Após ser flagrado pela Polícia Federal com quase 15 salários mínimos entre as nádegas, o senador Chico Rodrigues (DEM-RR) pediu licença de 121 dias. Com isso, assumirá em seu lugar o suplente, seu filho, Pedro, de acordo com o jornalista Leonardo Sakamoto, no portal UOL.
Seus colegas senadores articularam a solução para evitar que o plenário do Supremo Tribunal Federal analisasse o seu afastamento. Não por amor a Chico, mas por autopreservação. Aumenta, assim, a chance de tudo ser esquecido, soterrado pelo próximo escândalo, de acordo com o jornalista.
O Senado Federal é parte fundamental de nosso sistema político desde o Império. Mas parece fazer questão de fornecer argumentos àqueles (entre os quais, não me incluo) que defendem o seu fim em nome da redução de custos, de acordo com o relato do jornalista.
A discussão sobre a necessidade de o Congresso Nacional ser bicameral, com uma Câmara dos Deputados (que representa os cidadãos) e um Senado (que representa os Estados e o Distrito Federal), não é de hoje, de acordo com o relato do jornalista.
Há os que advogam pela extinção desta segunda casa, sob a justificativa de que, com exceção de atividades específicas que poderiam ser transferidas (como sabatinar e ratificar a nomeação de embaixadores e de indicados ao STF), ela tem atuado apenas como uma plataforma para políticos que já governaram ou pretendem governar seus Estados de origem, de acordo com o jornalista.
Outro argumento que pesa é que o Senado estaria abrindo mão de seu papel de câmara revisora, agindo como um puxadinho da Câmara ou do Palácio do Planalto, de acordo com o jornalista.
Por exemplo, em 2017, para evitar que mudanças no Senado levassem a Reforma Trabalhista de novo à Câmara, um acordo foi firmado entre senadores da base aliada e o governo Michel Temer - que prometeu a edição de uma Medida Provisória com um grupo de alterações que os senadores gostariam de ver no projeto, segundo o jornalista.
Os senadores da base se deram por satisfeitos e aprovaram a reforma. A MP foi editada, mas caducou na Câmara. Em outras palavras, interpretaram o papel de paga-lanche, de acordo com o relato do jornalista no veiculo de imprensa.
O Senado é maior do que isso. Quer dizer, deveria ser. Como já escrevi aqui, é paradigmático que Chico Rodrigues, um vice-líder do governo, flagrado com maços de dinheiro escondidos entre suas nádegas durante uma operação da Polícia Federal que investigava desvios de recursos que deveriam ir para o combate à covid, seja membro titular do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado, de acordo com o jornalista.
Não que o colegiado faça jus ao nome. Tanto que se movimentou rapidamente em nome de uma operação-abafa a fim de evitar a suspensão. Aqui não se defende uma expulsão sumária do senador, mas que seus colegas sejam céleres em cobrar explicações e entregá-las à sociedade. Explicações melhores do que aquelas que ele deu em seu pedido de afastamento: "Em um ato impulsivo, acordado pela Polícia, de pijama, assustado com a presença de estranhos em meu quarto, tive a infelicidade de tomar a decisão mais irracional de toda a minha vida", segundo o jornalista, no Portal de Imprensa.
Mas em um momento em que o próprio líder da nação é acusado de usar a estrutura de inteligência do Estado na defesa de seu filho, um senador, envolvido em um caso de desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro, a proteção dada pelo Senado a Chico Rodrigues é apenas um detalhe no novo normal da República, segundo o jornalista, neste domingo (25).
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