sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Extremismo politico;.


 











O extremismo político é a adesão a ideias e ideologias que se situam fora do espectro político tradicionalmente aceito, caracterizado pela intolerância, pela agressividade, pela desconsideração da diversidade de opiniões e, em muitos casos, pela violência. Não se restringe a uma única ideologia, podendo ser de esquerda ou de direita, e tem apresentado crescimento globalmente, gerando impactos negativos nas democracias. 

Características e dinâmicas

Intolerância e supressão de direitos: Extremistas tendem a acreditar que apenas seus pontos de vista estão corretos e que devem ser impostos a todos, o que leva à supressão dos direitos e da pluralidade de outros grupos.

Autoritarismo e violência: A busca por impor a própria vontade muitas vezes leva ao uso da violência e da agressividade, rejeitando o debate e a negociação democrática. A extrema-direita, por exemplo, é associada a traços antidemocráticos e exclusivistas.

Desconfiança nas instituições: Pesquisas recentes mostram que uma parcela significativa da população, tanto nos Estados Unidos quanto em outros países, desconfia da capacidade das instituições democráticas e dos partidos políticos de resolver problemas.

Papel das redes sociais: A propagação do extremismo é potencializada pelas redes sociais, que permitem a disseminação de discursos de ódio e de desinformação em larga escala.

Radicalização: O extremismo político é o resultado de um processo de radicalização, que pode ser influenciado por diversos fatores, inclusive por novos padrões de consumo e polarização social.

Propaganda racial e supremacia: Exemplos históricos e contemporâneos de extremismo de direita, como a ideologia nazista, baseiam-se em doutrinas raciais e em um senso de superioridade do grupo. 

Contexto atual e desdobramentos recentes

Nos últimos anos, o extremismo político tem sido um tema de debate frequente, tanto no Brasil quanto em âmbito internacional, com destaque para os seguintes eventos e discussões:

Reuniões em defesa da democracia: Em setembro de 2025, o governo brasileiro liderou uma reunião em Nova York com outros países progressistas para discutir a defesa da democracia e o combate ao extremismo. O presidente Lula alertou para a ameaça global que o extremismo representa, assim como a pobreza.

Eleições nos EUA: A polarização e o extremismo dominaram a política americana, com a ameaça extremista sendo considerada mais relevante nas eleições do que a economia, especialmente após o assassinato de uma voz conservadora influente.

Cenário político brasileiro: Analistas apontam para um cenário desafiador no Brasil para o Planalto, com o extremismo de um lado e a economia instável de outro. Houve manifestações e debates sobre a necessidade de combater o extremismo, inclusive com a criação de movimentos e discussões no meio político e institucional. 

Consequências e impactos

O extremismo político traz diversas consequências negativas para a sociedade e a democracia. 

Corrosão democrática: O autoritarismo e a intolerância minam os pilares das instituições democráticas, enfraquecendo o sistema como um todo.

Divisão social: A polarização e o extremismo aprofundam as divisões na sociedade, dificultando o diálogo e a construção de consenso.

Ameaças à segurança: O recurso à violência e a grupos organizados, como visto em casos de neonazismo, representa uma ameaça direta à segurança pública e à estabilidade social.

Desconfiança generalizada: A descrença nas instituições e nos processos democráticos pode levar a um ciclo de instabilidade e falta de governabilidade. 

ANEXO B – Projeto de Pesquisa da Orientadora 

Título: EXTREMISMO POLÍTICO E AMEAÇAS À DEMOCRACIA: prevenção e tratamento dos casos 

de manifestações de caráter neonazista e perseguição política às mulheres em Santa Catarina 

RESUMO: As práticas de extremismo político como os ataques de 08 de janeiro de 2023, mas 

também ameaças e violência política contra as mulheres, assim como manifestações neonazistas, 

se conectam em uma rede de extremismo que tem potencial lesivo para a democracia. A proposta 

de pesquisa visa analisar o fenômeno do extremismo político no Brasil, com foco em Santa 

Catarina, tendo como objetivo analisar dados sobre denúncias e apurações pelos órgãos oficiais de 

repressão (Polícias Civil e Federal, Ministério Público Estadual e Federal). Levantar dados sobre 

ocorrências e apurações possibilita entender melhor o fenômeno, o modo de atuação dos agentes 

públicos e pensar novos mecanismos de aprimoramento das ferramentas existentes, mas também 

outros mecanismos preventivos, como protocolos e guias para agentes públicos e professores em 

escolas, ou mulheres na política, por exemplo. 

1. INTRODUÇÃO (CONTEXTUALIZAÇÃO, MOTIVAÇÃO) 

Vivemos um processo mundial de crise da democracia. Parte dessa crise decorre da 

dificuldade de se afirmar uma ordem de igualdade, como é a democrática, no contexto de 

capitalismo que produz desigualdade. No livro “Democracia e Representação – Territórios em 

disputa”, o cientista político Luis Felipe Miguel, aponta as três principais dificuldades. A primeiro é 

a “dependência estrutural”: o Estado se vê dependente dos proprietários privados sobre as 

decisões de investimento. Os governantes precisam observar os interesses do capital a fim de 

garantir a manutenção de taxas elevadas de investimento econômico. Assim, a posição de força do 

empresariado e dos investidores tem a capacidade de definir a realidade trazendo decisões de 

impacto coletivo, embora não haja uma participação popular nessas decisões, ou seja, o poder 

econômico define muitos dos rumos políticos. A segunda trata da “influência ‘pervasiva’ do poder 

econômico”, essa restrição diz respeito às desigualdades de riqueza que permeiam todas as esferas 

sociais. O campo político especialmente suscetível à influência do poder econômico, exemplo 

disso, são as eleições com os financiamentos de campanha que rompem com a regra democrática 

de igualdade de influência política. Por fim, a terceira dificuldade é a “socialização inadequada dos 

cidadãos para a ação política democrática”. Nas relações de produção capitalista os trabalhadores 

recebem um treinamento que destaca qualidades opostas àquelas exigidas para a prática da 

democracia. O trabalho assalariado coloca o indivíduo numa posição de obediência às ordens 

emanadas de seu empregador, submetendo-o a uma relação vertical, completamente oposta da 

participação na busca de soluções e responsabilidades pelas próprias escolhas, o que se espera 

idealmente, numa democracia. De outro lado somos consumidores e o consumo é visto como 

forma de realização, individualista, o que desvaloriza formas de ações políticas coletivas. 

No Brasil, além desses elementos estruturais que dificultam a valorização da 

democracia, há outras especificidades históricas. Como um país que se originou do violento 

processo de colonização e de escravização, temos uma base fundante autoritária, em que a 

hierarquização dos sujeitos é a regra, na esteira da reprodução do racismo estrutural e do 

patriarcado. A independência e a criação da República não adotaram medidas para atacar as 

desigualdades decorrentes dessas estruturas, como a Reforma Agrária. Além disso, temos uma 

trajetória de tutela militar da política, com uma longa ditadura no século XX, que surtiu fortes 

impactos na vivência dos processos democráticos, tendo em vista que neste período o uso da 

tortura foi institucionalizado, a perseguição aos oponentes políticos, bem como um Estado opaco, 

que não possuía transparência e controlava a cultura e a imprensa, impedindo que os cidadãos 

conhecessem a realidade do que se passava no país como casos de corrupção, a crise econômica e 

até mesmo surtos de doenças, como foi o caso da epidemia de meningite nos anos 1970 (cf. Cruz, 

2020). Na transição da ditadura para a democracia, fomos incapazes de realizar uma justiça de 

transição plena (cf. Quinalha, 2009), não responsabilizamos os militares pelas violações de direitos 

perpetradas e não alteramos de forma profunda instituições que ainda não operam com a lógica 

de autoritária, como a polícia militar (cf. Teles, Safatle, 2010) , mas também mantivemos 

segregações de espaços para ricos e pobres, mesmo em prédios públicos em que há elevadores de 

serviço e elevadores sociais, por exemplo. Essa lógica impede que todos sejam tratados como 

sujeitos de direitos, alguns tem mais direitos do que outros, o que é incompatível com a 

democracia. 

Como afirma José Murilo de Carvalho (2011), as ditaduras do século XX no Brasil, 

contribuíram a produzir a centralidade do Executivo, pelo fechamento do Legislativo e controle 

sobre o Judiciário. A ação política era vista como uma negociação direta com governo, sem 

mediação da representação, afirmando o patrimonialismo, ou seja, a cultura de troca de favores e 

de manejo do público como se fosse privado. Assim, diante dos processos democráticos de decisão 

que demandam mais tempo e nem sempre produzem as respostas no tempo esperado, há no 

Brasil a busca por um “messias”, um salvador da pátria que poderia dar as respostas aos problemas 

políticos. Esta trajetória contribui para que o Brasil tivesse baixas taxas de crença na democracia, 

além de uma postura que limita a democracia ao momento do voto e demanda dos políticos uma 

prestação de favores pessoais. A falta de uma justiça de transição plena e da responsabilização dos 

militares pelos crimes cometidos durante a ditadura militar certamente também contribuiu para 

essa realidade, na medida em que a história da ditadura foi contada pelos próprios militares e a 

ampla maioria da população não pode conhecer os meandros e problemas decorrentes deste 

regime autoritário, valorizando mais a ditadura do que a democracia. 

Neste contexto histórico, fatores econômicos também tem influência direta na 

ampliação do extremismo político e nos ataques à democracia ou a minorias políticas. As políticas 

econômicas neoliberais têm como receita o controle a inflação e a solidez das finanças públicas 

(gastar menos do que arrecada em tributos), no lugar da política econômica do Estado de bem

estar social que tem como objetivo garantir o pleno emprego e proteções, direitos sociais. Com 

isso, o Estado cada vez mais reduz suas políticas para garantias de direitos sociais, como saúde e 

educação, reduzindo investimentos e fazendo privatizações ou terceirizações, como são feitas no 

Brasil.  

A retirada dessas políticas que garantem direitos sociais gera grande instabilidade 

social, com consequências concretas para todos os cidadãos. A classe mais baixa sofre com uma 

instabilidade objetiva crônica, caracterizada pela ausência de oportunidades e perspectivas. Por 

outro lado, às classes médias fica reservada uma instabilidade subjetiva, na medida em que elas 

adotam o ideário de competição, precisando constantemente aprimorar suas vidas adaptando-as 

ao trabalho e são constantemente tomadas pelo medo das classes mais pobres, principalmente em 

decorrência da teatralização do direito penal e das operações policiais promovida pela mídia. 

Como resposta a essa instabilidade há reabilitação e expansão do aparato penal do Estado. O 

encarceramento (com raras exceções) cresceu em todas as sociedades pós-industriais do Ocidente, 

juntamente com a precarização do trabalho e a redução da assistência social, como afirma o 

sociólogo Loïc Wacquant (2012). O Estado social é substituído pelo Estado Penal no neoliberalismo. 

No Brasil, não foi diferente, entre 1990 e 2020 a população carcerária aumentou em 

aproximadamente 700%, enquanto a população total teve crescimento de 30%1. Neste mesmo 

período houve a expansão de políticas públicas e programas sociais que auxiliaram na efetivação 

1 SARDINHA, Edson. População carcerária cresce seis vezes em 22 anos. Congresso em foco. 10 jan. 2014. Disponível 

em: https://congressoemfoco.uol.com.br/especial/noticias/populacao-carceraria-cresce-seis-vezes-em-22-anos/  

de direitos, como Bolsa Família, Programa Minha Casa Minha Vida e política de aumento real do 

salário mínimo. No entanto, a implementação destes programas não foi suficiente para romper 

com a lógica hierarquizada da cidadania no Brasil e, após o Impeachment de Dilma Rousseff em 

2016, aprofundaram-se as políticas neoliberais no país: a aprovação da Reforma Trabalhista, da 

Reforma da Previdência e a PEC do Teto de Gastos que restringiu o investimento público em nome 

da austeridade fiscal. 

O neoliberalismo implica, ainda, que o cidadão (aquele que tem direitos a serem 

afirmados contra, mas também garantidos pelo Estado) é substituído pelo contribuinte (que 

trabalha duro para financiar o Estado) e o consumidor (aquele que é livre para escolher entre as 

diferentes opções disponíveis no mercado). Neste sentido, só há indivíduos, não há coletivo, 

solidariedade. Além disso, por meio da política o neoliberalismo nega a própria política, pois se 

apresenta como uma forma tecnocrática de política de acordo com a qual a política não seria mais 

um confronto partidário ou de ideias, mas a administração neutra dos negócios. Todas as medidas 

são justificadas sob o ponto de vista técnico-econômico, como se não fossem escolhas políticas, 

mas determinações do conhecimento econômico. Um exemplo são argumentos utilizados para 

justificar a aprovação da Emenda Constitucional que criou o Teto de Gastos no Brasil, tratavam de 

neutralidade, necessidade e imprescindibilidade do Novo Regime Fiscal. Isso faz parte da estratégia 

de matriz neoliberal que busca promover uma reengenharia no Estado e no constitucionalismo 

social brasileiro, mas sob o manto de uma suposta tecnicidade, quando o próprio processo de 

positivação dessas mudanças demonstra o contrário. Assim, as questões políticas são reduzidas a 

meras questões técnicas, com as quais os especialistas lidariam, afastando as pessoas comuns da 

política, pois não lhes diz mais respeito. 

O neoliberalismo compreende também uma racionalidade, além das políticas 

econômicas neoliberalismo, por isso Wendy Brown (2019) aponta para a convergência entre 

neoliberalismo e neoconservadorismo. A racionalidade neoliberal compreende a demonização do 

social e do político e valorização da moralidade tradicional e do mercado como seus substitutos. 

Assim, ao desmonte do que é público com a consequente mercantilização do cotidiano se segue à 

extensão da esfera privada e familiarização que deslegitima os projetos de democratização dos 

poderes sociais de classe, raça, gênero e sexualidade: “[...] estes processos gêmeos contestam os 

princípios de igualdade, secularismo, pluralismo e inclusão, junto com a determinação democrática 

de um bem comum” (Brown, 2019, 132-133). Dá-se o que Wendy Brown denomina de 

desdemocratização. Como afirma Sônia Corrêa, as posições políticas antigênero, típicas do 

neoconservadorismo, que defendem a preservação ou restauração de ordens sexuais e de gênero 

baseadas no racismo e no patriarcado, está no centro da erosão democrática que vivemos e 

guinada à direita, principalmente na América Latina: “Dito de outra forma, elas se alimentam e são 

alimentadas pelos processos desdemocratizantes em curso na América Latina que, ao contrário de 

mudanças autoritárias de regime vividas no passado, ameaçam as democracias por dentro.” 

(Corrêa, Parker, 2021) 

Durante o Governo de Bolsonaro, a aliança do neoliberalismo ao neoconservadorismo 

ficou clara com a adoção de políticas que contribuíram para: 1) o desmantelamento do Estado de 

bem-estar prejudica a fruição dos direitos sociais (direitos trabalhistas, previdenciários, direito à 

saúde e à educação – estes dois últimos principalmente pela redução de investimentos); 2) o 

aprofundamento da desigualdade social gera marginalidade socioeconômica e nega direitos aos 

marginalizados, os cidadãos de terceira classe, a quem resta o Estado Penal, em substituição ao 

Estado de bem-estar; 3) o neoconservadorismo moral expandir a esfera privada e deslocar valores 

públicos como a igualdade e a não discriminação, restringindo direitos sexuais e reprodutivos, das 

mulheres e da população LGBTQIA+, dificultando, por exemplo, o acesso a métodos 

anticonceptivos e de planejamento familiar.  

Além disso, seus ataques e ameaças a democracia, em especial direcionados ao 

Supremo Tribunal Federal eram constantes, esse discurso foi fomentador do principal ataque que 

se vivenciou no Brasil desde a ditadura militar: os ataques de 08 de janeiro foram, sem dúvidas, 

uma tentativa de golpe que visava destituir o governo eleito democraticamente, portanto, um 

atentado contra a própria democracia. O que ocorreu, no entanto, foi que o ato não teve o apoio 

amplo de setores institucionais, como os militares, que poderiam ter concretizado o golpe. O 

poder civil agiu em tempo hábil e de forma adequada para evita-lo. O ataque aos símbolos da 

democracia representou um ataque a própria política porque a política exige a consideração pelo 

outro como um adversário e quando se perde, diante de um adversário, deve-se respeitar o 

resultado legítimo, tendo em vista que a principal característica formal da democracia é o respeito 

a alternância dos grupos no poder. Esse ataque, por exemplo, ao STF, demonstrava que os 

Ministros eram vistos como inimigos que deveriam ser destruídos como em uma guerra, assim 

como todos aqueles que se opunham à visão política dos bolsonaristas.  

Neste contexto, práticas de extremismo político como os ataques de 08 de janeiro de 

2023, mas também ameaças e violência política contra as mulheres, assim como os ataques a 

escolas, se conectam em uma rede de extremismo que tem potencial lesivo para a democracia. 

Diante deste cenário, a proposta da pesquisa é analisar o fenômeno do extremismo político no 

Brasil, com foco em Santa Catarina. 

Estudar Santa Catarina se justifica pela proeminência de manifestações de caráter 

neonazista tiveram nos últimos anos na região, o que levou a Revista Piauí a publicar em março de 

2023, a reportagem: “SANTA CATARINA E A MULTIPLICAÇÃO DE CÉLULAS NEONAZISTAS” que indica 

por meio de levantamento da pesquisadora Adriana Dias, o aumento de células no Estado, sendo 

que células têm, para a autora, uma conotação de grupo virtual. A reportagem também discute a 

prisão de quatro estudantes da UFSC envolvidos acusados de apologia ao nazismo em 2022. Não se 

pode afirmar categoricamente que Santa Catarina tenha proporcionalmente mais manifestações 

neonazistas do que outros Estados do Brasil, esse é um tema em disputa, inclusive porque os 

dados sobre os casos não estão em bases de dados consolidadas. No início do século XX, o Brasil 

teve o maior Partido Nazista fora da Alemanha, como apontou a historiadora Ana Maria Dietrich 

(apud FÁVERI, 2024), porém: 

a hipótese interpretativa desenvolvida em pesquisas ao longo dos anos, assim como em 

diálogo com diversos pesquisadores, é que o neonazismo, no Brasil, deve ser entendido a 

partir de características fundamentais em torno de sua especificidade, de sua 

complexidade e de sua heterogeneidade, não necessariamente como um continuum. 

(Neto, 2017). 

Como mecanismo para enfrentar o problema, o Estado de Santa Catarina criou uma 

Delegacia e uma Promotoria especializadas: a Delegacia de Repressão ao Racismo e Delitos de 

Intolerância (DRRDI) e a 40ª Promotoria de Justiça da Capital, especializada no combate aos crimes 

de racismo, de ódio, de intolerância, de preconceito e de discriminação com atribuição estadual. 

Ambas tem desempenhado papel fundamental quem tem dado visibilidade para a ocorrência 

desses casos, como da prisão de quatro estudantes da UFSC2 e o caso dos Hammerskins (um grupo 

neonazista internacional)3 presos em São Pedro de Alcântara, município próximo a Florianópolis, 

durante um encontro neonazista4. 

2O caso foi divulgado no Fantástico: Polícia prende grupo de jovens acusados de neonazismo em SC | Fantástico | G1 

(globo.com) 

3Hammerskins Nation: “Hammerskins Nation, associação fundada em 1988 nos Estados Unidos, que desempenha um 

papel de destaque no cenário de extrema direita da Europa. 

Em todo o mundo, os membros da associação autodenominam-se "irmãos” e veem-se como uma "irmandade” de elite 

que quer praticar seu modo de vida subcultural dentro de um grupo que se considera a elite da cena skinhead de 

extrema direita. 

O elemento central da ideologia da Hammerskins Deutschland é a propagação de uma doutrina racial baseada na 

ideologia nazista. Seu objetivo é viver e consolidar sua filosofia de vida de extrema direita, em particular através da 

realização de concertos nos quais também os não membros são confrontados com ideias extremistas, ideologizados e 

radicalizados.” Disponível em: Alemanha proíbe grupo de extrema direita Hammerskins – DW – 19/09/2023 

4Informação divulgada no site da Polícia Civil: Polícia Civil e Núcleo de Inteligência e Segurança Institucional prendem 

10 integrantes de organização criminosa neonazista em SC, PR e RS - PCSC 

Na legislação brasileira, a apologia ao nazismo está prevista na lei de combate ao 

racismo e pode ser entendida como um tipo de ato racista. Outras terminologias que têm sido 

utilizadas para se referirem aos atos extremistas são “crimes de ódio” e “delitos de intolerância”. 

Neste contexto, pode ser inserida também a violência política de gênero, que foi 

inserida no Código Penal em 20215, como um crime eleitoral. A violência política de gênero afronta 

a democracia justamente por impedir ou dificultar a participação das mulheres na política, além de 

ser uma manifestação da racionalidade neoconservadora. Como afirma Twig Santos Lopes (2023, 

p. 7): 

[...] a violência política contra as mulheres, no contexto em que abordo, é decorrente da 

combinação entre fatores históricos - culturais e os arranjos do sistema político-eleitoral e 

que se manifesta por meio de omissões, atos e/ou práticas de grupos ou indivíduos com o 

intuito de inviabilizar o ingresso e a permanência das mulheres nos cargos representativos. 

Ela emerge no Brasil como categoria mobilizada pela sociedade civil desde os relatos 

narrados pelas ofendidas e inspirada pelas experiências de advocacy e legislações de 

outros países, ao passo que a versão normativa da categoria emerge a partir do aumento 

dos episódios de violência em meio à conjuntura política permeada pelo extremismo 

bolsonarista e discursos de ódio, de modo a se constituírem mutuamente. 

Diante deste cenário, o objetivo da pesquisa é levantar dados oficiais sobre 

manifestações de caráter neonazista no Estado de Santa Catarina, identificar os resultados de 

inquéritos e processos, de modo a se compreender como tem sido feito o enfrentamento do 

fenômeno pelos órgãos de repressão.  A partir deste levantamento, buscar-se-á identificar como se 

articulam esses grupos identificados pelos órgãos de repressão, sua constituição, ideário e modos 

de atuação, com o objetivo de se compreender o fenômeno e pensar estratégias de 

enfrentamento. 

Um segundo objetivo será analisar os casos de violência política de gênero nas eleições 

no Estado de Santa Catarina em 2024: serão levantados os números de denúncias, 

encaminhamentos e apurações. Com esse levantamento, será feito um cruzamento de dados de 

modo a identificar procedimentos comuns de atuação daqueles que praticam essas violências, 

ideário, bem como se há atuação em rede e alguma forma de aproximação com as manifestações 

de caráter neonazista. 

5Lei nº 14.192/2021 “Art. 326-B. Assediar, constranger, humilhar, perseguir ou ameaçar, por qualquer meio, candidata 

a cargo eletivo ou detentora de mandato eletivo, utilizando-se de menosprezo ou discriminação à condição de mulher 

ou à sua cor, raça ou etnia, com a finalidade de impedir ou de dificultar a sua campanha eleitoral ou o desempenho de 

seu mandato eletivo. 

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 

Parágrafo único. Aumenta-se a pena em 1/3 (um terço), se o crime é cometido contra mulher: 

I - gestante; 

II - maior de 60 (sessenta) anos; 

III - com deficiência.” 

2. METODOLOGIA 

Este projeto de pesquisa tem como foco o levantamento de dados sobre manifestações 

de caráter neonazista e casos de violência política de gênero, bem como os números de inquéritos, 

processos judiciais e resultados (condenação, absolvição, arquivamento), em Santa Catarina. Para 

tanto, a metodologia de seu desenvolvimento segue os seguintes passos: 

a. Levantamento de bibliografia sobre extremismo político, manifestações de caráter 

neonazista e configuração de crimes de ódio, delitos de intolerância e apologia ao nazismo. Esta 

etapa da pesquisa visa fazer um estado da arte sobre a bibliografia do tema principalmente no 

âmbito do Direito, mas também com apoio na história, sociologia e antropologia, o objetivo 

principal é definir conceitos de modo a especificar as manifestações que serão analisadas ao longo 

da pesquisa. 

b. A segunda etapa da pesquisa envolverá contato com a Polícia Civil, Ministérios 

Público Estadual, Polícia Federal e Ministério Público Federal com o objetivo de levantar dados 

sobre os últimos cinco anos em Santa Catarina: identificar as representações recebidas pelas 

polícias, os resultados de inquéritos e ações judiciais, de modo a se compreender como tem sido 

feito o enfrentamento do fenômeno pelos órgãos de repressão.  A partir deste levantamento, 

buscar-se-á identificar como se articulam esses grupos identificados pelos órgãos de repressão, 

sua constituição, ideário e modos de atuação, com o objetivo de se compreender o fenômeno e 

pensar estratégias de enfrentamento. 

c. A segunda parte da pesquisa corresponde a análise da violência política de gênero. 

Inicialmente será feito levantamento de bibliografia sobre violência política de gênero no Brasil e 

na América Latina. Esta etapa da pesquisa visa fazer um estado da arte sobre a bibliografia do 

tema principalmente no âmbito do Direito, mas também com apoio na história, sociologia e 

antropologia, o objetivo principal é definir conceitos de modo a especificar as manifestações que 

serão analisadas ao longo da pesquisa. 

d. Então, será feito levantamento sobre violência política de gênero nas eleições no 

Estado de Santa Catarina em 2024: serão levantados os números de denúncias, encaminhamentos 

e apurações. Com esse levantamento, será feito um cruzamento de dados de modo a identificar 

procedimentos comuns de atuação daqueles que praticam essas violências, ideário, bem como se 

há atuação em rede e alguma forma de aproximação com as manifestações de caráter neonazista. 

3. RESULTADOS ESPERADOS 

Como resultados esperados da pesquisa pode-se elencar: 

Identificar uma linguagem adequada para lidar com os fenômenos de extremismo político, em 

específico as manifestações de caráter neonazista e de violência política de gênero; 

Analisar as aproximações dos grupos extremistas de caráter neonazista e aqueles de difundem 

ataques políticos de gênero; 

Fazer um levantamento sobre número de casos de manifestações de caráter neonazista no 

Estado de Santa Catarina registradas pela Polícia Civil e Federal nos últimos cinco anos e o 

desfecho de apurações e ações judiciais, de modo a ter dados sobre apurações oficiais para 

comparar com dados sobre difusão de células online; 

Fazer um levantamento sobre número de denúncias, encaminhamentos e apurações de casos 

de violência política de gênero nas eleições no Estado de Santa Catarina em 2024, de modo 

a auxiliar na visibilidade do problema e pensar encaminhamentos mais adequados; 

Tendo em vista que quatro vereadoras6 de Santa Catarina que falaram no evento de 

lançamento da pesquisa “Participação política e enfrentamento às violências de gênero e 

raça na América Latina e Caribe” na UFSC em maio de 20247 indicaram que sofreram 

durante a campanha e sofrem violência no exercício do mandato, bem como indicaram a 

falta de um protocolo de atuação dos órgãos de repressão, objetiva-se, com o 

levantamento de dados, contribuir na construção deste protocolo. 

4. EXEQUIBILIDADE (DEMONSTRAR A EXISTÊNCIA DE MEIOS PARA EXECUTAR O PROJETO NA 

UFSC) 

6Ana Lúcia Martins (PT – Joinville), Carla Ayres (PT – Florianópolis) Giovana Mondardo (PCdoB – Criciuma), Maria 

Tereza Capra (PT – São Miguel do Oeste). 

7Lançamento noticiado pelo Governo Federal: Ministério das Mulheres lança projeto para analisar políticas de combate 

à violência política de gênero — Agência Gov (ebc.com.br) 

A pesquisa requer como recursos, fundamentalmente, o material bibliográfico a ser 

utilizado e os dados que serão levantados por meio de consultas às Polícias Civil e Federal, 

Ministério Público Estadual e Federal. Tendo em vista que a orientadora participou como 

consultora ad Hoc da “Relatoria Especial na Missão de investigação sobre o aumento de células 

neonazistas no Brasil do Conselho Nacional de Direitos Humanos” no Estado de Santa Catarina, 

pode acompanhar as oitivas de membros do Ministério Público, policiais e a escuta da sociedade 

civil, quanto às manifestações de caráter neonazista, esta aproximação institucional pode auxiliar 

no acesso aos dados, além das solicitações serem feitas via Lei de Acesso à Informação.  

No que diz respeito ao material bibliográfico, em parte está disponível em bases de 

dados on-line, a outra parte do material foi adquirida pela orientadora. Assim, trata-se de projeto 

executável em termos dos recursos bibliográficos disponíveis. 

Com relação ao tempo para a realização da pesquisa, projeta-se como possíveis os 

seguintes passos – etapa 1 (extremismo político e neonazismo): 1º) levantamento bibliográfico 

sobre manifestações de caráter neonazista no Brasil e crimes de ódio: entre agosto de 2024 e 

dezembro de 2024; 2º) elaboração de questionário: outubro 2024; 3º) envio de solicitações de 

dados à Polícias Civil e Federal, Ministério Público Estadual e Federal: novembro de 2024  a 

fevereiro de 2025; 3º) compilação dos dados obtidos: entre fevereiro e maio de 2025; 3º) 

elaboração do relatório final desta pesquisa em junho e julho de 2025. 

Etapa 2 (violência política de gênero): 1º) levantamento bibliográfico sobre violência 

política de gênero no Brasil: entre agosto de 2024 e dezembro de 2024; 2º) elaboração de 

questionário: outubro 2024; 3º) envio de solicitações de dados à Polícias Civil e Federal, Ministério 

Público Estadual e Federal/Justiça Eleitoral: novembro de 2024  a fevereiro de 2025; 3º) 

compilação dos dados obtidos: entre fevereiro e maio de 2025; 3º) elaboração do relatório final 

desta pesquisa em junho e julho de 2025. 

5. BIBLIOGRAFIA (MAIS RELEVANTES) 

BROWN, Wendy. Nas ruínas do neoliberalismo: a ascensão da política antidemocrática no ocidente. 

São Paulo: Editora Filosófica Politeia, 2019. 

CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil. O longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização 

Brasileira, 2011. 

CORRÊA, Sonia, PARKER, Richard. Prefácio. In: CORRÊA, Sonia (Ed.) Políticas antigénero en América 

Latina: resumos dos estudos de casos nacionais. Rio de Janeiro : Associação Brasileira 

Interdisciplinas de Aids - ABIA, 2021. 

CRUZ, Isabela. Como o regime militar reagiu à crise de meningite nos anos 1970. Nexo Jornal, abr. 

2020. Disponível em: Como o regime militar reagiu à crise de meningite nos anos 1970 - Nexo 

Jornal 

FAVERI, Marlene de. Memórias de uma (outra) guerra: cotidiano e medo durante a Segunda 

Guerra em Santa Catarina. Florianópolis: Ed. Insular, 2024. 

LOPES, Twig Santos. BERNARDES, Márcia Nina (Orientadora). Violência política contra as 

mulheres: Sentidos e Articulações entre Ativistas e Representantes Políticas nas Tramas do Estado. 

Rio de Janeiro, 2023. 204p. Tese de Doutorado – Departamento de Direito, Pontifícia Universidade 

Católica do Rio de Janeiro. 

MIGUEL, Luis Felipe. Democracia e Representação: territórios em disputa. São Paulo: Unesp, 2014. 

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QUINALHA, Renan Honório. Justiça de Transição: contornos do conceito. Coleção Direitos e Lutas 

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SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. Gênero, patriarcado e violência. 2.ed. São Paulo: Expressão 

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SRINIVASAN, Amia. O direito ao sexo: feminismo no século XXI. São Paulo: Todovia, 2021. 

TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir. O que resta da Ditatura. São Paulo : Boitempo, 2010. 

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scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-49792012000300008&lng=en&nrm=isso 

Confira a reportagem no UOL.                                      .https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2025/09/26/senadores-dos-eua-buscam-com-congresso-canais-alternativos-ao-bolsonarismo.htm

E assim caminha a humanidade.

Imagem ; UOL. 



 

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