RECIFE, PE (FOLHAPRESS) - Nos dois principais colégios eleitorais do Nordeste, os palanques do ex-presidente Lula (PT) têm características similares, com candidatos desconhecidos da população em geral, grupos há 16 anos no poder e estratégia de nacionalização dos pleitos estaduais nas eleições de 2022.
O grupo que cuida da estratégia eleitoral do PT avalia que é preciso sair com ampla margem de votos sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL) no Nordeste para compensar eventuais defecções nas outras regiões do país, como o Sul e o Centro-Oeste.
Para isso, petistas ligados à campanha de Lula preveem que é fundamental alavancar o ex-presidente em estados-chave do Nordeste, como Bahia e Pernambuco.
Quarto maior colégio eleitoral do Brasil, a Bahia é governada pelo PT desde 2007. Foram dois mandatos de Jaques Wagner e dois de Rui Costa, que está no último ano de gestão.
A escolha do candidato à sucessão de Rui foi tumultuada na base aliada. De início, o mais cotado era o senador Jaques Wagner, que desistiu da postulação. Depois, a missão passou para o senador Otto Alencar, que externou preferência pela reeleição ao Legislativo.
Por fim, o escolhido foi o ex-secretário estadual de Educação Jerônimo Rodrigues. O processo tenso ocasionou o rompimento do vice-governador João Leão (PP) com o PT. Para compensar a perda de votos, os petistas fecharam aliança com o MDB, do ex-ministro Geddel Vieira Lima.
O embate do PT na Bahia é com o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil). Para ampliar a competitividade, o desafio dos petistas é associar a imagem de Jerônimo Rodrigues à do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder em intenções de voto para presidente no Brasil e na Bahia.
"É voto casado na Bahia. É L de Lula lá e J de Jerônimo cá para governador", disse Jaques Wagner em discurso na última quinta-feira (3).
Também na quinta, Lula desembarcou em Salvador para dar a benção à chapa de Jerônimo Rodrigues para o governo e Otto Alencar para o Senado.
Outra tática que deverá ser usada pelo PT na Bahia é a presença de Jerônimo nas inserções partidárias da legenda no rádio e na televisão. Mesmo que não possa fazer campanha direta, a sigla pretende fazer com que a imagem dele esteja mais presente na mente do eleitorado baiano.
O PT da Bahia também tenta associar a imagem de ACM Neto à de Bolsonaro, explorando o apoio dado pelo ex-prefeito ao hoje presidente no 2º turno da eleição de 2018.
"De um lado está o time de Lula, que é do sonho, da esperança e trabalha para cuidar de gente. Do outro lado está o grupo do atraso, formado por pessoas que trabalham com ódio, que não têm coragem de assumir o presidente deles. Eles estão do lado do bolsonarismo", afirmou Jerônimo no lançamento da pré-candidatura, em 31 de março.
A fala de Jerônimo é direcionada a ACM Neto, que tem evitado se associar a uma candidatura presidencial.
Líder nas pesquisas de intenção de voto para o Governo da Bahia, ele tem tentado se aproximar do eleitorado de Lula com aliados que declaram voto no ex-presidente, como João Leão (PP), seu pré-candidato a senador.
Em Pernambuco, o cenário é parecido com o da Bahia, só que para o PSB. Há quase 16 anos no poder, o partido adotará a nacionalização da eleição estadual em 2022.
Nos planos traçados em reuniões de bastidores, estão previstas gravações para programas eleitorais de rádio e da televisão com o pré-candidato ao governo, Danilo Cabral, ao lado do ex-presidente Lula.
O objetivo é, além de tentar jogar Bolsonaro (com rejeição elevada no estado) no colo da oposição, evitar que a deputada federal Marília Arraes, pré-candidata ao governo pelo Solidariedade, associe-se a Lula.
O comportamento do PSB na eleição de 2022 deverá ser o oposto do que aconteceu na eleição de 2020 no Recife. Na ocasião, no segundo turno, o candidato do partido, João Campos, usou o antipetismo como estratégia para derrotar Marília Arraes, à época no PT.
A escolha do candidato do PSB a governador também teve uma recusa, como a de Jaques Wagner pelo PT na Bahia. No caso do PSB pernambucano, o ex-prefeito do Recife Geraldo Julio jogou a toalha.
Temendo a exploração de investigações da Polícia Federal sobre supostas irregularidades em compras para o combate à Covid-19 na Prefeitura do Recife em 2020, quando era prefeito, ainda que não tenha sido implicado diretamente, Geraldo optou por dar negativa à possível candidatura em 2022.
Outra razão foi um veto da família à sua postulação na disputa estadual.
A postulação caiu no colo do deputado federal Danilo Cabral, tido como da confiança da família Campos, influente no poder em Pernambuco.
Pesquisas internas apontam que outro desafio para o PSB em 2022 será superar a rejeição ao governador Paulo Câmara. A tática deverá ser esconder o gestor da campanha de Danilo Cabral, explorando a imagem de Lula junto ao candidato.
"O povo brasileiro tem sim saudade de Luiz Inácio Lula da Silva. E nós queremos Lula de volta. Por tudo o que Lula representou para o Brasil. Pelo conjunto de ações e de políticas que ele implantou e que trouxe de volta para o Brasil o orgulho de ser brasileiro", disse Danilo em discurso recentemente.
A área de marketing eleitoral do PSB também já prepara um acervo com banco de imagens de Danilo Cabral junto ao ex-governador Eduardo Campos. A ideia é reativar na memória do eleitor os momentos positivos dos governos de Eduardo.
Por outro lado, haverá uma pesquisa com um banco de imagens e vídeos para criticar os ex-prefeitos de Petrolina Miguel Coelho e de Jaboatão dos Guararapes Anderson Ferreira, pré-candidatos a governador, pelos vínculos com o presidente Bolsonaro.
Anderson é o candidato declarado de Bolsonaro, enquanto Miguel Coelho tem se afastado do presidente desde que o seu pai, o senador Fernando Bezerra Coelho, deixou a liderança do governo no Senado, em dezembro.
Para a cientista política Priscila Lapa, a estratégia de nacionalização da eleição pode ter sucesso em estados do Nordeste, que votam majoritariamente em Lula, como Bahia e Pernambuco, no entanto, há brecha para esse roteiro falhar.
"Vejo como o risco dessa estratégia o nível de desgaste que o PT na Bahia e o PSB em Pernambuco possuem por estar há muito tempo no poder, a fadiga de material político e por não conseguirem mais agradar totalmente o conjunto de aliados que formam chapas de oposição competitivas. A nacionalização pode não ser suficiente para vencer a eleição", afirma Priscila. A informação é do Jornal Folha de São Paulo, na tarde desta segunda feira (04).
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