quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Bolsonarismo.

 Editorial

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 BOLSONARISMO EM FOCO

 A expressão “bolsonarismo” irrompeu no debate polí

tico repentinamente e logo se alastrou nas análises polí

ticas. Buscas realizadas no arquivo da Folha de S.Paulo, 

do Estadão e do Google acadêmico, com o intuito de 

rastrear o súbito crescimento do termo, revelam que a 

maioria das primeiras menções surgem — timidamente — 

em 2017. No entanto, é apenas no ano das eleições pre

sidenciais, em 2018, que as referências e análises sobre o 

“fenômeno bolsonarista” explodem.

 Embora tenham sido encontrados apenas cinco repor

tagens ou textos acadêmicos que se referiram ao “bolso

narismo” antes de 2018, os primeiros registros são repre

sentativos. Ainda em 2014, Conrado Hübner Mendes 

escreveu uma coluna no Estadão intitulada: “Reféns do 

Bolsonarismo”. O texto alertava contra “surtos agudos de 

primitivismo político”, que não aceita as regras do regime 

democrático, dos princípios e direitos fundamentais da 

Constituição de 1988, nem mesmo da decência política. 

Tampouco compactua com uma interlocução pautada 

em fatos e evidências, preferindo “frases de efeito moral” 

impregnadas de homofobia, sexismo, racismo e de desqua

lificação do adversário. Para Hübner Mendes, esse surto 

primitivista representa um “Brasil que ainda nos espreita 

da esquina”, e que tem mantido diversas lideranças polí

ticas em silêncio — como “reféns” —, pelo temor de uma 

derrota eleitoral (Mendes, 2014). 

Já no ano de 2017, uma reportagem da Folha de S.Paulo 

destacava o movimento político liderado por Bolsonaro. 

Sob o título “Bolsonaro arrebata direita jovem e nordes

tina com ideologia ‘pá, pá, pá’”, a versão impressa do jor

nal publicava logo abaixo, na mesma página, um texto 

com a chamada “‘Bolsonarismo’ vai de MEC sob comando 

militar a ‘pá, pá, pá’ contra estupradores”. Os dois textos 

narram o alvoroço em torno da visita de Bolsonaro a Natal, 

Lua Nova, São Paulo, 122, e122007nm, 2024

Bolsonarismo em foco

 onde foi recebido por uma multidão (com uma maioria de 

jovens), e não poupavam na caracterização dos impactos de 

um político que cativava a juventude e era visto como um 

herói, uma sensação, ou um mito. Também relataram falas 

de apoiadores e de Bolsonaro contra o comunismo, o femi

nismo e “a esquerda [que] se droga, transa com animal, 

com gente do mesmo sexo”. Em contrapartida, Bolsonaro 

elogiou o serviço militar que, segundo ele, “ensina recrutas 

a usar ‘sr’ e ‘sra’ e a ter higiene”, dentre outros desatinos 

(Balloussier e Leoni, 2017a, 2017b).

 Em “Bolsonaro, o Brasil que desistiu”, coluna na Folha 

de Celso Rocha de Barros, o tema em debate foi a “visão 

que Jair Bolsonaro defende para o Brasil” e o abandono de 

ideais de direitos humanos, de diversidade e até mesmo de 

qualquer “pretensão de pertencer ao Ocidente iluminista”. 

Segundo Barros, “o ideal de polícia de Jair Bolsonaro é um 

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 esquadrão da morte sem qualquer limite legal. Algo nesta 

linha está em implantação nas Filipinas. Se o Brasil desistir 

de ser Estados Unidos e topar ser Filipinas, Bolsonaro tem 

chances de vitória”. Na conclusão, o bolsonarismo aparece 

descrito como algo infantil (Barros, 2017).

 Por fim, o artigo de João Ricardo Dornelles, “Direitos 

Humanos em Tempos Sombrios” (2017), discutia a crise da 

“era dos direitos” em meados da década de 2010 e a mani

festação da intolerância, do racismo, de valores fascistas e 

da xenofobia, combinados a diversos outros retrocessos de 

caráter ultraconservador. A menção ao bolsonarismo no 

artigo é feita de passagem. É significativo, todavia, notar 

que o bolsonarismo é listado em um contexto mais amplo 

de movimentos políticos ocidentais que estão promovendo 

uma guinada à direita, desacreditando as instituições demo

cráticas, assim como as noções de igualdade e liberdade. 

São categorizados nesse viés, o Tea Party, o ressurgimento 

da Ku Klux Klan, o fenômeno Trump, a Frente Nacional 

Lua Nova, São Paulo, 122, e122007nn, 2024

Natália Nóbrega de Mello e Pedro Luiz Lima 

francesa (Rassemblement National) e grupos brasileiros como 

o Movimento Brasil Livre (MBL) e o bolsonarismo.

 Nesses textos publicados entre 2014 e 2017, em suma, 

já haviam sido diagnosticadas facetas como a capacidade 

de atração e mobilização das massas; a recusa em aceitar a 

Constituição de 1988, as práticas democráticas e os direitos 

fundamentais; bem como o potencial destrutivo do bolsona

rismo e a sua similitude com mobilizações correspondentes 

alhures. Desde então, o termo frequenta as análises políti

cas, com intensidade crescente à medida que o movimento 

se tornou vitorioso na corrida eleitoral. Tal como anunciado 

no enigma da esfinge, antes de conseguirmos decifrá-lo — 

com rigor teórico e científico —, fomos “devorados”, e os 

planos bolsonaristas de desmonte e destruição alcançaram 

amplos e profundos resultados. Passado todo esse pro

cesso, sete anos depois, nossa tarefa intelectual de decifrar 

o enigma ainda persiste: como entender o bolsonarismo, 

afinal? Como defini-lo? Quais são suas especificidades em 

relação aos movimentos correspondentes em outros países?

 O número 122 da Lua Nova é dedicado, especialmente, 

a trazer contribuições teóricas e analíticas a essas questões. 

A edição abre com o artigo “Da destruição como para

digma”, de Renato Lessa, que caracteriza o bolsonarismo 

como um projeto destrutivo, sem qualquer precedente na 

história ideacional ou política, e cujo entendimento deve 

ser rastreado em seus efeitos de devastação da vida na pan

demia, das populações originárias e do próprio quadro 

político inaugurado desde a Constituição de 1988. Uma vez 

eliminadas as garantias constitucionais, restaria o usufruto 

de uma “liberdade natural” em chave hobbesiana. A seguir, 

Thomás Zicman de Barros discorre, em “Populismo, crise 

estética e massificação: reflexões sobre a transgressão no 

lulismo e no bolsonarismo”, sobre a relação entre popu

lismo e transgressão estética, isto é, entre a mobilização por 

líderes populistas de massas invisibilizadas e a crise estética.  

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 Lua Nova, São Paulo, 122, e122007nm, 2024

Bolsonarismo em foco

 A partir da noção de “partilha do sensível”, de Jacques 

Rancière, o autor chama a atenção para os regimes de visi

bilidade que separam o que pode e o que não pode apare

cer na esfera pública, e para os efeitos perversos daquela 

partilha em sociedades de massa.

 O texto subsequente — “Sistema e antissistema na 

crítica do bolsonarismo” —, de Pedro Luiz Lima e Jorge 

Chaloub, analisa criticamente duas obras que examinam a 

gênese histórica do bolsonarismo: “Limites da democracia: 

de junho de 2013 ao governo Bolsonaro”, de Marcos Nobre, 

e “Do transe à vertigem: ensaios sobre bolsonarismo e um 

mundo em transição”, de Rodrigo Nunes. Ambas as obras 

articulam o entendimento do bolsonarismo e sua gênese a 

uma interpretação da crise do sistema político brasileiro, 

levando-os a uma definição do conceito de bolsonarismo 

pautada no antagonismo sistema-antissistema. Para Lima e 

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 Chaloub, entretanto, há limites na identificação unilateral 

do bolsonarismo como antissistema, evidenciados na negli

gência do processo de radicalização da direita tradicional na 

última década e na naturalização das narrativas da ultradi

reita sobre sua própria trajetória.

 Adriana Escosteguy, por sua vez, busca compreender 

a dinâmica de radicalização do antagonismo social e polí

tico em “Um Brasil dividido? Reflexões sobre a polarização 

política e social no Brasil contemporâneo”. Apoiando-se 

em ampla bibliografia, com dados sobre comportamento 

político e surveys sobre as percepções da população, 

Escosteguy atesta que a polarização não é mero efeito cir

cunstancial da conjuntura política e desenvolve uma hipó

tese sobre suas raízes estruturais. Para além da surrada crí

tica da polarização política no contexto de emergência do 

bolsonarismo, trata-se de deslocar a análise para pensar o 

bolsonarismo como efeito, e não como causa, de uma dinâ

mica estrutural de polarização.

 Lua Nova, São Paulo, 122, e122007nn, 2024

Natália Nóbrega de Mello e Pedro Luiz Lima 

Em “A Palavra e a coisa: bolsonarismo como conver

gência, horizonte, infraestrutura, ecologia e máquina”, 

Rodrigo Nunes propõe-se a examinar as condições de for

mação e consolidação do bolsonarismo a fim de estabele

cer contornos mais rigorosos ao conceito. Essa força social 

e política é entendida, então, antes de tudo, como uma 

convergência de elementos que ganharam identidade e 

direção em 2018. Aqui, em termos análogos aos do artigo 

de Lessa, haveria no bolsonarismo um horizonte político 

de retraimento do Estado, com a postulação radical de 

uma liberdade que remeteria, em sua afirmação da violên

cia, ao estado de natureza hobbesiano. Para Nunes, o caso 

brasileiro de emergência da extrema-direita não deve ser 

tratado isoladamente e tampouco apresenta qualquer ino

vação ideológica notável, devendo antes ser concebido 

como efeito de uma ecologia política e de uma convergên

cia de atores e de oportunidades.

 Os textos seguintes contribuem com análises empí

ricas de segmentos cruciais para a formação do bolso

narismo, quais sejam, os operadores de segurança e o 

campo evangélico. A partir de trabalho etnográfico, Louise 

Cadorel explora a constituição do discurso punitivista em 

“Compreendendo o ‘punitivismo’ desde um espaço profis

sional: os agentes de segurança socioeducativa no Rio de 

Janeiro”. A autora analisa o impacto do contexto das uni

dades socioeducativas na consolidação de valores e visões 

de mundo afins ao punitivismo entre os profissionais que 

trabalham diretamente com jovens infratores detidos pelo 

Estado. Mais uma vez, percebemos como a violência é parte 

fundamental não só da ideologia bolsonarista, mas também 

do contexto que possibilitou sua ascensão eleitoral.

 Margaux de Barros, autora de “Entre a fé e a expressão 

política: etnografia das interações entre pastores e fiéis evan

gélicos durante as eleições de 2022 no Rio de Janeiro”, parte 

de seu trabalho de campo em templos da Zona Oeste carioca 

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 Lua Nova, São Paulo, 122, e122007nm, 2024

Bolsonarismo em foco

 no segundo semestre de 2022 para analisar as dificuldades da 

esquerda diante da hegemonia bolsonarista entre o eleito

rado evangélico. De Barros ilustra, com suas descrições etno

gráficas, a delicada entrada da campanha eleitoral nos cultos 

e as reações adversas à mistura explícita entre fé e política. 

Complexifica-se, assim, os lugares-comuns sobre a entrada do 

bolsonarismo nas igrejas evangélicas e percebem-se possibili

dades para uma reversão da hegemonia atual.

 Esta edição conta ainda com mais dois artigos avulsos. 

“Desenvolver para preservar: o desenvolvimentismo con

servador de Juarez Távora durante a República de 1946”, 

de Helio Cannone, é dedicado ao pensamento político 

desse importante ator militar e político da República de 

1946, ex-candidato à presidência pela União Democrática 

Nacional (UDN) nas eleições de 1955, ex-diretor da Escola 

Superior de Guerra (ESG), além de um dos formuladores 

da doutrina de segurança nacional. Nesse estudo, Cannone 

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 busca interpretar o projeto desenvolvimentista de Távora 

para o Brasil, tendo em vista sua adesão ideológica ao con

servadorismo. O estudo dos discursos e pronunciamentos 

de Juarez Távora ilumina, portanto, um modo possível de 

articular um ponto de vista conservador com a defesa da 

modernização, isto é, da adoção de bandeiras desenvolvi

mentistas que estivessem aliadas a ideais de preservação da 

ordem, da tradição e do costume.

 Diogo Cunha, por sua vez, contribui com “A constru

ção de uma sociedade de iguais. O problema da igualdade 

na teoria democrática de Pierre Rosanvallon”. O artigo 

dedica-se a reconstruir a crítica de Rosanvallon às teorias 

da justiça de John Rawls e Ronald Dworkin, e a mostrar 

como esse diálogo contribuiu para a elaboração da con

cepção rosanvalloniana de “igualdade-relação”, que abre 

novos caminhos para se refletir política e teoricamente 

acerca da igualdade diante dos atuais desafios e dilemas 

democráticos contemporâneos.

 Lua Nova, São Paulo, 122, e122007nn, 2024

Natália Nóbrega de Mello e Pedro Luiz Lima 

Os nove artigos deste número foram enviados esponta

neamente por seus autores e foram avaliados positivamente 

por nossos pareceristas, a quem novamente agradecemos.

 Bibliografia

 BALLOUSSIER, Anna Virginia; LEONI, Marcus. (2017a). Bolsonaro 

arrebata direita jovem e nordestina com ideologia ‘pá, pá, pá’. Folha 

de S.Paulo, São Paulo.

 BALLOUSSIER, Anna Virginia; LEONI, Marcus. (2017b). ‘Bolsonarismo’ 

vai de MEC sob comando militar a ‘pá, pá, pá’ contra estupradores. 

Folha de S.Paulo, São Paulo.

 BARROS, Celso Rocha de. (2017). Bolsonaro, o Brasil que desistiu. Folha 

de S.Paulo, São Paulo.

 DORNELLES, João Ricardo. (2017). Direitos Humanos em Tempos 

Sombrios: barbárie, autoritarismo e fascismo do século XXI. Revista 

Interdisciplinar de Direitos Humanos, v. 5, n. 1, pp. 153-168.

 MENDES, Conrado Hübner. (2014). Reféns do Bolsonarismo. O Estado 

de S. Paulo, São Paulo.

 Natália Nóbrega de Mello

 Professora do Departamento de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica 

de São Paulo (PUC-SP), São Paulo, SP, Brasil 

E-mail: nmello@pucsp.br 

https://orcid.org/0000-0002-4220-8729

 Pedro Luiz Lima

 Professor do Departamento de Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais 

da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS-UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil 

E-mail: pedrollima@gmail.com 

https://orcid.org/0000-0001-7830-5136

 http://dx.doi.org/10.1590/0102-001007nn/122

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 Lua Nova, São Paulo, 122, e122007nm, 2024. O artigo do autor Pedro Luiz Lima

 Professor do Departamento de Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais 

da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS-UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil 


Bolsonarismo refere-se a uma ideologia política e movimento social associado a Jair Bolsonaro, caracterizado por um ultraconservadorismo, nacionalismo patriótico, defesa de valores tradicionais, oposição ao comunismo e à esquerda, e uma retórica antissistema, autoritária e de desrespeito a instituições e minorias. É um fenômeno que vai além da figura de Bolsonaro, incorporando elementos de extrema-direita, como o anticomunismo, o negacionismo científico, a defesa do armamento e a rejeição de direitos humanos. 

Características principais:

Ultraconservadorismo e valores tradicionais:

Defesa da família tradicional, da religião e de costumes morais conservadores. 

Nacionalismo e patriotismo:

Exaltação da pátria, um discurso nacionalista e a oposição a ideias consideradas estrangeiras ou anti-brasileiras. 

Anticomunismo e anti-esquerda:

Forte oposição a tudo que é identificado com a esquerda política e progressista. 

Autoritarismo e anti-institucionalismo:

Crítica e desconfiança de instituições democráticas e uma inclinação para a retórica e práticas autoritárias. 

Negacionismo e desinformação:

Rejeição do consenso científico e disseminação de desinformação. 

Ideologia "cidadão de bem":

Destaque para a construção de uma identidade de "cidadão de bem" em contraposição a outros grupos. 

Uso de discurso de ódio e violência:

O bolsonarismo frequentemente utiliza um discurso que desqualifica grupos sociais e minorias, promovendo a exclusão. 

O bolsonarismo não surgiu com Bolsonaro, mas sim um conjunto de ideias extremistas que ele soube projetar nacionalmente. 

É visto como um fenômeno que transcende a figura do ex-presidente, sendo um movimento que se articula através de uma máquina de acúmulo e descarga de afetos e paixões. 

A ideologia é considerada constitutiva e estrategicamente incoerente, mobilizando paixões e mobilizando seguidores em torno de uma visão de mundo específica. 

O bolsonarismo  na sua essencia. É uma corrente fascista e antidemocrática.

Confira a noticia na Folha de São Paulo.               .https://www1.folha.uol.com.br/poder/2025/09/estrategia-de-bolsonaro-no-stf-ignora-como-conduta-de-ex-presidente-estimulou-apoiadores.shtml


E assim caminha a humanidade.

Imagem ; Universidade do Estado do Rio de Janeiro.





 






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