O termo Centrão na política brasileira refere-se a um bloco informal e pragmático de parlamentares, de diversos partidos, que não se pautam por uma ideologia específica, mas sim por interesses comuns, como a obtenção de cargos e recursos. O apoio do Centrão é historicamente crucial para a governabilidade do Poder Executivo, que negocia com o grupo para aprovar medidas e projetos no Congresso Nacional.
Características do Centrão
Aparato fisiológico: Negociações com o Centrão frequentemente envolvem a troca de favores, nomeações para cargos e alocação de recursos, como verbas do orçamento, em troca de apoio político.
Diversidade partidária: O bloco é composto por membros de diferentes partidos, que mudam de aliança conforme a conveniência política. Muitos desses partidos têm origem na antiga Arena, que apoiava o regime militar.
Poder de barganha: Devido ao grande número de parlamentares, o Centrão é um grupo decisivo no Congresso, e sua influência tem se expandido para além do Legislativo, buscando posições estratégicas em outras esferas do poder.
Fidelidade pragmática: Embora já tenha integrado a base de governos de diferentes espectros políticos, sua fidelidade não é garantida e pode ser influenciada por pesquisas de popularidade e outras variáveis, como visto nas recentes negociações com o governo Lula.
Desdobramentos recentes (2025)
Conflito com o governo Lula: Em outubro de 2025, o governo Lula iniciou um movimento de retaliação contra o Centrão, demitindo membros do bloco de cargos no segundo escalão do governo, incluindo na Caixa Econômica Federal.
Impacto no orçamento: O embate foi desencadeado pela derrota de uma Medida Provisória crucial para a meta fiscal na Câmara, após o Centrão e outros parlamentares votarem contra a articulação do governo.
Posicionamento do governo: Integrantes da base governista buscam expor o Centrão como um obstáculo ao interesse público em votações na Câmara.
Reação do Centrão: Em resposta, líderes do Centrão buscam pressionar o governo por novos cargos no ministério e ameaçam novas retaliações.
A expressão surgiu durante a Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988, quando um grupo de parlamentares formou uma maioria que se opôs a pautas mais progressistas propostas por membros do antigo MDB.
Um partido fisiológico é uma agremiação política que prioriza a troca de favores, cargos e verbas públicas em troca de apoio político, em vez de defender uma agenda ideológica ou programática coerente. Essa prática, conhecida como fisiologismo, é frequentemente associada ao "presidencialismo de coalizão" brasileiro, onde o governo precisa negociar com vários partidos para garantir a governabilidade.
Características de um partido fisiológico
Foco no interesse próprio: Em vez de buscar o bem comum, o partido busca satisfazer interesses pessoais ou de seus integrantes.
Comportamento governista: Esses partidos tendem a apoiar o governo de turno para ter acesso aos recursos e cargos, independentemente da ideologia.
Clientelismo: Além do alinhamento com o governo, partidos fisiológicos podem se envolver em práticas clientelistas, usando a máquina pública para conceder favores em troca de apoio eleitoral.
Falta de programa definido: A ausência de um projeto político ou ideológico sólido torna a agremiação flexível para apoiar qualquer governo que ofereça vantagens.
Barganha por cargos e verbas: A principal estratégia desses partidos é negociar espaços em órgãos públicos, ministérios e empresas estatais, além de liberação de emendas parlamentares.
Diferença do clientelismo
O fisiologismo se concentra na relação de troca entre o Executivo (governo) e o Legislativo (partidos políticos).
O clientelismo descreve a relação de troca entre políticos e eleitores, que trocam apoio por favores.
Apesar de distintos, os dois fenômenos andam juntos: o partido fisiológico age como um intermediário que viabiliza tanto a relação com o governo quanto com o eleitorado.
Exemplo prático
No Brasil, o termo é frequentemente usado para se referir a grupos como o Centrão, formado por partidos de diversas tendências ideológicas que apoiam governos em troca de benefícios. A prática é vista como um obstáculo para reformas e para a promoção de políticas públicas de interesse coletivo.
Confira o artigo do autor Por Antônio Augusto de Queiroz (*)
Centrão: passado, presente e futuro
Por Antônio Augusto de Queiroz (*)
A ideia de escrever sobre a trajetória do Centrão, que nasceu em
oposição às propostas de parlamentares que depois iriam constituir o
núcleo duro do PSDB, veio a propósito da adesão desse grupamento
suprapartidário e de perfil conservador/liberal/fisiológico à candidatura do
tucano Geraldo Alckmin, uma ironia do destino. O texto está dividido em
três tópicos: um sobre o passado, que conta como surgiu e atuava o Centrão
na Constituinte e no governo Sarney. O segundo historiando o
comportamento do Centrão nos governos, especialmente de FHC e do PT.
E o terceiro tenta antecipar as condicionantes do Centrão na próxima
legislatura, independentemente de quem seja o presidente eleito.
Surgimento e passado do Centrão
O Centrão nasceu na Constituinte por motivações ideológicas e teve
como mentor intelectual o então senador do PDS de Mato Grosso, Roberto
Campos, mas as condições para sua constituição ou organização se deram
pela resistência dos conservadores ao rumo que estava tomando o arranjo
político que resultou na Nova República, com a aliança entre PMDB e
parcela dissidente do PDS (organizados na Frente Liberal, que deu origem,
em 1985, ao PFL) para eleger Tancredo Neves no Colégio Eleitoral.
Na Nova República, durante o período Constituinte, logo ficou
evidente para os conservadores1 que um núcleo pensante e de centro
esquerda do PMDB – que depois veio a criar o PSDB – iria a liderar o
processo de elaboração da nova Constituição, tanto na definição das regras
decisórias quanto na indicação dos relatores das duas primeiras fases de
discussão da Carta Magna. E outra parcela do partido, de centro, assumiria
a relatoria-geral, a presidência e a vice-presidência da Constituinte, como
de fato aconteceu.
A responsabilidade pela definição do processo de elaboração e das
regras decisórias da Constituinte foi do então senador Fernando Henrique
Cardoso, que relatou o projeto de resolução que resultou no regimento
1Distribuídos em vários partidos: PMDB, PFL,PDS, PTB, PL e PDC.
interno, a principal motivação da rebelião que levou à criação do Centrão.
No regimento, FHC ignorou o projeto prévio de Constituição, que Sarney
havia solicitado a uma comissão de juristas, e começou do zero, propondo
uma metodologia de elaboração da Constituição em diversas fases,
iniciando por 24 subcomissões, cujo trabalho seria articulado em oito
comissões, cada uma correspondente a um capítulo da futura Constituição,
passando por uma comissão de sistematização até a decisão final do
plenário.
A designação dos relatores das subcomissões e das comissões
temáticas, por sua vez, coube ao então líder do PMDB na Constituinte, o
senador Mário Covas, que indicou parlamentares com visão social e
progressista para as relatorias, tanto para as subcomissões quanto para as
comissões temáticas, embora os relatores destas últimas fossem mais
moderados.
Já para a presidência e a relatoria-geral foram eleitos,
respectivamente, os deputados Ulysses Guimaraes (PMDB/SP) e Bernardo
Cabral (PMDB/AM), ambos de perfil de centro. Como vice-presidente ficou
o então presidente do Senado, senador Mauro Benevides (PMDB/CE),
também de centro.
O debate nas subcomissões e comissões foram intensos e revelaram
as disputas entre progressistas e conservadores. Nesse embate, como as
relatorias estavam em mãos de parlamentares progressistas, estes levavam
vantagem e foram poucos os casos em que os conservadores derrotaram
ou modificaram os relatórios, o que foi criando ambiente para a união dos
conservadores nas fases finais: comissão de sistematização e plenário.
Contrariados com os textos saídos das comissões e organizados pelo
relator da comissão de sistematização, os conservadores resolveram se
organizar no Centrão para modificar o regimento interno com o objetivo de
mudar substancialmente a proposta constitucional. O regimento vedava a
apresentação de emendas abrangentes, envolvendo mais de um
dispositivo.
O primeiro ato desse grupamento informal foi um manifesto, lido em
plenário pelo deputado Daso Coimbra (PMDB/RJ), defendendo mudança no
regimento interno. O segundo foi um abaixo assinado pela mudança
regimental subscrito por 319 constituintes.
Ainda que sem um caráter orgânico, era possível identificar os porta
vozes e ‘quatro interesses que se organizaram em torno do Centrão e seus
principais interlocutores: o primeiro interesse era liberal, representado por
Luís Eduardo Magalhães (PFL/BA), Expedito Machado (PMDB/CE) e Luis
Roberto Ponte (PMDB/RS); o segundo era conservador em relação aos
valores, liderado pelo evangélico Daso Coimbra (PDMB/RJ), por Amaral
Neto (PDS/RJ) e Bonifácio de Andrada (PDS/MG); o terceiro era ruralista,
representado por Roberto Cardoso Alves (PMDB/SP) e Ricardo Fiúza
(PFL/PE); e o quarto interesse era governista, representado por José
Lourenço (PFL/BA), Carlos Santana (PMDB/BA) e Gastone Righi (PTB/SP).
Entre os temas que os liberais gostariam de rever estavam
basicamente os direitos trabalhistas, os monopólios das estatais na
exploração de atividade econômica em setores estratégicos da economia e
o conceito de empresa brasileira de capital nacional. No caso dos ruralistas,
o objetivo era evitar a reforma agrária, mexer nos direitos indígenas e
eliminar os avanços previstos no capítulo do meio ambiente. Os
conservadores queriam modificar o título dos direitos e garantias
individuais e o Capítulo da Comunicação Social, considerados muito
permissivos e até nocivos à preservação dos valores das famílias. E para os
governistas, além do Capítulo da seguridade social, que aumentava muito
as despesas governamentais, o foco central era o retorno do
presidencialismo, como sistema de governo, além de evitar a redução de
seis para quatro anos do mandato do então presidente Sarney.
Frente a um pedido subscrito por mais de 300 constituintes, que
representava a maioria absoluta do colegiado, o presidente da Constituinte,
Ulysses Guimarães, não teve outra alternativa a não ser acatá-lo,
designando o vice-presidente da Constituinte, senador Mauro Benevides,
para elaborar a mudança do regimento, que trouxe como principais
novidades a emenda aglutinava e o DVS, até hoje praticados no Congresso.
O Destaque para Votação em Separado (DVS) permitia, via abaixo
assinado, excluir artigos e até capítulos da Constituição da votação global
do texto base para que fossem submetidos a uma votação específica,
ficando fora da Constituição o texto destacado se não alcançasse a maioria
absoluta dos votos, o que seria impossível sem o apoio do Centrão. A
emenda aglutinativa, por sua vez, permitia a junção de várias emendas,
desde que subscritas por líderes, para formar um novo texto, e muitas
foram feitas apenas com o propósito de prejudicar emendas contrárias ao
interesse do Centrão, já que as emendas que fossem objeto de fusão ou
aglutinação seriam consideradas prejudicadas e não poderiam ser
destacadas para votação.
Vencida a batalha da mudança regimental, o Centrão percebeu que
não teria condições de elaborar todas as emendas ao texto constitucional
dentro do prazo fixado e, diante da impossibilidade de sua ampliação,
cometeu seu primeiro pecado, fraudando o protocolo para a entrega das
emendas. A pedido de Ricardo Fiuza e de Bonifácio de Andrada, o então
secretário-geral da Mesa, Paulo Afonso, orientou a funcionária da Comissão
de Constituição e Justiça, que recebia as emendas, que saltasse,
alternadamente, a numeração das emendas recebidas, para que os espaços
vazios pudessem ser preenchidos com as emendas do Centrão no dia
seguinte, conforme relato do próprio Paulo Afonso2.
Com a mudança regimental, que passou a dar preferência aos textos
(emendas e substitutivos) do Centrão – e considerando o caráter
excessivamente liberal, do ponto de vista econômico, atrasado, de ponto
de vista social e da reforma agrária, e conservador, do ponto de vista dos
valores – impõe-se a necessidade de negociação mais amplas, que foi
quando consolidou-se a ideia do colégio de líderes, instância encarregada
de buscar o consenso entre as diversas forças políticas em tornos dos temas
a serem votados, sob pena de impasse. É nesse momento que surge o MUP
Movimento Unidade Progressista, o embrião do PSDB.
Passado – a relação do centro com os diversos governos
A estratégia do Centrão – na relação com o governo Sarney – teve
êxito parcial, especialmente em relação à questão agrária, à duração do
mandato de Sarney, que ficou em cinco anos e não em quatro anos como
queriam os futuros tucanos, e também em relação ao sistema de governo,
tendo conseguido derrotar o parlamentarismo e manter o
presidencialismo.
A contrapartida do apoio ao governo Sarney foi generosa e
individual, sob a forma de perdão de dívida junto a instituições oficiais, de
liberação de recursos do orçamento para as bases eleitorais dos
constituintes, e principalmente mediante a concessão aos aliados – ou a
2Paulo Afonso Martins: O Congresso em meio século. Coleção memória do servidor, pag. 173
alguém indicado por eles, inclusive parentes – de canais de rádio e de
televisão.
Os três principais operadores no governo para pagar a fatura do
Centrão foram o então ministro das Comunicações, Antônio Carlos
Magalhães, o ministro da Habitação, Prisco Viana, e o ministro da Indústria
e Comércio, deputado Roberto Cardoso Alves, o Robertão, que ficou
conhecido por colocar em prática e assumir publicamente a célebre frase
da oração de São Francisco de Assis “é dando que se recebe”.
No governo Collor, apesar da presença dos integrantes do Centrão
na base e nos postos-chave na área social, o ambiente foi muito
tumultuado. Em primeiro lugar porque governou um ano com o Congresso
que dava sustentação ao governo Sarney, que foi muito atacado em sua
campanha. E segundo pela postura messiânica do governo, que
rapidamente foi perdendo legitimidade perante os principais atores
políticos do País, inclusive no setor empresarial. Em terceiro pela rejeição
popular ao confisco da poupança e à prática de corrupção por aliados do
presidente, que levaram ao processo de impeachment.
Apesar do curto e tumultuado período do governo Collor, o Centrão
teve uma colheita generosa, especialmente no período do processo de
impeachment. O principal operador do governo Collor para atender aos
pleitos do Centrão era o ministro da Ação Social, Ricardo Fiuza, que assumiu
a pasta em janeiro de 1992, no momento mais crítico do governo.
Durante o governo Itamar, embora fizesse parte do governo e de
sua base de apoio, o Centrão tinha como prioridade a revisão constitucional
e estava preocupado com a defesa de alguns de seus membros então sob
investigação na CPI dos Anões do Orçamento. A revisão se inviabilizou, de
um lado, pelas disputas internas entre PMDB e PFL pela relatoria, e, de
outro, pelo desinteresse do presidente da República na revisão, pelo
funcionamento e repercussão da CPI dos Anões do Orçamento e pela
contundente oposição da esquerda.
Existe uma tradição no Congresso Nacional, segundo a qual
sempre que Câmara e Senado se reúnem conjuntamente, a sessão tem a
presidência de uma casa e a relatoria é da outra, e quando o presidente é
do maior partido, a relatoria cabe ao segundo maior partido ou vice-versa.
A disputa pela relatoria da revisão constitucional se deu porque o
PMDB, que já tinha a presidência do Congresso Revisional, na pessoa do
presidente do Senado, senador Humberto Lucena (PMDB/PB), também
reivindicava a relatoria para um deputado do partido, sob o fundamento de
que o presidente da revisão não estava vinculado a partido, já que
constitucionalmente a Presidência da Revisão era do presidente do Senado,
independentemente de que partido fosse. Já o PFL, sob o fundamento de
que um senador do PMDB presidia a revisão, reivindicava o posto de relator
para o deputado Luís Eduardo Magalhães, com o objetivo de promover as
mudanças defendidas pelo Centrão. No final ganhou a disputa o PMDB, que
designou o então deputado Nelson Jobim, que produziu 81 pareceres
incorporando todas as propostas do Centrão.
Nos governos FHC, o apoio do Centrão foi determinante na
aprovação das reformas da ordem econômica, considerando que propostas
idênticas já tinham sido subscritas pelo Centrão para a fracassada revisão
Constitucional e incorporadas nos pareceres do então relator, Nelson
Jobim.
A fatura do Centrão nos governos FHC foi cobrada em quatro
votações relevantes: a PEC da reeleição, a PEC da reforma administrativa, a
PEC da reforma da Previdência, que foram concluídas; e também no PL da
flexibilização da CLT, que não chegou a ser concluída, tendo sido retirada
do Senado pelo presidente Lula.
A melhor colheita nesse período, sem dúvida nenhuma, foi na
votação da reeleição, na qual os membros do Centrão ganharam
triplamente: do governo federal, dos governos estaduais e dos prefeitos,
todos interessados em dois mandatos consecutivos.
Tal como nos governos anteriores, o Centrão também assumiu
postos-chave no governo FHC, especialmente nas áreas social e de
infraestrutura. Entretanto, FHC, diferentemente do governo Sarney, não
fazia concessões individuais, exceto na votação da emenda da reeleição, no
qual consta que aliados receberam financiamentos individualmente.
O método preferido de FHC para fazer concessões era o coletivo e
sempre mediante medida provisória ou projeto de lei, para retirar do
governo dele a acusação de fisiologismo, além de dividir responsabilidades
com o Congresso. Foi nesse período que cresceram no Congresso as
chamadas bancadas informais, porque elas se organizavam para receber os
favores do governo, que eram dados por segmento: o financeiro, o ruralista,
etc.
Os três recursos de poder para manter a base unida, de Sarney a
FHC, sempre foram: cargos, recursos de orçamento (por emenda ou
convênio) e negociação do conteúdo da política pública.
Nos governos do PT, com exceção do PFL, o Centrão manteve-se
unido e apoiando o governo, embora cobrando caro por esse apoio,
inclusive no período que antecedeu à adesão do PMDB ao governo. As
concessões, até as negociações para ingresso do PMDB do governo, eram
duas das três modalidades praticadas nos governos anteriores: cargos e
recursos do orçamento.
Quando o PMDB veio para a base do governo Lula, sem o qual o
governo não teria votos suficientes para aprovar as reformas tributária e da
Previdência, os partidos do Centrão tiveram que ceder alguns ministérios
para o novo aliado, já que o PT não estava disposto a abrir mão de
ministérios3. A fatura para isto, entretanto, foi alta. Além de exigir
compensações pecuniárias do PT, passou a cobrar do governo cargos em
estatais com capacidade de arrecadar – como Petrobras e Eletrobras, etc –
dando origem, respectivamente, ao mensalão e ao petrolão.
Durante os governos do PT houve dois momentos bem distintos: o
governo Lula e o governo Dilma. No governo Lula, exceto no período de
namoro do governo com o PMDB, a relação política era boa. No governo
Dilma, embora o Centrão continuasse ocupando postos-chave no governo,
a relação política nunca foi boa.
O Centrão, entretanto, nunca confiou muito no PT, especialmente no
governo Dilma, tanto que aprovaram a Emenda Constitucional 86/2015,
para tornar impositivo o pagamento das emendas parlamentares, temendo
que a presidente pudesse priorizar somente a liberação de emendas da
esquerda. Para tanto utilizaram uma PEC apresentada em 2006 pelo
senador Antônio Carlos Magalhães (PFL/BA).
No governo Dilma, o Centrão nunca teve grandes colheitas, como
ocorreu nos governos Collor, FHC e Lula. A relação sempre foi conflituosa,
tanto que escalaram seu principal líder, Eduardo Cunha, para concorrer à
3Ainda assim, em 2004, o PT teve que abrir mão do Ministério da Previdência e, em 2005, do Ministério
da Saúde para o PMDB, e Ricardo Berzoini deu lugar a Amir Lando e Humberto Costa a Saraiva Felipe.
Presidência da Câmara. Nesse posto estratégico, o Centrão teria meios de
pressionar o governo a atender seus pleitos, sob pena de oposição
ostensiva do presidente da Casa.
Eduardo Cunha foi eleito presidente da Câmara e, mesmo assim, a
relação não melhorou. O desfecho final da guerra entre Cunha e Dilma foi
precipitada pela recusa do PT em votar a favor de Cunha no Conselho de
Ética. O presidente da Câmara, em represália à negação do PT de votar a
favor do arquivamento de um processo que tramitava contra ele no
Conselho de Ética da Câmara, abriu o processo de impeachment da
presidente Dilma.
Presente
Com a cassação de Eduardo Cunha houve uma cisão no grupo a
ponto de não terem conseguido eleger o seu candidato à sucessão, o
deputado Rogério Rosso (PSD/DF). O eleito para o mandato tampão foi o
deputado Rodrigo Maia (DEM/RJ), inclusive com votos dos partidos de
esquerda no segundo turno, porque queriam derrotar o Centrão.
O Centrão escalou novas lideranças, como o deputado Artur Lira
(PP/AL), e logo se rearticulou, inclusive atraindo o apoio do presidente da
Câmara, Rodrigo Maia, que precisava do grupo para renovar seu mandato,
já que a esquerda, com exceção de parcela do PCdoB, não estava disposta
a reeleger um liberal para a Presidência da Casa, como fizeram no segundo
turno da eleição para o mandato tampão de Maia.
Desde sua criação na Constituinte, nunca o Centrão tinha sido tão
prestigiado quanto no governo de Michel Temer. Em primeiro lugar, em
agradecimento aos votos pelo impeachment da ex-presidente Dilma. Em
segundo pela rejeição de duas denúncias contra o presidente. E terceiro,
pelo voto em favor de reformas impopulares, como o congelamento do
gasto público, a reforma trabalhista e a privatização de estatais, inclusive a
abertura do pré-sal ao capital estrangeiro.
Mesmo num ambiente de crise fiscal aguda, a colheita do Centrão foi
generosa, especialmente sob a forma de perdão de dívidas, de renúncias e
anistias fiscais. A bancada ruralista, poucas vezes, teve tantos benefícios
quanto no atual governo.
Futuro
O Centrão marcha para a próxima legislatura profundamente viciado
em favores governamentais e já fez aliança com o candidato do PSDB à
Presidência em troca de cargos no próximo mandato, inclusive a
presidência da Câmara.
Antes do resultado da eleição, já é possível antecipar que o Centrão
estará na base de apoio do próximo presidente, mesmo que o eleito não
seja Geraldo Alckmin.
Entretanto, mudanças de paradigma de natureza econômico-fiscal,
de um lado, e, de natureza ético-moral, de outro, não deixarão muita
margem para concessões generosas ao Centrão na próxima gestão
presidencial.
A primeira mudança de paradigma – de natureza econômico/fiscal –
se expressa, na dimensão econômico-liberal, pela recusa do mercado a
qualquer tipo de intervenção governamental em seus negócios, inclusive
via regulação, e na dimensão fiscal, pela rejeição à ampliação do gasto
público, que não seja sustentável.
O próximo governo, seja de que matiz ideológica for, não poderá ser
perdulário fiscalmente, até pela inexistência de margem para tanto,
devendo fazer o que é necessário, inclusive fortes ajustes com corte de
gastos, e não o que lhe seja conveniente politicamente.
Mudanças recentes na legislação, como a Lei das Estatais e a extinção
de um grande número de cargos em comissão de livre provimento,
substituídos por funções comissionadas privativas de servidores de
carreira, tornam um pouco mais difícil a barganha por cargos públicos no
Executivo e nas empresas estatais, embora não as impossibilitem
totalmente.
A segunda mudança de paradigma – de natureza ético-moral – se
expressa, de um lado pela intolerância da sociedade a qualquer desvio de
conduta na relação dos agentes públicos com o setor privado, e, de outro,
pela ação dos órgãos de fiscalização e controle, que dispõem de leis4 e
amplos meios para identificar rapidamente a prática de corrupção e crimes
4 Leis: de acesso à informação, de transparência, atualização da lei de lavagem de dinheiro, de
responsabilização da pessoa jurídica, de combate ao crime organizado e deleção premiada, de votação
aberta na cassação de mandatos, etc.
como formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, advocacia
administrativa, tráfico de influência, dentre outros.
A tendência para a próxima legislatura, pela mudança de paradigma,
é que o Centrão não encontre um ambiente dócil para continuar recebendo
benefícios governamentais em troca de votos. É muito provável que se
frustrem ou se tentarem continuar suas práticas anteriores sejam contidos:
ou pela falta de recursos ou pela responsabilização por prática de desvios
éticos-morais. E ainda poderão ser forçados a promover uma ampla
reforma política, inclusive com o fim do voto obrigatório e a permissão da
candidatura avulsa, sob pena de completa desmoralização da
representação parlamentar.
No entanto, a continuar a dependência do Executivo de negociar
pontualmente e a cada votação a adesão de políticos sem qualquer
compromisso programático às suas propostas, tende a ser preservada a
força intrínseca de uma coalização de centro direita, orientada pelo “toma
lá-dá cá” que tem caracterizado o Centrão em toda a sua existência.
(*)
jornalista, consultor, analista político e diretor de
Documentação do Diap. Acompanha o Congresso há mais de 30 anos O artigo do autor Antônio Augusto de Queiroz
A busca por um centro em um país polarizado como o Brasil é um desafio complexo, com o cenário político atual dominado por extremos ideológicos, que têm dificultado o debate construtivo e o consenso. A polarização no Brasil se intensificou, especialmente desde 2018, e é impulsionada por fatores como a paixão política e o tribalismo nas redes sociais.
A hegemonia dos extremos
Divisão e radicalização: A polarização afetiva e ideológica aumentou no Brasil, especialmente em relação às principais lideranças políticas e suas bases, enquanto a ideologia dos eleitores se concentra nos polos da direita e da esquerda. Há uma forte rejeição a adversários políticos.
Papel das redes sociais: As redes sociais têm sido um espaço de baixa empatia, que fomenta o ódio, a agressão e a tribalização, dificultando o diálogo e a busca por soluções moderadas. A política se transforma em um "Big Brother" neural, movido por paixões, não por ideias.
Desafios para a busca por um centro
Impasse legislativo: No Congresso Nacional, a polarização se manifesta no impasse legislativo, na baixa produtividade e na paralisia do governo, já que a oposição foca em derrotar a outra parte, em vez de buscar o bem comum.
Dificuldade de representação: Muitos eleitores se sentem abandonados pela polarização, buscando alternativas moderadas, como evidenciado por pesquisas que apontam que o brasileiro se sente polarizado, mas também tem uma visão que pode acenar para o liberalismo. No entanto, a dificuldade de consolidação de candidaturas de centro é um obstáculo para a representatividade desses eleitores.
Diálogo e empatia: A superação da polarização exige ações que promovam o diálogo e a empatia, tanto no debate público quanto na política institucional.
Educação política e midiática: A busca pelo centro busca uso consciente das mídias sociais. Aonde se busca promover o debate construtivo, em vez de reforçar a polarização.
Fortalecimento da democracia: A busca pelo centro não apaga diferenças, mas busca criar um ambiente onde as divergências possam ser debatidas de forma civilizada, fortalecendo a democracia.
A busca pelo centro em um país polarizado é um processo que envolve a percepção sobre as causas da divisão, os seus efeitos negativos e a promoção de estratégias que incentivem o diálogo e a moderação. A sociedade, as instituições tentam trazer um dialogo mais ponedrado em meio as dvisões politicas.
Em contraste com um partido orgânico, que possui uma base ideológica sólida e disciplinada, um partido fisiológico é caracterizado pela busca por benefícios e cargos em detrimento de princípios programáticos. O fisiologismo na política brasileira está frequentemente ligado ao chamado "presidencialismo de coalizão", no qual a distribuição de cargos públicos é usada para obter apoio.
Partido fisiológico
Foco: O objetivo principal é a busca por vantagens pessoais, financeiras e partidárias, em vez de defender uma agenda ideológica clara.
Comportamento: A lealdade não é baseada em ideais, mas na capacidade de um governo oferecer cargos, verbas e outras benesses. Esse tipo de partido tende a se aliar ao governo de plantão para garantir acesso ao poder.
Ideologia: A ideologia é flexível e secundária. Esses partidos podem mudar de alianças e posturas políticas de acordo com a conveniência, sem grande preocupação com a coerência programática.
Exemplos no Brasil: O termo é frequentemente associado a partidos que integram o Centrão, um grupo de legendas que atua de forma pragmática para negociar apoio em troca de posições no governo. Segundo o Sociiólgo, Mestre e Doutor Cesar Portantiolo Maia, no Quarto Período da Habilitação em Jornalismo na Comunicação Social, pelas Faculdades Integradas Alcântara Machado (FIAAM FAAM).
Partido orgânico
Foco: Possui uma estrutura e ideologia bem definidas e enraizadas em uma base social ou em um conjunto de valores específicos.
Comportamento: A atuação política é pautada por seus princípios e programas, e a fidelidade partidária é valorizada. O apoio a candidatos ou governos é condicionado pelo alinhamento com sua agenda programática.
Ideologia: Age como porta-voz de um determinado grupo social, classe ou visão de mundo, buscando implementar suas pautas de forma consistente.
Exemplo: O conceito de partido orgânico, conforme desenvolvido pelo filósofo Antonio Gramsci, sugere uma ligação profunda e orgânica entre o partido e sua base social. No Brasil, partidos com ideologia mais definida, como o Partido dos Trabalhadores (PT) ou o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), em geral buscam se aproximar mais desse conceito, embora a prática política seja complexa. Segundo o Sociólogo, Mestre e Doutor Cesar Portantiolo Maia, no Quarto Período da Habilitação em Jornalismo na Comunicação Social, pelas Faculdades Integradas Alcântara Machado (FIAAM FAAM).
Mas os partidos fisiológicos . Não conseguem se opor á uma extrema direita bolsonarista.
Confira a noticia no Jornal O Globo .https://oglobo.globo.com/
E assim caminha a humanidade.
Imagem ; Jornal O Globo.
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