O mérito individual refere-se à qualidade, valor ou aptidão atribuída a uma pessoa com base em seus próprios atos, esforços, habilidades e realizações. É a ideia de que o sucesso, o reconhecimento ou as recompensas de um indivíduo são resultados diretos de seu empenho e capacidade pessoal.
Conceito e Significado
Origem e Definição: A palavra "mérito" vem do latim meritus, que significa "merecer" ou "ganhar". No contexto individual, significa que alguém é digno de louvor, destaque ou gratidão por suas ações ou desempenho.
Oposto à Meritocracia: É importante diferenciar "mérito" de "meritocracia". O mérito é um conceito individual, enquanto a meritocracia é um sistema social ou ideologia que defende que a distribuição de poder e recursos deve ser baseada unicamente no mérito individual (habilidades e esforço).
Debates e Críticas
O conceito de mérito individual é frequentemente objeto de debate, especialmente na sociologia, devido à influência de fatores sociais e contextuais:
Influência Social: Críticos argumentam que todo mérito individual é, em parte, socialmente construído. Fatores como a classe social de origem, acesso à educação de qualidade, oportunidades e até mesmo a rede de contatos (networking) impactam significativamente o ponto de partida de um indivíduo e suas chances de sucesso, independentemente do esforço pessoal.
Oportunidades Desiguais: Pessoas de diferentes origens não possuem as mesmas oportunidades ou "berço", o que significa que podem ter que se esforçar muito mais para alcançar o mesmo objetivo que alguém com mais privilégios.
Reconhecimento do Esforço: Compreender a influência social não significa desconsiderar o esforço individual, mas reconhecer que ele não é o único responsável pelo sucesso de uma pessoa.
O mérito individual valoriza as qualidades e o esforço de uma pessoa, mas a sua eficácia ou justiça como único critério para a ascensão social é amplamente debatida, pois ignora as desigualdades estruturais da sociedade.
Confir o artigo das autoras Mirela Marin Morgante e Maria Beatriz Nader
O patriarcado nos estudos feministas: um debate teórico
Mirela Marin Morgante 1
Maria Beatriz Nader 2
No campo dos estudos feministas, o termo patriarcalismo foi comumente utilizado para
explicar a condição feminina na sociedade e as bases da dominação masculina. As
abordagens, contudo, se mostraram bastante heterogêneas e controversas, a ponto de algumas
intelectuais optarem por não fazerem uso do conceito. Diante deste quadro conflituoso e
carente de coerência teórica, este artigo pretende realizar um esclarecimento do conceito. Para
tanto, procurar-se-á demonstrar os argumentos daqueles que propugnam e dos que não
advogam pelo uso de patriarcado nas pesquisas feministas, evidenciando algumas das linhas
interpretativas do conceito.
Mary G. Castro e Lena Lavinas fazem parte do rol das intelectuais que refutam a necessidade
teórica do uso do termo patriarcado. Para as autoras, o conceito é usado nos textos e obras na
sua forma adjetiva – como família patriarcal ou ideologia proletária e patriarcal – em
detrimento da referência ao patriarcado na sua forma substantiva – como um sistema, uma
organização ou uma sociedade patriarcal. Segundo elas, a forma adjetiva como amiúde é
usado, remete ao conceito weberiano de patriarcalismo, ou seja, “trata-se de um tipo de
dominação em que o senhor é a lei e cujo domínio está referido ao espaço das comunidades
domésticas ou formas sociais mais simples, tendo sua legitimidade garantida pela tradição”
(CASTRO; LAVINAS, 1992: 237). O patriarcado em Weber se refere a um período anterior
ao advento do Estado, sendo, portanto, inadequado falar em patriarcalismo nas sociedades
capitalistas.
1Mestranda do programa de pós-graduação em História Social das Relações Políticas da Universidade Federal
do Espírito Santo. Vitória, Brasil. Bolsista da FAPES (Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo).
2Professora Associada do Programa de pós-graduação mestrado e doutorado em História Social das relações
Políticas da UFES. Vitória. Brasil.
Quando se considera o patriarcado sob o prisma weberiano, é patente a ineficácia do conceito
para problematizar as relações de gênero na sociedade contemporânea. Como aponta Heleieth
Saffioti, as feministas da segunda onda, radicais ou marxistas, ao denunciar a dominação
patriarcal, faziam-no negligenciando o termo conforme a definição de Weber (SAFFIOTI,
2011). Ou seja, pode-se falar em patriarcado sem remeter a Weber, em uma formulação mais
abrangente e mais adaptada à complexidade das relações e instituições na contemporaneidade.
Castro e Lavinas alegam ainda, que as feministas se utilizam do termo patriarcado de maneira
heterogênea e sem concordância conceitual, exceto no que tange à referência de patriarcado
enquanto o poder e a dominação dos homens sobre as mulheres. Elas acrescentam, “para
algumas, ele se dá ao nível da família, para outras, num plano mais geral, na relação com o
Estado” (CASTRO; LAVINAS, 1992: 237). E as autoras concluem: “[...] parece-nos correto
afirmar que ele perde seu estatuto de conceito para firmar-se como uma referência implícita e
sistemática da dominação sexual” (CASTRO; LAVINAS, 1992: 238).
Segundo Christine Delphy, há mesmo uma falta de unanimidade quanto à utilização do
conceito de patriarcado entre as feministas, e as dessemelhanças nas funções atribuídas ao
termo nas diversas análises são reveladoras das clivagens mais elementares existentes no
interior do movimento feminista. Para as feministas socialistas a opressão das mulheres se
deve, em última instância, ao capitalismo, e seus beneficiários são os capitalistas, enquanto
para as feministas radicais a opressão feminina deve-se a um sistema diferente e original – o
sistema patriarcal – e seus beneficiários são os homens como uma categoria social (DELPHY,
1981). Para Heleieth Saffioti há ainda uma clivagem no interior do feminismo marxista, entre
aqueles que acreditam ser o patriarcado uma “[...] organização social de gênero autônoma,
convivendo, de maneira subordinada, com a estrutura de classes sociais” (SAFFIOTI, 1992:
194) – exatamente como as feministas socialistas apontadas por Delphy – e os que
consideram o patriarcado somente uma ideologia, de forma adjetivada. Mas a
desconformidade na maneira como se faz referência ao conceito nos estudos feministas não é
um problema para o uso do termo, desde que ele seja devidamente precisado.
Quanto aos níveis, apontados por Castro e Lavinas, nos quais os estudos feministas variam em
utilizar o termo patriarcado, é justamente pela possibilidade do conceito ser utilizado de
forma abrangente, abarcando todos os níveis da organização social, que patriarcado no seu
sentido substantivo é tão frutífero para analisar as diversas situações de dominação e
exploração das mulheres. O uso de patriarcado enquanto um sistema de dominação dos
homens sobre as mulheres permite visualizar que a dominação não está presente somente na
esfera familiar, tampouco apenas no âmbito trabalhista, ou na mídia ou na política. O
patriarcalismo compõe a dinâmica social como um todo, estando inclusive, inculcado no
inconsciente de homens e mulheres individualmente e no coletivo enquanto categorias sociais.
Mary Castro e Lena Lavinas criticam o uso do termo patriarcado conforme Weber, de
domínio de um patriarca sobre toda a comunidade doméstica ou econômica, em um sentido
adjetivo do conceito. Nesta perspectiva, realmente o termo é ineficaz para tratar das famílias
contemporâneas, muito diferentes das famílias consideradas por Weber, e ainda mais ineficaz
quando o patriarcado weberiano é utilizado para abordar os outros níveis do corpo social.
Além disso, as autoras apelam para a heterogeneidade no uso do conceito pelas feministas,
para justificar sua opção por não fazer referência a ele nos seus estudos de gênero. Mas a falta
de concordância conceitual não diminui a eficácia do uso de patriarcado para analisar as
questões referentes às mulheres, desde que o conceito seja bem precisado.
Elisabeth Souza Lobo, por sua vez, também prefere não utilizar o conceito patriarcalismo em
suas pesquisas. Discorrendo sobre algumas abordagens do trabalho feminino na Sociologia do
Trabalho e na História Social, ela esclarece que uma parcela da produção acadêmica brasileira
que abordou a divisão sexual do trabalho, relacionou esta questão com o patriarcado (LOBO,
1992). Nestas perspectivas, a ordem patriarcal seria uma estrutura determinante da divisão
sexual do trabalho, levando-se em conta as diferenças históricas dessa divisão. O
patriarcalismo estaria, assim, na base da divisão sexual do trabalho, dando início a ela, e
surge, por sua vez, dos fundamentos materiais da sociedade. “Ou, o que me parece seguir um
raciocínio semelhante: as relações sociais organizam as divisões da sociedade, e a divisão
sexual do trabalho é um locus fundamental das relações entre os sexos” (LOBO, 1992: 259).
Para a autora, o conceito patriarcado como é utilizado pressupõe ligações de determinação
estrutural, negligenciando as relações históricas e as construções culturais da divisão sexual
do trabalho. Nesse sentido, o uso do conceito acarreta em um padrão de percepção feminista
de base-superestrutura, de estruturas definitivas e imutáveis, em detrimento da concepção das
relações entre os sexos como relações mutáveis e historicamente definidas, isto é, inseridas
em culturas e sociedades específicas que estabelecem ligações recíprocas e antagônicas entre
mulheres e homens (LOBO, 1992). Assim, Lobo afirma não concordar com a utilização do
conceito de patriarcado, preferindo o termo gênero para tratar da divisão do trabalho entre os
que são vividos e pensados como sendo mulheres e homens, em uma relação social e
simbólica sem qualquer dinâmica determinante. Como ela coloca: “neste sentido, a divisão
sexual do trabalho é um dos muitos locus das relações de gênero” (LOBO, 1992: 260).
A perspectiva na qual a divisão sexual do trabalho é consequência de uma estrutura patriarcal
determinante, isto é, a percepção teórica de base e superestrutura, evidencia uma das possíveis
interpretações do conceito de patriarcado, provavelmente uma interpretação de filiação
marxista. Como já foi observado, para Saffioti, o feminismo marxista pode ser dividido entre
aqueles que admitem a subordinação do patriarcado ao sistema capitalista – as socialistas de
Delphy – e aqueles que se utilizam do conceito patriarcado unicamente na forma de ideologia – que parece ser o caso da visão de base e superestrutura (SAFFIOTI, 1992).
A postura teórica do patriarcado como uma ideologia se insere do grupo dos estudos
feministas que utilizam o termo no sentido adjetivo – ideologia patriarcal. Para Christine
Delphy, a forma adjetiva do conceito de patriarcado é um uso clássico do termo, pode-se
dizer que é um uso pré-feminista de patriarcado, muito presente na literatura do século XIX,
que dava ao conceito “[...] connotations psychologisantes et biologisantes” (DELPHY, 1981:
62-63). 3 Para a autora, tanto Marx quanto Victor Hugo utilizavam o termo na forma adjetiva
e, por consequência, com um sentido positivo (DELPHY, 1981). Como ela aponta, “le
patriarcat est, dans cet usage, une espèce de noyau à la fois inexplicable et irréductible de la
«nature humaine»” (DELPHY, 1981: 63).4 Assim, no sentido adjetivo, o conceito adquire o
caráter de natureza humana e, enquanto tal, sua existência é inevitável e sem explicação
precisa. E Delphy acrescenta, “[...] il est vu comme une structure mentale a-historique,
produite non par une ou des sociétés concrètes, mais par la Société. En effet, il est presente
comme étant la base même de la constitution de toute société” (DELPHY, 1981: 63). 5 Isto é,
3“[...] conotações psicologizantes e biologizantes”. Tradução nossa.
4“O patriarcado é, nesse uso, uma espécie de núcleo tanto inexplicável quanto irredutível da natureza humana”.
Tradução nossa.
5“Ele é visto como uma estrutura mental a-histórica, produzida não por uma ou mais sociedades concretas, mas
pela Sociedade. Com efeito, ele é apresentado como estando na base mesma da constituição de toda sociedade”.
Tradução nossa.
a referência clássica ao patriarcado, evidencia-o como uma estrutura mental natural de
constituição da sociedade como um todo.
Carole Pateman explica que essa concepção de patriarcado, segundo a qual ele é a gênese de
constituição de toda a vida social, um atributo universal da sociedade humana, é uma
concepção literal – de governo do pai, paterno – e genérica de patriarcado, estritamente
relacionada com o pressuposto de que as relações sociais patriarcais se referem à família
(PATEMAN, 1993). Como afirma a autora, para as interpretações literais do conceito de
patriarcado, “a gênese da família (patriarcal) é frequentemente entendida como sinônimo da
origem da vida social propriamente dita, e tanto a origem do patriarcado quanto a da
sociedade são tratadas como sendo o mesmo processo” (PATEMAN, 1993: 43).
Nesta perspectiva, como já explicitado por Delphy, o patriarcado assume um caráter natural e
positivo, na medida em que foi necessário – e natural – o seu advento para o paralelo
nascimento da sociedade civil organizada. Para Pateman, segundo as primeiras histórias, no
início da história da humanidade – em uma época primitiva – imperava o direito materno, a
prática livre de relações sexuais impedia a visualização da linhagem paterna e a descendência
era então reconhecida por meio das mães (PATEMAN, 1993). A gênese da civilização se deu
com a vitória do pai, com o surgimento da família patriarcal. Assim, “o patriarcado foi um
triunfo social e cultural. O reconhecimento da paternidade foi interpretado como um exercício
da razão, um avanço necessário que forneceu as bases para a emergência da civilização –
todas elas realizações dos homens” (PATEMAN, 1993: 50). Daí o caráter positivo que o
patriarcado adquire quando é interpretado de forma literal, genérica e adjetivada.
É exatamente essa visão de patriarcado, enquanto uma estrutura definitiva, imutável, a
histórica, universal e com conotações biológicas, que Elisabeth Lobo critica nos estudos sobre
a divisão sexual do trabalho. Mas o conceito neste sentido está em sua forma adjetiva e, como
tal, apresenta-se realmente como uma estrutura determinante de todas as sociedades humanas,
cujo fundamento é natural e, por isso, muito difícil de mudar. O conceito de patriarcado deve
ser utilizado na forma substantiva, como um sistema de dominação e exploração das
mulheres, muito bem situado historicamente e geograficamente.
Lia Zanotta Machado critica o uso do termo patriarcado em seu sentido fixo, universal e
totalizante, mas afirma que não advoga pela sua não utilização. Para ela, é possível falar em
um patriarcado contemporâneo, na perspectiva de um não essencialismo, considerando as
mutações ocorridas ao longo do tempo e nos mais variados grupos sociais. Ou seja, para
Machado, existem relações patriarcais na contemporaneidade, mas estas devem ser muito bem
definidas “[...] em suas novas formas e na sua diversidade [...]” (MACHADO, 2000: 3).
Portanto, para a autora, diante das modificações nas relações de gênero, das contradições e
das transformações sociais que as sociedades ocidentais modernas vêm passando, pode-se
falar apenas em um patriarcado contemporâneo.
Contudo, apesar de não considerar inapropriado o uso do termo patriarcado contemporâneo,
a autora adverte que utilizá-lo significa empobrecer “[...] os sentidos contraditórios das
transformações [...]”, na medida em que ele tem um sentido totalizador que não dá conta das
mutações das relações de gênero do mundo moderno (MACHADO, 2000: 3). Isto porque,
para Machado, patriarcado diz respeito a uma forma de organização ou de dominação sociais,
cujo significado remete à matriz conceitual weberiana. Ela expõe a definição de
patriarcalismo em Weber, no qual o conceito se refere à dominação exercida por um
indivíduo – na maioria dos casos – em uma comunidade econômica ou familiar, conforme as
normas hereditárias próprias destes agrupamentos sociais (MACHADO, 2000: 3).
O patriarcalismo para Weber é um tipo ideal, ou seja, é um conceito que pode ser utilizado
para fazer alusão a qualquer organização social historicamente definida que tenha no patriarca
a autoridade central do grupo doméstico. Conforme Machado, “a autoridade familiar e
doméstica é que funda o patriarcado e implica uma determinada divisão sexual que Weber
denominava ‘normal’ [...]” (MACHADO, 2000: 3). Como um tipo ideal, o patriarcado
weberiano tem um sentido a-histórico, haja vista sua possibilidade de ser usado em diversos
momentos históricos para fazer referência à dominação exercida por um patriarca em uma
comunidade familiar ou econômica (MACHADO, 2000: 3).
Nesta perspectiva, Lia Zanotta Machado salienta que na sociedade contemporânea os direitos
paternais e sexuais não são naturalizados e legitimados da mesma maneira como o caso
típico-ideal weberiano, o que torna muito pouco adequado referir-se ao conceito de
patriarcado nas sociedades de princípios do século XXI. Para a autora, as relações sociais
contemporâneas são muito mais complexas e dinâmicas do que as comunidades familiais
weberianas, daí ser impróprio aplicar um conceito historicamente datado – que remete a uma
forma de organização social mais simples – às relações de gênero da contemporaneidade.
Como aponta Heleieth Saffioti, “[...] é grande o peso da esfera doméstica no conceito típico
ideal. Rigorosamente, também a dimensão econômica tem a marca familiar, pois o poder
patriarcal se organiza na economia de oikos” (SAFFIOTI, 1992: 194). Segundo Saffitoi, o
patriarcado enquanto um tipo-ideal weberiano não pode ser utilizado para fazer um exame
totalizante das relações de gênero contemporâneas.
Já foi apontada acima a impossibilidade do uso do patriarcado de Weber para analisar a
situação das mulheres na modernidade. Tanto é assim que a segunda onda do movimento
feminista fez referência ao termo sem nenhuma conotação weberiana, o que evidencia que ele
pode ser utilizado sem necessariamente referir-se ao tipo-ideal de Weber. Como salienta
Heleieth Saffioti, “a teoria weberiana é constituída por conceitos genéticos fechados, que não
admitem nem multivocidade, nem matizes. O termo patriarcado, contudo, não constitui
propriedade da teoria weberiana ou de filiação weberiana” (SAFFIOTI, 1992: 194). A autora
esclarece que o patriarcado pode ser concebido como um esquema de dominação e
exploração das mulheres, o que, por si só, significa um total distanciamento em relação ao
tipo-ideal weberiano (SAFFIOTI, 1992: 194). Ou seja, o conceito pode sim ser utilizado na
contemporaneidade, desde que ele seja redefinido e bem precisado.
As observações de Lia Zanotta Machado são muito pertinentes quanto às limitações do
conceito patriarcado para fazer referência às relações de gênero na contemporaneidade, mas
somente na medida em que ela o considera como sendo de matriz teórica weberiana.
Enquanto um tipo-ideal weberiano, o patriarcado se apresenta como a-histórico, fixo,
inflexível e natural. Mas não é nesse sentido que ele deve ser pensado para analisar a
dinâmica social de gênero da modernidade. A própria Machado admite a dominação
masculina na contemporaneidade “[...] sempre, no entanto, contestada em nome do
enraizamento social e cultural da legitimidade política do código dos direitos individuais à
igualdade e liberdade” (MACHADO, 2000: 16). Ela propugna, assim, o uso de dominação
masculina em detrimento de patriarcado para examinar as relações de gênero na sociedade
contemporânea.
Falar em dominação masculina, como o fez Pierre Bourdieu, é mesmo muito promissor para
abranger a dimensão simbólica, inconsciente e as representações sociais da dominação
masculina (BOURDIEU, 2010). Mas abordar somente a dominação, sem colocar em relevo a
exploração sofrida e vivenciada pelas mulheres, é subsumir uma dimensão significativa da
organização social de gênero da contemporaneidade. O conceito patriarcado permite
visualizar estes dois âmbitos, a dominação e a exploração das mulheres, que estão
estreitamente interligados.
Lia Zanotta Machado apresenta, todavia, uma alternativa promissora quando se pretende fazer
referência ao termo patriarcado na sociedade moderna atual: falar em um patriarcado
contemporâneo, o que possibilita situar historicamente patriarcado, considerando as
complexas transformações nas relações de gênero da sociedade moderna. Apesar de Machado
não advogar por seu uso, ela admite que o conceito seja utilizado em outros estudos
feministas desde que seja referido desta maneira – patriarcado contemporâneo – e muito bem
definido conceitualmente.
Carole Pateman, por seu turno, ao invés de fazer referência ao termo patriarcado
contemporâneo, se utiliza do conceito patriarcado moderno contrapondo-o ao argumento
patriarcal tradicional e à premissa patriarcal clássica. Para a autora, a história do contrato
social colocou em silencio profundo o contrato sexual, na medida em que “o contrato original
é um pacto sexual-social, mas a história do contrato sexual tem sido sufocada” (PATEMAN,
1993: 15). Pateman explica que o patriarcado moderno surgiu com o advento da sociedade
civil contratual, ou seja, com o estabelecimento do contrato original. A autora evidencia como
os teóricos do contrato social negligenciaram o contrato sexual e implementaram o
patriarcado moderno.
Por enquanto, contudo, importa salientar que “[...] não há nenhum bom motivo para se
abandonar os termos patriarcado, patriarcal e patriarcalismo. Grande parte da confusão surge
porque ‘patriarcado’ ainda está por ser desvencilhado das interpretações patriarcais de seu
significado” (PATEMAN, 1993: 39). Isto é, continua sendo muito frutífero analisar as
relações de gênero da sociedade contemporânea com a base conceitual de patriarcado,
particularmente referindo-se ao patriarcado moderno. Deve-se, contudo, realizar um
distanciamento das definições patriarcais de patriarcado, como a que interpreta o conceito
“[...] no seu sentido literal de governo do pai ou de direito paterno” (PATEMAN, 1993: 43).
Assim como é imperativo o afastamento em relação ao uso de patriarcado na sua forma
adjetiva e como tipo-ideal weberiano. Como destaca Pateman: “é urgente que se faça uma
história feminista do conceito de patriarcado. Abandonar o conceito significaria a perda de
uma história política que ainda está para ser mapeada” (PATEMAN, 1993: 40).
Referências
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. 9ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.
CASTRO, Mary G.; LAVINAS, Lena. Do feminino ao gênero: a construção de um objeto. In:
COSTA, Albertina de Oliveira; BRUSCHINI, Cristina. Uma questão de gênero. Rio de
Janeiro: Rosa dos tempos, 1992.
DELPHY, Christine. Le patriarcat, le féminisme et leurs intellectuelles. Nouvelles
Questions Féministes, n 2, Féminisme: quelles politiques? p. 58-74, out. 1981.
LOBO, Elisabeth Souza. O trabalho como linguagem: o gênero do trabalho. In: COSTA,
Albertina de Oliveira; BRUSCHINI, Cristina. Uma questão de gênero. Rio de Janeiro: Rosa
dos tempos, 1992.
MACHADO, Lia Zanotta. Perspectivas em confronto: relações de gênero ou patriarcado
contemporâneo? In: Sociedade Brasileira de Sociologia (Ed.) Simpósio Relações de Gênero
ou Patriarcado Contemporâneo, 52ª Reunião Brasileira para o Progresso da Ciência.
Brasília: SBP, 2000.
PATEMAN, Carole. O contrato sexual. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.
SAFFIOTI, Heleieth I. B. Rearticulando gênero e classe social. In: COSTA, Albertina de
Oliveira; BRUSCHINI, Cristina. Uma questão de gênero. Rio de Janeiro: Rosa dos tempos,
1992.
______. Gênero, patriarcado, violência. 2. ed. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo,
2011. O artigo das autoras Mirela Marin Morgante e Maria Beatriz Nader .
Os males de uma sociedade patriarcal nos tempos atuais afetam profundamente tanto mulheres quanto homens, perpetuando desigualdades de gênero, violência e limitações nos papéis sociais. Embora o sistema patriarcal enfrente desafios crescentes devido a movimentos sociais e mudanças culturais, sua influência ainda é sistêmica e prejudicial.
Males para as Mulheres
Violência Generalizada: O patriarcado legitima a violência contra a mulher, que pode ser física, moral, psicológica ou patrimonial, culminando em casos extremos como o feminicídio.
Desigualdade Econômica e de Oportunidades: As mulheres continuam a enfrentar disparidades salariais pelo mesmo trabalho e estão sub-representadas em cargos de liderança, limitando suas oportunidades educacionais, econômicas e políticas.
Sobrecarga e Saúde Mental: A imposição do "cuidar" como eixo central da existência feminina e a sobrecarga de afazeres domésticos afetam a saúde mental das mulheres, resultando em baixa autoestima, ansiedade, depressão e estresse pós-traumático.
Baixa Representatividade Política: A sub-representação em espaços de poder e decisão contribui para a manutenção de políticas que não abordam adequadamente as necessidades e direitos das mulheres. Segundo a Jornalista e Mestra e Doutora Michelle Roxo de Oliveira, no Quinto Período da Habilitação em Jornalismo na Comunicação Social, pelas Faculdades Integradas Alcântara Machado (FIAAM FAAM).
Males para os Homens
Normas Rígidas de Masculinidade: O sistema impõe normas rígidas de masculinidade, que associam o ser homem a ser forte, provedor e racional, desencorajando a expressão de vulnerabilidade ou sensibilidade.
Problemas de Saúde Mental: A repressão emocional e a pressão para cumprir o papel de "chefe da família" contribuem para problemas como abuso de álcool e drogas, e taxas de suicídio mais altas em comparação com as mulheres.
Dificuldade em Relacionamentos: Barreiras culturais e a homofobia internalizada dificultam a construção de amizades profundas e saudáveis entre homens, prejudicando relacionamentos significativos.
Exposição à Violência: Os homens são a maioria da população carcerária e estão mais expostos à violência entre si, em parte devido à lógica machista que prega agressividade e desafio. Segundo a Jornalista e Mestra e Doutora Michelle Roxo de Oliveira, no Quinto Período da Habilitação em Jornalismo na Comunicação Social, pelas Faculdades Integradas Alcântara Machado (FIAAM FAAM).
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E assim caminha a humanidade.
Imagem ; Portal G1 da Rede Globo.
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