“Eu só quero encontrar 11.780 votos porque nós ganhamos o estado.” Na expressão do desespero do presidente Donald Trump estava implícita também a ameaça ao secretário de estado da Geórgia, o republicano Brad Raffensperger, para reverter o resultado das urnas em seu favor. Por telefone, durante uma hora, mais uma vez o presidente americano tentou intimidar uma autoridade de seu próprio partido, para atender aos seus próprios interesses.
Em outra frente, uma tropa de conspiradores articulada por Trump, tentará, na quarta-feira, tumultuar no Congresso o processo de certificação do presidente eleito, Joe Biden, e perpetuar entre a base leal ao presidente a tese de que a eleição foi roubada.
Numa sessão conjunta que tradicionalmente se traduz como mera formalidade, uma dúzia de senadores e 140 deputados republicanos pretendem encenar um espetáculo político deprimente que, desde já, se anuncia como fracassado: atrasar a ratificação de Biden como presidente dos EUA para uma auditoria das alegações infundadas de fraude maciça.
A maioria democrata na Câmara e um grupo de republicanos, que não lê a mesma cartilha do presidente, certamente impedirão o desfecho almejado pela ala dos fiéis de Trump. Biden será declarado o 46º presidente dos EUA, mas o efeito devastador desta eleição ainda pairará, por um bom tempo, sobre o país.
Os 50 estados já certificaram o resultado eleitoral, e cerca de 60 contestações à vitória de Biden foram rejeitadas por tribunais americanos. Ainda assim, Trump se mostra irascível com a derrota, como é comprovado no áudio vazado pelo jornal “Washington Post” do diálogo com Raffensperger.
“O povo da Geórgia está com raiva, o povo do país está com raiva”, vociferou. "E não há nada de errado em dizer, você sabe, hum, que você recalculou."
O tom intimidatório do presidente remete a outro diálogo, mantido com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, a quem ameaçou com cortes na ajuda militar ao país caso não iniciasse uma investigação de Joe Biden e de seu filho, Hunter.
Como sintetizou num tuíte o deputado democrata Adam Schiff, ex-promotor do julgamento do impeachment e um dos principais desafetos de Trump no Congresso, o seu desprezo pela democracia foi novamente exposto e gravado.
Principal autoridade eleitoral da Geórgia, o secretário Raffensperger resistiu friamente às investidas de Trump, que anteriormente pressionou o governador Brian Kemp, outro correligionário republicano, chegando até a defender a sua renúncia.
Em nove semanas, Trump reduziu o status do Partido Republicano ao de terra arrasada. A erosão põe de um lado a legião de bajuladores do presidente e de outro os detratores que rejeitam desde já a trama do golpe político e do abuso de poder que emana da Casa Branca. A informação é da jornalista Sandra Cohen, no seu blog, no Portal G1 da Rede Globo, na manhã desta segunda feira (04).
Nenhum comentário:
Postar um comentário