quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Negação da politica


A negação da política é um fenômeno complexo que se manifesta de diversas formas e pode ter diferentes causas e consequências. Em geral, refere-se à rejeição ou ao sentimento negativo em relação às instituições, processos e atores políticos, podendo levar à descrença na democracia e ao ódio social. 

Dimensões da negação da política

Apatia política: Caracterizada pela falta de interesse, envolvimento e paixão pela política.

Antipolítica: Representa um sentimento negativo mais ativo em relação às atividades e instituições políticas, mas não necessariamente à democracia em si.

Negacionismo político: Trata-se da atitude de recusar a aceitar eventos históricos ou fatos, mesmo diante de evidências, com motivação política.

Política da negação: Alguns partidos e líderes políticos adotam, como estratégia, negar a própria política ou se desvincular dela, como forma de ganhar apoio popular, capitalizando o sentimento de insatisfação geral.

Partidarismo negativo: É a tendência de alguns eleitores de basearem suas opiniões políticas na oposição a partidos ou figuras que eles não gostam, em vez de apoiarem suas próprias plataformas. 

Causas e consequências da negação da política

A negação da política pode ser causada por diversos fatores, como o aumento da polarização política, o sentimento de que o sistema não funciona para o eleitor comum e a desilusão com os resultados governamentais. As consequências podem incluir: 

Polarização e ódio: Como apontado pelo presidente Lula em 2023, a negação da política pode levar ao ódio e ao extremismo.

Fragilização da democracia: A rejeição aos valores e processos democráticos pode levar a um enfraquecimento das instituições e da estabilidade democrática.

Incompetência no governo: A "seleção negativa" pode ocorrer quando líderes escolhem assessores incompetentes para evitar desafios ao seu poder, levando a uma diminuição geral da eficácia governamental.

Aumento de campanhas negativas: Quando o foco se torna atacar o oponente em vez de defender propostas, a política vira um jogo de eliminação ("deseleção"). 

Exemplos históricos e contemporâneos

A negação da política pode ser observada em diversos contextos:

No Brasil: O fenômeno foi associado a eventos como a ascensão de Jair Bolsonaro ao poder, que confrontou valores democráticos sem romper completamente com a democracia.

Em campanhas eleitorais: A estratégia de partidos que removem o termo "partido" de suas denominações para se desvincularem da imagem negativa da política partidária tradicional.

Em contextos de crise: A negação de fatos científicos ou eventos históricos (como o negacionismo da ditadura militar brasileira) como forma de legitimar discursos de extrema-direita.  Segundo o Sociólogo, Mestre e Doutor Cesar Portantiolo Maia, no Quarto E assim caminha a humanidade.


Confira o artigo dos autores               André de Macedo DuarteI            e   Maria Rita de Assis CésarI

                  

Negação da Política e Negacionismo  André de Macedo DuarteI

 Maria Rita de Assis CésarI

como Política: pandemia e democracia

 André de Macedo DuarteI

 Maria Rita de Assis CésarI

 IUniversidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba/PR – Brasil 

RESUMO – Negação da Política e Negacionismo como Política: pandemia 

e democracia. O texto se desenvolve em três etapas complementares: pri

meiro, discutimos a estratégia da negação da política, com a qual Bolso

naro afrontou valores democráticos sem romper definitivamente com a 

democracia, tanto na campanha presidencial como na pandemia. No se

gundo momento, discutimos a estratégia do negacionismo como política, 

importante para a compreensão do modo como Bolsonaro empreendeu sua 

gestão da pandemia. No terceiro momento, argumentamos que durante a 

pandemia aquelas duas estratégias se conjugaram, produzindo fenômenos 

sócio-políticos que corroem a democracia, como a banalização das mortes 

e a naturalização da clivagem entre vidas valiosas, vidas submetidas a pro

cessos de menos-valia e vidas descartáveis. 

Palavras-chave: Negacionismo. Negação da Política. Pandemia. Banaliza

ção da Morte. Crise da Democracia.

 ABSTRACT – Denial of Politics and Denialism as a Policy: pandemic and 

democracy. The text is developed in three complementary stages: Firstly, 

we discuss the strategy of denying politics, which allowed President Bol

sonaro to reject democratic values   without definitively breaking with de

mocracy, employed both during the presidential campaign but also during 

the pandemic. Secondly, we analyze the strategy of denialism as a policy, 

important to the understanding of the way thru which Bolsonaro under

took his management of the pandemic. Thirdly, we argue that during the 

pandemic both strategies were combined, thus producing socio-political 

phenomena that erode democracy, such as the trivialization of deaths and 

the naturalization of the cleavage between valuable lives, less valuable li

ves, and disposable lives. 

Keywords: Denialism. Denial of Politics. Pandemic. Death Banalization. 

Crisis of Democracy.

 Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 45, n. 4, e109146, 2020.

 http://dx.doi.org/10.1590/2175-6236109146

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Negação da Política e Negacionismo como Política

 Este artigo faz a experiência arriscada de refletir sobre aconteci

mentos dramáticos do país no exato momento em que estão se desenro

lando. Dado o caráter de urgência dessa forma de intervenção intelectu

al, o texto assume o formato do ensaio e não tem pretensões teóricas à 

exaustividade, visando tão somente a interrogar o Bolsonarismo, fenô

meno político cujas características parecem ter se acentuado durante a 

pandemia do novo Coronavírus. 

Entendemos o Bolsonarismo como um movimento político auto

ritário, de extrema-direita, que promove divisões ou clivagens (simbó

licas, econômicas, culturais, políticas) entre formas de vida cujo valor 

e significado é avaliado a partir de rígidos processos de hierarquização 

valorativa. Um aspecto central do Bolsonarismo é distinguir entre as 

vidas que valem mais, as que valem menos e as que nada valem. Em 

sentido amplo, o Bolsonarismo é uma forma viver, sentir, pensar e se 

relacionar consigo, com os outros e com o mundo, é um ethos autoritá

rio e violento, que reafirma e reforça as posições normativas da ordem, 

da segurança e da hierarquia, escorando-se em valores e concepções 

patriarcais, heterossexuais, cristãs, empreendedoristas e apegadas à 

branquitude, donde seu caráter racista e discriminatório. De modo ge

ral, o Bolsonarismo é contrário à ciência, ao pensamento crítico e às 

políticas educacionais públicas, motivo pelo qual apoia práticas de cen

sura contra a liberdade de cátedra, ao mesmo tempo em que agride o 

financiamento das universidades e sua autonomia administrativa.

 Enquanto amálgama do conservadorismo e do autoritarismo bra

sileiros, o Bolsonarismo encontra sua síntese no ideal fantasmático do 

Homem de Bem (Duarte, 2020), ideal normativo que se compõe de va

lores e ideais do cristianismo, do conservadorismo anti-esquerda, do 

patriotismo nacionalista, do armamentismo, do machismo, da família 

tradicional heterossexual, da meritocracia, do empreendedorismo eco

nômico sacrificial, que responsabiliza o indivíduo pelo seu sucesso ou 

fracasso social, bem como de ideais relativos à plena liberdade de mer

cado, da recusa dos serviços e servidores públicos e da liberdade das 

maiorias para discriminar as minorias, sobretudo aquelas organizadas 

em movimentos políticos e sociais. Em um sentido político mais restri

to, o Bolsonarismo tem como propósito fortalecer a oposição binária 

entre nós/eles, amigo/inimigo, por meio da qual se pretende minimizar 

e, se possível, neutralizar toda forma de oposição e dissidência política. 

O Bolsonarismo orienta-se por um projeto paradoxal de democracia, de 

caráter autoritário, que se propõe a restringir os direitos e liberdades 

daquelas formas de vida que não espelham seu modelo ideal normativo 

de cidadão, o Homem de Bem. 

Neste texto, analisamos dois traços distintivos do Bolsonarismo, 

bastante evidenciados no modo pelo qual o Governo Federal vem ten

tando enfrentar a pandemia: a estratégia da negação da política, con

densada na autoproclamação de Bolsonaro como um outsider ou como 

um político anti-establishment, bem como a estratégia do negacionis

mo como política para fazer frente à pandemia. O texto se desenvolve 

em três etapas complementares: no primeiro momento, discutimos a 

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Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 45, n. 4, e109146, 2020. 

Duarte; César

 estratégia da negação da política, a qual permitiu que Bolsonaro pu

desse afrontar valores democráticos sem romper definitivamente com 

a democracia, estratégia que caracterizou suas declarações políticas 

durante a campanha presidencial, mas que se viu intensificada duran

te a crise da pandemia. No segundo momento, discutimos a estratégia 

do negacionismo como política, central para a compreensão da forma 

peculiar pela qual Bolsonaro empreendeu sua gestão da pandemia. No 

terceiro e conclusivo momento, defendemos a hipótese de que a conju

gação daquelas duas estratégias durante a pandemia do novo Corona

vírus acentuou ainda mais a crise da democracia brasileira, ao produzir 

fenômenos sócio-políticos como a banalização das mortes e a natura

lização da clivagem entre vidas valiosas, vidas submetidas a processos 

de menos-valia e vidas descartáveis. Neste sentido, parece-nos que o 

Bolsonarismo soube se aproveitar politicamente da pandemia para pro

mover seus interesses políticos e suas visões de mundo conservadoras e 

autoritárias, ao menos até o momento.

 A Estratégia da Negação da Política

 A candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da República em 

2018 beneficiou-se de um ambiente prévio de forte rejeição à política 

e aos políticos tradicionais. Este ambiente político não é certamen

te novidade no Brasil, mas foi se fortalecendo e se generalizando des

de as manifestações públicas de Junho de 2013, as quais, ao longo de 

pouco mais de 30 dias, evoluíram da cobrança coletiva por melhores 

serviços públicos urbanos, para a rejeição abrangente e incondicional 

contra tudo isso que está aí, a luta contra a corrupção tornando-se uma 

de suas principais bandeiras. As Jornadas de Junho de 2013 foram um 

acontecimento político inesperado e enigmático, um signo a ser inter

pretado, motivo pelo qual se travou acirrada batalha interpretativa a 

respeito de seu significado político (Bignotto, 2020; Nobre, 2020, 2013; 

Maricato et al., 2013). Tudo começou com as reivindicações do Movi

mento Passe Livre (MPL) em grandes cidades como São Paulo, Rio de 

Janeiro, Goiânia, Florianópolis, Porto Alegre, Curitiba, dentre outras 

capitais. Inicialmente, seu foco foram os aumentos do preço do trans

porte público, com tudo que essa medida acarreta para a experiência 

cotidiana da vida nas grandes cidades, sobretudo para os jovens e os 

trabalhadores. Rapidamente, contudo, o movimento evoluiu e surgiu 

um lema significativo: Não é apenas por 20 centavos! Durante algumas 

semanas, o que se viu foi uma imensa multidão de jovens que saíram 

às ruas pela primeira vez para participar de um movimento político di

fuso, mas que, ao menos inicialmente, parecia dar sinais de que pre

tendia aprofundar o processo de transformações e de inclusão social 

que fora iniciado com as políticas de inclusão social do Partido dos Tra

balhadores. Ao mesmo tempo em que o MPL inaugurava um espírito 

de rebeldia anônimo, criativo e independente dos partidos políticos, a 

grande mídia entregava-se à tarefa de pautar o movimento na direção 

do combate à corrupção, bem como repudiava as violências cometidas 

durante as manifestações, dividindo os manifestantes entre os assim 

Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 45, n. 4, e109146, 2020. 

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Negação da Política e Negacionismo como Política

 chamados vândalos e os cidadãos ordeiros. A partir de então, o que era 

um movimento a-partidário foi se tornando um movimento anti-par

tidário e contrário à própria política. Durante esse importante giro co

meçaram a surgir forças autoritárias, representadas por grupos sociais 

vinculados à direita e extrema-direita. Não faltou quem alertasse, des

de o início das manifestações, para o perigo político que elas traziam 

consigo, motivo pelo qual, retrospectivamente, se tornou lugar-comum 

afirmar que elas foram o ovo da serpente que eclodiu no impeachment 

de Dilma Rousseff. Por outro lado, o caráter autônomo, descentralizado 

e horizontalizado das Jornadas também parecia indicar a possibilidade 

de um fortalecimento da democracia brasileira. Parece-nos, portanto, 

simplista a tese que busca estabelecer relações de causa e efeito entre as 

Jornadas de Junho de 2013 e o impeachment de 2016, embora não cai

bam dúvidas de que foi durante este período que começou a se agravar 

a atual crise da democracia brasileira. Newton Bignotto (2020) analisou 

recentemente essa crise que se desenvolveu entre 2013-2018 a partir da 

noção de “guerra de facções” entre grupos políticos que defendem po

sições ideológicas e de interesses particulares radicalmente contrapos

tos, cada um deles visando a se “[...] apropriar dos mecanismos estatais 

para fazer prevalecer seus pontos de vista a todo custo” (2020). 

A rejeição à política começou a se aprofundar em 2014, na esteira 

das manifestações a favor e contra as obras públicas para a realização 

da Copa do Mundo. Também contribuiu o agravamento da crise eco

nômica e a estagnação do crescimento do PIB, além da inauguração e 

gradual intensificação das ações da Operação Lava-Jato, a qual esta

beleceu um nexo inquestionável entre política e corrupção, insisten

temente ressaltado pelas mídias convencionais e pelas redes sociais. A 

apertada vitória de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais de 2014 

levou o Partido da Social Democracia Brasileira a questionar a validade 

das eleições, a propor sua anulação e a postular o impeachment como 

alternativa para aceder ao poder a qualquer custo. Tais posições foram 

sendo majoritariamente reproduzidas por campanhas midiáticas que 

estimularam o sentimento coletivo de revolta contra a corrupção, ca

nalizado especialmente contra o Partido dos Trabalhadores. A partir de 

março de 2015 o país viu as ruas serem inundadas por milhares de ma

nifestantes vestidos com a camiseta verde-amarelo da seleção brasilei

ra de futebol, enfurecidas com as denúncias de corrupção e os supostos 

desmandos autoritários do PT, convertido em símbolo reatualizado do 

velho perigo vermelho do comunismo. Em pouco tempo o Juiz Sergio 

Moro foi transformado em justiceiro nacional e toda a classe política, 

mas especialmente os políticos vinculados ao PT, foram transformados 

em inimigos vermelhos e corruptos, a serem politicamente eliminados 

do jogo político nacional. No contexto da Operação Lava Jato, houve di

versos casos de abusos e de medidas jurídicas que suspenderam prin

cípios básicos do estado democrático de direito em nome da luta contra 

a corrupção. Tais abusos não foram condenados pela mídia, antes pelo 

contrário, criando-se assim todas as condições favoráveis para a apro

vação do impedimento presidencial, finalmente ocorrido em sessão 

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Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 45, n. 4, e109146, 2020. 

Duarte; César

 congressual que entrou para a história como “[...] uma mancha no curso 

da democracia brasileira” (Bignotto, 2020). O voto do deputado Bolso

naro fazendo o elogio público ao torturador de Dilma Rousseff é certa

mente um marco a respeito da guinada política que abriu caminho para 

a ascensão da extrema-direita ao poder.

 O curto governo de Michel Temer (2016-2017) tampouco foi pou

pado das investigações e denúncias de corrupção no contexto dos des

dobramentos da operação Lava Jato. Consolidou-se assim o enfraque

cimento generalizado das instituições democráticas e dos principais 

partidos e lideranças políticas que vinham disputando a Presidência da 

República desde meados dos anos 90. Ademais, como observou Mar

cos Nobre (2020), “Grande parte do eleitorado estava se sentido existen

cialmente ameaçada em 2018. Temia pelo seu emprego, pela sua vida, 

pela vida de sua família, pela religião que professava, pelo seu prestígio 

social” (p. 24). Foi assim que Jair Bolsonaro se tornou um ator político 

decisivo, algo praticamente impensável alguns anos atrás. O atentado 

à faca durante a campanha presidencial foi um episódio decisivo, pois 

permitiu uma arquitetada e bem-sucedida vinculação simbólica entre 

seu corpo e o corpo político brasileiro, ambos agredidos e em risco de 

morte, como argumentou Letícia Cesarino (2019) em sua apurada aná

lise da ascensão do populismo digital no país. 

No entanto, essas foram apenas as circunstâncias políticas pré

vias que permitiram e incentivaram a construção de Bolsonaro como 

um outsider, isto é, como um político antissistema, a despeito de ter fei

to parte dele por quase trinta anos, mesmo que habitando suas franjas 

obscuras. Por certo, diversos candidatos a cargos políticos do passado 

brasileiro souberam como capitalizar para si certo ambiente nacional 

difuso de rejeição à política. O aspecto importante é que apenas Bolso

naro soube como converter a estratégia eleitoral da recusa da política 

em estratégia de governamento, recusando-se a negociar com o sistema 

e a respeitar integralmente as regras do jogo democrático, ainda que 

permanecendo no seu interior. Leonardo Avritzer (2020) definiu a es

tratégia governamental de Bolsonaro como antipolítica, entendendo-a 

como “[...] a reação à ideia de que instituições e representantes eleitos 

devem discutir, negociar e processar respostas a temas em debate no 

país. A antipolítica constitui uma negação de atributos como a nego

ciação ou a coalizão” (2019, p. 19). Para Avritzer (2020), a “[...] suposta 

luta anticorrupção” teria sido decisiva para isso (2020, p. 19). Seguin

do uma linha de raciocínio semelhante, Marcos Nobre (2020) observou 

que “[...] não é acaso que a tática de Bolsonaro tenha envolvido sem

pre uma recusa de governar” (p. 23). Para Nobre, ao ganhar as eleições 

como candidato outsider, Bolsonaro se tornou refém daquela condição 

e converteu a guerra contra o sistema político e suas instituições em 

estratégia de governo, fazendo do caos o seu método ao apresentar-se 

como a solução para os problemas que ele mesmo cria (2020, p. 15-16). A 

negação da política como estratégia de governamento é mais um aspec

to propriamente novo e desconcertante do Bolsonarismo, movimento 

que não apenas se apresenta publicamente como antipolítico e antis

Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 45, n. 4, e109146, 2020. 

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Negação da Política e Negacionismo como Política

 sistêmico, como atua de maneira a fazer com que elementos centrais à 

democracia assumam efeitos antidemocráticos, sem, contudo, romper 

definitivamente com a própria democracia. Ademais, ao se apresentar 

como um político que nega o sistema político, Bolsonaro pôde introdu

zir em seus discursos diversas teses antidemocráticas. Como elas são 

proferidas no interior mesmo do jogo democrático, são frequentemen

te entendidas como cortina de fumaça ou como retórica desprovida de 

consequências políticas mais graves. 

Um rápido levantamento das declarações políticas de Bolsonaro 

mostra a persistência de suas convicções antipolíticas, antissistêmicas 

e antidemocráticas. Dentre as afirmações pelas quais Bolsonaro visa a 

negar a política, defender teses negacionistas quanto à história política 

nacional, ou apresentar-se como externo ao sistema político, temos as 

seguintes declarações recentes: “Tá na cara que estou sendo um pro

blema para o sistema, não é para esse partido ou aquele, é para o sis

tema” (2018); “Não houve golpe militar em 1964. Quem declarou vago 

o cargo do presidente na época foi o Parlamento. Era a regra em vigor” 

(2018); sobre os assassinatos e torturas perpetrados pela ditadura mili

tar, afirmou: “Errar, até na sua casa, todo mundo erra. Quem nunca deu 

um tapa no bumbum do filho e depois se arrependeu? Acontece” (2018). 

Dentre algumas de suas muitas declarações de cunho claramente an

tidemocrático, podem-se mencionar os seguintes exemplos: “Costumo 

dizer que não falo o que o povo quer. Sou o que o povo quer” (2016); 

“Não podemos deixar que ideologias nefastas venham a dividir os bra

sileiros. Ideologias que destroem nossos valores e tradições, destroem 

nossas famílias, alicerce da nossa sociedade” (2019); “Preso não deve ter 

direito nenhum, não é mais cidadão. O sentido da cadeia não é resso

cializar, mas tirar o marginal da sociedade” (2017)1 (Constantino; Costa; 

Eiras, 2020); “Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob 

a lei de todos nós. Ou vão para fora ou vão para a cadeia. Esses margi

nais vermelhos serão banidos de nossa pátria” (2018); “Vamos fuzilar 

a petralhada aqui do Acre” (2018); “Somos um país cristão. Não existe 

essa historinha de Estado laico, não. O Estado é cristão. Vamos fazer 

o Brasil para as maiorias. As minorias têm que se curvar às maiorias. 

As minorias se adequam ou simplesmente desaparecem” (2017)2 (Bol

sonaro diz que cloroquina..., 2020, online). Finalmente, vejamos alguns 

exemplos de declarações com as quais Bolsonaro apela a vagos ideais 

democráticos e os direciona contra as práticas e valores da democracia: 

“A arma de fogo, mais do que garantir a vida de uma pessoa, garante 

a liberdade de um povo” (2018); “Se eu quiser entrar armado aqui, eu 

entro” (2016)3 (Bolsonaro diz que cloroquina..., 2020, online); “Estamos 

com um governo que respeita a família. E para quem tem qualquer dú

vida: parágrafo 3º do artigo 226 da Constituição. Vamos ler lá o que é 

família. Quando alguém mudar a Constituição, eu falo das outras famí

lias” (2019)4 (Fonseca, 2020).

 Esse breve apanhado de declarações negando o sistema político, 

professando teses de teor negacionista quanto à ditadura e seus crimes, 

descomprometendo-se com a democracia ou valendo-se de ideais de

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Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 45, n. 4, e109146, 2020. 

Duarte; César

 mocráticos para distorcer e descaracterizar a democracia, mostram 

que o candidato que foi eleito para a Presidência da República em 2018 

jamais se afastou dos ideários autoritários que tornaram célebres suas 

velhas declarações a favor da tortura, do fechamento do Congresso, do 

assassinato indiscriminado e da própria ditadura: “Só vai mudar, in

felizmente, quando nós partirmos para uma guerra civil aqui dentro. 

E fazendo um trabalho que o regime militar não fez, matando uns 30 

mil!” (1999). Essa atitude de negação da política e de negação da demo

cracia em nada se alterou durante o surto do novo Coronavírus no Bra

sil, antes pelo contrário. Em manifestação antidemocrática ocorrida em 

Brasília no dia 19.04.20, na qual os manifestantes clamavam pelo fecha

mento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, Bolso

naro enunciou o que pode ser entendido como a suma de sua estratégia 

de negação da política e da democracia. Em cima de uma caminhonete, 

sem máscara, aos berros e tossindo, Bolsonaro disse o seguinte: 

Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação 

pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás, nós te

mos um novo Brasil pela frente. [...]. Todos, sem exceção 

no Brasil, têm que ser patriotas e acreditar e fazer a sua 

parte para que nós possamos colocar o Brasil no lugar de 

destaque que ele merece. [...]. Acabou a época da patifaria. 

[...]. Todos no Brasil têm que entender que estão submis

sos à vontade do povo brasileiro. Tenho certeza que todos 

nós juramos um dia dar a vida pela pátria. Vamos fazer o 

que for possível para mudar o destino do Brasil. [...]. Che

ga da velha política (Nós..., 2020, online)5. 

Diante dessas afirmações, resta-nos apenas concordar com a 

afirmação de Marcos Nobre, segundo a qual “A posição antissistema de 

Bolsonaro está umbilicalmente ligada a seu projeto autoritário, não há 

como separar uma coisa da outra” (2020, p. 19). Parece-nos, pois, en

ganoso considerar tais afirmações como bravatas berradas ao vento. 

Por outro lado, elas representam o comportamento político do governo, 

mesmo durante a pandemia, bem como sinalizam qual é o ideal de na

ção e de regime político esposado pelo Bolsonarismo. A pandemia não 

foi uma circunstância que pegou o governo desprevenido, forçando-o a 

recorrer a declarações histriônicas para encobrir sua incapacidade de 

afrontar o problema, ou simplesmente para ganhar tempo. Marcos No

bre observou que desde o início de março de 2020 Bolsonaro havia sido 

informado pelo Gabinete de Segurança Institucional quanto à gravida

de do problema que se anunciava, o que não o impediu de “[...] ir a uma 

manifestação contra o Congresso e contra o STF no dia 15 de março,” ou 

de fazer o famoso pronunciamento “[...] em cadeia de rádio e TV do dia 

24 de março”, no qual classificou a contaminação por Covid-19 como 

‘gripezinha’ e ‘resfriadinho’” (Nobre, 2020, p. 8). Se o Governo Federal 

não se planejou para fazer frente à pandemia por meio de ações e polí

ticas públicas concertadas e organizadas em nível nacional, isto se deu 

porque o Presidente assim o quis: pareceu-lhe que mais importante do 

que combater o vírus era combater o sistema político e aproveitar-se da 

situação caótica para acertar contas com políticos – sobretudo os Go

Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 45, n. 4, e109146, 2020. 

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Negação da Política e Negacionismo como Política

 vernadores Witzel e Doria – e autoridades de seu próprio governo – os 

ministros Moro e Mandetta – que, antes aliados, mudaram de posição 

ao longo da evolução da pandemia no país, tornando-se seus maiores 

desafetos políticos. 

Mais recentemente o Presidente estabeleceu conexões com par

lamentares integrantes da ala conservadora do Congresso denominada 

como Centrão, em desacordo com as críticas que ele próprio dirigira an

teriormente àquele grupo, associando-o à velha política venal da tro

ca de favores. Contudo, tal aproximação não tem que ver com alianças 

para obter aprovação de suas políticas no Congresso, algo de que ele 

não tem necessitado quando se trata de suas principais reformas neoli

berais, mas destina-se a proteger seu mandato e o de seus filhos das in

vestigações empreendidas pelo STF. Assim, como observou Marcos No

bre, Bolsonaro instituiu um “[...] governo de guerra não contra o vírus, 

mas, sobretudo, contra o impeachment – o que inclui tentar bloquear 

persecuções judiciais de maneira mais ampla” (2020, p. 14). Uma vez 

mais, tal comportamento não é simplesmente instrumental e circuns

tancial, mas serve de maneira exemplar ao fortalecimento da posição 

de Bolsonaro e de seu ideário político autoritário. A estratégia da nega

ção da política dissemina uma concepção de democracia que faz dela 

um regime compatível com o autoritarismo. Uma vez mais, estamos de 

acordo com Nobre (2020) quando ele argumenta que Bolsonaro 

[...] associa suas posições de extrema direita à defesa de 

tudo o que é ético e decente e identifica o restante – todo 

o sistema político – com a ‘esquerda’, ou seja, com tudo o 

que é corrupto e corrompido da vida social em geral. [...]. 

A ‘verdadeira democracia’ é apenas aquela que existia du

rante a ditadura militar (p. 20). 

Em uma palavra, Bolsonaro não se preocupou fundamentalmen

te em enfrentar o vírus, mas sim em politizar a pandemia para se forta

lecer no poder e alimentar o sonho da reeleição, o que certamente lhe 

dará maior margem de manobra para levar a cabo a implantação gradu

al de uma democracia de caráter autoritário no país. E para que não se 

tenha a impressão de que a validade dessas hipóteses acerca da negação 

da política como estratégia de governamento seja restrita apenas às fa

las e ações de Bolsonaro, basta acompanhar a longa entrevista concedi

da pelo vice-Presidente, Hamilton Mourão, ao jornalista Tim Sebastian, 

que comanda o programa jornalístico Conflict Zone, do canal Deutsche 

Welle, em 09.10.20. Nessa entrevista, além de defender a honra do Coro

nel Brilhante Ustra e de negar que ele tenha sido torturador, a despeito 

dele ser o único militar incriminado por tais práticas, Mourão ainda 

afirmou que a participação e as falas de Bolsonaro nas manifestações 

antidemocráticas não deveriam ser levadas a sério, pois não constituí

am ameaça à democracia: “[...] é muito mais conversa do que, digamos, 

ação6” (Sebastian, 2020, online).

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Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 45, n. 4, e109146, 2020. 

Duarte; César

 O Negacionismo Como Política

 Por certo, o negacionismo no que concerne à pandemia sempre 

esteve presente nos atos e nas falas presidenciais desde antes de abril 

de 2020, bastando recordar suas inúmeras declarações espalhafatosas a 

respeito da gripezinha e da suposta histeria da mídia acerca dos efeitos 

superdimensionados do vírus. O aspecto que somente aos poucos foi 

se revelando é que o negacionismo de Bolsonaro quanto à pandemia 

constituiu, desde o princípio, uma política de caráter autônomo e efi

caz, e não mero diversionismo7 (Roque, 2020a). Afinal, a despeito do au

mento descontrolado do número de mortos e contaminados, a insistên

cia de Bolsonaro na manutenção do negacionismo quanto à pandemia 

não abalou os índices de sua popularidade, antes pelo contrário8 (Po

pularidade..., 2020, online). Decorridos sete meses desde a chegada da 

pandemia ao país, parece-nos claro que o negacionismo de Bolsonaro 

constitui uma política per se, aquela que consiste em negar, confundir, 

agredir, ignorar, desprezar, silenciar quem quer que não esteja absolu

tamente de acordo com suas medidas de combate à pandemia, ou com 

as escolhas políticas e morais que pautam seu governo. 

Em alguma medida, o negacionismo está relacionado com a des

coberta freudiana acerca da negação, Verneinung (Freud, 2014), a ca

pacidade psíquica do sujeito de negar desejos reprimidos. Como diz 

Freud, “Negar algo no juízo no fundo significa: isto é uma coisa que eu 

preferiria reprimir” (2014, p. 23). É certamente possível propor diagnós

ticos políticos e sociais acerca dos desejos reprimidos subjacentes à de

fesa incondicional de teses negacionistas (Dunker, 2020; Swako, 2020), 

mas não se pode desconsiderar que o negacionismo é, ele mesmo, um 

fenômeno político e social, ainda que sua análise requeira reconhecer a 

importância central dos afetos, emoções e desejos na sua constituição 

e propagação (Bucci, 2019). O negacionismo é um fenômeno social não 

apenas porque implica a produção e difusão em massa de teses con

troversas em relação a consensos científicos validados, mas também 

porque teses negacionistas provocam impactos diretos no comporta

mento de milhões de pessoas. Simultaneamente, o negacionismo é um 

fenômeno político porque, o mais das vezes, está associado com a ex

tração de vantagens por parte de grupos econômicos interessados em 

negar ou questionar teses e conhecimentos científicos. Isto ocorre, so

bretudo, quando tais conhecimentos inspiram políticas públicas des

tinadas a transformar comportamentos e modos de vida coletivos, os 

quais afetam interesses econômicos poderosos. Não por acaso, uma das 

primeiras manifestações do negacionismo científico esteve associada 

à negação e deslegitimação, por parte de cientistas, dos estudos cien

tíficos que associavam o tabagismo à proliferação de doenças graves. É 

sabido também que o negacionismo climático é fomentado por cientis

tas financiados pelos interesses das empresas petrolíferas desde que, a 

partir da década de 1990, consolidou-se o consenso científico acerca do 

dióxido de carbono, dentre outros gases poluentes, como causadores do 

efeito estufa que acentua o aquecimento terrestre. Como afirmou Ta

Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 45, n. 4, e109146, 2020. 

9

Negação da Política e Negacionismo como Política

 tiana Roque (2020b), “Como era impossível negar o aquecimento global 

antrópico, a única saída era travesti-lo de controvérsia9”. 

Além de deslegitimar ou pôr em dúvida conhecimentos aceitos 

como verdadeiros pelas instituições sociais habilitadas para auferir tal 

qualificação, o negacionismo põe em questão a autoridade dos cientis

tas, de seus métodos científicos, bem como a autoridade e a legitimida

de das próprias instituições sociais destinadas à validação da produção 

do conhecimento. Ademais, ao negar ou pôr em dúvida a autoridade das 

instâncias sociais responsáveis pela produção do conhecimento cien

tífico, o negacionismo também enseja formas de associação coletiva 

caracterizadas por comportamentos radicalizados, avessos à discussão 

argumentativa. O mínimo que se pode dizer é que o negacionismo dis

semina e fomenta comportamentos desconfiados ou indiferentes quan

to ao valor social da ciência, produzindo efeitos no comportamento de 

milhões de pessoas, que passam a tomar decisões cruciais para suas 

próprias vidas amparando-se apenas naquilo que lhes parece mais con

veniente ou útil em determinada circunstância. Não se podem descon

siderar os efeitos sociais e políticos derivados da coesão social formada 

entre aqueles que acreditam e divulgam teses negacionistas, pois se 

tornam parte de um universo paralelo, de uma sociedade peculiar, no 

interior da qual desfrutam de sentimentos de pertencimento e de auto

valorização, de que se sentiam privados no mundo social mais amplo 

em que vivem. Eis porque Dunker (2020) observou que o negacionismo 

cria uma atmosfera social na qual “[...] tudo se passa como se a negação 

coletiva nos tornasse mais e mais imunes à dúvida. Nossa crença au

menta à medida que repudiamos a crença alheia” (2020, p. 5). Por este 

motivo, tampouco é casual que a difusão social de teorias negacionistas 

parasite ou engendre crenças religiosas (Dunker, 2020, p. 5), ou esteja 

conectada à formulação de teorias conspiratórias (Oliveira, 2020): em 

ambos os casos, se reforçam os sentimentos de pertença coletiva. Neste 

sentido, o negacionismo é poderoso não somente porque produz con

fusões, dúvidas, incertezas, enganos e mesmo graves equívocos, mas 

também porque empodera aqueles que compartilham tais visões de 

mundo. Nos casos mais graves de defesa do negacionismo, observa-se 

uma situação bem descrita por José Swako (2020): “Não só o negacionis

ta se acha ‘razoável’, como também lhe é mentalmente impossível não 

ter ‘a razão’10” (Swako, 2020). 

Se há dimensões do fazer e da produção científica que não são 

politicamente neutras, há que se observar que, se o negacionismo se 

origina desde o interior do campo científico, ele procede a partir de 

processos de manipulação, esgarçamento e distorção dos procedimen

tos científicos, os quais, entretanto, são desconhecidos do público em 

geral. Tampouco é infrequente que teses negacionistas sejam formula

das por cientistas cuja posição no interior da comunidade científica é 

irrelevante, questionada ou mesmo recusada pelas próprias instâncias 

de aferição do reconhecimento científico. Assim, se por um lado o nega

cionismo não se confunde com, nem se reduz ao mero obscurantismo 

ou à ignorância, por outro lado, ele pode levar à adoção de comporta

10

 Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 45, n. 4, e109146, 2020. 

Duarte; César

 mentos perigosos para a vida humana e para a garantia das condições 

de vida no planeta. Não pode haver negacionismo sem a reprodução so

cial massiva de teses negacionistas, as quais são rapidamente transfor

madas em opiniões negacionistas, de caráter imediatamente acessível 

e de forte apelo emocional. Ao longo do seu processo de difusão social 

massificada, as teses negacionistas perdem qualquer referência ao fazer 

científico e seus métodos, pois o que importa é a politização grosseira e 

enviesada da ciência e dos cientistas. 

O negacionismo tende a se intensificar e a se multiplicar no mun

do todo no contexto contemporâneo da pós-verdade, caracterizado 

como aquele “[...] ambiente em que os fatos objetivos têm menos peso 

do que apelos emocionais ou crenças pessoais em formar a opinião 

pública” (Bucci, 2019). O fenômeno da pós-verdade está diretamente 

relacionado com a crise de autoridade que abalou a confiança da po

pulação nos mediadores tradicionais, particularmente a mídia, que es

tabelecia a comunicação entre cientistas, poder público e as pessoas. 

Com a intensificação do uso das redes sociais, tornou-se fácil e rotineiro 

descartar a verdade factual (Bucci, 2019) produzida a partir de critérios 

compartilhados e avalizados consensualmente, multiplicando-se as 

mentiras, os boatos e as informações fraudulentas (fake news), por meio 

de uma comunicação direta, simples, acessível e fortemente carregada 

de aspectos emocionais, os quais transformam o receptor em um agen

te disseminador da desinformação. Segundo Eugênio Bucci (2019), 

Nas redes sociais, diferentemente do que acontecia na 

televisão ou no cinema, a propagação das mensagens 

depende diretamente da ação das audiências, nas quais 

o desejo leva vantagem sobre o pensamento. Uma notí

cia (falsificada, fraudulenta ou mesmo verdadeira, pouco 

importa) só se difunde à medida que corresponda a emo

ções, quaisquer emoções, ‘positivas’ ou ‘negativas’. 

Eis porque notícias fraudulentas se multiplicam e repercutem 

com muito mais rapidez que notícias confiáveis e lastreadas, fomentan

do desinformação e confusão que se retroalimentam reciprocamente. 

Na mesma direção, Oswaldo Giacoia (2020) argumentou que, 

Dado que os indicadores de acesso substituem os antigos 

critérios de verificação, embute-se o risco de esse novo 

parâmetro gerar um círculo vicioso: a quantidade de 

acessos quase sempre está em relação com o potencial de 

atração contido na distorção da mensagem. Isso signifi

ca que o horizonte de avaliação é o do impacto causado11 

(Giacoia, 2020). 

Assim, proliferação do uso das redes sociais é parte do fenômeno 

que tem sido chamado de crise epistêmica, associada à “[...] passagem de 

um regime de verdade baseado na confiança nas instituições para um 

outro regime regulado pela crença individual e pela experiência pesso

al, dando voz a movimentos conspiratórios em que a informação é um 

campo de disputa sobre a produção de narrativa” (Oliveira, 2020, p. 22). 

Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 45, n. 4, e109146, 2020. 

11

Negação da Política e Negacionismo como Política

 Tal contexto, como se pode supor, é francamente favorável à formação e 

disseminação de inúmeras formas simultâneas de negacionismo, como 

as que hoje circulam nas redes: climático-ecológico, histórico-político, 

quanto ao gênero e orientação sexual, científico-sanitário, geofísico, 

etc. 

Ora, no caso da pandemia do novo Coronavírus, o negacionismo 

se tornou moeda corrente no Brasil sob o governo Bolsonaro. As conse

quências disso foram ainda mais graves, dado que não apenas a própria 

doença e seus efeitos no organismo humano eram (e ainda são) relati

vamente desconhecidos da comunidade médica mundial, mas também 

pelo fato de que as recomendações médico-científicas exigiam forte e 

imediata modificação de comportamentos, na esteira da proposição de 

políticas públicas informativas e preventivas por parte das autoridades 

nacionais. Estavam dadas, assim, todas as condições para que a pande

mia de Covid-19 se transformasse num foco privilegiado de produção e 

disseminação governamentais de teses negacionistas, as quais impli

caram não apenas a politização do vírus, mas também a politização de 

medicamentos, como a Cloroquina e a Hidroxicloroquina, a politização 

da própria Organização Mundial da Saúde e de suas recomendações 

científicas, bem como, mais recentemente, a própria politização das 

vacinas. Tudo isso produziu considerável impacto nas relações políti

cas entre o Executivo, o Legislativo, o Judiciário, os Governadores de 

Estado, Prefeitos e a própria população, gerando-se um ambiente ca

ótico e favorável a que as pessoas fossem levadas a tomar decisões por 

si mesmas, amparando-se nas concepções que lhe parecessem mais 

convenientes. Foi nesse contexto que o negacionismo se afirmou e se 

confirmou como mais uma forma política de governamento de popu

lações no país. 

Dada a afinidade do Bolsonarismo com as más práticas do uso 

agressivo das redes sociais, incluindo-se aí o disparo organizado de 

propaganda política enganosa, de notícias fraudulentas visando a con

fundir a população e/ou desmoralizar oponentes políticos, além dos 

ataques de ódio direcionados contra indivíduos e grupos sociais que 

discordem das afirmações e dos atos do Presidente, não seria de se es

pantar que este movimento político recorresse ao negacionismo como 

política governamental diante da pandemia. Passados 6 meses desde 

a chegada do vírus ao Brasil, o site Aos Fatos, que checa a veracidade 

das declarações presidenciais, contabilizou nada menos que 653 decla

rações falsas ou distorcidas de Bolsonaro sobre a pandemia e sobre as 

ações adotadas pelo governo no seu enfrentamento, totalizando uma 

média de três informações enganosas por dia sobre o assunto entre 11 

de março e 11 de setembro de 202012 (Ribeiro; Cunha, 2020). De maneira 

mais geral, Bolsonaro pronunciou 1417 frases em que abordou o tema 

da pandemia, sendo que os alvos prioritários de suas afirmações vi

sando a promover confusão, dúvida e desinformação entre os cidadãos 

brasileiros tiveram seu foco na defesa do uso da Cloroquina, na crítica 

à OMS e às suas recomendações sanitárias, e nos ataques políticos ao 

Supremo Tribunal Federal, aos governadores de Estado e aos prefeitos, 

12

 Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 45, n. 4, e109146, 2020. 

Duarte; César

 os quais foram acusados de impedir o Presidente de agir para conter 

a pandemia. O presidente também proferiu conhecidas teses negacio

nistas com relação à imunidade de rebanho, repetindo exaustivamente 

que os brasileiros somente estariam protegidos da infecção depois que 

uma porcentagem entre 60-70% da população tivesse sido contamina

da. Segundo o site, essa narrativa foi enunciada por 34 vezes a fim de 

desacreditar a importância do isolamento social como forma preven

tiva eficaz de contenção da pandemia, medida que foi imediatamente 

politizada segundo o argumento de que seria desnecessária, ineficaz, 

geraria pânico e, finalmente, agravaria a crise econômica, com o que se 

pretenderia desestabilizar o Governo Federal. Bolsonaro foi também o 

principal defensor do uso da Cloroquina no Twitter, repetindo a infor

mação de que o medicamento seria eficaz por 21 vezes. Em 9 vezes, o 

Presidente afirmou que a Cloroquina seria o único tratamento existente 

contra a Covid-19, ao passo em que noutras 11 vezes admitiu não haver 

comprovação científica de que o medicamento fosse eficaz, apostando, 

entretanto, que melhor seria fazer uso dele do que não o fazer. Como 

diversos negacionistas, Bolsonaro fundamentou suas afirmações em 

estudos médicos observacionais, considerados de menor confiabilida

de, bem como se amparou na sua própria experiência individual como 

usuário do medicamento. Considere-se, finalmente, que as declarações 

negacionistas de Bolsonaro quanto à pandemia foram feitas em lives e 

entrevistas divulgadas nas redes sociais, alcançando com rapidez mi

lhões de cidadãos e multiplicando seu impacto de maneira exponencial.

 Vejamos agora um apanhado significativo das declarações nega

cionistas de Bolsonaro sobre a pandemia e sobre as maneiras de lidar 

com os riscos da doença: “Depois da facada, não vai ser uma gripezi

nha que vai me derrubar” (20.03.20); “Não estou acreditando nesses nú

meros” (27.03.20); “Eu desconheço qualquer hospital que esteja lotado” 

(02.04.20); “Esse vírus é igual a uma chuva, vai molhar 70% de vocês” 

(03.04.20); “Cada vez mais o uso da cloroquina se apresenta como algo 

eficaz” (08.04.20); “Parece que está começando a ir embora a questão 

do vírus” (12.04.20); “Não tem que se acovardar com esse vírus na fren

te” (18.04.20); “É uma neurose. 70% da população vai pegar o vírus” 

(09.05.20); “Lockdown não dá certo” (14.05.20); “O pessoal que reclama 

da cloroquina, então dê alternativa” (02.06.20); “Ou a OMS trabalha 

sem viés ideológico, ou vamos estar fora” (05.06.20); “Houve um super

dimensionamento” (07.07.20); “A maioria da população brasileira con

trai o vírus e não percebe” (07.07.20); “Se não temos alternativa, vamos 

com a hidroxicloroquina” (18.07.20); “Não precisa ter pavor no tocante 

ao vírus” (23.07.20); “Efeito colateral (da economia) é mais grave que o 

próprio vírus” (06.08.20); “Quem não quer tomar cloroquina, não tente 

proibir” (06.08.20)13 (Ribeiro; Cunha, 2020). 

O site Aos Fatos também levantou a informação de que entre 15 

de março e 2 de agosto o Presidente se deixou fotografar ou filmar em 

público por 30 vezes, desobedecendo a indicação da comunidade cien

tífica quanto à importância do isolamento social. Mais recentemente, 

no dia 19.08.20, Bolsonaro declarou que o uso de máscaras tem eficácia 

Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 45, n. 4, e109146, 2020. 

13

Negação da Política e Negacionismo como Política

 quase nula14 (Bolsonaro diz que máscara..., 2020, online), ao passo em 

que no dia 24.08.20 afirmou que “[Se a cloroquina] não tivesse sido po

litizada, muito mais vidas poderiam ter sido salvas dessas 115 mil que 

o país perdeu até o momento15” (Bolsonaro diz que cloroquina..., 2020, 

online). Já no dia 3 de setembro afirmou que “[...] tem muito médico di

zendo que essa máscara não protege nada, bulhufas16” (Lacerda, 2020). 

Finalmente, com o avanço das pesquisas e testagens de novas vacinas, 

apareceram declarações politizando a não obrigatoriedade da vacina

ção contra a Covid-19, bem como recusando a vacina chinesa Corona

vac. No dia 19/10 o Presidente declarou: “Hoje em dia, pelo menos me

tade da população diz que não quer tomar essa vacina. Isso é direito 

das pessoas. Ninguém pode, em hipótese alguma, obrigá-las a tomar 

essa vacina17” (Carvalho; Uribe; Cancian, 2020). Subindo o tom das de

clarações e da própria politização da questão, em 21.10.20 Bolsonaro 

desautorizou seu Ministro da Saúde, que pouco antes havia anunciado 

a assinatura de um protocolo de intenções com o Governo de São Paulo 

para a compra de 46 milhões de doses da vacina chinesa, desenvolvida 

em parceria com o Instituto Butantã. Disse Bolsonaro: “Já mandei can

celar. O Presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade. [...]. Até 

porque estaria comprando uma vacina que ninguém está interessado 

nela, a não ser nós18” (Andrade, 2020). Tais declarações, ao politizarem 

grosseiramente o assunto, visam a produzir dúvidas e incertezas na 

população, ao mesmo tempo em que alimentam movimentos negacio

nistas contra a validade da prática da vacinação em geral. Como vimos 

anteriormente, este é um uso peculiar da noção de liberdade individual, 

utilizado em sentido contrário à defesa do valor democrático da prote

ção da saúde da população, especialmente em tratando de uma doença 

altamente contagiosa e potencialmente letal.

 Esse compêndio de declarações presidenciais parece indicar que 

o negacionismo ultrapassou, em muito, o plano da mera difusão de opi

niões pessoais, transformando-se em estratégia política de gestão da 

pandemia e das condições de vida da população, na ausência de políti

cas públicas sanitárias coerentes. A consequência direta dessa intensa 

disseminação de teses negacionistas no país foi a criação de uma at

mosfera social nebulosa, permeada por fanatismos, dúvidas e incerte

zas. Em meio à confusão produzida pelo negacionismo como política, as 

recomendações científicas visando à prevenção da disseminação do ví

rus foram rechaçadas incondicionalmente pelo Governo Federal, sem

pre que se mostraram contrárias aos interesses políticos e econômicos 

imediatos defendidos pelas autoridades. Por outro lado, recomendações 

médicas desprovidas de comprovação científica foram aceitas incondi

cionalmente, sempre que atenderam àqueles mesmos interesses políti

cos e econômicos, como no caso da propaganda indiscriminada a favor 

do uso da Cloroquina, de sua fabricação pelo Exército brasileiro, além 

da difusão de desinformação quanto a outros medicamentos também 

desprovidos da devida comprovação científica, como vermífugos, den

tre outras formas de tratamento não convencional, para o tratamento 

dos efeitos do vírus. Como imaginar que, sob tais condições, a popula

ção brasileira pudesse se comportar de maneira a não se expor ao ris

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 Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 45, n. 4, e109146, 2020. 

Duarte; César

 co da contaminação e da morte? Foi, portanto, num contexto em que o 

negacionismo como política ocupou o vazio decorrente da ausência de 

políticas públicas organizadas para prevenir a difusão do vírus no país, 

que chegamos à cifra de mais de 150 mil mortos por Covid-19, ao longo 

de sete meses de pandemia. 

O Agravamento da Crise da Democracia Brasileira 

Durante a Pandemia

 Como vimos, o negacionismo não é um fenômeno social histori

camente recente, assim como a negação da política, enquanto estratégia 

de marketing e autopromoção de candidatos, tampouco é novidade en

tre nós. O que é novo no cenário político brasileiro recente é não apenas 

que a negação da política e o próprio negacionismo tenham se trans

formado em políticas determinadas, mas também que elas tenham se 

articulado e se intensificado até o ponto de se converterem em traços 

distintivos do governo Bolsonaro durante a pandemia do novo Coro

navírus. Esta associação de estratégias políticas heterodoxas durante 

a pandemia também ofereceu a Bolsonaro a oportunidade de genera

lizar e fortalecer o conservadorismo mais focado que vinha orientando 

sua fabricação de inimigos internos, no contexto da deslegitimação das 

políticas pregressas de reconhecimento de direitos a populações his

toricamente marginalizadas, como pobres, negras, mulheres, LGBTI+, 

indígenas, populações tradicionais, etc. Durante a pandemia, Bolsona

ro converteu as estratégias da negação da política e do negacionismo 

como política em armas eficazes de autopromoção e autopreservação 

políticas e, até o momento, ele parece ter levado a melhor. A despeito de 

suas desastrosas consequências sociais e políticas, a revolta e a indig

nação contra seus mandos e desmandos durante a pandemia parecem 

ter arrefecido ou mesmo desaparecido, em comparação com o que vi

nha ocorrendo até meados de junho-julho de 2020: sumiram os panela

ços, bem como desapareceram as incipientes tentativas de mobilização 

popular contra as ações e omissões do Governo Federal. Como compre

ender essa situação política um tanto paradoxal?

 Na conclusão deste ensaio, gostaríamos de propor a hipótese de 

que a associação das estratégias da negação da política e do negacionis

mo como política teria produzido no país certo efeito de anestesia cole

tiva. Ao que parece, um dos efeitos políticos da prolongada exposição da 

população às declarações reiteradas, pelas quais o Presidente minimi

zou as consequências drásticas da pandemia, bem como ignorou a dor 

e o luto pelas mortes, pode ter sido a extenuação e o cansaço coletivos, 

como se as pessoas deixassem de aguardar por cuidado e consideração, 

e por medidas efetivas de combate, prevenção e esclarecimento contra 

a pandemia, e decidissem que era chegada a hora de seguir adiante. Ao 

fazê-lo, e nada seria mais compreensível do que agir deste modo sob 

tais condições, todos nos adequamos àquela atitude que já havia sido 

sugerida pelo próprio chefe do Executivo quando o número de mortos 

beirava a casa dos 100 mil, no início de agosto: “vamos tocar a vida”19 

Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 45, n. 4, e109146, 2020. 

15

Negação da Política e Negacionismo como Política

 (Vamos..., 2020, online). Some-se a esse quadro de extenuação coletiva 

o fato de que a televisão baixou o tom das denúncias e das reportagens 

envolvendo as mortes por Covid-19, substituindo as reportagens in loco 

nos hospitais e cemitérios pela fria apresentação de gráficos relativos à 

média móvel de mortos e contaminados, apresentados de maneira só

bria e protocolar. Acrescente-se também ao quadro a tardia chegada do 

auxílio emergencial a mais de 60 milhões de brasileiros, aspecto que 

também teve seu papel na disseminação de um clima artificial de nor

malidade entre os brasileiros. Neste estranho contexto político e social, 

parece que a articulação daquelas duas estratégias logrou produzir a 

naturalização do absurdo, isto é, a banalização das mortes e a sedimen

tação da clivagem histórica que, entre nós, vem separando desde longa 

data as vidas que valem mais daquelas que valem menos e daquelas que 

podem mesmo ser descartadas por meio de sua máxima exposição ao 

risco de contaminação e de morte. 

Por fim, pensemos também, e sobretudo, no possível efeito políti

co implicado na privação da possibilidade de exercer o luto pela perda 

dos entes queridos, condição altamente estressante a que todos fomos 

submetidos durante a pandemia. Estimativas de estudos epidemioló

gicos calculam que cada morte atinja emocionalmente pelo menos até 

outras 6 pessoas, o que nos dá uma ideia da extensão do trauma na

cional com a altíssima taxa de mortalidade pelo vírus20 (Oliveira, 2020). 

Como observou argutamente Carla Rodrigues (2020), refletindo sobre o 

significado do luto na obra de Judith Butler (2004b), “[...] o direito ao luto 

se dá como forma de luta política” (p. 61). Se esta ideia faz sentido, e nos 

parece que faz, então talvez se possa conjecturar até que ponto a priva

ção da possibilidade de exercer o luto não mantém relação com a nos

sa atual impossibilidade política de lutar contra o descaso do governo 

Bolsonaro durante a pandemia, quando a vida de todos foi considerada, 

de maneira explícita ou implícita, como descartável ou como de pouca 

valia, isto é, como não merecedoras de luto. E não nos esqueçamos de 

que, num país desigual como o Brasil, tal condição de precariedade já 

está imposta, desde antes do nascimento e da morte, a amplas parcelas 

da população. 

A reflexão sobre o luto ganha maior desenvolvimento e proemi

nência na obra de Butler (2004a) em conexão com a noção de preca

riedade, formulada e desenvolvida a partir de Precarious Life, obra na 

qual a autora refletiu sobre o problema da guerra contra o terrorismo 

islâmico levada a cabo pelos Estados Unidos, após o ataque às Torres 

Gêmeas em 11 de setembro de 2001. Este acontecimento dramático 

está na raiz de suas reflexões sobre a precariedade, a vulnerabilidade 

e a interdependência enquanto condições intrínsecas à vida humana 

e não-humana na Terra. Ao pensar sobre a condição da precariedade e 

da vulnerabilidade, bem como ao criticar a desigualdade socialmente 

induzida na partilha global entre as vidas passíveis de serem enlutadas 

e as vidas descartáveis ou desprovidas de valor, Butler deu ensejo à for

mulação de uma interrogação ético-política que conferiu importância 

política ao luto. Ela se pergunta: de que modo a clivagem entre as vi

16

 Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 45, n. 4, e109146, 2020. 

Duarte; César

 das dignas de luto e as vidas indignas de luto, as quais são consideradas 

como inumanas, “[...] opera de maneira a produzir e manter algumas 

concepções excludentes acerca de quem é humano em sentido norma

tivo: o que conta como vida vivível e como morte que se deve velar?” 

(Butler, 2004a, p. xiv-xv). A partir da noção de precariedade, entendida 

tanto numa chave ontológico-existencial (todos estamos sujeitos à vio

lência, à agressão, ao sofrimento, à violência e à morte), quanto numa 

chave sócio-política (algumas vidas estão mais sujeitas aos efeitos de 

violência e morte produzidos pela desigualdade no acesso às infraes

truturas sociais e econômicas de proteção da vida), Butler fez de nossa 

capacidade para velar e chorar a morte dos outros uma instância privi

legiada para a reflexão ético-política acerca do que significa viver em 

um mundo comum, no qual todos dependemos mutuamente de outros, 

de sorte que se tenha de afirmar o dever de combater o espraiamento da 

violência e da desigualdade. 

Foi a partir dessa reflexão sobre o luto, tão oportuna num país 

que acabava de sofrer o trauma do terrorismo internacional, que Butler 

estabeleceu uma interessante relação entre o luto e a questão da comu

nidade política: “Muitas pessoas pensam que o luto é privado, que ele 

nos traz de volta a uma situação solitária, mas eu penso que ele expõe a 

socialidade constitutiva do eu, uma base para pensar uma comunida

de política de ordem complexa” (Butler, 2004b, p. 19). Temos aqui uma 

noção sumamente importante para refletir sobre os impactos políticos 

envolvidos na impossibilidade de organizarmos rituais fúnebres, velar

mos e chorarmos coletivamente nossos mortos. Se faz sentido pensar 

que o luto revela não apenas a dimensão crucial da perda do outro, mas 

também o fato de que há os outros que coparticipam dessa perda, além 

de todos os outros que nos são desconhecidos, mas sem os quais nossa 

vida se tornaria insustentável, impossível, então, talvez possamos supor 

que a privação da experiência dos rituais fúnebres e a privação da pos

sibilidade de chorar coletivamente nossos mortos tenha forte impacto 

político sobre a comunidade. De fato, é difícil haver ação política sob 

condições que acentuam, além do suportável, a experiência do medo, 

da insegurança, da perda de contato consigo mesmo e com os outros? 

Ao mesmo tempo em que a fragilidade de cada um foi acentuada ao 

máximo, tornando ainda mais insuportáveis as condições de vida da 

maioria da população, já historicamente submetida a processos de vul

neração e precarização socialmente induzidos, também se nos impôs a 

impossibilidade de nos reunirmos, de estarmos juntos, em júbilo, rai

va ou tristeza, para lutarmos coletivamente por melhores condições de 

vida. 

Talvez tais considerações possam esclarecer, ao menos em parte, 

porque, quanto mais foi aumentando o número de mortos pela pande

mia do novo Coronavírus no Brasil, tanto mais silencioso e abafado foi 

se tornando o sentimento de indignação, assim como cada vez menos se 

encontraram canais abertos para a manifestação pública do sentimen

to de indignação. A conjugação das estratégias da negação da política e 

do negacionismo como política parece ter resultado na disseminação 

Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 45, n. 4, e109146, 2020. 

17

Negação da Política e Negacionismo como Política

 por todo o país de um misto de amargos sentimentos de impotência e 

de resignação. De fato, tais sentimentos têm sido estimulados desde o 

princípio pela reiteração da mesma gélida indiferença presidencial em 

relação aos mortos e à dor das famílias: “E daí? Lamento. Quer que eu 

faça o quê?” dissera o Presidente em abril, quando o número de mortos 

estava na casa dos 5 mil. Ao que parece, aquelas escandalosas declara

ções presidenciais revelaram agora a sua finalidade: reprimir e descon

siderar a indignação e o protesto organizado, tornar-nos familiarizados 

com a naturalização das mortes, trivializar a perda de tantas vidas, bem 

como silenciar todos aqueles que ainda permanecem por aqui, induzin

do-nos a nos salvar individualmente, enquanto ainda podemos fazê-lo. 

Quanto tempo durará tudo isso? Ninguém o sabe, mas, não nos esque

çamos de que não há sofrimento intenso que possa se manter calado.

 Recebido em 21 de outubro de 2020

 Aprovado em 19 de novembro de 2020

 Notas

 1 Cf. Disponível em: <https://epoca.globo.com/as-ideias-os-valores-de-bolso

naro-em-100-frases-23353141>. Acesso em: 23 set. 2020.

 2 Cf. Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/politica/bolsonaro-em

25-frases-polemicas/>. Acesso em: 23 set. 2020.

 3  Cf. Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/politica/bolsonaro-em

25-frases-polemicas/>. Acesso em: 23 set. 2020.

 4 Cf. Disponível em: <https://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2019-08-07/

 declaracoes-polemicas-bolsonaro.html>. Acesso em: 23 set. 2020.

 5 Cf. Disponível em: <https://folhasul.com.br/site/2020/04/19/nos-nao-vamos

negociar-nada-chega-de-patifaria-diz-bolsonaro-em-discurso-a-apoiado

res/>. Acesso em: 23 set. 2020.

 6 Cf. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/10/09/vice-ha

milton-mourao-diz-que-governo-lidou-muito-bem-com-a-pandemia.ghtml>. 

Acesso em: 23 set. 2020.

 7 No Brasil, Tatiana Roque tem promovido uma importante discussão acerca do 

negacionismo climático em sua relação com a ascensão ao poder de governan

tes vinculados à extrema-direita. Veja-se o seu artigo O negacionismo no poder. 

Revista Piauí, fev. 2020b. Mais recentemente, já no âmbito da pandemia do novo 

Coronavírus, ela foi uma das primeiras teóricas a compreender a importância 

que Bolsonaro atribuiu ao negacionismo como forma de governamento. Cf. 

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=52wP-CPFIOs>. Acesso 

em: 23 set. 2020.

 8 Pesquisa Ibope divulgada em 24 de setembro de 2020 indica que 40% da popu

lação aprovam o governo de Bolsonaro. Cf. Disponível em: <https://jovempan.

 com.br/noticias/brasil/popularidade-jair-bolsonaro-maior-percentual-desde

o-inicio-do-mandato.html>. Acesso em: 23 set. 2020.

 9 Cf. O Negacionismo no Poder, op.cit.

 10 Swako, José. O Que Nega o Negacionismo?. In: A Terra é Redonda, 2020. Cf. 

Disponível em: <https://aterraeredonda.com.br/o-que-nega-o-negacionis

mo/#_edn4>. Acesso em: 21 set. 2020.

 18

 Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 45, n. 4, e109146, 2020. 

Duarte; César

 11 Giacoia, Oswaldo. E se o erro, a fabulação, o engano revelarem-se tão es

senciais quanto a verdade? In Jornal Folha de São Paulo, Caderno Ilustrís

sima de 19.02.2017. Cf. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/

 ilustrissima/2017/02/1859994-e-se-o-erro-a-fabulacao-o-engano-revelarem

se-tao-essenciais-quanto-a-verdade.shtml>. Acesso em: 21 set. 2020.

 12 Cf. Disponível em: <https://www.aosfatos.org/noticias/bolsonaro-deu-656

declaracoes-falsas-ou-distorcidas-sobre-covid-19-em-seis-meses-de-pande

mia/>. Acesso em: 17 set. 2020.

 13 Cf. Disponível em: <https://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2020-08-08/

 veja-cem-momentos-em-que-jair-bolsonaro-minimizou-a-covid-19.html>. 

Acesso em: 17 set. 2020.

 14 Cf. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/re

dacao/2020/08/19/bolsonaro-mascara-eficacia.htm>. Acesso em: 17 set. 2020.

 15 Cf. Disponível em: <https://www.correiodopovo.com.br/not%C3%ADcias/

 pol%C3%ADtica/bolsonaro-diz-que-cloroquina-teria-salvado-vidas-perdidas

na-pandemia-1.469793>. Acesso em: 17 set. 2020.

 16 Cf. Disponível em: <https://www.brasildefato.com.br/2020/09/04/125-mil

mortos-bolsonaro-desestimula-uso-de-mascara-de-protecao-contra-a

covid>. Acesso em: 17 set. 2020.

 17 Cf. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/10/

 nao-sera-obrigatoria-esta-vacina-e-ponto-final-afirma-bolsonaro-sobre

coronavac.shtml>. Acesso em: 21 set. 2020.

 18 Cf. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/

 redacao/2020/10/21/bolsonaro-cancela-acordo-por-coronavac-nao-abro

mao-da-minha-autoridade.htm?utm_source=facebook&utm_medium=social

media&utm_campaign=noticias&utm_content=geral&fbclid=IwAR0Zvwyh

 P5Nce6dFzPAbWNk05JSszGMidFgB49EUxIngdIH7ujZMO0qfYGU>. Acesso 

em: 22 set. 2020.

 19 Cf. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/

 redacao/2020/08/06/vamos-chegar-a-100-mil-mortos-mas-vamos-tocar-a

vida-diz-bolsonaro.htm>. Acesso em: 22 set. 2020.

 20 Cf. Disponível em: <https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/

 noticia/2020/05/01/a-cada-morte-por-coronavirus-seis-a-dez-pessoas-sao

impactadas-pela-dor-do-luto-dizem-especialistas.ghtml>. Acesso em: 19 set. 

2020.

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21

Negação da Política e Negacionismo como Política

 VAMOS chegar a 100 mil mortos, mas vamos tocar a vida’, diz Bolsonaro. UOL, 

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dacao/2020/08/06/vamos-chegar-a-100-mil-mortos-mas-vamos-tocar-a-vida

diz-bolsonaro.htm>. Acesso em: 17 out. 2020. 

André de Macedo Duarte é Professor Titular do Departamento de Filosofia 

da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Brasil. É Professor do Programa 

de Pós-Graduação em Filosofia da UFPR e do Programa de Pós-Graduação 

em Educação da UFPR. Bolsista de Produtividade do CNPq 1-C.

 ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8401-0032

 E-mail: andremacedoduarte@yahoo.com.br

 Maria Rita de Assis César é Professora Titular do Departamento de Teoria 

e Prática de Ensino da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Brasil. É 

Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPR. Bolsista 

de Produtividade do CNPq 2.

 ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5843-2899

 E-mail: mritacesar@yahoo.com.br

 Editor-responsável: Carla Vasques

 Este é um artigo de acesso aberto distribuído sob os termos de uma Licen

ça Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional. Disponível em: <http://

 creativecommons.org/licenses/by/4.0>.. O artigo dos  autores André de Macedo DuarteI            e   Maria Rita de Assis César.

Vimos com 800. 000 mortos na pandemia da Covid 19. Aonde a negação da politica vai parar no Brasil. 

Confira no Jornal Estado de São Paulo                       .https://www.estadao.com.br/podcasts/estadao-analisa/todos-unidos-pelo-fundao-eleitoral-onde-nao-tem-racha-nem-paralisia-estadao-analisa/



E assim caminha a humanidade e.

Imagem ; Blog do Contúcio. 

 




 


 


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