domingo, 2 de junho de 2024

O preconceito de marca praticado no Brasil.

 Ao ouvir a frase em um hotel, 150 anos passaram diante dos meus olhos

Só um negacionista climático, um terraplanista hidrófobo ou outra besta do tipo é capaz de afirmar que não existe racismo no Brasil. A construção “existe racismo no Brasil” é até meio descabida. Se a escravidão foi a base da nossa economia por três séculos, se é o fundamento do nosso edifício social e a principal razão das nossas desigualdades, seria mais correto inverter a ordem dos fatores (sem, infelizmente, alterar o produto) e afirmar que o Brasil é que existe no racismo.

Cheguei do almoço e tinha que pegar a chave na recepção do hotel, em Ribeirão Preto. Três homens faziam o check-in: jovens, pardos, correntes douradas, bonés, tênis chamativos. Os tipos que a PM pararia para revistar, logo pensei. Não sei bem por que, imaginei que fossem roadies de uma banda. Talvez seguranças de algum famoso, ainda sem os ternos que inexplicavelmente os seguranças usam. Os três riam e conversavam alto, despreocupados. O cara da recepção me entregou a chave. O elevador chegou, entrei.

Dentro estava uma funcionária do hotel, uns 65 anos, segurando uma pilha de toalhas brancas como ela – e eu. Entrei, a senhora olhou os caras por cima do meu ombro e resmungou “ai, meu Deus, tomara que não estejam indo pro meu andar…”.

Ao ouvir a frase, 150 anos passaram diante dos meus olhos. Vi ali a imigração europeia chegando ao interior paulista na virada do século 19 pro 20 com o intuito de “embranquecer” o país. Vi o esforço dos descendentes daqueles europeus brancos e pobres em se distanciar dos pretos, durante todo o século 20, agarrando-se à branquitude, adotando os hábitos das elites, falando frases como a daquela senhora, no elevador.

Lembrei do bandeiroso bordão dos ricos patrícios no início dos anos Lula, com a ascensão da classe C: “esse aeroporto tá parecendo uma rodoviária”. Era um eufemismo pra “tá cheio de preto no aeroporto”. Ou: “tá cheio de pobre no avião”. É uma elite para quem a desigualdade não é um problema, é um conforto, uma marca de distinção. Somos um país em que a palavra “exclusivo” deveria causar vergonha, mas é usada para valorizar produtos, lugares, eventos. Um país em que estar na ala VIP talvez importe menos por aproximar os supostos “very important” do que por afastá-los da escumalha.

Um detalhe que me incomodou ainda mais na situação foi a tranquilidade com que a senhora havia me dito “ai, meu Deus, tomara que não estejam indo pro meu andar…”. Quer dizer, ela não só parecia assumir seu racismo sem qualquer receio, mas supunha que eu também compartilhasse dele. Pensei no quanto aquilo dizia sobre São Paulo e seu riquíssimo interior, sobre suas cidades do agro e do sertanejo que se enxergam mais próximas do Texas do que da Bahia.

Não quis deixar barato. Respondi, um tanto ríspido: “por que a senhora não quer que eles vão para o seu andar? Você conhece eles? Eles já vieram pro hotel? Causaram algum problema?”. Queria que ela lesse, nas entrelinhas, que, se não os conhecia, se era a primeira vez deles ali, só podia estar sendo preconceituosa. A senhora me encarou meio sem entender, por trás da pilha de toalhas brancas: “Não, não faço ideia de quem são, é que todos os quartos já tão arrumados, só faltam três pra mim no oitavo andar”.

Impressionante o Brasil. O racismo vem de onde a gente menos espera. O artigo de Antônio Prata na Folha de São Paulo. 



Confira o estatuto da igualdade racial no link á seguirhttps://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12288.htm

Bom noite caro  (a) leitor (a) : Hoje na reflexão do domingo, vou abordar o preconceito racial que é praticado há séculos no Brasil, o preconceito de marca, que representa o conceito da “hierarquia social”.

Basicamente leitor (a),existem dois tipos de discriminação racial, o preconceito de marca e o preconceito de origem.

O Preconceito de marca é aquele que se relaciona ao fato de outros indivíduos não aceitarem aquela pessoa, tendo relação com o aspecto da cor da pele, se parece muito com as agressões á pessoas obesas, observadas como “diferentes”.

O preconceito de origem se aplica um grupo que descende de negros, como por exemplo, os negros  e seus descendentes sofrem com o preconceito e os nordestinos e seus descendentes sofrem com a xenofobia. Ou seja, o preconceito de origem se aplica basicamente como xenofobia.

No Brasil o preconceito de marca é praticado há séculos, e esse tipo de preconceito racial ficou mais forte no nosso país, pelo conceito de “hierarquia social” que se estabeleceu após o fim da escravidão.

 No conceito de “hierarquia social", existe o conceito de “branqueamento", sendo assim, o negro primeiro é discriminando por não ter o diploma superior. Entretanto, quando consegue, acaba sofrendo pelo conceito típico da “hierarquia sócial”,simplesmente pelo fato de ser negro.

Nos Estados Unidos e na Europa, se pratica a xenofobia, por meio do preconceito de origem. No Brasil, temos a “hierarquia social", refletida na perversidade do preconceito de marca. O preconceito de marca é a prática nefasta da “hierarquia social” com o “branqueamento” entre as pessoas.

A origem do preconceito de marca no Brasil se deu com o inicio da escravidão, quando os primeiros navios negreiros começaram a trazer negros  da África para serem comercializados no Brasil. Durante o período da escravidão, os negros eram tratados como “diferentes", devido a cor da sua pele, podemos dizer      que na época da escravidão, com os primeiros navios negreiros, começava a ser implantados o conceito da “hierarquia social” no Brasil.

O conceito da “hierarquia social” ficou ainda mais forte com os negros escravos trancados em senzalas, sendo impedidos de comer a mesma comida dos seus senhores. Mesmo  o final do período da escravidão  no Brasil com a lei áurea, não libertou os negros da “hierarquia social", o conceito mais perverso da escravidão.

O final do período da escravidão no Brasil acabou coincidindo com os primeiros passos da revolução industrial, os negros libertos já sofriam os primeiros conceitos da “hierarquia social”, pois no tempo em que eram escravos, não tiveram qualquer acesso á educação, e depois de libertos, não estavam preparados para a era da grande industrialização, então podemos dizer que a herança dos negros nos dias atuais começou naquele tempo.

Com a chegada dos escravos africanos, a sociedade brasileira dividiu-se em duas porções desiguais, semelhante a um sistema de castas, formada por uma parte branca e livre e outra parte negra e escrava. Mesmo os negros livres não eram considerados cidadãos. O racismo no Brasil colonial não era apenas sistêmico, vez que também tinha base legal. Para ocupar serviços públicos da Coroa, da municipalidade, do judiciário, nas igrejas e nas ordens religiosas era necessário comprovar a "pureza de sangue", ou seja, apenas se admitiam brancos, banindo negros e mulatos, "dentro dos quatro graus em que o mulatismo é impedimento". Era exigida a comprovação da "brancura" dos candidatos a cargos.

O movimento negro no Brasil corresponde a uma série de movimentos realizados por pessoas que lutam contra o racismo e por direitos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu primeiro artigo, diz que "todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos…"

Foi dado um passo importante, no combate ao preconceito de marca no Brasil.

E assim caminha a humanidade.

Imagem: Site Toda Matéria. 










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