Jair Bolsonaro sempre foi movido a confronto. Foi atacando inimigos reais e imaginários que ele conseguiu destaque no Congresso, conquistou a presidência da República e governou até o presente momento.
Quando deputado do baixo clero, teve seus dias de glória ao atacar pautas da esquerda como o nunca materializado "kit gay" e a Comissão da Verdade, tentativa fracassada de apurar crimes cometidos pelos militares na ditadura militar (1964-1985).
Na campanha à Presidência, fez do petismo seu trampolim para a vitória e, no governo, seguiu ampliando a sua carteira de antagonistas: ora era o Congresso a encarnação do mal, ora o Supremo Tribunal Federal, ora a imprensa.
Neste preciso momento, o inimigo atende pelo nome de João Doria.
Mais do que um antagonista real, o governador de São Paulo virou um adversário estratégico.
Na visão do Planalto, recentes posturas do tucano ajudam a realçar pontos cruciais do discurso bolsonarista, sobretudo o de que a economia "não pode parar" por causa do coronavírus.
A última pesquisa Datafolha confirmou monitoramentos do Palácio que apontavam para a manutenção da popularidade do presidente mesmo com o agravamento da pandemia, os estilhaços da guerra das vacinas, a redução do auxílio emergencial e a subida no preço dos alimentos..
Continuam achando o governo Bolsonaro "ótimo" ou "bom" 37% dos brasileiros, mesma taxa aferida em agosto. As avaliações "ruim" ou "péssimo" oscilaram negativamente (34% para 32%).
Para o Palácio do Planalto, os números atestam que Bolsonaro deve seguir apostando no discurso da recuperação econômica ao mesmo tempo que tenta colar na testa do governador paulista o título de catalisador de "esquerdistas e comunistas, responsáveis por quebrar o Brasil nos últimos 30 anos", nas palavras de um assessor palaciano.
Os planos imediatos do Palácio para cristalizar a ideia da recuperação econômica iminente passam sobretudo pela inauguração de obras. São elas que farão o ex-capitão avançar no Nordeste e recuperar-se no Sul e no Sudeste, onde se avalia que a "campanha da mídia contra o presidente" teve mais impacto até o momento.
A partir de agora, Bolsonaro intensificará seu périplo de inauguração de obras também no interior dos estados do Sul e do Sudeste, onde se concentra o seu eleitorado conservador. O interior de São Paulo terá prioridade na agenda.
Na estratégia para pavimentar o caminho de Bolsonaro para 2022, se há algo que hoje não tira o sono dos principais assessores do Palácio do Planalto é o esperneio do bolsonarismo raiz diante dos recuos ideológicos do ex-capitão. Parte dos apoiadores de Bolsonaro, incluindo aliados no Congresso, tem expressado insatisfação, por exemplo, com a aproximação do presidente com o Centrão.
Para o núcleo estrategista do Palácio, essa insatisfação em nada deve abalar o apoio ao presidente. Isso porque, se é possível pespegar no tucano Doria a pecha de "esquerdista", não é fácil identificar, ao menos até o momento, um nome competitivo à direita de Bolsonaro ou no mesmo quadrante.
Em outras palavras: os bolsonaristas raiz, frustrados ou não, ficarão com Bolsonaro simplesmente porque não têm para onde correr. O relato é da jornalista Thaís Oyama, na sua coluna no UOL, na manhã desta terça feira (15).
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