quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Governabilidade.

 Governabilidade é a capacidade política e institucional de um governo de governar, ou seja, de tomar decisões e implementar políticas públicas de forma legítima e eficaz. Ela está diretamente ligada à relação de legitimidade e ao apoio que um governo possui junto à sociedade civil e ao poder legislativo. 

Elementos da governabilidade

A governabilidade depende de diversos fatores: 

Legitimidade: Um governo precisa ser reconhecido e aceito pela população e por outros poderes, como o Legislativo e o Judiciário. Essa legitimidade pode ser democrática (obtida pelo voto) ou política (reconhecimento da autoridade).

Apoio político: A capacidade de um governo de articular alianças e formar coalizões no poder legislativo é essencial para aprovar leis e concretizar sua agenda. A fragmentação partidária, por exemplo, pode ser um obstáculo à governabilidade.

Liderança: A capacidade de liderança do Estado é crucial para mobilizar os recursos necessários e garantir a eficácia das decisões.

Credibilidade: A imagem pública e a credibilidade de um governo junto à sociedade influenciam sua capacidade de exercer o poder. 

A diferença entre governabilidade e governança

Embora sejam conceitos relacionados, governabilidade e governança são distintos: 

Governabilidade é o aspecto político do governo. Refere-se às condições estruturais e políticas que dão a um governo o direito e a capacidade de exercer o poder.

Governança é o aspecto técnico e administrativo. Refere-se à capacidade de um governo de implementar suas políticas de forma eficiente, com base em boas práticas de gestão e transparência. 

Exemplo prático: Um presidente pode ser eleito com alta legitimidade e apoio popular (alta governabilidade), mas ter dificuldades para implementar suas propostas devido à falta de capacidade técnica ou burocrática (baixa governança). Por outro lado, um governo pode ser tecnicamente competente (alta governança), mas enfrentar problemas para aprovar suas políticas no Congresso por falta de apoio político (baixa governabilidade).  Segundo o Sociólgo, Mestre e Doutor Cesar Portantiolo Maia, no Quarto Periodo da Habilitação em Jornalismo na Comunicação Social, pelas Faculdades Integradas Alcantara Machado (FIAAM FAAM).

Confira o artigo do autor  Vinícius de Carvalho Araújo.

 Texto para discussão

 A conceituação de governabilidade

 e governança, da sua relação entre

 si e com o conjunto da reforma do

 Estado e do seu aparelho

 Vinícius de Carvalho Araújo

 45

Texto para discussão

 ENAP

 A conceituação de governabilidade e

 governança, da sua relação entre si e

 com o conjunto da reforma do Estado e

 do seu aparelho

 Vinícius de Carvalho Araújo

 45

 Brasília, DF

 Março/2002

Texto para discussão é uma publicação da

 Escola Nacional de Administração Pública

 Editora

 Vera Lúcia Petrucci

 Coordenação editorial

 Livino Silva Neto

 Revisão gráfica

 Rodrigo Luiz Rodrigues Galletti

 Revisão

 Cleidiana Cardoso N. Ferreira

 Galber José Oliveira Maciel

 Editoração eletrônica

 Maria Marta da Rocha Vasconcelos

 © ENAP, 2002

 ARAÚJO, Vinícius de Carvalho. A conceituação de governabilidade e

 governança, da sua relação entre si e com o conjunto da reforma do

 Estado e do seu aparelho / Vinícius de Carvalho Araújo — Brasília:

 ENAP, 2002.

 27 f. (Texto para discussão, 45).

 1. Governabilidade e Governança. 2. Administração Pública

 3. Reforma do Estado. 4. Reforma Administrativa. I. Título.

 Brasília, DF

 ENAP Escola Nacional de Administração Pública

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 3

A conceituação de governabilidade e

 governança, da sua relação entre si

 e com o conjunto da reforma do Estado

 e do seu aparelho

 Vinícius de Carvalho Aráujo*

 Introdução

 O objetivo do presente artigo é introduzir o leitor às principais abordagens

 feitas aos conceitos de governabilidade e governança disponíveis na literatura

 nacional/internacional contemporânea e buscar compreender o vínculo dinâmico

 destas categorias entre si e a sua articulação com a temática maior da reforma do

 Estado e do seu aparelho no Brasil.

 Para tal, exporemos três tipologias teórico-conceituais diferentes,

 extraídas de obras de três importantes autores nacionais da área (dentre eles o

 próprio autor do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado — PDRAE),

 para gerar um quadro referencial-comparativo claro, a partir do qual torne-se

 possível avaliar qual é a relação existente entre a governabilidade e a governança

 e com o restante da reforma do Estado e de seu aparelho no Brasil.

 Os respectivos autores nacionais foram escolhidos para a demonstração

 das suas tipologias teórico-conceituais, por considerarmos que a abordagem adotada

 por eles à temática do ensaio está mais sintonizada com as correntes acadêmicas

 atuais (nacionais e internacionais) e com as especificidades e singularidades do

 Estado e do processo de constituição do seu aparelho no Brasil.

 Tentaremos evidenciar o traço distintivo entre as respectivas tipologias

 para enfatizar aspectos diferentes dos conceitos e decompor o objeto de nossa

 análise (as variáveis selecionadas).

 A primeira tipologia escolhida foi a de Luiz Carlos Bresser Pereira,

 adotado por ser o autor do PDRAE,1 ex-Ministro da Fazenda (1987-88) e da

 Administração e Reforma do Estado (1995-98) e uma das principais referências

 hoje na área, não apenas no Brasil como em toda a América Latina. Sua obra é

 considerada por muitos outros autores como uma verdadeira síntese das principais

 tendências mundiais em termos de reforma do Estado, em especial das reformas

 administrativas realizadas nos países-membros da Organização para a Cooperação

 e Desenvolvimento Econômico (OCDE).2

 *Vinícius de Carvalho Araújo é graduado em administração, pós-graduado em políticas estratégicas para

 o setor público e gestor governamental do Estado do Mato Grosso.

   Contato: vcaraujo@terra.com.br

 4

A segunda autora é Eli Diniz (professora titular de economia da Universi

dade Federal do Rio de Janeiro — UFRJ e pesquisadora do Instituto Universitário

 de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro), selecionada por apresentar uma

 tipologia própria de governabilidade/governança, vinculada, sobretudo, com a

 institucionalização e consolidação do regime democrático no Brasil e com o

 processamento das demandas provenientes da sociedade civil ao longo do recente

 período de democratização.

 O terceiro autor escolhido para compor o quadro de tipologias no presente

 artigo é Caio Márcio Marini Ferreira (ex-diretor da Secretaria da Reforma do

 Estado do antigo Ministério da Administração e Reforma do Estado — MARE e

 diretor do Serviço Federal de Processamento de Dados — Serpro3) que apresenta

 também uma tipologia curiosa de governabilidade/governança, envolvendo-as com

 a experiência internacional de algumas reformas administrativas e fazendo uma

 análise direta também do PDRAE.

 Apresentaremos, ao final deste ensaio, um quadro comparativo dos autores

 e das suas respectivas tipologias para auxiliar o leitor na compreensão das mesmas

 e cooperar com o objetivo geral do mesmo.

 Governabilidade/governança

 sob uma perspectiva teórica

 A princípio, é mister que façamos uma pequena revisão em perspectiva

 sobre os conceitos de governabilidade e governança, evidenciando a sua origem,

 evolução e adaptação à realidade brasileira.

 Destacamos, portanto, que para os fins do presente artigo estamos consi

derando a governabilidade apenas no seu sentido democrático, ou seja, como um

 componente dos sistemas políticos dos países cujos Estados tenham uma legiti

midade democrática mínima na formação/orientação dos seus respectivos governos

 (voto secreto, eleições diretas, sufrágio universal, respeito à oposição, liberdade de

 expressão e associação, pluripartidarismo etc.).

 Os conceitos de governabilidade/governança, embora tenham existido de

 forma embrionária desde o surgimento dos Estados modernos no século XIX

 (democracia liberal-burguesa), apenas em um período mais próximo, começaram a

 integrar o debate nos meios acadêmico e político.

 Atribui-se, via de regra, a Samuel Huntington, um cientista político norte

americano contemporâneo,4 a primeira citação destes conceitos ainda nos anos

 60, época na qual o termo dominante quando referia-se aos Estados na Guerra

 Fria (com destaque no ocidente) era a “segurança nacional” contra a “ameaça

 vermelha soviética”.

 Somente após a crise do Estado nos anos 70 e o aprofundamento do

 processo de integração ou internacionalização das economias chamado de

 5

globalização, que estes termos passaram a constar com maior freqüência nos

 papers da área e a serem encarados como um instrumental analítico importante

 para a compreensão de todo este período de transformação sem precedentes pelo

 qual estamos passando e, sobretudo, da reforma do Estado e de seu aparelho.

 Como a maior parte dos conceitos em ciência política, a governabilidade/

 governança não possuem uma definição muito clara e precisa, variando de autor para

 autor, de acordo com a sua nacionalidade, orientação ideológica e a ênfase que é dada

 a um ou outro elemento. Contudo, somos capazes de citar algumas características

 comuns entre as diferentes conceituações existentes e estabelecer alguns paralelos.

 É quase consensual entre os autores que os conceitos aqui abordados

 mantêm entre si uma relação muito forte, sendo complementares, e o seu vínculo

 instável, dinâmico e indissolúvel, cabendo a separação apenas para fins didáticos

 e analíticos, como aos que este ensaio se propõe.

 Em uma definição genérica, podemos dizer que a governabilidade refere-se

 às próprias condições substantivas/materiais de exercício do poder e de legitimi

dade do Estado e do seu governo derivadas da sua postura diante da sociedade civil

 e do mercado (em um regime democrático, claro).

 Pode ser concebida como a autoridade política do Estado em si, entendida

 como a capacidade que este tem para agregar os múltiplos interesses dispersos pela

 sociedade e apresentar-lhes um objetivo comum para os curto, médio e longo prazos.

 Estas condições podem ser sumarizadas como o apoio obtido pelo Estado

 às suas políticas e à sua capacidade de articular alianças e coalizões/pactos entre os

 diferentes grupos sócio-políticos para viabilizar o projeto de Estado e sociedade a

 ser implementado.

 É importante lembrar também, como mais um elemento distintivo com a

 governança, que a fonte ou origem principal da governabilidade são os cidadãos e a

 cidadania organizada, ou seja, é a partir deles (e da sua capacidade de articulação em

 partidos, associações e demais instituições representativas) que surgem e se desen

volvem as condições citadas acima como imperativas para a governabilidade plena.

 Já a governança pode ser entendida como a outra face de um mesmo

 processo, ou seja, como os aspectos adjetivos/instrumentais da governabilidade.

 Em geral, entende-se a governança como a capacidade que um determinado governo

 tem para formular e implementar as suas políticas. Esta capacidade pode ser

 decomposta analiticamente em financeira, gerencial e técnica, todas importantes

 para a consecução das metas coletivas definidas que compõem o programa de um

 determinado governo, legitimado pelas urnas.

 Destacamos aqui que, diferente da governabilidade, a fonte da governança

 não são os cidadãos ou a cidadania organizada em si mesma, mas sim um prolon

gamento desta, ou seja, são os próprios agentes públicos ou servidores do Estado

 que possibilitam a formulação/implementação correta das políticas públicas e

 representam a face deste diante da sociedade civil e do mercado, no setor de

 prestação de serviços diretos ao público.

 6

Cabe salientar também que a governança tem como postulado fundamental

 condições mínimas de governabilidade. Supondo, em uma circunstância de caos,

 crise, ruptura ou reversão institucional, será muito difícil (por melhor preparado

 no sentido técnico que seja o aparelho do Estado5), senão impossível, atingir a

 governança strictu sensu, dado o seu caráter, por definição, instrumental como

 enfatizado acima e a indefinição de fins típica de situações desta natureza. O máximo

 possível seria a manutenção de condições mínimas que garantam a transição de um

 contexto para outro, como aliás tem sido o caso brasileiro em certas épocas.6

 De acordo com Bresser Pereira (1998), sem governabilidade plena é

 impossível obter a governança, mas esta pode ser muito deficiente em situações

 satisfatórias de governabilidade, como a presente no Brasil.

 Isto aponta para o diagnóstico feito por Luciano Martins (1995) de que no

 caso brasileiro não há, na atualidade, uma verdadeira “crise de governabilidade”

 como temos em outros países, mas sim uma “crise de governança”. Esta concepção

 de governança contempla também a chamada capacidade de aglutinar diversos

 interesses, constituindo um elo de articulação estável entre esta e a governabilidade.

 Todos os autores destacam também a relação orgânica existente entre a

 temática da governabilidade/governança e a da reforma do Estado e do seu aparelho,

 sendo as primeiras entendidas em geral como partes de um contexto mais amplo

 da segunda. A governança relaciona-se de forma mais direta com a reforma do

 aparelho, dado que o seu caráter é na essência instrumental (financeiro, adminis

trativo e técnico) como salientado acima e que o grande objetivo da chamada

 reforma gerencial7 é aprimorá-la como capacidade de melhor formulação/imple

mentação das políticas públicas.

 Já a governabilidade relaciona-se de forma mais direta com a reforma

 do Estado, vista também como a redefinição das relações Estado-sociedade,

 Estado-mercado e entre os poderes ou funções do Estado (Executivo, Legislativo,

 Judiciário). O sistema político-partidário, a forma de governo e o mecanismo de

 intermediação de interesses dominante em uma determinada sociedade (pluralista,

 corporativo, classista), dentre outros, constituem os principais fatores da reforma

 com os quais a governabilidade mantém uma relação mais estreita.

 Tipologias

 Portanto, após esta breve passagem pelas definições gerais dos conceitos

 abordados, passaremos agora para os autores escolhidos para demonstrar as

 tipologias de governabilidade/governança e avançarmos rumo ao objetivo maior

 do presente artigo.

 Tipologia de Bresser Pereira

 Começamos com Bresser Pereira. O texto do PDRAE faz uma citação

 direta às categorias da governabilidade e governança na sua seção introdutória,

 limitando-se apenas a defini-las de forma implícita ao afirmar que o grande objetivo

 7

do Plano Diretor e da reforma gerencial contida e sistematizada por ele era ampliar

 a governança do aparelho do Estado federal, dado que, na sua concepção, o Estado

 brasileiro e o seu governo de então não careciam de problemas de governabilidade.

 Ao longo do texto, contudo, os conceitos são de novo mencionados para reforçar o

 argumento que está sendo desenvolvido, seguindo sempre a linha de raciocínio

 demonstrada.

 Segundo o PDRAE (1995), o governo brasileiro atual8 não carece de

 “governabilidade” ou seja, de capacidade conferida pela sociedade civil para gover

nar, dada a sua legitimidade democrática advinda da consagração eleitoral e o apoio

 partidário-parlamentar com que conta. Ele enfrenta, contudo, um grave problema de

 governança, pois a sua capacidade de formular/implementar as políticas públicas é

 limitada pela rigidez e ineficiência do aparelho burocrático do Estado.

 No entanto, o autor do PDRAE, Bresser Pereira, faz uma distinção bem

 clara entre a governabilidade e a governança em uma de suas obras, na qual tece

 comentários sobre este plano, as suas raízes e orientações teóricas e o trabalho que

 executou diante do extinto MARE.

 Nesta ele diz de maneira textual:

 “A governabilidade e a governança são conceitos mal-definidos,

 freqüentemente confundidos. Para mim, governabilidade é uma capaci

dade política de governar derivada da relação de legitimidade do Estado

 e do seu governo com a sociedade; governança é a capacidade financeira

 e administrativa, em sentido amplo, de um governo implementar políticas”.

 (Bresser Pereira, 1998: 33).

 Podemos perceber nesta definição, portanto, uma semelhança muito

 grande com aquela exposta no PDRAE. É possível inferir, também, que para

 Bresser Pereira o traço distintivo entre a governabilidade e a governança é o seu

 caráter intrínseco, ou seja, a sua ligação orgânica com o conteúdo da ação estatal

 (aspecto substantivo/material) ou com a sua forma  (aspecto adjetivo/instrumental).

 Quanto à ligação com a reforma do Estado e de seu aparelho, a tipologia

 de Bresser Pereira destaca a relação da governança apenas com o aparelho e a

 governabilidade com a reforma do Estado, entendida de acordo com a definição do

 PDRAE, ou seja, como um projeto muito mais amplo que abrange o Estado e o

 conjunto da sociedade.

 Podemos concluir afirmando, portanto, que a tipologia de governabilidade/

 governança apresentada por Bresser Pereira tanto no PDRAE quanto nas suas obras

 afasta-se muito pouco daquela que expusemos como a paradigmática ou modelar,

 ou seja, que contém os principais elementos comuns entre as várias abordagens

 nacionais e internacionais à temática em questão.

 Tipologia de Eli Diniz

 Já a autora Eli Diniz adota como o seu principal objeto de análise a reforma do

 Estado no Brasil (entendida no seu sentido lato), destacando a transição de um regime

 autoritário para o democrático e a mesma como parte de todo o processo maior de

 8

fortalecimento da governabilidade por meio da consolidação/institucionalização da

 democracia em si e da incorporação de setores da sociedade civil no interior do

 aparelho do Estado, em oposição ao chamado enclausuramento da alta burocracia.9

 Na sua perspectiva integrada, a autora descreve todo o processo da crise

 do Estado já citado neste artigo, salientando, na fase de redemocratização recente,

 o esgotamento do Estado como fator de anulação de uma sociedade civil em

 constante processo de expansão e dotada de densidade organizacional cada vez maior.

 A tensão gerada entre uma institucionalidade política/organizacional rígida repre

sentada pelo Estado e uma estrutura social complexa e multipolar é a raiz de todos

 os problemas vividos no momento, segundo ela.

 Seguindo na sua análise e rompendo com a matriz restritiva e o vício

 reducionista das concepções correntes das questões relacionadas à governabilidade

 e à crise do Estado, a autora caracteriza a última não como uma incapacidade do

 aparelho em absorver as novas demandas sociais e políticas advindas com a transição

 como o excesso de pressões, o aumento da participação, a expansão desordenada da

 estrutura partidária e o descompasso entre as capacidades de resposta do governo

 e de pressão da sociedade, mas sim como uma lacuna entre o que ela chama de

 hiperatividade decisória da burocracia governamental no nível estratégico e a

 falência do Estado em termos operacionais.10

 Portanto, a tipologia apresentada por esta autora para a governabilidade/

 governança enfatiza os subtemas citados acima, destacando a sustentabilidade política

 e a legitimidade dos fins como basilares para a governabilidade. Segundo ela, para

 repensar a reforma do Estado em novas bases, parece correto utilizar tais categorias

 de governabilidade e governança como auxiliares. Trata-se, portanto, de aspectos

 distintos, mas complementares que configuram a ação e existência do Estado.

 A sua concepção de governabilidade refere-se às condições sistêmicas de

 exercício do poder por parte do Estado em uma determinada sociedade. Seria uma

 somatória dos instrumentos institucionais, recursos financeiros e meios políticos

 de execução das metas definidas. As principais características da governabilidade de

 acordo com esta tipologia são:

 a) a forma de governo, ou seja, se o sistema é parlamentarista (com todas

 as suas variantes), presidencialista ou misto, como no caso brasileiro;11

 b) a relação Executivo-Legislativo: se esta for mais assimétrica para um ou

 para outro podem surgir dificuldades de coordenação política e institucional, vitais

 para a governabilidade plena;

 c) a composição, formação e dinâmica do sistema partidário (com poucos

 ou muitos partidos), o que pode dificultar a relação Executivo-Legislativo e Estado

sociedade;

 d) o sistema de intermediação de interesses vigente na sociedade

 (corporativista, institucional pluralista, dispersos, ONGs etc.); e

 9

e) todo o conjunto das relações Estado-sociedade, ou seja, as relações dos

 movimentos organizados, associações e da cidadania com o Estado no sentido de

 ampliar a sua participação no processo de formulação/implementação de políticas

 das quais sejam beneficiários.

 Já a governança (que a autora chama de governance) relaciona-se mais com

 a capacidade de governo do Estado no sentido lato, envolvendo a sua capacidade de

 ação na implementação das políticas e consecução das metas coletivas. Podemos

 entendê-la como o conjunto dos mecanismos/procedimentos que relacionam-se

 com a dimensão participativa e plural da sociedade, incorporando visões dos seus

 vários segmentos.

 Destaca-se, neste contexto, as capacidades de comando, coordenação,

 intervenção e implementação como componentes fundamentais da governança,

 além do reforço dos mecanismos formais de prestação de contas e a instituciona

lização da cobrança por parte dos usuários dos serviços do Estado, introduzindo o

 novo conceito de accountability.12

 É importante salientar nesta tipologia a interseção entre os dois conceitos,

 sem a distinção nítida da anterior, representando uma fusão das dimensões técnica e

 política no interior do aparelho do Estado. A governança é também relacionada com

 o resgate ou recuperação da noção de interesse público, um pouco abalada pelo

 internacionalismo globalitário13 contemporâneo.

 Para Diniz  (1996), a ação estatal dissociada de alguma noção de bem

 comum e da garantia da preservação de um certo grau de responsabilidade pública

 no processo decisório, não possui legitimidade suficiente.

 A relação que a governabilidade e a governança mantêm com a temática

 maior da reforma do Estado, segundo esta tipologia, é também destacada diversas

 vezes pela autora. Para Diniz (1996), o objetivo da consolidação do regime demo

crático precisa ser pensado em conjunto com a temática da reforma do Estado, o

 que exige que a sua ação esteja sintonizada com um projeto mais amplo. Em um

 sentido mais restrito, predomina a tendência de compreender a eficiência do Estado

 como uma resultante direta do seu grau de clareza e precisão.

 Tipologia de Caio Marini

 Na tipologia apresentada por Caio Marini, os conceitos de governabili

dade/governança relacionam-se mais de forma profunda tanto com a crise do

 Estado quanto com a sua superação. Segundo ele (1996), a governabilidade pode

 ser definida como as condições de legitimidade de um determinado governo para

 empreender as transformações necessárias, ao passo que a governança estaria

 relacionada à capacidade de implementação das reformas, nos seus aspectos

 técnicos, financeiros e gerenciais.

 O autor destaca também, na caracterização da relação entre as variáveis e a

 temática da reforma do Estado e da sua crise, que o diagnóstico dominante dos

 10

autores nacionais tem apontado para uma crise de governança no caso brasileiro,

 sobretudo, no período de transição de um regime para outro (pode-se perceber a

 semelhança com a análise desenvolvida por Luciano Martins).14

 Portanto, esta tipologia sugere que a governança é uma variável central para

 a compreensão da crise, já que a governabilidade cercou-se de condições mínimas

 por meio do processo de redemocratização ocorrido nos anos 80 no Brasil e em

 toda a América Latina (embora este já demonstre alguns sinais de reversão).15

 Segundo Marini: “ainda que garantida a governabilidade, esta não é suficiente

 para produzir a mudança, o que coloca em relevo a necessidade de ampliar a gover

nança, como ingrediente determinante da estratégia de enfrentamento da crise, a

 partir de duas manifestações centrais: a crise financeira e a crise de desempenho”.

 As crises citadas como componentes da estatal podem ser decompostas

 analiticamente para a sua melhor descrição. A financeira caracteriza-se, sobretudo,

 pelo processo de endividamento interno/externo gerado pelo Estado após os

 choques do petróleo nos anos 70 e a mudança das condições internacionais

 de crédito/liquidez.

 Esta situação gerou o chamado déficit público, que pesa sobre as finanças

 do Estado, onerando a sociedade civil e o mercado. É o que se chama de poupança

 pública negativa ou despoupança, que retira recursos poupados pelas empresas e

 indivíduos para financiar a ineficiência do Estado, reduzindo de forma drástica a

 capacidade financeira deste último e da economia como um todo.

 A crise de desempenho pode ser entendida, segundo esta tipologia, pela

 redução radical da capacidade de prestação de serviços pelo Estado à população.

 Para a sua superação é necessário:

 a) buscar sempre o aumento de eficiência do aparelho do Estado, por meio

 da racionalização e incremento da produtividade (fazer mais com menos);

 b) a melhoria contínua na prestação dos serviços para contemplar as

 exigências sociais pelo atendimento das suas demandas; e

 c) o resgate (ou construção) da esfera pública como fórum de expressão

 da cidadania e aprendizado social.

 Percebemos, portanto, uma semelhança também entre a abordagem desta

 tipologia e da anterior no que tange ao fortalecimento da participação social na

 formulação/implementação de políticas públicas no interior do aparelho do Estado.

 O autor destaca também que a reforma do Estado é um processo maior

 de redefinição de papéis correspondentes ao Estado, sociedade civil, mercado,

 cidadania organizada etc. A relação entre a governabilidade e a governança nesta

 tipologia assemelha-se em um ponto com as anteriores, ou seja, ambas seriam

 dimensões diferentes de uma mesma realidade.

 Destaca-se, contudo, a governabilidade com um sentido mais pró-ativo como

 a capacidade de realizar as reformas necessárias não apenas para consolidar o regime

 democrático no Brasil e na América Latina, mas também para superar ou reduzir o

 quadro social presente nestes países que ainda traz consigo condições péssimas de

 convivência humana como a miséria, fome, violência, prostituição, dentre outras.

 11

Fica bem evidenciado, portanto, a associação entre a temática da governa

bilidade/governança com a reforma do Estado e do seu aparelho, enfatizando o

 processo maior de modernização pelo qual a sociedade tem que passar para tornar-se

 mais justa e solidária.

 Para Marini (1996), o desafio de reformar o Estado e o seu aparelho está

 inserido no contexto de mudança sócio-econômica e política que marca o momento

 de redefinição pelo qual estamos passando. Esta monumental tarefa de transformação

 exige que o Estado redefina os seus papéis, funções e mecanismos de funciona

mento interno, mas não apenas. Este mesmo processo de transformação impõe,

 como já foi apontado, novas exigências à sociedade como um todo, contemplando

 os seus vários setores.

 Comparação entre as tipologias

 Podemos perceber, após a explanação das tipologias selecionadas para

 ilustrar este ensaio e formar o quadro referencial-comparativo, que os conceitos de

 governabilidade/governança são, na realidade, muito convergentes. Destacamos, no

 entanto, alguns pontos de aproximação e os traços distintivos entre as três tipologias

 que serão importantes para o objetivo maior a que este artigo se propõe. São eles:

 1) Para os três autores a governabilidade consiste na própria autoridade

 política ou legitimidade possuída pelo Estado para apresentar à sociedade civil e ao

 mercado um amplo projeto para aquela determinada nação. A partir deste panorama,

 Eli Diniz destaca mais o aspecto democrático da governabilidade como um dos

 fatores que estão fortalecendo a participação da sociedade e a própria consolidação

 deste regime em nosso país e subcontinente.16

 Caio Marini já enfatiza o papel da governabilidade vista como uma premissa

 ou postulado fundamental para a implementação das reformas, com o objetivo não

 apenas de superar a crise do Estado e do seu aparelho, mas também de cooperar na

 sublevação do atual quadro social persistente em nosso país.

 Bresser Pereira dá maior destaque à governança (pela sua ligação mais

 direta com o aparelho do Estado) e entende, como Luciano Martins, que a

 governabilidade já garantiu as suas condições mínimas necessárias, dada a relativa

 estabilidade político-institucional atravessada pelo Brasil nos últimos anos.17

 2) Sobre a governança, as tipologias também convergem. Esta nada mais

 seria do que os aspectos adjetivos/instrumentais da governabilidade, constituindo

 uma variável auxiliar desta última. Bresser Pereira dá maior ênfase à governança

 (em especial no PDRAE) em virtude da sua relação orgânica com a reforma da

 macroestrutura do Estado e da centralidade que ocupa hoje no debate acadêmico e

 político, nacional e internacional.

 Caio Marini (1996: 5) também dá o seu destaque à governança a partir do

 momento em que visualiza esta variável, a exemplo do que já foi dito anteriormente,

 12

como um “ingrediente determinante na estratégia de enfrentamento da crise” e

 estrutura a reforma sobre as suas principais dimensões, ou seja, a financeira e a

 de desempenho, com as suas respectivas ramificações.

 Eli Diniz, embora dê maior ênfase à governabilidade, entendida como

 as condições sistêmicas nas quais se edifica um projeto de Estado e sociedade,

 confere o devido valor à governança, dizendo ser esta imperativa para a reforma e

 construção de um Estado sadio e sustentável.

 3) Quanto à relação da governabilidade/governança entre si com a reforma

 do Estado existem também algumas semelhanças entre as três tipologias. Eli Diniz

 destaca a relação entre a reforma do Estado e todo o processo de consolidação do

 regime democrático pelo qual estamos passando na atualidade. Bresser Pereira

 contextualiza de forma oportuna e adequada a reforma do Estado e do seu aparelho

 no conjunto de mudanças atuais que presenciamos. Caio Marini segue a mesma

 linha de raciocínio, destacando a importância da participação social no processo

 de formulação/implementação de políticas públicas.

 Considerações finais

 Após a apresentação e comparação entre as três tipologias escolhidas para

 servirem como quadro de referência para a avaliação da relação governabilidade/

 governança, podemos apresentar os seguintes pontos a título de conclusão:

 a) é quase consensual entre os autores escolhidos para ilustrar o nosso

 raciocínio que as variáveis de governabilidade e governança mantêm entre si uma

 relação muito forte, sendo complementares e o seu vínculo instável, dinâmico e

 indissolúvel, cabendo a separação apenas para fins didáticos analíticos, como aos

 que este ensaio se propõe;

 b) as diferenças ou elementos distintivos entre estas duas categorias

 residem, sobretudo, no seu caráter intrínseco, ou seja, na sua ligação orgânica

 com o conteúdo da ação estatal (aspecto substantivo/material) ou com a sua forma

 (aspecto adjetivo/instrumental), além da fonte (cidadania e os agentes públicos,

 respectivamente); e

 c) as tipologias aqui apresentadas são muito convergentes e trazem mais

 semelhanças do que diferenças, distinguindo-se entre si apenas por alguns traços,

 quais sejam: a visão da governabilidade como um postulado ou axioma garantido

 pelo processo de redemocratização recente posta por Bresser Pereira, a ênfase

 dada por Eli Diniz à conexão desta temática com a reforma do Estado como um

 todo, a institucionalização da democracia e, em especial, com o incremento da

 participação dos cidadãos e o destaque conferido por Caio Marini à ligação desta

 temática com a superação das desigualdades estruturais da sociedade brasileira, por

 meio da reforma do Estado e de seu aparelho proposta pelo PDRAE.

 13

Notas

 1 O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (abreviado  neste  ensaio

 como PDRAE), por  tratar-se de um documento institucional elaborado pela

 Câmara da Reforma do Estado vinculada à Presidência da República, não possui

 um autor individual, sendo produto do trabalho deste organismo. Entretanto,

 sabemos todos que o grande coordenador deste processo (pela posição de

 Ministro da Administração e Reforma do Estado e pelo fato de ser um dos

 maiores teóricos na área no Brasil e próximo ao Presidente) foi Luiz Carlos

 Bresser Pereira. Referimo-nos, portanto, para os fins deste artigo, ao texto

 do PDRAE como de autoria de Bresser Pereira, pois, dentre outras coisas, a

 terminologia e a linha de raciocínio adotadas pelo documento aproximam-se

 muito de outros ensaios que o autor desenvolveu na área nos últimos anos.

 2 A OCDE é um fórum de discussão, consulta e coordenação que reúne 29 países

 com o objetivo de promover o desenvolvimento sócio-econômico e direcionar

 investimentos para os países da periferia. Sua sede fica em Paris e a soma da

 produção/renda dos seus membros equivale a 2/3 da mundial. Por isto, é

 chamada por muitos de “Clube de Paris” ou “Clube dos Ricos”, embora inclua

 países bem menores e mais pobres do que o Brasil como México, Hungria,

 Coréia do Sul e Polônia. Veja o Almanaque Abril 1999, Editora Abril.

 3 O antigo MARE foi extinto em 1999, após os seus principais objetivos terem

 sido alcançados a exemplo da aprovação das Emendas Constitucionais das

 reformas Administrativa e Previdenciária, da lei que institui as Organizações

 Sociais e a criação no interior do setor público federal de diversos sistemas de

 informações gerenciais (SICAF, SIGDI, SIORG , SIASG , SIDOR, SIAPE, SIAFI).

 Após a extinção, o Ministério tornou-se Secretaria de Administração e Patri

mônio (sob a direção da antiga secretária executiva Cláudia Costin) ligada à

 Presidência e, em um segundo momento, foi extinto em caráter definitivo, sendo

 os seus servidores redistribuídos para outras unidades. Veja também BRESSER

 PEREIRA, Luiz Carlos. (1999), Reforma do Estado para a cidadania: A Reforma

 Gerencial Brasileira na perspectiva internacional. São Paulo: Editora 34.

 4 Samuel Huntington é um cientista político norte-americano radicado nas

 universidades de Harvard e Yale cuja especialidade são temas relacionados a

 política externa, relações internacionais, diplomacia e sistemas políticos.

 5 Destacamos aqui que em determinados países (destacando os europeus que

 adotam o regime parlamentarista) o aparelho do Estado encontra-se mais

 14

preparado para atuar nestes períodos de transição, como o tempo entre a queda

 de um gabinete ou dissolução da câmara até a eleição da próxima e formação de

 um novo gabinete. Os ministérios, departamentos ou secretarias que compõem o

 gabinete possuem uma espécie de “ministro administrativo” (na Grã-Bretanha é

 chamado de secretário permanente), ou seja, um burocrata de carreira que atinge

 o posto mais elevado daquele ministério e responde em caráter temporário pelas

 atividades do ministro titular, mantendo a continuidade dos programas, políticas

 e projetos formulados pelo gabinete anterior quando a função política ainda não

 está devidamente preenchida de acordo com os procedimentos do parlamenta

rismo (em alguns países apenas parlamentares podem integrar o gabinete, o que

 exclui a escolha de dirigentes profissionais para ocupar a pasta). Isto somente

 torna-se possível graças a um plano de carreira muito bem estruturado e que

 garante a ascensão de quadros preparados para o exercício desta função e à

 existência de centros de formação/profissionalização de dirigentes públicos,

 a exemplo da ENA na França. Para uma análise comparada neste sentido veja

 ANDRADE, Régis de Castro; JACOUD, Luciana. (1993), A estrutura e organização

 do poder Executivo. Administração Pública comparada: Grã-Bretanha,

 França, Itália e Alemanha. Volume 1. Brasília: ENAP.

 6 No caso brasileiro em especial, nos momentos de turbulência já vividos em um

 passado recente (transição do regime autoritário para o democrático, Nova

 República, impeachment do Presidente Collor) alguns centros de excelência

 localizados, sobretudo, nas áreas financeira, fiscal e de planejamento (Banco

 Central, IPEA, IBGE, BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica) e também

 nos ministérios setoriais mantiveram o funcionamento do aparelho do Estado

 sob condições mínimas. Talvez sem eles o caos tivesse sido maior. Veja para

 uma boa descrição sobre este processo DINIZ, Eli. (1997), Crise, reforma do

 Estado e governabilidade. São Paulo: Editora FGV, 2a edição.

 7 A reforma gerencial é o título dado pelos autores a este conjunto de medidas de

 reestruturação que têm sido adotadas desde os anos 80 por vários países do mundo

 (destacando os de origem anglo-saxônica como Reino Unido, Estados Unidos,

 Nova Zelândia e Austrália). O título visa apresentar este movimento como uma

 segunda grande onda de reformas no setor público (sendo a primeira a Reforma

 Burocrática Weberiana implementada nos países centrais no final do século XIX e

 começo do XX) que encontram a sua inspiração maior na chamada Administração

 Pública Gerencial, cujos eixos conceituais e principais características foram

 expostas ao longo deste artigo. Veja também BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos. (1996),

 “Da Administração Pública Burocrática à Gerencial”. Revista do Serviço Público,

 jan./abr., ano 47, v. 120, no 1. Brasília: ENAP.

 8 É importante destacar também que o PDRAE foi elaborado no primeiro ano

 da gestão do Presidente Fernando Henrique Cardoso, período no qual a sua

 popularidade era bastante elevada e o apoio na sociedade civil para as suas

 políticas também (sem contar com o grande crédito obtido junto à população

 pela vitória eleitoral ainda no primeiro turno contra um candidato considerado

 15

favorito). Nesta primeira fase do Plano Real, que vai da sua implantação

 (01/07/94) até a crise asiática (novembro de 1997), o Presidente era visto

 como o grande “guardião” da moeda e de sua estabilidade, o que lhe conferia

 autonomia para tomar as medidas necessárias para este fim. No entanto, esta

 situação alterou-se nos anos de 1998 e 1999 com a crise russa (agosto de 1998)

 e a desvalorização do câmbio (janeiro de 1999), além da implementação das

 reformas, que contrariaram segmentos importantes. Houve, portanto, corrosão

 da base de apoio do Presidente na sociedade civil. Já podemos perceber, contudo,

 uma tendência clara de reversão com a subida da popularidade a partir do final

 de 1999, abalada pelos acontecimentos conjunturais (crise argentina, atentados,

 racionamento). Para uma boa descrição deste processo, leia CARNEIRO, Maria

 Cecília Ribas. (1999), O Governo Fernando Henrique, 1995-1998. São Paulo:

 Três, e GUARACY, Thales. (1998), “O que o povo quer”. Revista Veja, edição 1567.

 9 Este fenômeno de enclausuramento ou insulamento da alta burocracia refere-se

 a uma tendência prevalecente no aparelho do Estado, sobretudo, nas suas camadas

 mais elevadas e elitizadas, a partir do pós-guerra (tanto nos países do bloco

 capitalista quanto comunista) e que sobrevive ainda hoje sob a forma residual.

 Esta tendência consiste apenas em um tipo de comportamento engendrado pela

 racionalidade burocrática que valoriza a dimensão/conhecimento técnico em

 detrimento da participação dos cidadãos (direta ou indireta, pela via parlamentar

 ou associativa) no processo de formulação/implementação de políticas públicas.

 Esta racionalidade pressupõe uma relativa autonomia da burocracia (entendida

 aqui como classe onisciente ou fração desta) para a definição e operacionali

zação das ações do Estado, de acordo com a sua capacidade de se “neutralizar”

 como ator social e político-partidário e de sobrepor-se a pressões de qualquer

 natureza. Veja DINIZ, Eli. (1996), “Governabilidade, governance e reforma do

 Estado: considerações sobre o novo paradigma”. Revista do Serviço Público.

 Brasília: ENAP.

 10  Este fenômeno da hiperatividade decisória no nível estratégico do aparelho do

 Estado e da sua relativa incapacidade operacional para dar vazão às políticas e

 programas citados pela autora pode ser muito bem vislumbrado no caso brasi

leiro. Podemos observar, como exemplo, se o conteúdo das medidas provisórias,

 portarias, decretos e resoluções normativas editadas pela Presidência da Repú

blica atinge o seu objetivo na chamada “ponta”, ou seja, na unidade de prestação

 do serviço direto ao cidadão-usuário. Na grande maioria dos casos a resposta é

 negativa, pois o fluxo de informações necessário ao bom cumprimento das

 decisões tomadas pela cúpula é quase que tragado e distorcido pelo emaranhado

 de canais e competências (muitas vezes sobrepostos) da burocracia.

 11 Citamos aqui o sistema político brasileiro como misto, trazendo características

 tanto do presidencialismo quanto do parlamentarismo, em uma ênfase especial à

 sua dimensão política em sobreposição à jurídica. Dentro da variedade de regimes

 parlamentaristas existentes no mundo contemporâneo, o brasileiro ocupa uma

 posição curiosa visto que, em uma abordagem formal, trata-se de um regime

 16

presidencialista com todos os elementos constitutivos deste (eleições diretas

 para a Presidência, formação autônoma do gabinete pelo Presidente, separação

 clara e mandatos fixos para ambos os poderes, legislativo indissolúvel etc.), no

 entanto, contém também alguns traços típicos do parlamentarismo, como a

 divisão dos ministérios entre os partidos aliados do Executivo no Parlamento e a

 definição da agenda do Estado pelo primeiro. Destacamos, contudo, que este

 aspecto relaciona-se à cultura política instalada no país e a algumas disfunções

 do restante do sistema político (fragmentação e indisciplina partidária,

 fisiologismo, hipertrofia do Executivo etc.) dado que tanto o Presidente quanto

 o Parlamento dispõem de quase todos os mecanismos constitucionais para

 conduzir um presidencialismo na sua forma “pura”, ou seja, mais próximo do

 praticado nos Estados Unidos. Veja SARTORI, Giovanni. (1999), Engenharia

 Constitucional: Como mudam as constituições. Brasília: Editora UnB e

 MORAES, Alexandre de. (1999), Direito Constitucional. São Paulo: Editora Atlas.

 12 Accountability é um conceito novo na terminologia ligada à reforma do Estado

 no Brasil, mas já bastante difundido na literatura internacional, em geral pelos

 autores de língua inglesa. Não existe uma tradução literal para o português,

 sendo a mais próxima “a capacidade de prestar contas” ou “uma capacidade de se

 fazer transparente”. Entretanto, aqui nos importa mais o significado que está

 ligado, segundo Frederich Mosher, à responsabilidade objetiva ou obrigação de

 responder por algo ou à transparência nas ações públicas. Para mais detalhes,

 leia CARAVANTES, Geraldo; BJUR, Wesley. (1995), Readministração em ação.

 Makron Books.

 13 Este neologismo “globalitário” foi cunhado há pouco tempo pelo eminente geó

grafo brasileiro Milton Santos (já falecido) com referência ao caráter impositivo

 ou imperativo do atual processo de intensificação dos fluxos financeiros e

 comerciais e dinamismo tecnológico chamado em regra de globalização. A pala

vra (em uma análise etimológica) seria uma fusão de globalização e totalitário,

 como uma alusão clara à natureza ditatorial dos regimes totalitários de direita e

 esquerda vigentes durante o século XX.

 14 Luciano Martins, cientista político paulista, radicado no presente momento na

 UERJ, defende a tese de que a atual crise brasileira não é de governabilidade,

 visto que esta cercou-se das condições mínimas necessárias a partir do processo

 de redemocratização ocorrido em toda América Latina durante os anos 80. Seria,

 portanto, por exclusão, uma crise de governança, já que o aparelho do Estado

 brasileiro teve a sua capacidade de formulação/implementação de políticas

 públicas muito reduzida nos últimos anos por fatores como a sua crise fiscal e

 as disfunções burocráticas do seu aparelho, como já descrevemos acima. Veja

 MARTINS, Luciano. (1998), “Reforma da administração pública e cultura política

 no Brasil: uma visão geral”. Cadernos ENAP no 8. Brasília: ENAP.

 15 Muitos analistas contemporâneos vêem como uma tendência de reversão no

 avanço do regime democrático na América Latina os fatos ocorridos nos últimos

 17

anos em países como o Peru, Venezuela, Equador e até o Paraguai. Tratam-se, no

 caso específico dos governos Fujimori no Peru e do Coronel Hugo Chavez na

 Venezuela, de regimes populistas semiautoritários (o primeiro de direita e o

 segundo de esquerda), com forte amparo nas forças armadas e na chamada elite

 “crioulla” destes países (pequena parte da população com alta renda e de origem

 européia) que surgiram como uma tentativa de superação da crise econômica que

 arrasta-se desde os anos 80, o enfrentamento do narcotráfico e do terrorismo de

 esquerda (sobretudo na região andina) e adoção do projeto neoliberal, com a

 promoção do ajuste estrutural para a inserção das respectivas economias no

 mercado globalizado. Entretanto, esta tendência já demonstra alguns sinais de

 fraqueza com a condenação internacional sobre o terceiro mandato de Fujimori

 no Peru, obtido de forma duvidosa, e a sua posterior renúncia e fuga do país. Veja

 também FARIA, Carlos Aurélio Pimenta. (2000), “O fujimorismo e o futuro da

 democracia no Peru”. Revista Conjuntura Política. Belo Horizonte, abril.

 16 Esta terminologia geográfica adotada refere-se a subcontinente como a América

 do Sul, sendo uma divisão da América (somada à do Norte e Central). Veja para

 mais detalhes COELHO, Marcos de Amorim. (1999), Geografia Geral: espaço

 natural e sócio-econômico, 3a edição. São Paulo: Editora Moderna.

 17 Esta ressalva sobre a relativa estabilidade institucional brasileira refere-se a

 alguns episódios turbulentos vividos por esta frágil e jovem democracia desde

 a sua restauração na década de 1980. Podemos citar como exemplos mais evi

dentes a morte do Presidente eleito Tancredo Neves e a respectiva posse do seu

 vice José Sarney, quase sem legitimidade popular e pouco apoio parlamentar

 (com o ciclo populista de euforia e decepção ocorrido logo após com o Plano

 Cruzado), a eleição de 1989 (com um presidente paralisado e isolado pelo forte

 desgaste popular, duas grandes candidaturas de esquerda “ameaçadoras” para

 alguns setores do establishment nacional e um dissidente da direita buscando

 reunir forças junto a segmentos mais reacionários da sociedade e do empresariado

 para enfrentá-los) e o impeachment do Presidente Fernando Collor em 1992.

 Para uma boa descrição da nossa economia contemporânea leia BAER, Werner.

 (1996), A Economia Brasileira. São Paulo: Editora Nobel, e SANDRONI, Paulo.

 (1999), Novíssimo Dicionário de Economia. 2a edição. São Paulo: Editora

 Best-seller.

 18

Anexo

 Quadro comparativo das tipologias

 de governabilidade/governança

 Autores/Itens

 Bresser Pereira

 Eli Diniz

 Caio Marini

 Governabilidade

 Capacidade de governar

 derivada da relação de

 legitimidade do Estado e

 do seu governo com a

 sociedade civil.

 Condições sistêmicas

 de exercício do poder

 pelo Estado e seu governo

 em uma determinada

 sociedade.

 Governança

 Capacidade financeira/

 gerencial de formular e

 implementar políticas

 públicas.

 Capacidade da ação do

 Estado na formulação

 e implementação de

 políticas públicas e

 consecução das metas

 coletivas.

 Traço/Distintivo

 Ênfase na governança.

 Entende a governabilidade

 como garantida nos seus

 fundamentos por meio do

 processo de redemocra

tização recente.

 Ênfase da conexão da

 temática com a reforma do

 Estado, institucionalização

 da democracia e, em

 especial, com o incremento

 da participação dos

 cidadãos.

 Condições de legitimidade

 de um determinado

 governo para empreender

 as transformações

 necessárias.

 Capacidade técnica,

 financeira e gerencial

 de implementar estas

 transformações.

 Ênfase na ligação da

 temática com a reforma do

 Estado e com a superação

 das desigualdades

 estruturais da sociedade

 brasileira.

 19

Referências bibliográficas

 ARAÚJO, Vinícius de Carvalho. (1999), A Governabilidade Democrática na

 Reforma do Estado Brasileiro. Monografia apresentada para obtenção da

 graduação no curso de Administração da Universidade Federal de Mato

 Grosso. Mimeo.

 ALMANAQUE ABRIL. (1999), São Paulo: Editora Abril.

 ANDRADE, Régis de Castro; JACOUD, Luciana. (1993), A estrutura e organização

 do poder Executivo. Administração Pública comparada: Grã-Bretanha,

 França, Itália e Alemanha. Brasília: ENAP. Volume 1.

 BAER, Werner. (1996), A Economia Brasileira. São Paulo:Editora Nobel.

 BRASIL. Presidência da República. (1995), Plano Diretor da Reforma do

 Aparelho do Estado. Brasília: Imprensa Nacional.

 BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos; SPINK, Peter. (1998), Reforma do Estado e

 Administração Pública Gerencial. São Paulo: Editora FGV.

 . (1996), “Da Administração Pública Burocrática à Gerencial”.

 Revista do Serviço Público, jan./abr., ano 47, v. 120, no 1, Brasília: ENAP.

 . (1998), Reforma do Estado para a cidadania: A Reforma

 Gerencial Brasileira na perspectiva internacional. São Paulo: Editora 34.

 CARAVANTES, Geraldo; BJUR, Wesley. (1995), Readministração em ação. Makron

 Books.

 CARNEIRO, Maria Cecília Ribas. (1999), O Governo Fernando Henrique, 1995

1998. São Paulo: Editora Três.

 CATALÁ, Joan Prats I. (1998), “Governabilidade democrática na América Latina no

 final do século”, in PEREIRA, Luiz Carlos Bresser; SPINK, Peter. XX. Reforma

 do Estado e Administração Pública Gerencial. São Paulo: Editora FGV.

 COELHO, Marcos de Amorim. (1999), Geografia Geral: espaço natural e

 sócio-econômico, 3a edição. São Paulo: Editora Moderna.

 DINIZ, Eli. (1997), Crise: reforma do Estado e governabilidade. São Paulo:

 Editora FGV, 2a edição.

 . (1996), “Governabilidade, governance e reforma do Estado: consi

derações sobre o novo paradigma”. Revista do Serviço Público. Brasília: ENAP.

 FARIA, Carlos Aurélio Pimenta. (2000), “O fujimorismo e o futuro da democracia

 no Peru”. Revista Conjuntura Política. Belo Horizonte, abril.

 20

FERREIRA, Caio Márcio Marini. (1996), “Crise e reforma do Estado: uma questão

 de valorização do servidor”. Revista do Serviço Público. Brasília: ENAP.

 GUARACY, Thales. (1998), “O que o povo quer”. Revista Veja, edição 1567, 07/10.

 MALUF, Sahid. (1993), Teoria Geral do Estado. São Paulo: Editora Saraiva.

 22a edição.

 MARTINS, Luciano. (1995), “Reforma da administração pública e cultura política

 no Brasil: uma visão geral”. Cadernos ENAP no 8, Brasília: ENAP.

 MORAES, Alexandre de. (1999), Direito Constitucional. São Paulo: Editora Atlas.

 PETRUCCI, Vera Lúcia; SCHWARZ, Letícia. (1999), Administração Pública

 Gerencial: a Reforma de 1995. Brasília: Editora UNB.

 RUA, Maria das Graças. (1997), “Desafios da administração pública brasileira:

 governança, autonomia e neutralidade”. Revista do Serviço Público.

 Brasília: ENAP.

 SANDRONI, Paulo. (1999), Novíssimo Dicionário de Economia. São Paulo:

 Editora Best-seller. 2a edição.

 SARTORI, Giovanni. Engenharia Constitucional: Como mudam as

 constituições. Brasília: Editora UnB.

 21

 Normas para

 colaboradores

 1. A série Texto para discussão divulga artigos em fase de pré-publicação, com o

 objetivo de fomentar o debate direto entre o leitor e o autor.

 2. Os trabalhos, sempre inéditos no Brasil, devem conter em torno de 25 laudas

 de 30 linhas de 65 toques.

 3. Os originais devem ser encaminhados ao editor, em arquivo digital, em

 programa de uso universal. Usar apenas as formatações padrão e enviar para

 publicacoes@enap.gov.br.

 4. Na primeira página deve constar informação sucinta sobre formação e

 vinculação institucional do autor (em até duas linhas).

 5. Notas, referências e bibliografia devem vir ao final do trabalho, e não ao

 pé da página. Notas e referências, sendo o caso, devem vir devidamente

 numeradas.

 6. Os originais enviados à editora de Texto para discussão não serão

 devolvidos. O editor compromete-se a informar os autores sobre

 a publicação ou não de seus trabalhos.

 22

Texto para discussão

 Números publicados

 44 - Reforma gerencial dos processos de planejamento e orçamento

 Fabiano Garcia Core

 Outubro/01, 43p.

 43 - Os Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental: avaliação

 de sua contribuição para políticas públicas e trajetória profissional

 Zairo B. Cheibub e Wânia Amélia Belchior Mesquita

 Maio/01, 71p.

 42 - Experiências internacionais voltadas para a satisfação dos usuários

cidadãos com os serviços públicos

 Pesquisa ENAP

 Maio/01, 65p.

 41 - Gestão de custos no setor público

 Pesquisa ENAP

 Março/01, 26p.

 40 - Entre o público e o privado: o modelo de gestão de resíduos

 sólidos adotado pela SLU de Belo Horizonte

 José Wanderley Novato Silva

 Allan Claudius Queiroz Barbosa

 fevereiro/01, 27p.

 39 - A percepção das chefias sobre a capacitação nos cursos da ENAP

 Pesquisa ENAP

 dezembro/00, 20p.

 38 - Perfil dos dirigentes de recursos humanos da Administração

        Pública Federal

 Pesquisa ENAP

 novembro/00, 28p.

 37 - Planejamento estratégico municipal no Brasil: uma nova abordagem

 Peter Pfeiffer

 outubro/00, 37p.

 23

36 - Relatório de Avaliação do curso Elaboração de indicadores de

 desempenho institucional

 Pesquisa ENAP

 outubro/00, 36p.

 35 - Modelo para informatização das administrações públicas municipais

 Maria José Ferreira Foregatto Margarido

 agosto/00, 21p.

 34 - Perfil dos gestores de recursos humanos da Administração Pública

 Pesquisa ENAP

 agosto/00, 20p.

 33 - A imanência do planejamento e da gestão: a experiência de Curitiba

 Luiz Carlos de Oliveira Cecilio

 Carlos Homero Giacomoni

 Miguel Ostoja Roguski

 agosto/99, 22p.

 32 - Sociedade civil: sua democratização para a Reforma do Estado

 Luiz Carlos Bresser Pereira

 novembro/98, 57p.

 31 - Custos no serviço público

 Marcos Alonso

 outubro/98, 34p.

 30 - Demissão por insuficiência de desempenho na reforma

 gerencial: avanços e desafios

 Marianne Nassuno

 setembro/98, 21p.

 29 - Reforma da previdência: negociações entre os poderes

 Legislativo e Executivo

 Marcelo James Vasconcelos Coutinho

 agosto/98, 24p.

 28 - Diagnóstico da situação da mulher na Administração Pública Federal

 Franco César Bernardes,

 Marcelo Gameiro de Moura e

 Marco Antônio de Castilhos Acco

 julho/98, 25p.

 27 - Capacitação de recursos humanos no serviço público:

 problemas e impasses

 Francisco Gaetani

 junho/98, 27p.

 24

26 - Análise de macroprocessos na Secretaria de Recursos

 Humanos do MARE: uma abordagem sistêmica

 Marcelo de Matos Ramos

 maio/98, 23p.

 25 - Desafios e oportunidades no setor de compras governamentais

 na América Latina e Caribe: o caso brasileiro

 Carlos César Pimenta

 abril/98, 23p.

 24 - Reconstruindo um novo Estado na América Latina

 Luiz Carlos Bresser Pereira

 março/98, 19p.

 23 - Reforma administrativa e direito adquirido

 Paulo Modesto

 fevereiro/98, 25p.

 22 - Utilizando a internet na administração pública

 Cláudio Seiji Sato

 dezembro/97, 25p.

 21 - Burocracia, capacidade de Estado e mudança estrutural

 Tereza Cristina Cotta

 novembro/97, 13p.

 20 - A reforma administrativa francesa: da crise da função pública a

 uma nova racionalidade da ação coletiva, uma difícil transição

 Valdei Araújo

 outubro/97, 26p.

 19 - Formação e capacitação na construção de um novo Estado

 Evelyn Levy

 setembro/97, 15p.

 18 - Agências Executivas: estratégias de reforma administrativa

 Marcos Alonso

 agosto/97, 37p.

 17 - Controle interno e paradigma gerencial

 Sheila Maria Reis Ribeiro

 julho/97, 27p.

 16 - Novos padrões gerenciais no setor público: medidas do governo

 americano orientadas para o desempenho e resultados

 Bianor Scelza Cavalcanti e Roberto Bevilacqua Otero

 junho/97, 31p.

 25

15 - Cidadania e Res publica: a emergência dos direitos republicanos

 Luiz Carlos Bresser Pereira

 maio/97, 45p.

 14 - Gestão e avaliação de políticas e programas sociais:

 subsídios para discussão

 Francisco Gaetani

 abril/97, 15p.

 13 - As escolas e institutos de administração pública

 na América Latina diante da crise do Estado

 Enrique Saravia

 março/97, 18p.

 12 - A modernização do Estado: as lições de uma experiência

 Serge Vallemont

 dezembro/96, 16p.

 11 - Governabilidade, governança e capacidade governativa

 Maria Helena de Castro Santos

 dezembro/96, 14p.

 10 - Qual Estado?

 Mário Cesar Flores

 novembro/96, 12p.

 09 - Administração pública gerencial: estratégia e estrutura

 para um novo Estado

 Luiz Carlos Bresser Pereira

 outubro/96, 20p.

 08 - Desempenho e controle na reforma administrativa

 Simon Schwartzman

 setembro/1996, 22p.

 07 - Brasil século XXI - A construção de um Estado eficaz

 Virginio Augusto Ferreira Coutinho e

 Maria Teresa Oliva Silveira Campos

 agosto/1996, 24p.

 06 - A tecnologia da informação na reforma do Estado

 Ricardo Adolfo de Campos Saur

 julho/1996, 15p.

 05 - Reforma administrativa e direito adquirido ao regime da função pública

 Paulo Modesto

 outubro/1995, 14p.

 04 - Estado, aparelho do Estado e sociedade civil

 Luiz Carlos Bresser Pereira

 outubro/1995, 31p.

 26

03 - Reflexões sobre a proposta da reforma do Estado brasileiro

 Gleisi Heisler Neves

 outubro/1995, 28p.

 02 - A questão da estabilidade do serviço público no Brasil:

 perspectivas de flexibilização

 Érica Mássimo Machado e

 Lícia Maria Umbelino

 julho/1995, 21p.

 01 - A reforma do aparelho do Estado e a Constituição brasileira

 Luiz Carlos Bresser Pereira

 maio/1995, 24p.

 27

28

 A RSP Revista do Serviço Público é uma publicação

 voltada para a divulgação e debate de temas relacionados ao

 Estado, à administração pública e à gestão governamental.

 Reúne artigos de autores brasileiros e estrangeiros que apon

tam as tendências contemporâneas no debate sobre a área.

 Publicada desde 1937, a RSP passou por uma

 profunda reforma editorial em 1996, inspirada pela

 consciência da necessidade crescente de manter a

 função pública em contato regular com análises dos gran

des temas atuais.

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 da RSP

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 Tipo de solicitação:

 Assinatura RSP Ano 52 2001

 Ano 53 - 2002

 Alteração de cadastro

 Formas de pagamento:

 1. Cheque nominal à ENAP Fundação Escola Nacional de

 Administração Pública

 2. Enviar ordem de pagamento (anexar cópia do depósito) em nome de:

 ENAP —  Fundação Escola Nacional de Administração Pública, através

 do Banco do Brasil S/A — Agência  Ministério da Fazenda 3602-1,

 Conta Corrente: 170500-8 Depósito identificado (código - dv) finalidade:

 11470211401002-2.

 3. Enviar nota de empenho (anexar original) em nome de:

 ENAP — Fundação Escola Nacional de Administração Pública — UG:

 114702 — Gestão: 1140. O artigo do autor  Vinícius de Carvalho Araújo.

É desafiador , um governo exercer a governabilidade sem ter maioria no Congresso. No presidencialismo de coalizão brasileiro, os governos historicamente não elegem bancadas que lhes garantam a maioria no Legislativo. Para conseguir apoio e aprovar sua agenda, o Executivo precisa usar estratégias de articulação política com outros partidos e a sociedade. 

Formação de coalizões: A estratégia mais tradicional é a negociação com partidos do "Centrão" e outros partidos  para formar uma base de apoio no Congresso. Essa abordagem permite aprovar projetos, mas pode gerar desgastes, como a nomeação de cargos estratégicos a membros de partidos que nem sempre se alinham aos espéctro politico do governo 

Emendas parlamentares: Governistas podem usar a liberação de verbas por meio de emendas para conquistar apoio de parlamentares em votações específicas. No entanto, isso tem gerado disputas com o Congresso, que quer  aumentar seu controle sobre o Orçamento.

Barganha por cargos: A distribuição de ministérios e outros postos na máquina pública é uma forma de atrair partidos para a base governista.

Apelo à sociedade: O governo pode apelar diretamente à sociedade para pressionar parlamentares a votarem em certas pautas. Essa estratégia pode ser usada quando a negociação com a classe política se mostra infrutífera, mas pode aumentar a tensão com o Congresso.

Disputa política: Em vez de tentar a conciliação a qualquer custo, o governo pode adotar uma linha mais confrontadora, expondo as divergências com a maioria do Congresso. Essa tática foi observada no governo Lula em 2024 e se mostrou vitoriosa em alguns embates, mas gera instabilidade. 

Desafios no contexto atual

A governabilidade no Brasil é cada vez mais complexa. 

Fragmentação partidária: O grande número de partidos no Congresso torna a formação de maiorias estáveis mais difícil.

Empoderamento do Congresso: O Legislativo tem demonstrado maior protagonismo e autonomia, buscando impor sua agenda e controlar recursos, como as emendas.

Polarização e interesses locais: A polarização política no Brasil se reflete no Congresso. Ao mesmo tempo, o foco excessivo em interesses locais e privados, em detrimento de uma visão coletiva, dificulta a formação de coalizões sólidas.

Dependência do Executivo: A falta de uma base de apoio sólida torna o Executivo mais vulnerável a derrotas e crises. 

Exemplos recentes

Os governos mais recentes têm lidado com a falta de maioria de maneiras distintas, com resultados variados:

Governo Lula (2023-atual): Enfrentou derrotas significativas no primeiro ano por não ter uma base sólida. Para avançar, tem alternado entre a negociação com o Centrão e uma postura mais combativa, apelando à sociedade para pressionar o Congresso.

Governo Bolsonaro (2019-2022): Inicialmente, sem uma base de apoio, dependeu da negociação para aprovar projetos. A entrada em negociação com o Centrão permitiu que o governo construísse uma base de apoio, mas foi criticada como "velha política" por parte de seus apoiadores. 

Confira a noticia na Folha de São Paulo                     .https://www1.folha.uol.com.br/poder/2025/10/governo-deve-antecipar-r-2-bilhoes-em-emendas-de-comissao-apos-queixas-do-congresso.shtml

E assim caminha a humanidade.      

Imagem ; Folha de São Paulo. 

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