No Brasil, o limite entre o que um político pode e o que não pode fazer é a capacidade da imprensa de descobrir os malfeitos. Flávio Bolsonaro passa o feriadão com sua mulher na ilha de Fernando de Noronha. Espetou a conta no bolso do contribuinte. Apanhado, atribuiu o escárnio a um equívoco da assessoria. Prometeu devolver o dinheiro.
O primogênito do presidente tenta fazer crer que Noronha é um ponto fora da curva. Não cola. A viagem à ilha é apenas mais uma rachadinha, agora em versão turística. Como se sabe, Jair Bolsonaro é um defensor fervoroso da pátria e da família. Ensinou aos seus garotos o valor do patriotismo. Adultos, os filhos seguiram o exemplo do pai. Casaram-se com a pátria e foram morar no déficit público.
Dias atrás, a Procuradoria abriu investigação preliminar sobre o vaivém da folha do gabinete do então deputado Jair Bolsonaro. Tenta-se descobrir por que assessores eram demitidos e recontratados no mesmo dia. Beliscavam 13º proporcional, indenização e férias. Da noite para o dia, remunerações dobravam, triplicavam e até quadruplicavam.
Transferidos de pai para filho, pelo menos nove auxiliares de Bolsonaro viraram assessores de Flávio na época em que o hoje senador dava expediente como deputado estadual, na Assembleia Legislativa do Rio. Todos tiveram o sigilo bancário quebrado no caso da rachadinha, eufemismo para roubo de nacos de salários pagos pelo contribuinte.
No momento, além de Flávio, metido num escândalo multipartidário com outros 20 políticos do Rio, o vereador Carlos Bolsonaro encontra-se sob investigação por suspeita de empregar fantasmas em seu gabinete na Câmara Municipal do Rio. Desde a década de 90, engancharam-se nos mandatos do patriarca Jair e dos filhos Flávio, Eduardo e Carlos 102 pessoas com algum parentesco entre si, em 32 núcleos familiares.
As perversões se interconectam. Carlos, o primeiro vereador federal da história, empregou parentes da ex-mulher de Jair. Operador da rachadinha de Flávio, o amigo Fabrício Queiroz e sua mulher repassaram R$ 89 mil para a hoje primeira-dama Michelle Bolsonaro.
As perversões se interconectam. Carlos, o primeiro vereador federal da história, empregou parentes da ex-mulher de Jair. Operador da rachadinha de Flávio, o amigo Fabrício Queiroz e sua mulher repassaram R$ 89 mil para a hoje primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Quer dizer: os Bolsonaro não são pontos fora da curva. Eles são a própria curva. Se não tivesse virado notícia, o feriadão de Noronha —R$ 1.620,66 de passagens, noves fora o pedido de diárias— seria pago por você.
A alegação de que tudo não passou de um descuido da assessoria é apenas mais um pedido para que os brasileiros se finjam de bobos pelo bem da estabilidade da primeira-família. O senador "já fez a solicitação para cancelar o reembolso e para também cancelar os pedidos de diárias", informou o gabinete do Zero Um por meio de nota. Então, tá!. Esse o relato do jornalista Josias de Souza, na sua coluna, hoje segunda feira (02), no Portal UOL.
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