Houve um esforço para transformar Kássio Nunes no Carlos Decotelli da vez, o quase-ministro da Educação que foi demitido sem ser nomeado em razão de inconsistências no seu currículo. É verdade que os dois andaram, digamos, dando uma vitaminada nas suas respectivas trajetórias acadêmicas, observando que Decotelli foi, sim, professor de um curso reconhecido como da Fundação Getúlio Vargas. Alguma coisa na aparência ou eventualmente nas ideias de Decoteli pode ter facilitado o massacre, de acordo com o jornalista Reinaldo Azevedo, na sua coluna de hoje no UOL.
Como, Reinaldo?" Depois das duas caveiras de burro que foram desenterradas do Ministério da Educação — Ricardo Vélez Rodríguez e Abraham Weintraub —, houve até certo suspiro de alívio quando surgiu o nome de Decotelli. Suas primeiras entrevistas foram tranquilizadoras, e pareceu que a Educação deixaria de ser apenas um território da luta ideológica vil e mesquinha travada em certas áreas desse governo. No Meio Ambiente, por exemplo, ela pode ser sufocante e matar a galinha dos ovos de ouro do agronegócio, de acordo com o artigo do jornalista.
Mas aí veio a patrulha curricular — e não estou defendendo que a informação das inconsistências não fosse publicada. Destaco apenas que conhecemos as consequências. Decotelli caiu, e, em seu lugar, enterrou-se na pasta outra caveira de burro: o pastor Milton Ribeiro. É aquele senhor que, numa única entrevista, disse que o MEC não tem de se meter com as questões relativas ao ensino a distância em tempos de pandemia e que homossexuais — ele atribuiu a afirmação a uma pesquisa — são filhos de famílias desajustadas. Segundo o pensador, o menino de 13, 14 anos, faz a "opção" por ser gay sem ter ainda feito sexo com homem ou mulher, de acordo com o relato do jornalista.
Ele poderia estar lançando, sei lá, a TEOS — Teoria do Empirismo da Opção Sexual —, mas suponho que isso não seria lá muito compatível com seu Deus... O pastor apenas deu um escorregão ao sugerir que a pessoa faça a "opção" só depois de conhecer, vamos dizer assim, todos os lados do polígono... Seria o caso de perguntar se ele próprio seguiu a teoria, de acordo com o texto do jornalista.
Dadas as dúvidas iniciais no currículo de Kássio Nunes, uma apenas subsiste. O que aparece no seu currículo como pós-graduação na Universidad de La Coruña, na Espanha, foi, na verdade, um curso de 40 horas, ministrado ao longo de quatro dias, segundo o relato do jornalista na manhã de hoje.
Sim, acho que Kássio tem de explicar as inconsistências. Mas lembro que, para ser ministro do Supremo, não é preciso nem mesmo, a rigor, ter feito curso superior. Bastam notório saber jurídico — até agora, ninguém negou que ele o tenha — e reputação ilibada. A outra exigência é ter, no máximo, 65 anos, de acordo com o jornalista, nesta quarta feira (07).
Agora volto ao ponto. A imprensa fez o escarcéu que fez com o currículo de Decotelli — a informação era indispensável, sim; o carnaval foi um óbvio exagero — e foi útil aos reaças, que estavam empenhados em derrubar o indicado porque, como se viu, tinham outros planos para a continuidade do trabalho de destruição do que resta da Educação, segundo a coluna do jornalista no dia de hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário