segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Barbárie e Neoconservadorismo.

 


Barbárie e neoconservadorismo:

 os desafios do projeto ético-político*

 1

 Barbarism and neoconservatism: the challenges  

of the ethical-political project

 Maria Lucia S. Barroco**

 2

 Resumo: Este artigo foi desenvolvido a partir de Palestra realizada 

no Seminário “30 Anos do Congresso da Virada”, em São Paulo, em 

2009. Analisando os desafios do projeto ético‑político na atual conjun

tura, assinala as principais determinações da sociabilidade contempo

rânea para evidenciar o ethos dominante no cenário do neoliberalismo 

pós‑moderno e as formas de ser que favorecem o neoconservadorismo 

e criam obstáculos à viabilização dos valores e pressupostos do Códi

go de Ética Profissional.

 Palavras‑chave: Ética. Ethos. Projeto ético‑político. Neoconservado

rismo. Neoliberalismo pós‑moderno

 Abstract: This article was developped from the Seminar “30 Years of Congresso da Virada”, 

which was held in São Paulo in 2009. Analyzing the challenges of the ethical‑political project at 

the current moment, it points out the main determinations of contemporary sociability in order to 

highlight the dominant ethos in the post‑modern neoliberalism setting and the aspects that both 

favor neoconservatism and hamper the viability of the values   and assumptions from the Code of 

Professional Ethics.

 Keywords: Ethics. Ethos. Ethical‑political project. Neoconservatism. Post‑modern neoliberalism

 * Esse artigo foi desenvolvido a partir do texto original da Palestra realizada no seminário “30 anos do 

Congresso da Virada”, na mesa “Diálogos sobre os desafios do projeto ético‑político do Serviço Social”, em 

novembro de 2009, em São Paulo.

 ** Assistente social, professora de Ética Profissional e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa 

em Ética e Direitos Humanos (Nepedh) do Programa de Estudos Pós‑Graduados em Serviço Social da PUC‑SP 

— São Paulo, Brasil. E‑mail: lubarro@uol.com.br.

 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 106, p. 205-218, abr./jun. 2011

 205

Esse texto visa uma reflexão sobre os desafios do projeto ético‑políti

co na atual conjuntura, sob a perspectiva da ética. Isso requer uma 

breve análise da sociabilidade contemporânea, visando assinalar al

gumas determinações que incidem sobre a vida cotidiana, criando 

necessidades e motivando respostas de caráter moral e político.

 As transformações operadas no capitalismo mundial pela ofensiva do 

capital, a partir da década de 1970 do (Netto e Braz, 2006), resultaram no agra

vamento da desigualdade estrutural e na degradação da vida humana e da na

tureza. Aprofundando a exploração do trabalho, o desemprego estrutural e 

conjuntural, instituindo novas formas de trabalho precário e destruindo direitos 

conquistados historicamente pelos trabalhadores, entre outros, esse processo 

intervém na vida dos indivíduos, criando demandas e respostas à insegurança 

vivenciada objetiva e subjetivamente na vida cotidiana. As formas de (re)pro

dução social imprimem uma nova dinâmica ao conjunto das relações sociais:

 Em sua forma contemporânea, a sociedade capitalista caracteriza‑se pela frag

mentação de todas as esferas da vida social, desde a produção, com a dispersão 

espacial e temporal do trabalho, até a destruição dos referenciais que balizavam 

a identidade de classe e as formas de luta de classes. A sociedade aparece como 

uma rede móvel, instável, efêmera de organizações particulares definidas por 

organizações particulares e programas particulares, competindo entre si. (Chaui, 

2006, p. 324)

 A apreensão fragmentada da realidade e a percepção de que as relações 

sociais são efêmeras e instáveis decorrem de vivências objetivas, num contex

to de empobrecimento e de instabilidade e desregulamentação das relações de 

trabalho. A reificação que invade todas as esferas da vida social (Netto, 1981) 

favorece essa apreensão, pois contribui para ocultar a essência desses processos 

que aparecem, em sua aparência reificada, como se fossem fenômenos naturais 

e absolutos. Além do mais, a ideologia dominante sedimenta essa naturalização, 

em sua justificação da dinâmica capitalista.

 O pensamento dominante no capitalismo contemporâneo — a ideologia 

neoliberal e seu subproduto, a ideologia pós‑moderna —, exerce a função social 

de justificação das transformações operadas na vida social pela ofensiva do 

capital. É dessa forma que a insegurança, a instabilidade e a fragmentação são 

disseminadas como componentes ontológicos constitutivos de uma etapa his

tórica intransponível: a “era pós‑moderna” (Chaui, 2006; Harvey, 2005).

 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 106, p. 205-218, abr./jun. 2011

 206

Valorizando a instabilidade e a dispersão, a ideologia neoliberal pós‑mo

derna declara o “fracasso”: dos projetos emancipatórios, das orientações éticas 

pautadas em valores universais, da razão moderna, da ideia de progresso histó

rico e de totalidade. O estímulo à vivência fragmentada centrada no presente 

(resumida ao aqui e ao agora, sem passado e sem futuro), ao individualismo 

exacerbado, num contexto penetrado pela violência, dá origem a novas formas 

de comportamento, que, segundo Chaui (2006, p. 324), buscam “algum contro

le imaginário sobre o fluxo temporal”.

 As tentativas de capturar o passado como memória subjetiva, por meio 

de objetos ou de uma memória virtual, com lista de amigos pela internet (Idem, 

p. 325), revelam uma das características mais marcantes da sociabilidade con

temporânea: a tendência ao intimismo, o retorno às questões da vida privada, 

que revelam que:

 A insegurança e o medo levam ao reforço de antigas instituições, sobretudo a 

família e o clã como refúgios contra um mundo hostil, ao retorno de formas 

místicas e autoritárias ou fundamentalistas de religião e à adesão à imagem da 

autoridade política forte ou despótica. Dessa maneira, bloqueia‑se o campo da 

ação intersubjetiva e sociopolítica, oculta‑se a luta de classes e fecha‑se o espa

ço público, que se encolhe diante da ampliação do espaço privado. (Chaui, 2006, 

p. 325)

 Trata‑se, pois, de condições favoráveis à desqualificação da política, con

dições facilitadas por inúmeros fatores históricos, especialmente das determi

nações que incidiram sobre as possibilidades concretas de organização política 

das classes trabalhadoras. Não podemos ignorar, nesse cenário, os desdobra

mentos do fim das experiências do socialismo.

 O processo de mundialização do capital (Chesnais, 1996) e a implantação 

das políticas neoliberais — com todas as suas consequências —, implicou o 

empobrecimento e a desmobilização política dos trabalhadores: contribuiu para 

a crise dos partidos e das entidades de classe dos trabalhadores, e, como o fim 

das experiências socialistas, para que a apologética capitalista propagasse o seu 

triunfo, anunciando o “fim da história”.

 É interessante observar que esse contexto favoreceu a reorganização dos 

movimentos de direita, especialmente na Europa. Outro dado relevante é o que 

Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 106, p. 205-218, abr./jun. 2011

 207

aponta a origem de classe dos movimentos de direita e sua vinculação com o 

processo de mundialização do capital, no contexto do neoliberalismo. Estudos 

têm mostrado (Carneiro, 2004) que movimentos neonazistas vinculados a par

tidos de extrema direita, como os skinheads, surgiram nos anos 1970, com 

forte determinação do desemprego estrutural e da precarização das condições 

de vida das classes trabalhadoras: seus integrantes são jovens, filhos de operá

rios, trabalhadores do subúrbio e das periferias das grandes cidades e minori

tariamente das classes médias empobrecidas.

 Segundo dados do Serviço Secreto Alemão (Carneiro, 2004, p. 136), após 

a queda do Muro de Berlim, em 1999, existiam cerca de 3 mil skinheads na 

antiga Alemanha Oriental e 1.200 na Ocidental. Ocorreram 2.500 atentados de 

caráter xenófobo na Alemanha em 1992, e, em 1993, 6 mil, constatando‑se que 

vários deles tiveram o apoio da população (Ibidem). No Brasil, tendo como alvo 

os negros, judeus, nordestinos, homossexuais e comunistas, os “Carecas do 

ABC” e outros grupos apoiados pela TFP (Tradição, Família e Propriedade) 

— movimento católico paramilitar ultraconservador —, têm a mesma origem 

socioeconômica (Ibidem).

 As guerras, os conflitos etnorraciais e religiosos, assim como o fim das 

experiências socialistas, têm provocado êxodos por todo o mundo, revelando 

um fenômeno contemporâneo diretamente vinculado à barbarização da vida: a 

xenofobia. Formas coletivas institucionalizadas de xenofobia e de intolerância 

dirigidas contra imigrantes, estrangeiros, ciganos, desempregados etc. se es

praiam por todo o mundo, evidenciando a violência, como elemento presente 

no cotidiano (Ianni, 2004).

 A ideologia dominante exerce uma função ativa no enfrentamento das 

tensões sociais, para manter a ordem social em momentos de explicitação das 

contradições sociais e das lutas de classe. Numa sociedade de raízes culturais 

conservadoras e autoritárias como a brasileira (Chaui, 2000), a violência é 

naturalizada; tende a ser despolitizada, individualizada, tratada em função de 

suas consequências e abstraída de suas determinações sociais. A ideologia neo

liberal — veiculada pela mídia, em certos meios de comunicação como o rádio, 

a TV, a internet e revistas de grande circulação — falseia a história, naturaliza a 

desigualdade, moraliza a “questão social”, incita o apoio da população a práticas 

fascistas: o uso da força, a pena de morte, o armamento, os linchamentos, a 

xenofobia.

 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 106, p. 205-218, abr./jun. 2011

 208

O modo de ser adequado à (re)produção das relações sociais burguesas, 

na contemporaneidade, é determinado pelas formas de sociabilidade aqui assi

naladas. No interior de uma dinâmica histórica complexa e contraditória, da 

luta de classes e da oposição entre projetos sociais, entre ideias e valores, se 

processa um modo de ser dominante, fortalecido pela base material de suas 

ideias. Quero dizer que a sociedade burguesa é fundada na propriedade privada 

dos meios de produção e que isso fornece a base material para a reprodução de 

um ethos fundado na posse privada de objetos.

 Todos os valores oriundos da sociabilidade burguesa e do ethos burguês, 

como o consumismo e a competição, se apoiam, portanto, no princípio da pro

priedade privada, incorporado pelos indivíduos como sinônimo da felicidade, de 

liberdade, de realização pessoal. É claro que os valores vão adquirindo signifi

cações de acordo com o desenvolvimento da sociedade burguesa. Como vimos, 

no neoliberalismo pós‑moderno o consumismo adquire contornos exacerbados, 

o individualismo se expressa de modo privatista, voltado para o intimismo.

 A valorização da posse privada dos objetos no lugar das relações humanas 

levada ao extremo caracteriza o ethos dominante na sociedade contemporânea: 

sua igreja é o shopping; seu reino é o mundo virtual; seus mitos são as imagens 

que — fetichizadas em um espaço imaginário — desmaterializam o mundo real, 

criando uma segunda vida onde os desejos consumistas podem ser satisfeitos 

sem a presença do outro: o eterno empecilho à sua liberdade.

 Ídolos e mitos são reproduzidos incessantemente pelo mercado da publi

cidade e pela indústria cultural: Barbies, séries de TV, filmes, novelas, propa

gandas para cada indivíduo cuja identidade social é dada pelo seu potencial de 

consumo. Incentiva‑se o consumismo e tudo o que desvie os indivíduos da vida 

pública e da política: questões pessoais, de autoajuda, problemas íntimos, fa

miliares, psicológicos: formas de controle das tensões sociais e de reprodução 

do modo de ser necessário à apologia do capital. Vê‑se, portanto, que estamos 

em face de uma cultura claramente conservadora.

 O neoconservadorismo busca legitimação pela repressão dos trabalhadores 

ou pela criminalização dos movimentos sociais, da pobreza e da militarização 

da vida cotidiana. Essas formas de repressão implicam violência contra o outro, 

e todas são mediadas moralmente, em diferentes graus, na medida em que se 

objetiva a negação do outro: quando o outro é discriminado lhe é negado o 

direito de existir como tal ou de existir com as suas diferenças.

 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 106, p. 205-218, abr./jun. 2011

 209

Certamente, parte da sociedade não reproduz essa ideologia e combate 

essas práticas: os movimentos populares democráticos, milhares de sujeitos 

políticos que no mundo inteiro se manifestam de formas variadas em oposição 

à desumanização, em confronto com o capital, na resistência ao avanço das 

políticas neoliberais: os Piqueteiros e as Mães da Praça de Maio, na Argentina; 

os Zapatistas, no México; o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), 

no Brasil, os movimentos de indígenas, na Bolívia e no Equador, outras cente

nas de movimentos populares democráticos que desde 2001 se reúnem nas 

edições do Fórum Social Mundial em torno da ideia de que “outro mundo é 

possível”; os partidos políticos e as entidades de classe dos trabalhadores, no 

processo de luta pela hegemonia em busca da construção de novos projetos e 

de uma nova sociedade. O Serviço Social tem uma trajetória de engajamento 

nessas lutas.

 No entanto, não podemos ignorar que o cenário histórico tem revelado 

uma crise de hegemonia das esquerdas e dos projetos socialistas de modo geral. 

É nesse contexto que o conservadorismo tem encontrado espaço para se reatua

lizar, apoiando‑se em mitos, motivando atitudes autoritárias, discriminatórias 

e irracionalistas, comportamentos e ideias valorizadoras da hierarquia, das 

normas institucionalizadas, da moral tradicional, da ordem e da autoridade. Uma 

das expressões dessa ideologia é a reprodução do medo social.

 Temos medo de algo real ou imaginário. Quando o objeto do medo é tra

tado moralmente, torna‑se sinônimo do “mal”. Ao mesmo tempo em que a 

moral serve ideologicamente para dar identidade ao objeto do medo ela passa 

a justificar uma inversão na moralidade do sujeito: na luta contra o “mal” toda 

moral é suspensa, tudo é válido: o “mal” acaba justificando o próprio “mal”: a 

morte, a tortura, a eliminação do outro. Quando a ideologia do medo é interna

lizada na vida cotidiana, uma situação de insegurança excepcional passa a ser 

vivida como algo que pode vir a ocorrer a qualquer momento, um estado de 

alerta típico de situações de guerra (Batista, 2003a; Costa, 1993).

 Após os atentados de 2001, nos EUA, centenas de filmes, seriados e pro

gramas virtuais foram produzidos incentivando a insegurança e a ideia moral 

do outro como ameaça permanente. Não é preciso dizer quem é ele. 24 horas, 

um dos seriados de maior sucesso nos EUA, passado no Brasil, deixa isso evi

dente: na série, nenhum lugar do mundo é seguro; a qualquer momento, a vida 

pode se tornar um inferno pelas mãos do “mal”: terroristas, criminosos, trafi

210

 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 106, p. 205-218, abr./jun. 2011

cantes. A política de tolerância zero e o Estado policial seguem essa lógica 

neofascista reproduzida nos EUA e na Europa, na discriminação contra os imi

grantes, a exemplo das milícias populares na Itália; na perseguição aos ciganos, 

na França; e, no Brasil, na criminalização dos movimentos sociais e da pobreza, 

e, na atual institucionalização da militarização do cotidiano pelo Estado, no 

combate ao narcotráfico.

 O filme brasileiro Tropa de elite, de 2007, que perdeu o Oscar para outro 

f

 ilme também violento cujo título é sugestivo — Por que os fracos não têm vez 

—, revela essa lógica. O violento treinamento físico e o condicionamento psi

cológico exigido dos integrantes do Bope (Batalhão de Operações Especiais) 

têm por finalidade a sua desumanização, o que significa incorporar a ideologia 

da guerra permanente, permitindo a suspensão de qualquer resquício de uma 

moralidade humanitária na consciência dos agentes: guerra é guerra. Diante 

dessa palavra‑chave, qualquer moral é suspensa: tudo é válido: os fins justificam 

os meios (Barroco, 2008).

 Estudos sobre a violência no Rio de Janeiro (Batista, 2003a), apontam essa 

ideologia na guerra ao narcotráfico: uma herança da doutrina de segurança 

nacional usada na ditadura: a ideologia da guerra contra o inimigo interno. Na 

guerra atual o discurso é moral e religioso: a droga aparece como uma metáfo

ra diabólica contra a civilização cristã: uma cruzada contra o mal, uma guerra 

santa contra o traficante herege (Idem, p. 40). Repete‑se a lógica do Bope: 

guerra é guerra.

 Essas breves observações tiveram por finalidade apontar um cenário pro

pício à objetivação de ideias e práticas neoconservadoras e individualistas que 

obviamente não se restringem às aqui apresentadas, mas que coexistem com 

formas de oposição e de resistência, a exemplo de inúmeras ações de defesa dos 

direitos humanos, de denúncias, de resistências, de mobilizações e de lutas 

constitutivas do universo das forças políticas democrático‑populares e do con

junto das classes trabalhadoras brasileiras.

 Assim, considerando que o cenário atual pode ser facilitador da reatuali

zação de projetos conservadores na profissão, mas entendendo também que 

nossa trajetória de lutas, inserida no universo de resistências da sociedade bra

sileira permite esse enfrentamento, quero afirmar que do ponto de vista ético‑po

lítico a busca de ruptura com o conservadorismo no Serviço Social — princípio 

e objetivo que norteou (norteia) o projeto ético‑político nesses trinta anos — é 

Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 106, p. 205-218, abr./jun. 2011

 211

neste momento renovado como um grande desafio: o enfrentamento de suas 

novas formas ético‑políticas e manifestações teórico‑práticas.

 Para finalizar, assinalo algumas questões para reflexão e debate:

 • Em primeiro lugar cabe refletir sobre as bases sociais do nosso projeto 

ético‑político. Sabemos que seu surgimento foi determinado fundamen

talmente em função de certos(as) sujeitos e condições históricas: o 

protagonismo da profissão, em seus setores progressistas, contando 

com o processo de reorganização das classes trabalhadoras e dos mo

vimentos democrático‑populares, no contexto de redemocratização da 

sociedade brasileira dos anos 1980. Sendo assim, a nossa força política 

está articulada, ainda que não seja de forma mecânica, ao avanço des

sa base social, que tem como protagonistas os sujeitos de nossa inter

venção profissional: as classes trabalhadoras.

 • Nesse sentido, o enfrentamento do neoconservadorismo, sob o ponto 

de vista profissional, é de caráter político em dois aspectos articulados. 

Por um lado, é preciso que nossa organização política esteja fortaleci

da e renovada com novos quadros, supondo o trabalho de base, junto 

à categoria, com as entidades de representação, as unidades de ensino, 

os profissionais e alunos. Por outro lado, só conseguiremos consolidar 

politicamente o nosso projeto, na direção social pretendida, se tivermos 

uma base social de sustentação; logo, é fundamental a articulação com 

os partidos, sindicatos e entidades de classe dos trabalhadores, com os 

movimentos populares e democráticos, com as associações profissionais 

e entidades de defesa de direitos. E o avanço político do nosso projeto 

está articulado ao avanço dessas forças sociais mais amplas. Ao mesmo 

tempo, é preciso ter clareza de que essa luta é limitada, uma vez que 

ela envolve dimensões que extrapolam a profissão.

 • A reatualização do conservadorismo é favorecida pela precarização das 

condições de trabalho e da formação profissional, pela falta de preparo 

técnico e teórico, pela fragilização de uma consciência crítica e políti

ca, o que pode motivar a busca de respostas pragmáticas e irraciona

listas, a incorporação de técnicas aparentemente úteis em um contexto 

fragmentário e imediatista. A categoria não está imune aos processos 

de alienação, à influência do medo social, à violência, em suas formas 

Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 106, p. 205-218, abr./jun. 2011

 212

subjetivas e objetivas. Isso coloca um imenso desafio ao projeto éti

co‑político, na medida em que a sua viabilização não depende apenas 

da intencionalidade dos profissionais, tendo em vista as suas determi

nações objetivas, nem se resolve individualmente. Além disso, não 

podemos ignorar que o conservadorismo tem raízes históricas na pro

f

 issão: para parcela da categoria, trata‑se de uma opção política cons

cientemente adotada. Nesse sentido, a conjuntura pode favorecer a sua 

reatualização, sob novas roupagens e demandas.

 • A dimensão ética desse enfrentamento supõe dimensões teóricas e 

políticas. O neoconservadorismo tem diversas formas de expressão. 

Seu conhecimento exige a pesquisa e o estudo, em suas configurações 

na sociedade contemporânea e brasileira, como pensamento teórico e 

projeto político‑ideológico e em seu rebatimento particular na profissão, 

em sua dimensão ética e política. É preciso conhecer nossa categoria, 

nossos alunos e a população que atendemos para que não sejam repro

duzidos mitos e idealizações.

 • A ideologia neoconservadora tende a se irradiar nas instituições sob 

formas de controle pautadas na racionalidade tecnocrática e sistêmica 

tendo por finalidade a produtividade, a competitividade e a lucrativi

dade, onde o profissional é requisitado para executar um trabalho re

petitivo e burocrático, pragmático e heterogêneo, que não favorece 

atitudes críticas e posicionamentos políticos. Instituições voltadas para 

a coerção, como prisões, delegacias, casas para jovens infratores, abri

gos, instituições jurídicas, demandam ao assistente social atividades de 

controle e censura: avaliações de situações que envolvem os sujeitos 

criminalizados moralmente e julgados como irrecuperáveis pelo poder 

dominante. A ideologia dominante está incorporada nessas instituições 

de diversas formas, como mostram vários estudos (Wacquant, 2007; 

Batista, 2003a, 2003b). O discurso dominante é o da naturalização e 

moralização da criminalidade; as práticas de encaminhamento são se

letivas, baseadas, muitas vezes, em critérios que envolvem avaliações 

morais, de classe e condição social. O assistente social precisa estar 

capacitado para enfrentar esse discurso, de forma a não reproduzi‑lo 

reeditando o conservadorismo profissional, a não atender às novas re

quisições do estado policial, para não incorporá‑las exercendo a coerção. 

Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 106, p. 205-218, abr./jun. 2011

 213

Esse enfrentamento ético‑político supõe estratégias coletivas de capa

citação e organização política, de discussão nos locais de trabalho, de 

articulação com outras categorias, entidades e com os movimentos 

organizados da população usuária.

 • O enfrentamento teórico do neoconservadorismo é um empreendimen

to que supõe a desmistificação dos seus pressupostos e dos seus mitos 

irracionalistas que falseiam a história. A crítica dos valores é uma ta

refa específica da ética, em sua explicitação do significado do uso 

ideológico dos valores. Nos últimos vinte anos a ética se tornou um 

discurso abstrato: diferentes sujeitos falam em ética sem explicitar o 

seu significado, a sua direção, o projeto que defendem. O Código de 

Ética é utilizado como uma “senha”; o projeto ético‑político transfor

mou‑se num “mito”. Mas o Código de Ética tem uma concepção que 

dá significado aos seus valores; eles são abstratos. Entretanto, quando 

são separados de sua concepção tornam‑se abstrações que servem para 

falsear a história.

 • É também um desafio ético o incentivo à criação de núcleos de pesqui

sa e de estudos voltados para a capacitação em ética e direitos humanos, 

demandas dos alunos e profissionais que precisam ser atendidas de 

forma qualificada, para identificar análises irracionalistas, presentes no 

ideário pós‑moderno, que negam a universalidade dos valores, a pers

pectiva de totalidade, a luta de classes, o trabalho, o marxismo, afir

mando um pluralismo apoiado no ecletismo e na relativização da ver

dade objetiva, passível de ser apreendida pela razão dialética. Outro 

desafio é desenvolver a análise histórica dos direitos humanos, para 

não repetirmos as visões abstratas que remetem aos postulados tradi

cionais do Serviço Social, reeditando a concepção de “pessoa humana” 

com citações de Marx.

 • Formas de capacitação que têm se desenvolvido através da utilização 

de meios virtuais, têm contribuído para retirar do ensino a possibilida

de interativa exigida pelo conhecimento crítico. Cursos à distância, 

salas de discussão virtual, leituras virtuais, entre outras, são algumas 

das formas de reprodução do neoliberalismo contemporâneo: o indiví

duo isolado e passivo diante de uma máquina se comunicando com 

imagens e ideias que substituem as relações humanas por relações 

214

 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 106, p. 205-218, abr./jun. 2011

entre objetos e imagens fetichizadas. Além disso, a utilização institu

cionalizada dos meios virtuais envolve inúmeras questões éticas, como 

a divulgação de dados sigilosos, além de permitir a possibilidade de 

plágio etc.

 • As instituições de ensino, responsáveis pela transmissão do conheci

mento, tendem a se adequar à lógica do mercado, em empresas que 

vendem mercadorias: a força de trabalho de professores, superexplo

rados e desapropriados dos meios de seu trabalho sem tempo para a 

pesquisa, para o estudo e para a construção do conhecimento como 

totalidade. O produto final dessa precarização em curso, nas instituições 

mercantis, é o empobrecimento material e espiritual da juventude, que, 

uma vez profissionalizada, tem poucos recursos para realizar seus 

possíveis ideais, já fragilizados pelas condições objetivas da sociabili

dade burguesa.

 • Só é possível fazer essas observações críticas e pretender enfrentá‑las 

porque já dispomos — enquanto categoria profissional — de um acúmu

lo teórico e político que nos capacitou a apreender a realidade além de 

sua aparência, em uma perspectiva de histórica e de totalidade, ou seja, 

buscando perceber a relação entre os fenômenos em suas mais íntimas e 

ocultas determinações. Ora, esse acúmulo foi obtido por meio de um 

longo e árduo processo de trinta anos; um esforço teórico e político que 

contou com o trabalho de assistentes sociais, mulheres e homens que aqui 

estão nesse encontro e tantos outros que não estão presentes: um pro

cesso de luta política que foi travado a duras penas durante a ditadura 

e depois dela por profissionais que fizeram a Virada em 1979, pelos que 

assumiram a direção das entidades, pelos alunos e alunas que encam

param essa luta e a renovam cotidianamente.

 • Se temos uma herança conservadora, temos também uma história de 

ruptura: um patrimônio conquistado que é nosso, mas cujos valores, 

cujas referências teóricas e cuja força para a luta não foram inventadas 

por nós. Trata‑se de uma herança que pertence à humanidade e que nós 

resgatamos dos movimentos revolucionários, das lutas democráticas, 

do marxismo, do socialismo, e incorporamos ao nosso projeto.

 • Os pilares que sustentam o nosso projeto ético‑político em sua dimen

são de ruptura — o marxismo, o ideário socialista da emancipação 

Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 106, p. 205-218, abr./jun. 2011

 215

humana, o compromisso com as classes trabalhadoras e com a realiza

ção de um Serviço Social que atenda os seus reais interesses e neces

sidades, a busca de ruptura com o conservadorismo, em todas as suas 

formas — constituem o nosso mais valioso patrimônio que, espero, 

possamos cuidar dele com muito amor e coragem.

 Recebido em mar./2011 n Aprovado em abr./2011

 Referências bibliográficas

 ALVES, J. A Lindgren. Os direitos humanos na pós‑modernidade. São Paulo: Perspec

tiva, 2005.

 ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, Emir; GENTILLI, Pablo 

(Orgs.). Pós‑Neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janei

ro: Paz e Terra, 1995.

 BATISTA, Vera Malaguti. Difíceis ganhos fáceis: drogas e juventude pobre no Rio de 

Janeiro. Rio de Janeiro: Revan, 2003a.

 ______. O medo na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Revan, 2003b.

 BARROCO, Maria Lucia Silva. A historicidade dos direitos humanos. In: FORTI, 

Valeria; GUERRA, Yolanda. Ética e direitos: ensaios críticos. Rio de Janeiro: Lumen 

Júris, 2009a.

 ______. Ética: fundamentos sócio históricos. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2009b. (Col. 

Biblioteca Básica para o Serviço Social, v. 4.)

 ______. Bandidos, mitos e bundas: moral e cinema em tempos violentos. Revista Sesc 

Melhores Filmes. São Paulo: SESC‑SP, 2008.

 ______. Ética, direitos humanos e diversidade. Revista Presença Ética, Recife, n. 3, 

2003.

 BRAZ, Marcelo. Notas sobre o projeto ético‑político. In: CRESS‑7ª Região. Assistente 

social: ética e direitos. Rio de Janeiro, 2005.

 BURKE, Edmund. Reflexões sobre a revolução em França. 2. ed. Brasília: Editora 

Universidade de Brasília, 1997.

 216

 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 106, p. 205-218, aCARNEIRO, M. L. T. Racismo nazista: a era nazi e o antisemitismo. In: PINSKY, 

Jaime; PINSKY Carla B. (Orgs.). Faces do fanatismo. São Paulo: Contexto, 2001.

 ______. Neonazismo: o renascer da besta. In: PINSKY, Jaime; PINSKY Carla B. (Orgs.). 

Faces do fanatismo. São Paulo: Contexto, 2004.

 CHAUI, Marilena. Direitos humanos e medo. In: FESTER, A. C. R. (Orgs.). Direitos 

humanos e... São Paulo: Brasiliense, 1989.

 ______. Brasil: mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Fundação Perseu 

Abramo, 2000.

 ______. Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas. São Paulo: Cortez, 

2006.

 CHESNAIS, François. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996.

 CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (CFESS). Código de ética do assis

tente social. Brasilia: CFESS, 1993.

 COSTA, Jurandir Freire. O medo social. In: Veja: 25 anos — reflexões para o futuro. 

São Paulo: Abril, 1993.

 HARVEY, David. Condição pós‑moderna. São Paulo: Moderna, 2005.

 HAYEK, Friedrich. Principios de una orden social liberal. Madri: Union Editorial, 

2001.

 HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.

 IAMAMOTO, Marilda. Serviço em tempo de capital fetiche. São Paulo: Cortez, 2007.

 IANNI, Octávio. Capitalismo, violência e terrorismo. Rio de Janeiro: Civilização Bra

sileira, 2004.

 JAMESON, Friedrich. A virada cultural: reflexões sobre o pós‑moderno. São Paulo: 

Civilização Brasileira, 2006.

 KEHL, Maria Rita; BUCCI, Eugênio. Videologias. São Paulo: Boitempo, 2004. (Col. 

Estado de Sítio.)

 LUKÁCS, Georg. O problema da ideologia. In: ______. Per l’ontologia dell’essere 

sociale. Tradução Ester Waisman. Roma: Riunit, 1981.

 ______. El asalto a la razón: la trayectoria del irracionalismo desde Schelling hasta 

Hitler. Barcelona: Grijalbo, 1968.

 MacPHERSON, C. B. A teoria política do individualismo possessivo de Hobbes a 

Locke. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 106, p. 205-218, abr./jun. 2011

 217

MARX, Karl. A questão judaica. São Paulo: Moraes, 1991.

 ______. Manuscritos económico‑filosóficos (1848). Lisboa: Edições 70, 1993.

 MÉSZÁROS, István. A crise estrutural do capital. São Paulo: Boitempo, 2009. (Col. 

Mundo do Trabalho. O artigo da autora Maria Lucia S. Barroco**

 TÍTULO I

Dos Fundamentos do Estado

Artigo 1° - O Estado de São Paulo, integrante da República Federativa do Brasil, exerce as competências que não lhe são vedadas pela Constituição Federal.


Artigo 2° - A lei estabelecerá procedimentos judiciários abreviados e de custos reduzidos para as ações cujo objeto principal seja a salvaguarda dos direitos e liberdades fundamentais.


Artigo 3° - O Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que declararem insuficiência de recursos.


Artigo 4° - Nos procedimentos administrativos, qualquer que seja o objeto, observar-se-ão, entre outros requisitos de validade, a igualdade entre os administrados e o devido processo legal, especialmente quanto à exigência da publicidade, do contraditório, da ampla defesa e do despacho ou decisão motivados. Segundo o Site Ofcial do Governo do Estado de São Paulo. No artigo da Constituição do Estado de São Paulo

Barbárie é a condição daquilo que é selvagem, cruel, desumano e grosseiro, ou seja, quem ou o que é tido como bárbaro. A barbárie pode ser interpretada como uma ação de extrema violência e agressividade, com o único objetivo de afetar diretamente a paz e a tranquilidade de determinado grupo.

A "direita conservadora" é uma vertente política que combina os princípios da direita política, que defende a ordem social, a rejeição a objetivos igualitários e uma estrutura hierárquica, com os do conservadorismo, que prioriza a preservação dos valores, instituições e tradições estabelecidas. Na prática, essa combinação resulta na defesa de ordens sociais tradicionais, valores morais e religiosos, e uma estrutura econômica com menor intervenção estatal. 

Características da Direita Conservadora

Defesa da tradição e ordem social:

Os conservadores defendem a manutenção das estruturas sociais e instituições existentes, rejeitando mudanças radicais. 

Há uma forte ligação com valores morais e religiosos, frequentemente em sintonia com a visão da maioria de uma sociedade, como a defesa da família tradicional.

A política de direita, em geral, opõe-se a objetivos igualitários da esquerda e defende uma menor interferência do Estado, considerando a desigualdade econômica como natural ou inevitável. 

A atuação da direita conservadora muitas vezes se concentra na questão da segurança e na promoção de uma moralidade pública que reflete os valores tradicionais. 

No Brasil, a direita conservadora ganhou força na última década, especialmente com o aumento da representação de parlamentares conservadores no Congresso. 

A ascensão do pensamento conservador tem sido impulsionada por parte do segmento evangélico, que busca defender e inscrever seus valores morais na ordem legal do país. 

Temas como a defesa da família, educação, moralidade e segurança são centrais nas pautas da direita conservadora no Brasil. 

O termo "direita conservadora" é objeto de debates e às vezes usado de forma pejorativa por críticos, mas também por adeptos para identificar uma corrente política que defende princípios e preceitos específicos. 

Amparado pela Direita Conservadora. O Estado de São Paulo. Naturaliza a Barbaríe.

Confira a noticia no Portal G1 da Rede Globo..       https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2025/09/01/justica-responsabiliza-estado-de-sp-por-morte-de-morador-de-rua-cometida-por-pm-e-ordena-custeio-de-trasl



E assim caminha a humanidade.

Imagem ; Blog do Boitempo




 
 

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário