O presidente Jair Bolsonaro, ou os detentores de suas senhas no Twitter, postaram na rede um elíptico texto intitulado "Nossa riqueza, nosso futuro".
Composto por cinco itens (A, B, C, D e E), a sequência de posts começa com um truísmo.
A: "É inegável que as eleições norte-americanas despertam interesses globais, em especial, por influir na geopolítica e na projeção de poder mundiais".
A partir daí, o texto salta do óbvio para o conspiratório sem escalas.
B: "Até por isso, no campo das informações, há sempre uma forte suspeita da ingerência de outras potências, no resultado final das urnas". Aqui, a falta de clareza da frase se deve menos à obscuridade da tese do que à pouca familiaridade do ghost writer presidencial com a língua.
Não é possível adivinhar se a "forte suspeita de ingerência de outras potências" se dá "no campo das informações" ou "no resultado final das urnas" ou em ambas. De qualquer maneira, é certo que as "outras potências" são todos os países que criticam a política ambiental do governo Bolsonaro.
C: "No Brasil, em especial pelo seu potencial agropecuário, poderemos sofrer uma decisiva interferência externa, na busca, desde já, de uma política interna simpática a essas potências, visando às eleições de 2022".
De novo, o texto dá cambalhotas intrigantes para produzir um alerta: "nossas riquezas" nos transformam em alvo de acusações feitas por potências movidas a interesses comerciais e para as quais Jair Bolsonaro é um entrave. Com a provável vitória de Joe Biden nos Estados Unidos, crescerá a ameaça dessa "decisiva interferência externa" nas eleições brasileiras de 2022.
D: "Não se trata apenas do Brasil. Devemos nos inteirar, cada vez mais, do porquê, e por ação de quem, a América do Sul está caminhando para a esquerda".
Aqui, o formulador de política externa do presidente e detentor de sua senha no Twitter lembra que nada é por acaso, e que ingênuos são os que acreditam que a vitória na Bolívia de Luis Arce, o afilhado de Evo Morales, foi resultado de uma escolha feita pela população daquele país. Atentai, brasileiros.
E: "Nosso bem maior, a liberdade, continua sendo ameaçado. Nessa batalha, fica evidente que a segurança alimentar, para alguns países, torna-se tão importante e aí se inclui, como prioridade, o domínio da própria Amazônia".
O autor do texto aqui se despede repetindo com raciocínio tortuoso o que Jair Bolsonaro, o original, já tantas vezes disse com mais clareza: Bolsonaro só pensa na própria reeleição e fará o que estiver ao seu alcance para o Brasil continuar seguindo a passos largos na direção de virar um pária do mundo, com Biden ou Trump. O relato, é da jornalista Thaís Oyama, nesta quarta feira (04) , na sua coluna, no Portal UOL.
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