O tucano Bruno Covas (PSDB), que conduziu uma campanha sem erros em São Paulo, tinha um adversário de estimação: Celso Russomanno (Republicanos). Convenham: este é o adversário que todo mundo pediu ao papai do Céu. Mas não aconteceu. Vai ter mais trabalho do que imaginava.
Simulações de segundo turno antes da eleição apontavam uma vitória folgada contra Guilherme Boulos. Mas as pesquisas também previam que o candidato do PSOL teria menos do que os quase 21%. O primeiro turno na cidade assistiu ao nascimento de uma "onda Boulos". Veremos se ganha força ou não. O tempo que separa o segundo turno do primeiro, neste ano, é o mais curto da história. Isso, claro!, favorece o tucano.
A segunda etapa se dará já no dia 29. A propaganda em rádio e TV só recomeça na sexta, dia 20, estendendo-se até o dia 27, com dois blocos de 10 minutos em cada meio mais 70 minutos diários divididos em propagandas de 30 e 60 segundos, distribuídos ao longo da programação.
E isso será novidade para Boulos. Ele terá uma exposição inédita, uma vez que o tempo é igualmente dividido entre os dois candidatos. Sua campanha se fez nas ruas, com a militância do PSOL e os movimentos populares, e nas redes sociais.
Em princípio, Bruno leva vantagem, embora as coisas não sejam assim tão simples. Celso Russomanno (Republicanos), com 10.5%, e Márcio Franca (PSB), com 13,65%, terão dificuldade para declarar apoio formal ao tucano. O efeito poderia ser até adverso. Ambos fizeram críticas muito duras a João Doria, tratado como padrinho do prefeito, embora este tenha se mantido distante da campanha.
O MBL, com Arthur do Val, que concorreu pelo Patriota, chegou a 9,78%, um desempenho eleitoral considerável. E, nesse caso, sim, pode-se afirmar que se trata de um voto ideológico: é de direita, mas hostil a Bolsonaro. É pouco provável que eleitores que escolheram esse nome migrem para Boulos. De resto, o movimento não terá dificuldade nenhuma em recomendar a rejeição ao candidato do PSOL.
Este pode contar, em princípio, com a quase totalidade dos votos de Jilmar Tatto, apesar das mágoas. Os 8,55% que sufragaram o nome do petista tendem a migrar para aquele que será o candidato da esquerda, com a provável declaração de voto de Lula.
Há outro fator que aumenta a margem de erro das previsões e até das pesquisas. A abstenção foi gigantesca: 29,29%. Há muitos mortos entre os ausentes, dizem os especialistas. Ainda assim, o percentual é grande. Somem-se os 10,11% de votos nulos e os 5,87% de brancos, e quase metade do eleitorado — 45,27% — não votou em ninguém no primeiro turno. E, sim, todos estão aptos a votar no segundo.
É claro que, em princípio, Bruno aparece como favorito. A diferença de votos entre os dois postulantes é grande, mas bem menor do que se imaginava inicialmente. Boulos acertou o tom da campanha nas redes sociais e, reitere-se, terá, pela primeira vez, tempo substantivo no rádio e na TV, ainda que em campanha bastante curta. Deve saber que, mais uma vez, vão tentar caracterizá-lo como um lobo disposto a engolir a vovozinha.
Jair Bolsonaro é o grande derrotado individual das eleições municipais de 2020, e Boulos já é o grande vencedor, ganhe ou não a eleição. É o nome da esquerda que obteve mais votos no país, ainda que com um percentual menor do que Marília Arraes. De líder de um movimento popular por moradia, passa a ser uma referência da esquerda no país.
O eleitorado para o qual fala não é aquela classe operária do chão de fábrica que constituiu a base tradicional do PT e que, na sua forma original, desapareceu — e não estou dizendo que isso seja necessariamente bom. Estou apenas apontando: aconteceu.
O PT foi esmagado nas eleições de 2016. De terceiro em número de Prefeituras em 2012, com 630, caiu para 256 em 2016, ficando em 10º lugar. Vamos ver o que acontece neste ano. Os auspícios não são bons quando se consideram as grandes cidades.
Das 100 maiores, informa o UOL, 43 elegeram prefeitos neste domingo — há um eleito sub judice. Ninguém é petista. Em 57, haverá segundo turno. O partido tem candidato próprio em 15. Nas capitais, disputa a etapa final em Vitória e Recife. Em Porto Alegre, o partido tem o vice da candidata Manuela D'Ávila, do PCdoB. Ah: o PSL que chegou ao poder com Bolsonaro estará no segundo turno em apenas duas. Joice Hasselmann, candidata do partido em São Paulo, resolveu retornar àquele seu estilo muito, digamos, peculiar: não chegou a 2% dos votos. O relato é do jornalista Reinaldo Azevedo, na sua coluna, no Portal UOL, nesta segunda feira (16).
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