP: 01049-000

 www.fundacaofhc.org.br  •  e-mail: imprensa@fundacaofhc.org.br  

São Paulo (Sede)

 Rua Formosa, 367, 6º andar - Centro

 São Paulo - SP - Brasil - CEP 01049-000

 tel: +55 (11) 3359-5000

 contato@plataformademocratica.org

 PERIODICIDADE: Semestral

O movimento bolsonarista e a 

americanização da política brasileira:

 causas e consequências da extrema direita 

no poder

 Guilherme Casarões

 Guilherme Casarões, doutor e mestre em Ciência Política pela 

Universidade de São Paulo (USP), é professor da Escola de 

Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas 

(FGV-EAESP). Possui pesquisas e artigos publicados nas áreas de 

política externa brasileira, extrema direita e nacionalismo religioso, 

relações Brasil-Oriente Médio e teoria das relações internacionais. 

É um dos coordenadores do Observatório da Extrema Direita.

 Quando Donald Trump se elegeu presidente dos Estados Unidos, em 

novembro de 2016, diversos analistas convergiram num diagnóstico 

razoavelmente preciso, ainda que depreciativo: graças ao populista de 

extrema direita que chegava ao poder, a política norte-americana teria 

se “latino-americanizado” (Encarnación, 2016; Tharoor, 2017). Eles 

se referiam aos traços demagógicos, misóginos, protecionistas e per

sonalistas que tornaram Trump popular num país outrora avesso a esse 

tipo de fazer político, mas que eram comuns na história das nações ao 

sul do Rio Grande. 

O argumento é correto naquilo que remete aos aspectos pessoais 

que viabilizaram não somente a eleição de Trump, mas também o fun

8

 Journal of Democracy em Português

 cionamento de seu governo, baseados na construção de um inédito 

populismo norte-americano. Mas há nele um ponto cego fundamental: 

enquanto na América Latina os movimentos populistas eram inclusi

vos, voltados à incorporação das massas empobrecidas na sociedade, 

o populismo representado por Trump e pela extrema direita republi

cana é fundamentalmente excludente, baseado na construção de um 

regime iliberal, potencialmente autoritário, em que minorias não são 

autorizadas a participar do processo democrático.

 Com a ascensão do bolsonarismo, estamos diante de um processo 

de americanização da política brasileira. Ironicamente, Jair Bolsonaro 

é o primeiro presidente “jacksoniano” do Brasil, emulando a visão 

política do presidente Andrew Jackson (1829-1837), recentemente 

reeditada por Trump. Considerado o primeiro populista norte-ame

ricano, o general e ex-parlamentar governou o país confrontando as 

instituições, desobedecendo decisões da Suprema Corte de proteção a 

povos nativos e implementando um modelo de democracia majoritária 

e antielitista – em benefício de uma classe média branca e masculina 

(Casarões, 2022). 

Com isso, não quero sugerir que a extrema direita nacional não 

tenha raízes, das mais variadas, nas ideologias radicais que emergiram 

no Brasil ao longo do último século. Mas essa expressão particular 

contemporânea do reacionarismo brasileiro, do qual o presidente Bol

sonaro é a face mais visível, constituiu-se a partir de ideias, gramáticas 

e estratégias fortemente internacionalizadas – e, em larga medida, im

portadas das diversas correntes que compõem o mosaico da extrema 

direita norte-americana (Encarnación, 2018). O bolsonarismo é, antes 

de tudo, um movimento transnacional, que tem nos Estados Unidos 

seu principal horizonte, tanto na formatação de uma ideologia como 

na construção de uma nova realidade política.

 Esta constatação explica dois movimentos observados no Brasil 

desde a ascensão de Bolsonaro como candidato viável à Presidência 

Journal of Democracy em Português, Volume 11, Número 2, Novembro de 2022 

© 2022 National Endowment for Democracy and The Johns Hopkins University Press

Guilherme Casarões

 9

 da República, em 2018. O primeiro deles é a insistente tentativa, por 

parte do bolsonarismo, em legitimar-se a partir das conquistas políti

cas do trumpismo. Como cristas de uma onda global de extrema direi

ta, difi cilmente Bolsonaro teria conseguido se eleger sem as condições 

internacionais oferecidas pela chegada de Trump à Casa Branca, tanto 

no plano simbólico-estratégico como no plano material – que envolve

ram, entre outras coisas, o apoio direto à candidatura bolsonarista por 

parte de grupos ligados ao governo americano. 

O segundo é a transformação do Brasil no bastião da guerra cul

tural dos “defensores do Ocidente”: após a derrota de Trump na sua 

corrida pela reeleição em 2020, os olhos da extrema direita americana 

(e mundial) voltaram-se para as eleições brasileiras de 2022. Nas pala

vras de Steve Bannon, ex-estrategista da Casa Branca e o mais notório 

representante da alt-right dos EUA, a disputa presidencial no Brasil 

deste ano é a segunda mais importante do mundo – e a mais decisiva 

da América Latina (Pagliarini, 2021). 

Este artigo tem como objetivo analisar a ascensão da extrema direi

ta contemporânea no Brasil e situá-la no contexto da americanização 

da política brasileira. Ele será dividido em quatro partes. Na primeira, 

buscarei apresentar os elementos fundamentais do bolsonarismo como 

expressão da direita radical, discutindo sua noção particular de demo

cracia majoritarista ou iliberal. Em seguida, demonstrarei como o bol

sonarismo se construiu como movimento transnacional, inspirado em 

sua contraparte americana (o trumpismo), a partir de três movimentos: 

emulação, articulação e internalização. Cada subseção, na segunda 

parte, dará conta de um dos conjuntos de atores que dão forma ao mo

vimento bolsonarista: os templários digitais, os pastores patriotas, os 

libertários tropicais e os conservadores em armas. Por fi m, a terceira 

seção apresentará refl exões fi nais sobre o tema, diante dos resultados 

das eleições presidenciais de 2022 no Brasil.

10

 Journal of Democracy em Português

 O que é a extrema direita brasileira?

 Não existe somente um movimento de extrema direita no Brasil. 

Há vários, de tamanhos e matizes diversos, que se espraiam pela his

tória do século 20. A mais emblemática dessas manifestações políticas 

foi o integralismo, ideologia de corte fascista que se cristalizou no pri

meiro partido de massas do país e que, até hoje, infl uencia movimen

tos e grupúsculos radicalizados em atividade. No entanto, de ufanistas 

autoritários ligados ao falecido político Enéas Carneiro a ultracatóli

cos do Centro Dom Bosco, passando por skinheads e neonazistas, o 

arco da extrema direita brasileira é amplo, plural e complexo (Caldeira 

Neto, 2020). 

O bolsonarismo é, sem dúvida, a expressão contemporânea mais 

consolidada da extrema direita tupiniquim. Em gestação desde pelo 

menos 2016, esse movimento possui afi nidades e sobreposições com 

outros membros de sua família ideológica, mas não necessariamente 

se confunde com eles. Além do tamanho – afi nal, 56 milhões de bra

sileiros foram às urnas eleger Jair Bolsonaro à presidência em 2018, 

e 58 milhões votaram por sua reeleição em 2022 – e da capilaridade 

genuinamente nacional, o bolsonarismo distingue-se de outros grupos 

por sua maleabilidade ideológica e programática e por operar, ao me

nos em tese, dentro dos limites do jogo democrático, frequentemente 

testando sua resiliência.

 Mais ainda: trata-se de um movimento que, a despeito de arroubos 

golpistas e autoritários por parte de seu líder, devidamente chancelados 

por frações de seu entorno político e de sua base societária, oferece uma 

visão – ainda que deturpada e pouco clara – de democracia. Não estamos 

falando, por óbvio, de uma concepção liberal e pluralista do termo, com a 

qual a Ciência Política trabalha, mas de uma construção democrática ilibe

ral ou majoritarista. Nela, concebe-se o sistema democrático não como um 

empreendimento universal e inclusivo, senão como pura e simples expres

são de uma certa vontade da maioria, à qual as instituições devem servir. 

Guilherme Casarões

 11

 O grande dilema desse modelo de democracia, a possibilidade de 

transformar-se em “tirania da maioria”, torna-se particularmente críti

co (e custoso) em sociedades culturalmente plurais nas quais um dos 

grupos culturais é majoritário – ou, ao menos, se apresenta como tal 

(Boxill, 1998). Essa tensão entre maioria e minorias tem sido o traço 

mais marcante do Partido Republicano norte-americano, desde, pelo 

menos, a década de 1980, novamente remontando à tradição jackso

niana do início do século 19 nos Estados Unidos.

 Seja como for, ao contrário de outros movimentos de extrema di

reita que fazem parte desse ecossistema político, o bolsonarismo pre

tende-se democrático, mesmo quando não o é. Isso nos leva a uma 

questão taxonômica essencial: a rigor, dentro do guarda-chuva concei

tual da extrema direita (far-right), o movimento capitaneado por Jair 

Bolsonaro encontra-se na categoria de direita radical (radical right), 

uma vez que aceita os pressupostos essenciais da democracia. 

Adota, frente a eles, uma postura de insatisfação reformista: diante 

de mazelas do sistema político, como a corrupção e os privilégios, ou 

com o intuito de frear uma agenda progressista que supostamente con

tradiz o caráter conservador da população, o bolsonarismo aceita con

ceder poderes especiais ao líder político para subverter as instituições 

e redirecionar políticas públicas, sempre em nome da vontade popular. 

Distingue-se, pois, da ultradireita (extreme right), abertamente antide

mocrática e revolucionária no seu desejo de romper com o consenso 

político vigente, almejando forjar uma nova sociedade que refl ita os 

valores do movimento no poder, como no caso no nazifascismo euro

peu (Mudde, 2019).

 Do ponto de vista substantivo, o bolsonarismo compartilha da 

ideologia da extrema direita, defi nida por Mudde (2019) como uma 

combinação de dois elementos: nativismo e autoritarismo. O primei

ro diz respeito a uma concepção de sociedade cujos únicos membros 

“verdadeiros”, que merecem usufruir plenamente direitos políticos, 

12

 Journal of Democracy em Português

 são nativos à comunidade. Se, no caso europeu e de alguns movimen

tos norte-americanos, essa característica legitima posições contrárias 

à imigração e ao multiculturalismo, podendo também ser concebida 

como uma espécie de etnonacionalismo (ou supremacismo racial), 

para o bolsonarismo esse caráter nativista se manifesta no nacionalis

mo religioso e no anticomunismo – produzindo, por sua vez, uma base 

ideológica supremacista cristã.

 Para o movimento bolsonarista, o cristianismo representa o prin

cipal traço de pertencimento ao grupo, imaginado como uma espé

cie de monólito majoritário. Quando o então deputado Jair Bolsonaro 

proclamou, em ato de pré-campanha em 2017, que “o Brasil é um 

país cristão” e que as “minorias deveriam se curvar às maiorias, ou 

adaptando-se ou desaparecendo”, ele foi capaz de criar uma síntese 

efi ciente da dicotomia schmittiana amigo versus inimigo, na qual os 

cristãos, que são “cidadãos de bem e patriotas”, opõem-se a todo tipo 

de minorias – desde criminosos, de pedófi los a trafi cantes, até repre

sentantes legítimos de segmentos e pautas sociais, como ambientalis

tas, desarmamentistas, militantes LGBTQIA+ e feministas – unidos 

pelo traço comum de uma alegada infl uência “marxista cultural”. 

A reativação da cantilena do temor comunista permitiu ao bolso

narismo não somente criar um senso permanente de ameaça (interna e 

externa), como também projetar a fusão entre nacionalismo e cristia

nismo como a única resposta possível às forças que pretendem subver

ter e desagregar a sociedade brasileira contra seus valores tradicionais: 

Deus, pátria e família.

 O autoritarismo, por sua vez, se exprime no desejo de concen

tração de poder nas mãos do chefe do Executivo para fazer valer a 

uma suposta vontade popular (manifestada pela maioria nas urnas), 

em detrimento dos mecanismos institucionais de freios e contrapesos 

defi nidos pela Constituição. Expressões como “supremo é o povo” 

(em oposição às decisões de ministros do Supremo Tribunal Federal 

Guilherme Casarões

 13

 contrárias ao governo) e “eu autorizo, presidente” (a favor de uma 

suposta intervenção militar constitucional no contexto da pandemia 

de Covid-19) dão a medida da natureza do autoritarismo que anima os 

apoiadores de Bolsonaro, particularmente vocais nos inúmeros protes

tos pró-governo convocados ou estimulados pelo próprio presidente 

ao longo dos últimos quatro anos, inclusive – e especialmente – em 

tempos de distanciamento social.

 Para além do permanen

te tensionamento institu

cional, o viés autoritário do 

bolsonarismo se manifesta 

na luta permanente contra 

a imprensa e a sociedade 

civil. O caso do jornalismo 

profi ssional é emblemático: 

Para além do permanente 

tensionamento institucional, 

o viés autoritário do 

bolsonarismo se manifesta 

na luta permanente contra a 

imprensa e a sociedade civil.

 Bolsonaro faz ataques públicos recorrentes a profi ssionais e veículos de 

imprensa que publiquem notícias contrárias ao governo ou denúncias 

de corrupção e improbidade administrativa. Ao mesmo tempo em que 

fomentam a desconfi ança e a hostilidade de seus apoiadores contra a 

mídia tradicional (os grupos Folha e Globo, em particular, além de jor

nalistas mulheres), o presidente, políticos próximos e infl uenciadores 

de diversos nichos legitimam portais, sites e vozes pró-governo – cujo 

trabalho mistura elementos de propaganda governamental, reportagens 

difamatórias e desinformação sistemática. Por essas razões, a organiza

ção Repórteres Sem Fronteiras (RSF) rebaixou a colocação do Brasil no 

ranking de liberdade de imprensa nos últimos anos e chegou a afi rmar 

que “a relação entre imprensa e governo se deteriorou consideravelmen

te desde a posse de Jair Bolsonaro”1.

 Há, em paralelo, um movimento aberto de controle, deslegitimação 

e perseguição à sociedade civil organizada. Em um de seus primeiros 

1. Ver: https://rsf.org/en/country/brazil.

14

 Journal of Democracy em Português

 atos governamentais, Bolsonaro atribuiu à Secretaria de Governo, en

tão chefi ada pelo general Carlos Alberto dos Santos Cruz, a responsa

bilidade de “supervisionar, coordenar, monitorar e acompanhar as ati

vidades e as ações dos organismos internacionais e das organizações 

não governamentais no território nacional”. A medida, considerada 

controversa e até mesmo inconstitucional, foi o início de uma série 

de investidas governamentais contra ONGs, sempre sob o pretexto de 

que estariam ameaçando os interesses nacionais. Em 2020, o presiden

te chegou a responsabilizá-las pelas queimadas na Floresta Amazôni

ca: “Você que está numa ‘ongzinha’ aí pegando grana de fora. Vocês 

sabem que as ONGs não têm vez comigo. A gente bota para quebrar 

em cima desse pessoal. Não consigo matar esse câncer (...) que tem na 

Amazônia” (Alessi, 2019).

 Em linha com outros movimentos contemporâneos de direita ra

dical, o bolsonarismo também é populista. Mudde (2019) defi ne po

pulismo como uma ideologia fraca – que se acopla a ideologias for

tes, como o socialismo, o fascismo ou o liberalismo – que divide a 

sociedade entre o “povo puro” e a “elite corrupta”, na qual se prega, 

ademais, que a política deve ser a expressão da vontade geral do povo, 

tendo o líder (ou o partido) como porta-voz dos anseios populares. 

A personifi cação do salvacionismo durante a primeira campanha 

presidencial de Bolsonaro, colocando-o como representante exclusivo 

da rejeição ao sistema político e do ódio ao Partido dos Trabalhadores, 

já seria indício sufi cientemente forte desse traço populista. No entanto, o 

caráter messiânico do líder do movimento, traduzido em apelidos como 

“mito”, “capitão” ou “messias” e potencializado pelo trágico atentado a 

faca às vésperas da eleição de 2018, criou condições para que esse mes

mo populismo fosse empregado como instrumento de governabilidade.

 Por meio do populismo, o movimento bolsonarista foi capaz de 

colocar em marcha seu conceito de democracia iliberal. Bolsonaro 

transformou-se no único porta-voz de uma ideia particular de povo, 

Guilherme Casarões

 15

 marcada pelos valores cristãos e conservadores, pela defesa da fa

mília tradicional e por um conceito difuso de liberdade – focado no 

empreendedorismo desregulado, na liberdade irrestrita de expressão 

e na posse de armas. O caráter hiperpersonalista do movimento e de 

seus valores se expressa bem por um versículo bíblico exaustivamente 

repetido pelo presidente: “e conhecereis a Verdade e a Verdade vos 

libertará” (João 8:32), como se a sociedade e seu ideal de verdade não 

existissem fora do que quer e diz o líder, como numa seita religiosa. 

É justamente essa fusão entre povo, fé e líder que levou analistas a 

rotularem o bolsonarismo como um movimento (e um governo) neo

fascista, convivendo imperfeitamente numa democracia institucional 

fragilizada (Boito Jr, 2020; Caldeira Neto, 2020).

 Finalmente, é importante frisar que o amálgama bolsonarista, que 

reúne empresários grandes e pequenos, pastores e fi éis evangélicos, 

membros das polícias e das Forças Armadas, envolve uma permanente 

reescrita da história. As origens cristãs e agrárias do Brasil, bem como 

sua matriz europeia, são ressaltadas pelas teses laudatórias ao Império, 

pintado como um tempo de paz, unidade e prosperidade, em oposição 

às turbulências da República. Nesse esforço revisionista, Bolsonaro é 

comparado com os supostamente ilustrados imperadores brasileiros, 

que corporifi cavam o cristianismo e asseguravam a ordem social e as 

hierarquias tradicionais (Krause e Pachá, 2020). 

A honestidade, a efi ciência e o compromisso democrático dos 

militares são apresentados de maneira acrítica a partir de releituras 

seletivas do período ditatorial brasileiro, a que Bolsonaro frequente

mente tece elogios públicos. A despeito da base predominantemente 

evangélica do bolsonarismo, a ponte entre o Império e a ditadura de 

1964 é a fé católica, representada, ainda hoje, pelo movimento Tradi

ção, Família e Propriedade (TFP), ligado ao movimento monarquista, 

a empresários anticomunistas apoiadores do regime militar e a grupos 

ideológicos infl uentes nas Forças Armadas (Estado de Minas, 2019).

16

 Journal of Democracy em Português

 A ascensão do bolsonarismo

 O sucesso do bolsonarismo, como pretenso movimento de massas, se 

explica não somente pela ideologia de extrema direita e por sua capaci

dade de oferecer critérios de pertencimento (e até mesmo acolhimento) 

a uma suposta maioria que deveria comandar os rumos da democracia 

brasileira. Para entender sua rápida ascensão e capilaridade sem prece

dentes no Brasil contemporâneo, é fundamental analisar as estratégias 

de construção das narrativas e de controle do debate público, que pas

sam, necessariamente, pela ocupação precoce e organizada dos espaços 

digitais e pelo empoderamento de grupos-chave para a organização des

sa ideia de democracia majoritarista discutida na seção anterior.

 Nesse sentido, deve-se resgatar as duas premissas deste artigo, que se 

referem ao caráter intrinsecamente transnacional do bolsonarismo e sua 

capacidade (e disposição) de “americanizar” a política brasileira. Apontar 

as semelhanças entre o fenômeno político capitaneado por Bolsonaro e 

aqueles observados ao redor do mundo, notadamente nos Estados Unidos 

ou na Hungria, é um bom ponto de partida, mas insufi ciente para fornecer 

uma explicação satisfatória para a força e a persistência do movimento 

bolsonarista. É preciso compreender a tripla estratégia na qual ele se an

cora, que envolve etapas de emulação, articulação e internalização.

 Em outras palavras, o bolsonarismo foi capaz de (1) identifi car e 

reproduzir práticas e performances bem-sucedidas de movimentos glo

bais de extrema direita, sobretudo nas redes sociais, mas também no 

campo da comunicação política pensada amplamente; (2) articular-se 

com grupos internacionais específi cos que pudessem prover suporte 

ideológico, societário ou material aos seus contrapartes brasileiros; (3) 

alinhar narrativas domésticas e estrangeiras, seja no sentido de interna

lizar e legitimar pautas e movimentações do bolsonarismo, amplifi car 

causas outrora negligenciadas no debate público, ou até mesmo fomen

tar percepções sobre inimigos internos e externos, compartilhadas com 

outros grupos além-fronteiras.

Guilherme Casarões

 17

 Os Estados Unidos são uma peça fundamental para a compreensão 

do quebra-cabeça bolsonarista. De lá, foram importados a gramática, 

a substância e o estilo de ação dos quatro grupos que hoje compõem o 

movimento brasileiro: os templários digitais, construtores de narrati

vas políticas, identifi cados com a alt-right norte-americana e represen

tados no caso brasileiro por Olavo de Carvalho; os pastores patriotas, 

articuladores dos valores cristãos (e, no limite, do projeto nacionalista 

cristão) junto à sociedade, que emulam a agenda da direita religiosa 

norte-americana e empreendem uma guerra cultural de longo alcance; 

os libertários tropicais, defensores de uma agenda ultraliberal que se 

estende da economia à educação e à liberdade incondicional de ex

pressão, mas sempre orientados por valores sociais conservadores, à 

semelhança do paleolibertarianismo dos EUA; e os conservadores em 

armas, grupo-síntese inspirado na Segunda Emenda à Constituição 

norte-americana, que reúne olavistas, cristãos conservadores e ultrali

berais em defesa do armamento amplo e irrestrito da população.

 Pode-se argumentar que a grande força do bolsonarismo é sua ca

pacidade de costurar múltiplos grupos de interesse e correntes de pen

samento liberais e conservadoras em um mosaico político-ideológico 

minimamente coerente. Isso não teria sido possível sem a construção 

de uma narrativa comum unifi cadora que representasse, de alguma 

maneira, os anseios coletivos de um grupo considerável de brasileiros 

que não se sentiam representados pelo sistema político – ou, no jargão 

que se popularizou no contexto eleitoral, pela “velha política”. Ainda 

que antipetismo e combate à corrupção (ou lavajatismo) fornecessem 

alguma liga para esse movimento, cujas origens remontam às manifes

tações verde-amarelas pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2015 

(ou, alguns casos, aos primeiros protestos de 2013), faltava-lhe uma 

identidade mais clara. Aos poucos, ela foi se revelando no binômio an

tiglobalismo/nacionalismo cristão, elementos que se desenvolveram 

de maneira concomitante ao longo da última década.

18

 Journal of Democracy em Português

 Os templários digitais à sombra da alt-right americana

 Os templários digitais, grupos de direita nascidos dos fóruns vir

tuais e das redes, foram os responsáveis por criar o ambiente emo

cional – de medo e ódio – que impulsionou o bolsonarismo em seus 

primórdios. Para tanto, importaram ideias e métodos da alt-right. O 

pendor por teorias conspiratórias, a linguagem violenta (associada à 

nascente cultura troll) e os memes de grande poder de viralização são 

as características mais visíveis dessa facção radicalizada da extrema 

direita norte-americana que chegou ao Brasil. Há, ademais, uma di

mensão substantiva relevante, que chamaremos de antiglobalismo na 

falta de uma expressão mais abrangente, mas que deve ser analisada 

com atenção.

 Na literatura recente sobre o fenômeno da alt-right, existe um de

bate extenso sobre os objetivos e a ideologia do movimento. Na au

sência de um conjunto claro de diretrizes, entende-se que a defesa de 

uma identidade branca, muitas vezes traduzida na ideia de nacionalis

mo ou supremacismo branco, está no cerne das reivindicações desse 

grupo. Para seus membros menos radicais, bastaria que houvesse mais 

controle migratório e mais liberdade para defender políticas e ideias 

de cunho racialista, de modo a assegurar a dominação branca numa so

ciedade multirracial ou multicultural. Para as franjas mais radicais, o 

objetivo se aproxima do ideal nazista de pureza racial, transformando 

os Estados Unidos em um ou diversos “etnoestados” de ascendência 

europeia (Hawley, 2017; Main, 2018).

 A alt-right, além disso, rejeita abertamente os valores da democra

cia liberal. Sua premissa básica é a de que, como existe uma desigual

dade natural entre membros da sociedade (seja ela racial ou biológi

ca), a igualdade civil torna-se obsoleta e indesejável. Por isso mesmo, 

o movimento se opõe fortemente ao discurso feminista de igualdade 

de gênero, ao discurso antirracista fundamentado na “teoria racial crí

tica” e corporifi cado em movimentos como Black Lives Matter, bem 

Guilherme Casarões

 19

 como à comunicação politicamente correta, sob o argumento de que 

são tentativas de cerceamento da liberdade de pensamento e expressão. 

O traço mais distintivo dessa oposição é a linguagem agressiva, viru

lenta, irônica e muitas vezes preconceituosa. Nascida nas profundezas 

da internet, a “cultura troll”, destinada a deliberadamente provocar 

discórdia e reações emocionais para além dos limites da convivência 

democrática, permitiu que o movimento circulasse amplamente suas 

mensagens e se infi ltrasse no debate nacional (Hawley 2017: 19).

 Ainda que existam traços visíveis de racismo e antissemitismo no 

discurso bolsonarista, que levaram, inclusive, à acusação de membros 

do governo Bolsonaro por apropriação de símbolos e performances 

associados ao supremacismo branco da alt-right (Agência Senado, 

2021), a dimensão racial não parece ser central ao movimento brasi

leiro (Carvalho, 2018). Para os templários digitais brasileiros, a opo

sição ao atual estado de coisas gira em torno de uma ameaça mais 

difusa, mas também comum aos extremistas norte-americanos, a que 

chamam de “marxismo cultural”. A teoria conspiratória do marxismo 

cultural é produto direto do fi m da Guerra Fria, momento em que a 

ameaça comunista representada concretamente pela União Soviética 

teria dado lugar a uma força invisível (e virtualmente indestrutível) 

da dominação ideológica da esquerda nas escolas e universidades, na 

imprensa, nas artes e no governo (Mirrlees, 2018).

 Segundo o discurso da alt-right, devidamente incorporado pelos 

templários brasileiros, essa hegemonia esquerdista em nível global se

ria fi nanciada por bilionários como George Soros e Bill Gates e difun

didas por meio de pautas de organizações multilaterais como a União 

Europeia e as Nações Unidas. O objetivo dessa agenda globalista seria 

aculturar as sociedades, retirando-lhe os vínculos com Deus, a nação 

e a família, com propósitos ideológicos (no caso dos marxistas cultu

rais) ou meramente mercantis (no caso dos chamados “metacapitalis

tas”). A guerra ao globalismo teria que ser realizada, antes de tudo, no 

20

 Journal of Democracy em Português

 campo da cultura, por meio da eliminação das infl uências esquerdistas – de pautas como aborto, gênero, mudanças climáticas – e da retoma

da dos valores tradicionais e conservadores em todos os campos da 

sociedade. Os antiglobalistas incorporaram, assim, as estratégias de 

ocupação de espaços próprias da guerra cultural conservadora norte--americana (Hunter, 1991).

 O pai intelectual dos templários digitais brasileiros é Olavo de 

Carvalho. Filósofo autoproclamado e polemista profi ssional, ele foi 

responsável por traduzir para a realidade nacional teses e argumentos 

da guerra cultural que circulavam desde os anos 1970 nos EUA. A des

peito de esforços de adaptação dos talking points do conservadorismo 

ianque aos problemas do Brasil, muito do que Carvalho produziu ao 

longo da década de 1990, em livros e colunas na grande imprensa, 

emulava os trabalhos de fi lósofos e ideólogos da direita radical ame

ricana (Carvalho, 2015)2. Munido de um denso repertório crítico à 

esquerda e valendo-se de uma linguagem abertamente debochada e 

agressiva, Carvalho articulou uma estrutura digital de difusão de suas 

ideias ao longo dos anos 2000 – contando com um site de “notícias 

alternativas” (Mídia Sem Máscara), um programa de rádio pela inter

net (True Outspeak) e o Curso Online de Filosofi a (COF), principal 

espaço de conversão política e massifi cação ideológica pela internet, 

amplifi cado pela forte inserção nas redes sociais.

 A frustração com o governo Dilma Rousseff e as grandes mani

festações antipetistas que ganharam força após 2013 proporcionaram 

o caldo de cultura ideal para a ascensão de uma nova direita no país. 

A combinação entre recessão econômica, confl itos entre presidente e 

Congresso e denúncias de grandes esquemas de corrupção, potencia

lizadas pela Operação Lava Jato, abriu um vácuo político-partidário 

2. Entre os autores e obras que serviram de inspiração para o pensamento político de Olavo de 

Carvalho estão Allan Bloom (The Closing of the American Mind, de 1988), Gary Allen e Larry 

Abraham (Política, Ideologia e Conspirações, de 1972) e Michael Minnicino (The New Dark 

Age: the Frankfurt School and ‘political correctness’, de 1992).

Guilherme Casarões

 21

 que foi ocupado por agrupamentos de orientação liberal na economia 

e conservadora nos costumes, como o Movimento Brasil Livre, o Vem 

Pra Rua e o Partido Novo (Rocha, 2021). 

Na caminhada que culminou no impeachment de Dilma Rousseff, 

em meados de 2016, Olavo de Carvalho fi rmou-se como o grande ideó

logo da nova direita brasileira, que passou a reproduzir acriticamente te

ses como a do “marxismo cultural” ou do “globalismo”. Muitos dos que 

foram às ruas animavam-se não somente pela revolta contra o governo 

do Partido dos Trabalhadores, mas contra o inimigo invisível que lhe 

dava sustentação: a hegemonia 

cultural da esquerda. Alguns 

chegavam a ostentar cartazes 

com os dizeres “Olavo tem ra

zão”, em alusão às declarações 

paranoicas do escritor sobre o 

suposto plano gramsciano em 

No governo Bolsonaro, a 

internalização da guerra 

informacional se deu pela 

criação do “gabinete do 

ódio”, sediado no Planalto.

 curso no Brasil. Ele mesmo se orgulhava de, com suas ideias, ter ajuda

do “a direita brasileira a sair do armário” (BBC Brasil, 2016).

 Da alt-right americana, também se importou o ecossistema da guerra 

informacional3 que viabilizou tanto o triunfo eleitoral de Jair Bolsonaro 

como a formação do amálgama bolsonarista. Os templários olavistas, 

ao longo de seu processo de gestação nos anos 2000, organizaram-se no 

ambiente digital por meio de portais (Mídia Sem Máscara, Reaçonaria, 

Implicante e Senso Incomum), páginas em redes sociais (Revoltados 

Online, Vem Pra Rua e Movimento Brasil Livre) e debates no YouTube 

(hangouts promovidos por celebridades da direita em ascensão, como 

o próprio Olavo de Carvalho, o músico Lobão e o então deputado Jair 

Bolsonaro). Em larga medida, a linguagem agressiva, o tom histriônico 

3. Ironicamente, a expressão “information warfare”, que remete ao uso e gestão de tecnologias 

de informação e comunicação no contexto de disputas políticas ou guerras multidimensionais 

(ou “guerras híbridas”), inspirou a criação da plataforma InfoWars em 1999 por Alex Jones, um 

dos mais proeminentes comunicadores da alt-right.

22

 Journal of Democracy em Português

 e o modelo de negócios reproduziam a fórmula bem-sucedida de in

f

 l uenciadores da alt-right, como Paul Joseph Watson, Milo Yiannopou

los e Stephan Molyneux, além de sites como InfoWars, de Alex Jones, 

e Breitbart News, de Andrew Breitbart e Steve Bannon (Prado, 2021).

 No governo Bolsonaro, a internalização da guerra informacional 

se deu pela criação do “gabinete do ódio”, máquina institucionali

zada de desinformação, sediada no Planalto e liderada pelos fi lhos 

do presidente, Carlos e Eduardo Bolsonaro, além de fi nanciada por 

empresários bolsonaristas (Lago, 2022). Mais recentemente, a cria

ção do canal de TV Jovem Pan, cujo objetivo expresso é ser a versão 

brasileira da Fox News, ofereceu mais uma camada de legitimidade 

às teorias conspiratórias e narrativas que animam a extrema direita 

transnacional e brasileira.

 Os pastores patriotas e a direita religiosa 

além-fronteiras

 A relação entre religião e política no Brasil passou por mutações 

dramáticas ao longo das últimas décadas. Majoritariamente católico, 

o país sempre possuiu forças políticas ligadas ao catolicismo, como o 

Partido Democrata Cristão (1945-1965), além de sofrer signifi cativa 

infl uência do Vaticano (por meio da Conferência Nacional dos Bispos 

do Brasil) em determinadas áreas de políticas públicas, como a edu

cação, a assistência social e os direitos humanos. No entanto, o avan

ço das instituições republicanas e do sistema democrático consolidou 

uma política secular e pluralista em termos religiosos, consubstancia

da no Artigo 5º da Constituição Federal de 1988 (Oro, 2005).

 As transformações no panorama religioso brasileiro deram-se, so

bretudo, pela rápida ascensão da população evangélica no país, que 

cresceu de 8% em 1980 para, aproximadamente, 30% em 2020. Aos 

poucos, grupos evangélicos, sobretudo pentecostais e neopentecostais, 

Guilherme Casarões

 23

 passaram a ocupar espaços legislativos, guiados pelo lema “irmão vota 

em irmão” e animados pela chamada teologia do domínio, que preco

niza a ocupação dos espaços sociais (cultura, imprensa, artes, negócios 

e política) rumo à construção de uma nação genuinamente cristã. Os 

esforços desses movimentos religiosos se materializaram na Frente Par

lamentar Evangélica, criada em 1986 por iniciativa de políticos ligados 

à Assembleia de Deus e que hoje reúne mais de 200 parlamentares de 

inúmeros partidos, majoritariamente de centro e direita, e de diversas 

denominações cristãs – e até mesmo alguns católicos (Smith, 2016; Al

meida, 2017).

 A atuação política dos movimentos evangélicos também se redefi 

niu nos últimos anos. Durante o governo Lula da Silva (2003-2010), 

lideranças pentecostais e neopentecostais, concentradas em partidos 

do chamado “centrão” político, conseguiram alavancar sua infl uência 

ao estabelecer uma relação de coexistência com forças de esquerda, 

contribuindo para a governabilidade naquele período. Com isso, ame

alharam cargos, concessões de rádio e TV, passaportes diplomáticos 

e, sempre que possível, contiveram o avanço de pautas progressistas. 

No governo Dilma (2011-2016), o relacionamento entre a presidente 

e osevangélicos se esgarçou rapidamente, abrindo espaço para a con

siderável adesão dessas lideranças ao processo de impeachment, em 

2016, sob a batuta do assembleiano Eduardo Cunha – e, na sequência, 

ao governo Michel Temer (Casarões, 2020).

 Àquela altura, a organização política dos evangélicos já nos per

mitia falar numa direita cristã brasileira, aos moldes de sua contrapar

te norte-americana. Nos Estados Unidos, país de maioria protestante, 

essa direita religiosa deu uma guinada radical a partir da década de 

1970, em reação às liberdades sexuais e ao uso de drogas no mo

vimento da contracultura, à ampliação de iniciativas de direitos de 

homossexuais, bem como à legalização do aborto após a decisão Roe 

v. Wade (1973) pela Suprema Corte (Ramet, 2005). Nos anos seguin

24

 Journal of Democracy em Português

 tes, essa coalizão cristã conservadora, cada vez mais radicalizada, 

assumiu os três temas como seus cavalos de batalha: guerra às dro

gas, ao aborto e à chamada “ideologia de gênero”, guiando a agenda 

política de presidentes republicanos como Ronald Reagan e George 

W. Bush (Toplin, 2007).

 Outrora ignorados ou minimizados no debate público brasileiro, os 

temas próprios à direita cristã norte-americana passaram a povoar os 

discursos e práticas de lideranças religiosas e políticas conservadoras 

no Brasil. A guinada da bancada evangélica, de um “centro fi siológi

co” para uma “direita ideológica”, deu-se a partir de 2013, quando o 

deputado Marco Feliciano, da Assembleia de Deus, assumiu a presi

dência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara e 

passou a pautar ativamente o debate sobre direitos sob uma perspecti

va conservadora (Cowan, 2014).

 Desde então, percebe-se uma disposição dos evangélicos de con

formar a moralidade pública da sociedade brasileira, a partir do enten

dimento de que constituíam uma “maioria moral”, em vez de simples

mente buscar proteger seus próprios valores religiosos (Oro, 2005). 

Essa moralidade é articulada em quatro grandes eixos: econômico, 

orientado pelo discurso de meritocracia e empreendedorismo alinhado 

com a teologia da prosperidade; moral, no sentido da regulação do 

comportamento individual, das identidades de gênero e da noção de 

família; securitária, que remete a um conjunto de políticas repressivas 

e punitivas, como a redução da maioridade penal e a criminalização 

das drogas; e interacional, que construiu, entre os evangélicos, a pers

pectiva de demonizar as opiniões discordantes (Almeida, 2017).

 A despeito da crescente força legislativa dos evangélicos, obser

vada na expansão de sua bancada no Congresso, faltava-lhes um can

didato majoritário com viabilidade eleitoral. Nas eleições de 2018, 

Bolsonaro corporifi cou a expectativa de muitos evangélicos de chegar 

ao topo do poder político. De mero parlamentar corporativista, conhe

Guilherme Casarões

 25

 cido por suas declarações grosseiras e apologia à ditadura militar, ele 

passou a advogar pautas cristãs, com grande senso de oportunidade, 

no contexto da crescente polarização política da última década. Com a 

esposa Michelle e alguns de seus fi lhos frequentadores da Igreja Batis

ta, o católico Bolsonaro, aos poucos, acercou-se de lideranças evangé

licas (como o pastor Silas Malafaia e os pastores-parlamentares Marco 

Feliciano e Magno Malta) e formou uma espécie de frente híbrida, 

pan-cristã, “reunindo as vantagens eleitorais da identidade evangélica, 

mas evitando as desvantagens” (Freston, 2020, 372).

 Além das pautas conservadoras típicas da direita religiosa america

na, o pan-cristianismo de Bolsonaro viabilizou uma das mais ambicio

sas visões de evangélicos fundamentalistas e católicos tradicionalis

tas: a construção de um projeto nacionalista cristão (Casarões, 2020; 

Pacheco, 2022). A melhor expressão desse modelo de sociedade, que 

envolve a submissão do pertencimento à nação (ou da cultura cívi

ca nacional) a critérios e elementos de fé (Juergensmeyer, 1993), é 

o próprio bordão de campanha de Bolsonaro: “Brasil acima de tudo, 

Deus acima de todos”. A fusão entre nacionalismo e cristianismo na 

ideia de Brasil cristão coloca-se como pilar da democracia majorita

rista propugnada pela extrema direita brasileira e foi um dos principais 

elementos de união entre templários digitais e pastores patriotas na 

conformação do movimento bolsonarista.

 O projeto do nacionalismo cristão brasileiro ergue-se sobre as mes

mas bases do movimento observado nos Estados Unidos – e já muito 

bem documentado e analisado (Goldberg, 2006; Perry e Whitehead, 

2020; Stewart, 2020). Trata-se da mobilização, por parte de uma mi

noria altamente mobilizada e razoavelmente organizada, de narrativas, 

símbolos, cosmologias e papéis sociais baseadas no entendimento da 

Bíblia – muitas vezes literal – como único parâmetro moral da so

ciedade. Se, no Brasil, esse movimento é intimamente associado ao 

bolsonarismo, nos EUA ele é uma das bases sociais do trumpismo.

26

 Journal of Democracy em Português

 No entanto, embora nem Bolsonaro nem Trump sejam exemplos 

de uma vida religiosa, além de terem abraçado o cristianismo de ma

neira visivelmente oportunista, o apoio a essas lideranças (muitas ve

zes promovidas como messiânicas) se explica pela defesa das pautas 

morais no campo das políticas públicas, pela promessa de uma nação 

cristã, como também pelo empoderamento político de fi guras e insti

tuições religiosas (Posner, 2020).

 Trump e Bolsonaro cercaram-se de religiosos em seu governo. O 

presidente norte-americano escalou, entre outros, os evangélicos Mike 

Pence (vice-presidente), Mike Pompeo (secretário de Estado) e Mark 

Meadows (chefe de gabinete), além de nomear a católica ultraconser

vadora Amy Coney Barrett para a Suprema Corte. O brasileiro, por 

sua vez, deu espaço a representantes da emergente direita cristã, como 

Damares Alves (ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos), 

fundadora da infl uente Associação Nacional dos Juristas Evangélicos 

(Anajure), Ernesto Araújo (ministro das Relações Exteriores), com la

ços tradicionalistas católicos (Teitelbaum, 2020), o pastor presbiteria

no Milton Ribeiro (o quarto ministro da Educação do governo), além 

de ter nomeado o também presbiteriano André Mendonça (ex-Advo

gado-Geral da União e ministro da Justiça) para o Supremo Tribunal 

Federal, cumprindo a promessa de que nomearia um juiz “terrivel

mente evangélico” para a corte (Casarões, 2020).

 O vínculo entre a direita religiosa dos dois países não se dá somente 

por contatos informais entre lideranças evangélicas, mas também por 

meio de organizações transnacionais, como a Capitol Ministries. Fundada 

pelo ex-jogador de basquete Ralph Drollinger, a organização tem como 

objetivo declarado evangelizar líderes políticos ao redor do mundo para 

que legislem a partir de preceitos bíblicos, produzindo políticas públicas 

“que satisfaçam a Deus” (Dip e Viana, 2020). Com a chegada de Trump 

ao poder, em 2017, passou a concentrar esforços na América Latina, 

f

 i nanciada por membros infl uentes do governo, como Pence e Pompeo, e 

Guilherme Casarões

 27

 auxiliada pela White House Faith and Opportunity Initiative (Rodríguez, 

2021). O trabalho de evangelização de Drollinger em países como 

Guatemala, Nicarágua, Peru e Paraguai (e, mais recentemente, Brasil), 

com o apoio do círculo íntimo de Trump, o tornou conhecido como 

“diplomata-sombra” da administração norte-americana (Schwartz, 2019).

 Ademais da plataforma voltada às pautas conservadoras, um dos 

assuntos centrais do trabalho da Capitol Ministries diz respeito às rela

ções com Israel. Unidos em torno do sionismo cristão, visão teológica 

que preconiza a defesa da Terra Santa como condição para a segunda 

vida de Cristo, a direita religiosa norte-americana e a administração 

Trump passaram a defender, além-fronteiras, o reconhecimento de Je

rusalém como a capital “una e indivisível” israelense e a transferência 

das embaixadas nacionais para a cidade. A promessa (ainda não cum

prida) de Bolsonaro durante a campanha de seguir as políticas trum

pistas com relação a Israel foi um ponto importante de contato com as 

igrejas evangélicas no Brasil4 – e atraiu o interesse e envolvimento de 

lideranças da direita cristã (Machado, Mariz e Carranza, 2021).

 Os libertários tropicais e a ode à Primeira Emenda à 

Constituição americana

 À primeira vista, parece estranho associar o bolsonarismo, movimento 

de matriz autoritária e iliberal, a qualquer tipo de ideal libertário – que não 

somente prega o Estado mínimo em termos econômicos, como também 

rejeita qualquer tipo de interferência estatal na vida privada e nas liberdades 

individuais. De fato, a relação entre Bolsonaro e grupos ultraliberais é bem 

mais recente e ocorreu, a rigor, já no contexto da campanha de 2018. Até en

tão, a expansão da ideologia libertária, iniciada em meados dos anos 2000, 

4. A aproximação tardia de Israel por parte de Bolsonaro dizia respeito à sua tentativa de 

construir uma identidade com movimentos evangélicos. Em 2016, o então deputado fi liou-se ao 

Partido Social Cristão, ligado à Assembleia de Deus e, em seu primeiro grande evento na nova 

legenda, viajou com os fi lhos para Israel e foi batizado pelo pastor Everaldo Pereira nas águas 

do rio Jordão.

28

 Journal of Democracy em Português

 deu-se em paralelo à ascensão do conservadorismo olavista e religioso, en

contrando guarida em movimentos como Líber, Livres e Movimento Bra

sil Livre e recebendo suporte institucional e fi nanciamento de think tanks 

como Instituto Millennium (IMIL), Instituto Mises Brasil (IMB) e Institutos 

Liberais (ILs) espalhados por diversos estados do país (Rocha, 2021).

 Ao contrário dos outros atores aqui analisados, os libertários tropicais 

possuem conexões muito mais diretas e orgânicas com movimentos se

melhantes norte-americanos. As origens do Livres, que por algum tempo 

esteve ligado ao Partido Social Liberal (PSL), remontam ao relaciona

mento de jovens liberais, como Fábio Ostermann, com o Cato Institute e 

a Foundation for Economic Education. O Instituto Mises Brasil, por sua 

vez, foi fundado pelo economista Hélio Beltrão Jr. em 2007, como bra

ço autônomo do Mises Institute e hoje oferece cursos de pós-graduação 

em temas ultraliberais. Já a poderosa Atlas Network, think tank sediado 

em Washington, possui fortes vínculos com as organizações ultraliberais 

brasileiras, incluindo o Mises Brasil, o IMIL, instituição fi nanciada por 

grandes grupos de imprensa nacionais e cujo maior expoente público é 

o economista (e polemista) Rodrigo Constantino, além do Instituto de 

Formação de Líderes, criado pelo empresário David Feffer, infl uente nos 

setores do mercado fi nanceiro paulista (Baggio, 2018).

 Quando Bolsonaro indicou o economista ultraliberal Paulo Guedes, 

egresso da Universidade de Chicago, como seu futuro ministro da Econo

mia, ele selou a aliança política e eleitoral com os libertários. Alguns deles, 

como os empresários Salim Mattar e Paulo Uebel, ambos do Millenium, 

foram para o governo cuidar, respectivamente, das áreas de desestatização 

e desburocratização. Outros, como Winston Ling, do Fórum da Liberdade, 

tornaram-se apoiadores frequentes (e vocais) do presidente. Entre as pautas 

unifi cadoras da ala libertária do bolsonarismo estavam a reforma adminis

trativa, a reforma da previdência e a agenda de privatizações. Ainda que a 

ampla agenda reformista tenha estagnado, levando a uma “debandada” da 

equipe econômica em meados de 2020, a maioria dos economistas e em

Guilherme Casarões

 29

 presários ultraliberais segue apoiando o governo – alguns deles, inclusive, 

participando ativamente do bolsonarismo nas ruas e nas redes.

 Em larga medida, a persistente adesão dos libertários tropicais à extre

ma direita deve-se à apropriação lato sensu da defesa da “liberdade” em 

todas as esferas, viabilizando uma aliança com grupos evangélicos, em 

torno do tema do homeschooling, ou com grupos ruralistas, defensores da 

desregulamentação ambiental. Mas a despeito da apologia à liberdade no 

programa de governo, essa certamente não era a prioridade de Bolsonaro 

até a eclosão da pandemia de Covid-19, em março de 2020. Ao se opor 

às medidas de isolamento social, o presidente passou a repetir um bordão 

que virou uma de suas marcas registradas: “mais importante que a vida é a 

nossa liberdade”. Com isso, acertou em cheio o coração (e o bolso) de um 

sem-número de “empreendedores bolsonaristas”, fenômeno interclasses 

que contempla cidadãos de realidades distintas, do executivo ao trabalha

dor informal precarizado, do grande empresário ao pequeno comerciante 

local, unidos pela ideologia do empreendedorismo e da meritocracia em 

oposição ao Estado (Nunes, 2021).

 Mesmo com a postura insistentemente negacionista (e muitas ve

zes criminosa) diante da crise sanitária, Bolsonaro foi capaz de usar o 

valor difuso da liberdade para mobilizar seus apoiadores no combate 

às medidas restritivas, que passaram a ser encaradas como tirânicas e 

ditatoriais. Essa manobra teve o duplo efeito de manter a base unida e 

radicalizada, por um lado, e antagonizar atores políticos – do então go

vernador de São Paulo, João Dória, ao Supremo Tribunal Federal – com 

vistas a amplifi car a narrativa conspiratória dos traidores da pátria (Kalil 

et al, 2021). Vale lembrar que, nos primeiros meses de pandemia, o alvo 

preferencial do bolsonarismo e de seu líder ainda era o Congresso Na

cional, em meio a pedidos de intervenção militar e uma reedição do Ato 

Institucional nº 5, dos tempos da ditadura (Gielow, 2020). Aos poucos, 

o rol dos inimigos passou a incorporar praticamente todas as institui

ções democráticas (inclusive agências governamentais, como a Agência 

30

 Journal of Democracy em Português

 Nacional de Vigilância Sanitária ou o Instituto Nacional de Pesquisas 

Espaciais) que se opunham às posições do presidente.

 O agravamento da pandemia levou Bolsonaro a instrumentalizar 

um conceito ainda mais amplo de liberdade, que incluía o direito de 

adotar – e indicar – o tratamento precoce para a Covid-19 (baseado 

em medicamentos sem efi cácia comprovada, como hidroxicloroquina 

e ivermectina), de não usar máscaras, vacinar-se ou observar qualquer 

medida sanitária adotada por prefeitos ou governadores. Embora mui

tas das posturas do presidente brasileiro fossem meras emulações do 

que Donald Trump vinha fazendo nos Estados Unidos, da recomen

dação de remédios milagrosos ao estímulo à realização de protestos 

em massa contra o isolamento social (Casarões e Magalhães, 2021), é 

possível argumentar que Bolsonaro levou seu populismo sanitário às 

últimas consequências – demitindo três ministros da Saúde em me

nos de um ano, participando ativamente de aglomerações e adotando 

uma estratégia informal, porém deliberada, de imunidade por contágio 

(Ventura, Aith e Reis, 2021a; 2021b).

 A pandemia também uniu empreendedores libertários e parte da 

classe médica em defesa das liberdades – e do uso de terapêuticas ine

f

 i cazes. Quatro dias após Bolsonaro anunciar, em suas redes sociais, a 

hidroxicloroquina como “uma possível cura” para a Covid-195, o em

presário Hélio Beltrão, do Mises Brasil, publicou um artigo na Folha de 

S. Paulo intitulado “Liberem a Hidroxicloroquina”, em que defendeu o 

uso ostensivo off-label do medicamento (Beltrão, 2020). Em poucas se

manas, dezenas de médicos se organizaram no grupo Médicos Pela Vida 

(MPV), lançando um protocolo de tratamento e um manifesto subscrito 

por milhares de profi ssionais de saúde (Canzian, 2020).

 O que foi promovido como um movimento espontâneo reproduzia, 

na verdade, processo idêntico ao ocorrido nos Estados Unidos, às ve

zes com dias de diferença entre os dois países. O tuíte de Bolsonaro 

5. Ver: https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1241434576049840130

Guilherme Casarões

 31

 com a divulgação da cura pela cloroquina, por exemplo, veio dois dias 

depois da primeira menção de Donald Trump ao medicamento como 

um “divisor de águas” (e horas depois de seu primeiro tuíte a respeito 

do assunto). O artigo de Beltrão, em que dizia que o governo seria 

irresponsável caso não adotasse protocolos para uso da hidroxicloro

quina, foi publicado dois dias após a Job Creators Network, do bilio

nário Bernard Marcus, fundador da Home Depot, começar a circular 

postagens pagas no Facebook exigindo que Trump acabasse com a 

burocracia para que o governo distribuísse o remédio para os pacientes 

com Covid-19 (Pearson, 2020).

 Mais emblemático, contudo, é o caso do Médicos Pela Vida. Fun

dado em maio de 2020, o grupo reunia médicos de diversos estados 

do país em torno da defesa de um “tratamento precoce” – expressão 

posteriormente abraçada pelo presidente para justifi car a adoção de 

medicamentos inefi cazes. O MPV desenvolveu uma relação simbió

tica com o bolsonarismo: tornou-se palco para a projeção de médicos 

negacionistas e teorias conspiratórias sobre vacinas por meio de lives 

públicas e canais de transmissão em aplicativos de mensagens, além 

de oferecer assessoria informal ao governo por meio do famigerado 

“gabinete paralelo”, responsável por formular recomendações de en

frentamento da Covid-19 junto ao Planalto ao largo do Ministério da 

Saúde (BBC News Brasil, 2020).

 Muito embora o movimento tenha origens e dinâmicas próprias, 

vários argumentos que sustentavam a defesa pública do tratamento 

precoce vinham de seu correlato norte-americano, o America’s 

Frontline Doctors. Sua criadora, a médica Simone Gold, havia ganhado 

notoriedade graças a um vídeo de julho de 2020, em que protestava em 

frente da Suprema Corte em defesa da cloroquina, contra as máscaras 

e o lockdown. Desde então, ela manteve contatos informais com o 

então assessor especial de Bolsonaro, Arthur Weintraub, apontado 

como um dos líderes do gabinete paralelo da Covid-19. Os argumentos 

32

 Journal of Democracy em Português

 de Gold contra a vacina também se espalharam rapidamente entre 

bolsonaristas, ecoados por comentaristas leigos da Jovem Pan e 

médicos infl uenciadores nas redes sociais. Vale lembrar que a médica 

é alvo de ações judiciais nos EUA por disseminação de fake news e 

chegou a ser presa na invasão do Capitólio, em janeiro de 2021 (UOL 

Notícias, 2021).

 Em meio à guerra contra a comunidade científi ca, a rede de alt-science 

formada no Brasil e espelhada no exemplo dos EUA também passou a 

se preocupar com uma outra liberdade, a de expressão. O bolsonarismo 

sentiu-se acuado em duas frentes: a legislativa e a digital. A controversa 

proposta do Senado de criminalizar notícias falsas difundidas pela 

internet, que se tornou particularmente sensível no contexto de extrema 

desinformação sobre a pandemia, foi duramente rechaçada pelo presidente 

e seus aliados como uma medida autoritária. No campo digital, ações do 

STF para banir contas de bolsonaristas identifi cados com a disseminação 

de informações falsas, bem como a iniciativa das próprias plataformas de 

incluir alertas em postagens potencialmente falsas, foram recebidas com 

revolta por Bolsonaro e seus aliados. 

Em janeiro de 2021, a suspensão da conta de Donald Trump das 

principais mídias sociais (Twitter, Facebook e Instagram), após in

centivar publicamente os ataques ao Capitólio, fez com que bolsona

ristas migrassem para redes mais abertas, populares entre a alt-right, 

como Parler e Gettr, em defesa de um tipo de liberdade irrestrita de 

expressão que só encontra respaldo na Primeira Emenda à Constitui

ção norte-americana (Haynes, 2021) – e que nada tem a ver com o 

ordenamento jurídico brasileiro.

 Os conservadores em armas e a ode à Segunda 

Emenda à Constituição americana

 Se a liberdade incondicional de expressão da Primeira Emenda 

Guilherme Casarões

 33

 à Constituição americana uniu empresários, economistas, médicos, 

jornalistas e militantes digitais em torno do direito de desinformar e 

de agredir, é a tropicalização da Segunda Emenda que proporciona a 

unidade mais orgânica do bolsonarismo – em torno do direito de se 

armar. São a quarta e talvez mais abrangente categoria do movimento: 

os conservadores em armas. Ao contrário da defesa das liberdades de 

expressão e de mercado, novidades incorporadas por Bolsonaro em 

sua trajetória rumo à presidência, o combate a políticas de controle de 

armas (consubstanciadas no Estatuto do Desarmamento, de 2003) é 

pauta antiga do ex-capitão. Ao longo dos anos, ele se destacou como 

um dos mais engajados porta-vozes da indústria de armas e munições 

no Congresso em prol da liberação, para fi ns comerciais, de porte e 

posse de armas (Rede Brasil Atual, 2014).

 Quando lançou sua candidatura, em meados de 2015, Bolsonaro 

ampliou sua rede armamentista junto aos Estados Unidos, tendo como 

principais contatos o ex-lutador Royce Gracie e Tony Eduardo, dono e 

instrutor de clubes de tiro no Brasil e nos EUA frequentados pela famí

lia Bolsonaro e associados à simbologia da alt-right americana6. Eles 

apresentaram Carlos e Eduardo Bolsonaro à maior feira de armas dos 

EUA, a Las Vegas Shot Show, que os fi lhos do atual presidente passa

ram a frequentar assiduamente desde 2016, com claros propósitos po

líticos. Nessas oportunidades, construíram e sedimentaram laços com 

a National Rifl e Association (NRA), lobby pró-armas norte-americano 

de alcance mundial. Há indícios de que a NRA, aliada um fundo de in

vestimentos norte-americano, a MFS Investment Management, ajudou 

a fi nanciar a campanha de Bolsonaro em 2018 (Seeing Red, 2022).

 A NRA já atuava discretamente no Brasil desde os debates sobre 

o Estatuto do Desarmamento, trazida ao Brasil pelos ultracatólicos da 

6. O clube de tiro 88 Tactical, localizado em Omaha, no estado do Nebraska, tem Tony Eduardo 

como um de seus diretores e é frequentado pelos fi lhos de Bolsonaro desde 2016. A instituição é 

frequentemente acusada de usar simbologia neonazista e supremacista branca em suas postagens, 

logomarcas e produtos (Agência Pública, 2021).

34

 Journal of Democracy em Português

 TFP, ligada ao movimento monarquista (Farinelli, 2022). Em 2005, o 

porta-voz da associação, Andrew Arulanandam, chegou a dizer que 

as iniciativas desarmamentistas no Brasil representavam o “salvo de 

abertura” do movimento global de controle de armas – e que, caso 

fosse bem-sucedido, os Estados Unidos seriam o próximo alvo (Gre

en e Varjacques, 2022). As previsões não se cumpriram, dada a força 

persistente da NRA na política dos EUA, potencializada pela eleição 

de um aliado incondicional, Donald Trump, em 2016 (Johnson, 2019). 

O engajamento do trumpismo com o tema foi a janela de oportu

nidade para que o lobby das armas buscasse estabelecer relações mais 

próximas com a extrema direita global, inclusive – e especialmente – no Brasil. Após vários decretos do governo Bolsonaro facilitando a 

aquisição de licenças para CACs (Colecionadores de armas, Atirado

res desportivos e Caçadores), o Brasil viu o número de armas registra

das legalmente subir de 350 mil em 2018 para 1 milhão até agosto de 

2022 (Lopes, 2022).

 Inspirados pela maneira como a extrema direita americana (em suas 

vertentes alt-right, cristã e libertária) encaram os second amendment 

rights (Dawson, 2019), os conservadores em armas brasileiros defendem 

a causa-mestra do bolsonarismo: o direito de se armar. Ela se soma ao 

antiglobalismo dos templários, na crença de que a guerra cultural pode 

desembocar na necessidade real de proteger os valores tradicionais; ao 

nacionalismo cristão de evangélicos e ultracatólicos, animados pelo 

preceito bíblico da proteção da família e da nação (Agência Pública, 

2022); e ao libertarianismo de ocasião daqueles que creem que a 

liberdade (inclusive de matar) é um direito fundamental do indivíduo. 

A defesa das armas desembocou, em 2019, na criação de uma 

versão brasileira da NRA: o Pró-Armas, grupo criado pelo advogado 

Marcos Pollón, que se defi ne como “pró-Deus, pró-vida e pró-armas”. 

Com o slogan “não é sobre armas, é sobre liberdade”, Pollón e mais 22 

deputados abertamente ligados ao movimento foram eleitos em 2022. 

Guilherme Casarões

 35

 Ele foi um dos destaques do maior evento conservador do Brasil, a 

versão nacional da Conservative Political Action Conference (CPAC--Brasil), idealizada por Eduardo Bolsonaro logo que seu pai chegou à 

presidência e transformada numa espécie de celebração das conexões 

norte-americanas da extrema direita brasileira.

 Mobilizados pelo mote “um povo armado jamais será escraviza

do”, frase inspirada em Benito Mussolini e reavivada por Bolsonaro 

em meio à pandemia, olavistas, evangélicos e ultraliberais abraçam as 

armas em preparação para contestar o resultado das urnas. O bolsona

rismo poderá até reproduzir a maior crise institucional da mais antiga 

democracia das Américas – a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro 

de 2021. O roteiro já está dado: alegações infundadas e sistemáticas 

de fraude eleitoral, desconfi ança e tentativas de criminalização dos 

institutos de pesquisa e a consolidação de uma identidade autoritária 

e pretensamente majoritarista, de fundo nacionalista cristão, traduzida 

na ideia de “Datapovo” (em oposição ao instituto Datafolha) e pouco 

disposta a aceitar qualquer resultado das urnas que não seja seu pró

prio triunfo. À diferença dos EUA, contudo, o presidente brasileiro 

conta com o apoio de importante setores das Forças Armadas, das po

lícias e das baixas camadas do estamento burocrático, precocemente 

cooptadas e aparelhadas pelo bolsonarismo.

 A estrutura do processo de americanização da política brasileira é 

apresentada, de forma sintética, na Tabela 1, na qual se apresentam os 

movimentos de emulação, articulação e internalização da gramática, 

do estilo e das pautas da extrema direita norte-americana:

Journal of Democracy em Português 36

 Templários 

digitais

 Pastores patriotas Libertários 

tropicais

 Conservadores 

em armas

 Emulação Linguagem 

troll, estratégias 

de ocupação dos 

espaços digitais 

e guerra cultural 

de extrema 

direita

 Ecossistema 

da guerra 

informacional 

baseado em 

desinformação

 Pautas da direita 

cristã americana: 

aborto, restrição 

a direitos 

LGBT+, guerra 

às drogas

 Nacionalismo 

cristão

 Sionismo 

cristão (relações 

privilegiadas 

com Israel)

 Liberdades 

econômicas 

irrestritas

 Direito 

incondicional 

às liberdades 

de expressão e 

movimento (First 

Amendment 

Rights)

 Desregulamenta

ção de políticas 

públicas de 

Educação (homes

chooling), Meio 

Ambiente, entre 

outras

 Direito 

inalienável às 

armas (Second 

Amendment 

Rights)

 Defesa armada 

de valores 

ideológicos

 Articulação Steve Bannon 

e outros 

ideólogos e 

comunicadores 

da alt-right

 Fox News 

(Tucker Carlson 

e Lou Dobbs)

 Capitol 

Ministries

 Latino Coalition 

for Israel

 New Apostolic 

Reformation 

(NAR) e 

International 

Coalition for 

Apostolic 

Leaders

 Cato Institute, 

Mises Institute, 

Atlas Network

 America’s 

Frontline Doctors

 National Rifl e 

Association 

(NRA)

 Membros 

do Partido 

Republicano dos 

EUA

 Internalização “Gabinete 

do ódio” e 

Secretaria de 

Comunicação 

do governo 

(Secom)

 Blogs e sites 

bolsonaristas 

(Terça Livre, 

Conexão 

Política, Folha 

do Brasil, Jornal 

da Cidade 

Online)

 Jovem Pan e 

outros veículos 

adesistas 

(Record, 

Correio do 

Povo)

 Ativismo 

da Frente 

Parlamentar 

Evangélica

 Fortalecimento 

de organizações 

políticas 

evangélicas, 

como a Anajure

 Nomeação de 

evangélicos 

e católicos 

tradicionalistas 

para o primeiro 

escalão do 

governo

 Lei da Liberdade 

Econômica 

e reformas 

liberalizantes

 “Gabinete 

paralelo” no 

enfrentamento da 

Covid-19

 Rede de alt

science composta 

por grupos 

como Médicos 

Pela Vida, 

infl uenciadores e 

jornalistas

 Associação 

Nacional de 

Educação 

Domiciliar

 Ativismo da 

“bancada da 

bala”

 Movimento Pró

Armas

 Conservative 

Political Action 

Committee 

(CPAC) Brasil

 Principais 

representantes 

políticos

 Filipe G. 

Martins

 Carlos 

Bolsonaro

 Ernesto Araújo

 Abraham 

Weintraub

 Damares Alves

 Marco Feliciano

 Nikolas Ferreira

 Michelle 

Bolsonaro

 Paulo Guedes

 Salim Mattar

 Arthur Weintraub

 Eduardo Pazuello

 Eduardo 

Bolsonaro

 Marcos Pollón

 Ricardo Salles

 Bia Kicis

 Tabela 1: movimentos da americanização da política brasileira a 

partir das conexões transnacionais

Guilherme Casarões

 Considerações fi nais

 37

 Este texto começou a ser escrito entre os dois turnos da eleição de 

2022 e foi fi nalizado após a vitória de Lula da Silva. O resultado aper

tado da disputa (50,9% para Lula contra 49,1% para Bolsonaro, uma 

diferença de 2 milhões de votos) é refl exo tanto do uso ostensivo da 

máquina pública pelo presidente em busca da reeleição como da resili

ência do bolsonarismo, movimento amplo, relativamente coeso e espa

lhado pelo Brasil. No momento do fechamento deste artigo, apoiadores 

do presidente Bolsonaro ainda ocupam algumas rodovias, que vinham 

forçosamente fechadas desde a noite da divulgação dos resultados das 

urnas, e muitos seguem acampados na frente de quartéis ao redor do 

país. O mote comum aos protestos pós-eleitorais é a descrença nas urnas 

eletrônicas (fomentada recorrentemente por Bolsonaro e seus aliados, 

inclusive militares) e a demanda por intervenção militar a partir de uma 

leitura deturpada do Artigo 142 da Constituição Federal. No entanto, 

o próprio Ministério da Defesa, que realizou um processo paralelo de 

verifi cação e auditoria das urnas, constatou que não há indício de irre

gularidades nas eleições brasileiras.

 Mobilizados pelo silêncio do presidente – que ainda não reconheceu 

ofi cialmente a derrota, ainda que tenha autorizado que seus ministros 

iniciassem o processo de transição –, o bolsonarismo segue ativo em sua 

contestação à ordem democrática, nas ruas e nas redes. Isso sugere que 

o Brasil testemunhará uma transição conturbada de governo, ao menos 

no plano social, rompendo o padrão das últimas quatro décadas de de

mocracia. Vimos processo semelhante nos Estados Unidos: a eleição do 

democrata Joe Biden, em novembro de 2020, não foi capaz de desmobi

lizar o trumpismo – tornando-o, por vezes, mais reativo e virulento. Isso 

talvez nos mostre que o bolsonarismo, graças à sua organização e capi

laridade, à sua identidade monolítica e majoritarista e a seus laços trans

nacionais poderosos, cujo principais interlocutores são a extrema direita 

norte-americana, seja capaz de sobreviver à derrota de Jair Bolsonaro.

38

 Journal of Democracy em Português

 A resiliência do movimento bolsonarista será peça-chave para 

uma eventual desestabilização do sistema democrático. Se, nos anos 

Bolsonaro, esse movimento deu-se de dentro (do governo) para fora, 

agora veremos o processo reverso, de fora para dentro. De todo 

modo, já é possível afi rmar que, hoje, aproximadamente metade do 

país opera sob uma lógica cívica completamente diferente daque

la que constituiu a cultura 

política brasileira, tanto his

toricamente quanto desde os 

albores da Nova República, 

quatro décadas atrás. Se pu

dermos singularizar um gran

de legado de Jair Bolsonaro e 

de sua poderosa e destrutiva 

É possível afi rmar que, 

hoje, metade do país opera 

sob uma lógica cívica 

completamente diferente 

daquela que constituiu a 

cultura política brasileira 

historicamente.

 versão da extrema direita brasileira, é o da americanização de nossa 

política, a partir do que há de pior do populismo autoritário norte--americano – fundamentalista, reacionário e armado até os dentes 

para defender sua própria visão excludente de sociedade. Ao longo 

dos próximos anos, ou décadas, teremos um grande esforço para tor

nar o Brasil brasileiro de novo – resgatando parâmetros mínimos de 

democracia, pluralidade e tolerância.

Guilherme Casarões

 Bibliografi a

 39

 Agência Pública. “Pastores usam a Bíblia para defender posse de armas de fogo 

no Brasil”, 27 de abril de 2022. Disponível em https://apublica.org/2022/04/pastores--usam-a-biblia-para-defender-posse-de-armas-de-fogo-no-brasil/. Acesso em 15 de 

outubro de 2022.

 Agência Senado. “Confundida com liberdade de expressão, apologia ao nazismo cres

ce no Brasil desde 2019”. 13 de agosto de 2021. Disponível em https://www12.senado.

 leg.br/noticias/infomaterias/2021/08/confundida-com-liberdade-de-expressao-apologia--ao-nazismo-cresce-no-brasil-a-partir-de-2019. Acesso em 15 de outubro de 2022.

 Alessi, Gil. “MP prevê que general ‘monitore’ ONGs e exclui menção a LGBTs 

em pasta de Direitos Humanos”. El País Brasil, 3 de janeiro de 2019. Disponível em 

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/01/02/politica/1546454574_434358.html. Aces

so em 15 de outubro de 2022.

 Almeida, Ronaldo de. “A onda quebrada: evangélicos e conservadorismo”. Ca

dernos Pagu, vol. 50, 2017.

 Baggio, Kátia. “O poder da Atlas Network: conexões ultraliberais nas Américas”. 

Voyager, 27 de abril de 2019. Disponível em https://avoyager.net/politica/atlas-ne

twork-conexoes-ultraliberais-nas-americas/. 

BBC Brasil. “Olavo de Carvalho, o ‘parteiro’ da nova direita que diz ter dado à 

luz fl ores e lacraias”. 15 de dezembro de 2016. Disponível em https://www.bbc.com/

 portuguese/brasil-38282897. Acesso em 15 de outubro de 2022.

 Beltrão, Helio. “Liberem a hidroxicloroquina”. Folha de S. Paulo, 25 de março de 

2020. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helio-beltrao/2020/03/

 liberem-a-hidroxicloroquina.shtml. Acesso em 15 de outubro de 2022.

 Boito Jr, Armando. “Por que caracterizar o bolsonarismo como neofascismo”. 

Crítica Marxista, no. 50, 2020.

 Boxill, Bernard. “Majoritarian Democracy and Cultural Minorities”. In: Arthur 

Melzer et al (orgs.). Multiculturalism and American Democracy. Lawrence: Univer

sity Press of Kansas, 1998.

40

 Journal of Democracy em Português

 Caldeira Neto, Odilon. “Neofascismo, ‘nova república’ e a ascensão das direitas 

no Brasil. Conhecer, vol. 10, no. 24, 2020.

 Carvalho, Bruno. “Não foi você: uma interpretação do bolsonarismo”. Piauí, no. 

142, 2018.Carvalho, Olavo de. O mínimo que você precisa saber para não ser um 

idiota. Rio de Janeiro: Record, 2015.

 Casarões, Guilherme. “Religião e poder: a ascensão de um projeto de ‘nação 

evangélica’ no Brasil?”. Interesse Nacional, abril-junho, 2020.

 Casarões, Guilherme. “Bolsonarismo e a americanização do Brasil”. Folha de S. Paulo, 

25 de outubro de 2022. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2022/10/

 bolsonarismo-e-a-americanizacao-do-brasil.shtml. Acesso em 26 de outubro de 2022.

 Casarões, Guilherme; Magalhães, David. “The hydroxychloroquine alliance: how 

far-right leaders and alt-science preachers came together to promote a miracle drug”. 

Revista de Administração Pública, vol. 55, no. 1, 2021.

 Cowan, Benjamin A. ‘“Nosso Terreno”: crise moral, política evangélica e a for

mação da ‘Nova Direita’ brasileira’. Varia Historia, v.30, n.52, 2014.

 Dawson, Jessica. “Shall not be infringed: how the NRA used religious language 

to transform the meaning of the Second Amendment”. Palgrave Communications vo

lume 5, no. 58, 2019.

 Dip, Andrea; Viana, Natália. “Os pastores de Trump chegam a Brasília”. El País, 

12 de agosto de 2019. Disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/12/poli

tica/1565621932_778084.html. Acesso em 15 de outubro de 2022.

 Encarnación, Omar G. “American Caudillo: Trump and the Latin-Americaniza

tion of US Politics”. Foreign Affairs, 12 de maio de 2016.

 Encarnación, Omar G. “The Trumpifi cation of the Latin American Right”. Fo

reign Affairs, 16 de abril de 2018.

 Estado de Minas. “Tradição e monarquia no apoio a Bolsonaro”. 9 de junho de 

2019. Disponível em https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2019/06/09/inter

na_politica,1060452/tradicao-e-monarquia-no-apoio-a-bolsonaro.shtml. Acesso em 

15 de outubro de 2022.

Guilherme Casarões

 41

 Farinelli, Victor. “NRA, a Associação Nacional de Rifl es, o aliado preferencial do 

bolsonarismo”. Jornal GGN, 2022. Disponível em https://jornalggn.com.br/xadrez--ultradireita/nra-a-associacao-nacional-de-rifl es-o-aliado-preferencial-do-bolsonaris

mo/. Acesso em 15 de outubro de 2022.

 Freston, Paul. “Bolsonaro, o populismo, os evangélicos e a América Latina”. In: 

Guadalupe, José Luis Péres e Carranza, Brenda. Novo Ativismo Político no Brasil: os 

evangélicos do século XXI. Rio de Janeiro: Konrad Adenauer Stiftung, 2020.

 Gielow, Igor. “Bolsonaro faz apelo golpista e coloca Forças Armadas em saia 

justa”. Folha de S. Paulo, 19 de abril de 2020. Disponível em https://www1.folha.uol.

 com.br/poder/2020/04/bolsonaro-faz-apelo-golpista-e-coloca-forcas-armadas-em--saia-justa.shtml. Acesso em 15 de outubro de 2022.

 Goldberg, Michelle. Kingdom Coming: the rise of Christian nationalism. New 

York: W.W.Norton, 2006.

 Green, Emily e Varjacques, Leah. “Brazil’s far-right embraced the NRA and gun 

sales are soaring”. Vice, 25 de setembro de 2022. Disponível em https://www.vice.

 com/en/article/z34qbw/brazils-far-right-embraced-the-nra-and-gun-sales-are-soa

ring. Acesso em 15 de outubro de 2022.

 Hunter, James Davison. Culture Wars: the struggle to defi ne America. New York: 

Basic Books, 1991.

 Haynes, Jeffrey. “Donald Trump, the Christian Right and COVID-19: The Politics 

of Religious Freedom”. Laws, no. 10, vol. 6, 2021.

 Hawley, George. Making Sense of the Alt-Right. New York: Columbia University 

Press, 2017.

 Juergensmeyer, Mark. The New Cold War? Religious nationalism confronts the 

secular state. Berkeley: University of California Press, 1993.

 Kalil, Isabela et al. “Politics of fear in Brazil: Far-right conspiracy theories on 

COVID-19”, Global Discourse, online, 2021.

42

 Journal of Democracy em Português

 Krause, Thiago e Pachá, Paulo. “Nostalgia do Império é fantasia reacionária do 

bolsonarismo, dizem historiadores”. Folha de S. Paulo, 18 de julho de 2020. Dispo

nível em https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/07/nostalgia-do-imperio--e-fantasia-reacionaria-do-bolsonarismo-dizem-historiadores.shtml. Acesso em 15 de 

outubro de 2022.

 Lago, Rudolfo. “Documento do STF explica como funciona o ‘gabinete do ódio’”. 

Congresso em Foco, 29 de agosto de 2022. Disponível em https://congressoemfoco.

 uol.com.br/area/governo/documento-do-stf-explica-como-funciona-o-gabinete-do--odio/. Acesso em 27 de outubro de 2022.

 Lopes, Raquel. “Número de armas nas mãos de caçadores e atiradores chega a 1 

milhão no Brasil”. Folha de S. Paulo, 31 de agosto de 2022. Disponível em https://

 www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2022/08/numero-de-armas-nas-maos-de-cacado

res-e-atiradores-chega-a-1-milhao-no-brasil.shtml. Acesso em 15 de outubro de 2022.

 Machado, Maria; Mariz, Cecília; Carranza, Brenda. “Articulações político-reli

giosas entre Brasil-EUA: direita e sionismo cristãos”. Ciencias Sociales y Religión, 

vol. 23, 2021.

 Main, Thomas. The Rise of the Alt-Right. Washington, D.C.: Brookings, 2018.

 Mirrlees, Tanner. “The Alt-Right’s Discourse of ‘Cultural Marxism’: a political 

instrument of intersectional hate”. Atlantis Journal, vol. 39, no. 1, 2018.

 Mudde, Cas. The Far-Right Today. New York: Wiley, 2019.

 Nunes, Rodrigo. Pequenos fascismos, grandes negócios. Piauí, no. 181, 2021. 

Disponível em https://piaui.folha.uol.com.br/materia/pequenos-fascismos-grandes--negocios/. Acesso em 15 de outubro de 2022.

 Oro, Ari Pedro. “Religião e política no Brasil”. Cahiers des Amériques latines, 

vol. 48-49, 2005.

 Pacheco, Ronilso. “Reeleição de Bolsonaro impulsionaria radicalização de ex

tremistas cristãos”. Folha de S. Paulo, 8 de outubro de 2022. Disponível em https://

 www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2022/10/reeleicao-de-bolsonaro-impulsionaria--radicalizacao-de-extremistas-cristaos.shtml. Acesso em 16 de outubro de 2022.

 Pagliarini, Andre. “Steve Bannon wants to turn Brazil into the next MAGA battle

ground”. The New Republic, 17 de agosto de 2021.

Guilherme Casarões

 43

 Pearson, Jake. “Republican billionaire’s group pushes unproven Covid-19 treat

ment Trump promoted”. ProPublica, 26 de março de 2020. Disponível em https://

 www.propublica.org/article/republican-billionaire-group-pushes-unproven-covid-19--treatment-trump-promoted. Acesso em 15 de outubro de 2022.

 Posner, Sarah. Unholy: Why White Evangelicals Worship at the Altar of Donald 

Trump. New York: Random House, 2020.

 Prado, Michele. Tempestade Ideológica: a alt-right e o populismo iliberal no Bra

sil. São Paulo: Lux, 2021.

 Ramet, Sabrina P. “‘Fighting for the Christian Nation’: The Christian Right and 

American Politics”. Journal of Human Rights, vol. 4, 2005, pp. 431-442.

 Rede Brasil Atual. “Indústria de armas fi nanciou 21 parlamentares eleitos em ou

tubro”, 27 de novembro de 2014. Disponível em https://www.redebrasilatual.com.

 br/politica/industria-de-armas-fi nanciou-21-parlamentares-1379/. Acesso em 15 de 

outubro de 2022.

 Rocha, Camila. Menos Marx, Mais Mises: o liberalismo e a nova direita no Brasil. 

São Paulo: Todavia, 2021.

 Rodríguez, Dardo Justino. “Um lobby politico-religioso de penetração e conquista 

na América Latina”. Folha de S. Paulo, 22 de janeiro de 2021. Disponível em https://

 www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/01/um-lobby-politico-religioso-de-penetracao--e-conquista-na-america-latina.shtml. Acesso em 15 de outubro de 2022.

 Schwartz, Mattathias. “How the Trump Cabinet’s Bible Teacher Became a Sha

dow Diplomat”. The New York Times Magazine, 29 de outubro de 2019. Disponível 

em https://www.nytimes.com/2019/10/29/magazine/ralph-drollinger-white-house--evangelical.html. Acesso em 15 de outubro de 2022.

 Seeing Red. “Did the NRA and a Boston Investment Firm bankroll the Bolsonaro 

campaign?”, 14 de janeiro de 2022. Disponível em https://www.propublica.org/arti

cle/republican-billionaire-group-pushes-unproven-covid-19-treatment-trump-promo

ted. Acesso em 15 de outubro de 2022.

 Smith, Amy Erica. Religion and Brazilian Democracy: mobilizing the people of 

God. Cambridge: Cambridge University Press, 2019.

44

 Journal of Democracy em Português

 Stewart, Katherine. The Power Worshippers. Inside the Dangerous Rise of Reli

gious Nationalism. London: Bloomsbury, 2020.

 Teitelbaum, Benjamin. Guerra Pela Eternidade: o retorno do tradicionalismo e a 

ascensão da direita populista. Campinas: Unicamp, 2020.

 Tharoor, Ishan. “Trump is the fi rst US Latin American president”. The Washing

ton Post, 26 de janeiro de 2017. Disponível em https://www.washingtonpost.com/

 news/worldviews/wp/2017/01/26/trump-is-the-u-s-s-fi rst-latin-american-president/. 

Acesso em 15 de outubro de 2022.

 Toplin, Robert Brent. Radical Conservatism: the right’s political religion. La

wrence: University Press of Kansas, 2006.

 UOL Notícias. “‘Gabinete paralelo’ recorreu a guru nos EUA para ter referencial 

antivacina”, 12 de junho de 2021. Disponível em https://noticias.uol.com.br/politica/

 ultimas-noticias/2021/06/12/gabinete-paralelo-elegeu-guru-nos-eua-e-buscou-infor

macoes-contra-vacinas.htm. Acesso em 16 de outubro de 2022.

 Ventura, Deisy; Aith, Fernando; Reis, Rossana. “The catastrophic Brazilian res

ponse to covid-19 may amount to a crime against humanity”. The BMJ Opinion, 5 de 

abril de 2021a.

 Ventura, Deisy; Aith, Fernando; Reis, Rossana. “Crimes against humanity in 

Brazil’s covid-19 response—a lesson to us all”. BMJ 375:n2625, 2021b. 

Whitehead, Andrew; Perry, Samuel. Taking America Back for God: Christian na

tionalism in the United States. Oxford: Oxford University Press, 2020.

 Plataforma Democrática (www.plataformademocratica.org) é uma 

iniciativa da Fundação FHC e do Centro Edelstein de Pesquisas Sociais dedi

cada a fortalecer a cultura e as instituições democráticas na América Latina, 

por meio da produção de conhecimento e da promoção do debate pluralis

ta de ideias sobre as transformações da sociedade e da política na região e 

no mundo. Realiza pesquisas e seminários para estimular o diálogo entre os 

produtores de conhecimentos e os diferentes atores sociais e políticos sobre 

temas da atualidade.

 Plataforma Democrática oferece uma infraestrutura virtual com uma 

biblioteca de livre acesso que inclui milhares de textos sobre temas relaciona

dos à democracia na América Latina e um banco de dados sobre instituições 

de pesquisa na região.

 As principais áreas de trabalho da Plataforma Democrática são:

 Transformações Geopolíticas Globais e instituições democráticas: 

https://www.plataformademocratica.org/publicacoes#EstadoDemocracia

 https://www.plataformademocratica.org/publicacoes#CambiosGeopoliticos

 Meios de comunicação e Democracia: 

https://www.plataformademocratica.org/publicacoes#MediosComunicacion

 https://www.plataformademocratica.org/publicacoes#EnsaiosDemocracia

 Sociedade civil e democracia: 

https://www.plataformademocratica.org/publicacoes#CohesionSocial 

Bibliotecas virtuais: 

https://www.plataformademocratica.org/biblioteca

 https://www.plataformademocratica.org/biblioteca-sociedade

 Coleção Recursos de Pesquisa na Internet:

 https://www.plataformademocratica.org/publicacoes#RecursosPesquisa

 Journal of Democracy em Português, Volume 11, Número 2, Novembro de 2022 

© 2022 National Endowment for Democracy and The Johns Hopkins University Press. O artigo do autor  Guilherme Casarões.

Confira a noticia na Folha de São Paulo                                          .https://www1.folha.uol.com.br/poder/2025/10/aliados-dizem-que-bolsonaro-deu-aval-a-candidatura-de-tarcisio-mas-com-michelle-de-vice.shtml

E assim caminha a humanidade.

Imagem ; Site Mundo Educação . Portal UOL. 





Nenhum comentário:

Postar um comentário