O capitalismo é um sistema socioeconômico predominante na maioria dos países, que se baseia na propriedade privada dos meios de produção, na busca pelo lucro e na economia de mercado.
Princípios e Características Fundamentais
Propriedade Privada: Indivíduos e empresas, e não o Estado, são proprietários da maioria dos bens e dos meios de produção (fábricas, terras, ferramentas, etc.).
Busca pelo Lucro: O principal objetivo da atividade econômica é a acumulação de capital (riqueza) na forma de bens e dinheiro.
Economia de Mercado: A produção e distribuição de bens e serviços são regidas pela lei da oferta e da demanda, com mínima intervenção governamental (especialmente na teoria liberal clássica, proposta por Adam Smith).
Livre Concorrência: Empresas competem entre si no mercado, o que, em tese, regula preços e estimula a inovação e a eficiência.
Divisão de Classes Sociais: O sistema é marcado pela estratificação social, geralmente entre a burguesia (donos dos meios de produção) e o proletariado (trabalhadores que vendem sua mão de obra em troca de um salário).
Trabalho Assalariado: A maioria das pessoas trabalha para um salário, em vez de produzir para seu próprio sustento.
Fases do Capitalismo
O sistema capitalista se adaptou e evoluiu ao longo do tempo, passando por diferentes fases:
Capitalismo Comercial (ou Mercantil): Focado no comércio e na acumulação de metais preciosos, predominante durante as Grandes Navegações (séculos XV ao XVIII).
Capitalismo Industrial: Impulsionado pela Revolução Industrial, com foco na produção fabril em larga escala e no liberalismo econômico (mínima intervenção estatal).
Capitalismo Financeiro (ou Monopolista): Caracterizado pela grande concentração de capital nas mãos de bancos e grandes corporações (monopólios e oligopólios), que controlam o mercado.
O capitalismo é frequentemente discutido em oposição ao socialismo, que defende a administração coletiva ou estatal dos meios de produção e uma distribuição de bens mais igualitária.
Os donos do capital enriquecem as custas da exploração do trabalho
A base do enriquecimento capitalista reside na apropriação do valor excedente (a mais-valia) produzido pelos trabalhadores. Os trabalhadores vendem sua força de trabalho em troca de um salário, mas o valor que eles produzem durante a jornada de trabalho é maior do que o valor que recebem como pagamento.
Apropriação do excedente: A diferença entre o valor produzido e o salário pago é retida pelo capitalista (o dono dos meios de produção, como fábricas e equipamentos) como lucro. Essa apropriação do fruto do trabalho alheio é o que Marx define como exploração.
Divisão de classes: Essa dinâmica cria uma divisão social fundamental entre duas classes antagônicas: a burguesia (donos do capital) e o proletariado (trabalhadores que possuem apenas sua força de trabalho para vender).
Outras perspectivas econômicas, no entanto, argumentam contra a teoria da exploração, sugerindo que o capital aumenta o valor do trabalho e que o lucro é uma recompensa legítima pelo risco, inovação e fornecimento de meios de produção por parte do capitalista.
Os donos do capital enriquecem pela exploração do trabalho é alago real no capitalismo, enquanto economistas de outras vertentes têm visões diferentes sobre a origem do lucro e a relação entre capital e trabalho.
Confira o artigo do autor Rogério Nagamine Costanzi logo abaixo.
As novas formas de
exploração do trabalho no
capitalismo contemporâneo
e as políticas públicas de
combate à desigualdade
Rogério Nagamine Costanzi
“Há certos tipos de relações sociais e de contradições sociais, determinado
tipo de desigualdade que outrora se perpetuava no imobilismo, que agora se
reproduzem em e através do crescimento. Tal constatação exige outra perspec
tiva acerca do crescimento. Não diremos como os mais eufóricos: ‘O cresci
mento produz abundância e, portanto, igualdade’; também não aceitamos a
visão inversa extrema: ‘O crescimento é causa da desigualdade’. Invertendo o
falso problema – diremos que o crescimento em si é função da desigualdade. A neces
sidade que a ordem social ‘desigualitária’ e a estrutura social de privilégio têm
de se manter é que produz e reproduz o crescimento como seu elemento
estratégico. Por outras palavras, a autonomia interna do crescimento
(tecnológico, econômico) é fraca e posterior em relação à determinada pela
estrutura social.”
(BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo, p. 52.)
Introdução
O capitalismo passou por profundas alterações desde o seu prelúdio, quando
Karl Marx (1818-1883) analisou-o em sua obra O capital. Atualmente, não existe
mais dualidade tão clara entre capitalistas, de um lado, e a massa homogênea
de operários, de outro, como havia em seu início. Os trabalhadores formam,
presentemente, um grupo heterogêneo. Houve, ademais, separação entre
propriedade e controle do capital, pelo menos nas grandes corporações.
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As novas formas de exploração do trabalho no capitalismo contemporâneo e as políticas públicas de combate à desigualdade
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Em vista de tais mudanças, podemos
comparar o mercado de trabalho, em
especial o qualificado, a uma verdadeira
loteria, em que os trabalhadores competem
entre si por ascensão profissional. Aqui, os
investimentos em capital humano torna
ram-se os bilhetes desta loteria. E, de forma
semelhante ao que acontece em uma loteria,
há sempre vencedores e perdedores.
O capital humano também tornou-se
instrumento para a exploração do trabalho,
à semelhança do capital físico. Os vencedo
res exploram os perdedores, com os
primeiros apropriando-se do produto do
trabalho dos últimos. Tanto o capital
humano quanto o tradicional, descrito por
Marx, em O capital, passaram a constituir
instrumentos de legitimação da apropriação
do trabalho alheio e da exploração. Os traba
lhadores, com baixo ou sem investimento
em capital humano, assim, já estão, a priori,
excluídos da loteria em que se transfor
maram os mercados de trabalho capitalistas;
nesse sentido, já são perdedores.
As formas de exploração introduzidas
pelo capital humano, ao se somarem à tradi
cional exploração do trabalho pelo capital,
reforçaram ainda mais a tendência inerente
à geração de desigualdades pelo capita
lismo1. Os diferenciais de salários justificados
pelo capital humano tornaram-se elementos
adicionais à dicotomia capital-trabalho para
explicar a crescente desigualdade engendrada
pelo modo de produção capitalista.
Dentro desse conceito teórico,
também surgem importantes implicações
para as políticas públicas de combate à
desigualdade. Diferentemente da tradi
cional visão econômica, na qual a
desigualdade é fruto das diferenças
produtivas entre os trabalhadores, surge
um quadro em que ela é resultado
inerente ao capitalismo.
Com o intuito de analisar, de modo
mais detalhado, essa nova forma de
exploração do trabalho do capitalismo e
seu impacto sobre a desigualdade, este
artigo buscará fazer uma revisão crítica da
literatura sobre a desigualdade, seguindo
se as considerações finais.
Revisão crítica da literatura
sobre a desigualdade
No arcabouço da literatura econômica
tradicional2, as causas para explicar os
diferenciais de salários e a desigualdade
podem ser divididas em três grandes
grupos:
a) diferenças nas preferências e carac
terísticas produtivas dos trabalhadores,
sejam aquelas natas ou adquiridas por meio
de investimentos em capital humano;
b) segmentação, normalmente credi
tada a alguma imperfeição de mercado;
c) discriminação (BARROS; MENDONÇA,
1995. BID, 1998. FERNANDES, 2002.
FERREIRA, 2000. RAMOS; VIEIRA, 2000.
RAMOS; VIEIRA, 2001).
No caso de diferenças dos atributos
produtivos dos trabalhadores, o mercado
de trabalho funcionaria como revelador de
desigualdades. Nos casos de segmentação
e de discriminação, o mercado de trabalho
funcionaria como gerador delas. Remune
rações distintas como forma de compensar
diferenças não pecuniárias entre postos de
trabalho ou como decorrência de dotações
desiguais de qualificações serviriam para
revelar diferenças de qualidade entre postos
de trabalho e trabalhadores. Contudo, ao
remunerar, de maneira distinta, indivíduos
que possuem, em princípio, o mesmo
potencial produtivo e trabalham em postos
de trabalho similares, tanto via segmentação
quanto sob a forma de discriminação, o
mercado de trabalho estaria funcionando
como gerador de desigualdades.
A diferenciação entre os dois casos
seria importante, pois, além de implicarem
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Rogério Nagamine Costanzi
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graus de indesejabilidade diferentes,
também demandam políticas de natureza
distinta para combatê-las. Se as principais
causas da desigualdade fossem os diferen
ciais compensatórios e aqueles decorrentes
da heterogeneidade dos trabalhadores,
então elas não residiriam no funcionamento
do mercado de trabalho, sendo fruto de
desigualdades preexistentes (BARROS;
MENDONÇA, 1995. RAMOS; VIEIRA, 2000.
RAMOS; VIEIRA, 2001).
A tradicional teoria econômica está
focada, principalmente, nas diferenças
produtivas dos trabalhadores ou nos
distintos graus de acumulação de capital
humano para explicar os diferenciais de
salários (BECKER, 1964). Em um mundo
sem diferenças de produtividade entre os
trabalhadores e de mercados em concor
rência perfeita, não existiriam diferenciais
de salários. Nesse cenário, as decisões dos
trabalhadores seriam independentes entre
si e estáticas.
Existem, todavia, profundas limitações
nessa teoria. Esse modelo (neoclássico) é
condizente com os primórdios do capita
lismo, quando o mercado de trabalho era
mais homogêneo, com dualidade bem clara
entre os capitalistas e a massa de operários,
homogênea, que realizavam tarefas
repetitivas no processo de produção em
série. Hoje, contudo, o mercado de traba
lho é marcado por grande heterogenei
dade, com agressiva competição entre os
trabalhadores por ascensão profissional.
Essa transformação está ligada, entre
outros fatores, à mudança de empresas
familiares, de estrutura simples, a empre
sas com administração profissional, geren
ciadas por organizações complexas e de
hierarquia piramidal.
A atual heterogeneidade do mercado
de trabalho torna as decisões dos traba
lhadores sobre a oferta de trabalho
interdependentes e dinâmicas (COSTANZI,
1995). As decisões são dinâmicas, por
que a variável relevante não é mais apenas
o salário corrente dado pelo mercado, mas
também, ou mesmo principalmente, a
expectativa de renda futura. Os traba
lhadores esforçam-se de maneira intensa,
no início de suas carreiras, por salários
apenas razoáveis, ou até mesmo
pequenos, não pela irracionalidade, mas,
sim, pela busca patológica3 de ascensão
profissional, típica das atuais sociedades
capitalistas. As decisões individuais dos
trabalhadores sobre a oferta de trabalho
também se tornaram interdependentes,
tendo em vista que a estrutura piramidal
das organizações implica, necessariamente,
concorrência dos trabalhadores entre si
por sucesso profissional. Por sinal, essa
disputa é uma das características mais
marcantes do mercado de trabalho atual,
mas é negligenciada na teoria econômica
tradicional.
Desse diagnóstico surgem importantes
implicações. Diante de uma situação de
informação imperfeita a respeito do futuro,
os trabalhadores que não tiveram sua
expectativa de ascensão profissional efeti
vada, até como conseqüência natural da
busca patológica de sucesso e da estrutura
piramidal das organizações, acabam tendo
ofertado mais trabalho do que efetivamente
teria ocorrido na situação de conhecimento
perfeito do futuro. Nesse caso, o excesso
de oferta de trabalho, obviamente, deve ser
absorvido pelos trabalhadores que tiveram
ascensão profissional de acordo com o
esperado ou acima dele. A exploração do
trabalho não mais ocorre, exclusivamente,
pelo capital físico, mas, também, pela
exploração dos vencedores pelos perde
dores. Além do tradicional instrumento de
legitimação da exploração do capital físico,
o capital humano também se tornou uma
forma adicional de apropriação do trabalho
alheio.
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As novas formas de exploração do trabalho no capitalismo contemporâneo e as políticas públicas de combate à desigualdade
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Nessa situação, a oferta de trabalho
seria, em algum grau, meramente uma
loteria. Os trabalhadores ofertam trabalho,
não porque possuem certeza absoluta da
renda, mas porque esperam aumentar a
probabilidade de ganhar os prêmios
destinados aos vencedores. Os prêmios em
questão são a ascensão profissional e as
recompensas financeiras correspondentes.
Contudo, como as organizações possuem
estruturas piramidais, necessariamente
haverá vencedores e perdedores nesse
jogo, em que os primeiros apropriam-se
de parte do trabalho dos últimos. Os
bilhetes dessa loteria são os investimentos
em capital humano.
Como citado anteriormente e de
forma mais geral, a teoria econômica
tradicional pode ser resumida como aquela
que defende que o salário é determinado
pela produtividade. Em um cenário em
que os trabalhadores têm a mesma
produtividade, os salários seriam iguais e
não existiria desigualdade entre os
trabalhadores.
Caso os trabalhadores tenham dife
renças na produtividade, o eficiente e justo
mercado de trabalho capitalista apenas
traduziria tal fato para os salários. Nesse
contexto, é possível justificar os diferen
ciais de salários e a desigualdade resultante,
principalmente por conta das diferenças
entre os trabalhadores, no tocante às suas
características produtivas, sejam estas natas
ou adquiridas por meio de investimentos
em capital humano, em especial pela
educação. Um trabalhador pode ganhar
um milhão de vezes a mais que outro,
porque é um milhão de vezes mais
produtivo.
Entretanto, é fato que alguns “trabalha
dores” recebem remunerações, em curtos
períodos de tempo, que trabalhadores
médios jamais conseguirão ganhar em toda
a sua vida profissional. Mesmo com essas
evidências empíricas contrárias, a literatura
econômica tradicional continua a justificar
a desigualdade principalmente com base
no capital humano. Tanto é assim que uma
visão predominante a respeito das causas
da desigualdade crescente observada nas
últimas décadas é a de que ela seria resul
tado de alterações ou mudanças tecno
lógicas viesadas para trabalhadores
qualificados, em detrimento dos não-quali
ficados, o que teria incrementado a
demanda dos primeiros em prejuízo dos
últimos. Uma das causas para esse compor
tamento da demanda seria a disseminação
da tecnologia da informação, em especial
a revolução trazida pelos computadores.
Essa teoria é conhecida como skill-biased
technical changes (BOUND; JOHNSON, 1992.
JUHN; MURPHY; PIERCE, 1993. KATZ;
MURPHY, 1992. LEVY; MURNANE, 1992).
Além disso, no caso dos países em
desenvolvimento, o processo de abertura
comercial teria levado a importação de
tecnologia complementar ao trabalho
qualificado e/ou substituta do trabalho de
baixa qualificação, na chamada
skill-enhancing trade hypothesis (ARBACHE;
CORSEUIL, 2001. ROBBINS, 1996. SOARES;
SERVO; ARBACHE, 2001).
Alguns estudos empíricos também
apontam para as diferenças nas caracte
rísticas entre trabalhadores como o prin
cipal fator explicativo individual para a
desigualdade, em especial a educacional
(BARROS; MENDONÇA, 1995. BID, 1998.
FERREIRA, 2000; RAMOS; VIEIRA, 2000.
RAMOS; VIEIRA, 2001). Contudo, como não
há dados sobre a produtividade efetiva,
esses trabalhos utilizam-se de características
observáveis, como ocorre em educação,
na forma de proxies da real produtividade,
impondo sérias limitações às conclusões
desses trabalhos.
De qualquer forma, o diagnóstico da
desigualdade como fruto de distintos
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investimentos em capital humano tem
importantes implicações para o direcio
namento das políticas públicas de combate
à desigualdade. Se o principal fator indi
vidual para os diferenciais de rendimentos
é a desigualdade educacional, é fundamental
que a busca por mais igualdade seja feita
primordialmente pela redução dos dife
renciais educacionais. De certa forma, a
redução da desigualdade seria, assim, grosso
modo, um problema do Ministério da
Educação, e não um resultado inerente ao
funcionamento do mercado de trabalho
capitalista, ou ao capitalismo.
Mesmo admitindo que a teoria do
capital humano pode ser considerada um
avanço em relação à a teoria neoclássica
estática em concorrência perfeita, pois
incorporou questões dinâmicas e a hetero
geneidade dos mercados e explica, parcial
mente, os diferenciais de salários, ela
também apresenta limitações e vem sendo
contestada por vários autores, inclusive
com evidências empíricas (CARD; DINARDO,
2002. FRANK; COOK 1996. GALBRAITH,
2000. SNOWER, 1999).
Cabe aqui destacar as seguintes críticas.
Em primeiro lugar, a visão tradicional, ao
colocar como a principal causa para a
desigualdade os diferenciais de produti
vidade, acaba por legitimá-la. A desigual
dade, como fruto de diferenciais de
produtividade, não pode, de acordo com
esse ponto de vista, ser considerada injus
tiça inerente ao capitalismo; ao contrário,
os mercados de trabalho capitalistas são
justos ao recompensarem cada trabalhador
com a remuneração merecida pelo seu
potencial produtivo.
Mesmo que alguns autores tradicionais
reconheçam a questão da desigualdade de
oportunidades e os diferentes graus de
acesso à educação e ao investimento em
capital humano4, o problema é que, na
realidade, a desigualdade de acumulação
de capital humano é inerente ao sistema
econômico capitalista. O capitalismo gera
desigualdade que, por sua vez, gera
distintas oportunidades que reproduzem
a concentração de renda de uma geração
a outra, criando uma inércia intergeracional
da desigualdade. Nesse sentido, a desigual
dade derivada de diferenciais educacionais
não pode ser considerada justa, mas um
resultado inerente ao próprio funciona
mento do capitalismo.
“Os trabalhadores
esforçam-se de maneira
intensa, no início de
suas carreiras, por
salários apenas
razoáveis, ou até
mesmo pequenos, não
pela irracionalidade,
mas, sim, pela busca
patológica de ascensão
profissional, típica das
atuais sociedades
capitalistas”
Além disso, mesmo reconhecendo que
diferenças nos atributos produtivos dos
trabalhadores influenciam, em algum grau,
os rendimentos e a produtividade, os
salários dos trabalhadores variam, de
forma significativa, em relação ao que seria
esperado por suas características produ
tivas. Existem várias razões para tal fato.
Voltamos a utilizar a metáfora da
loteria. Conforme mencionado anterior
mente, o mercado de trabalho capitalista
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atual pode ser comparado a uma loteria,
na qual os bilhetes são os investimentos
em capital humano. O mesmo investi
mento em capital humano dá igualdade
de acesso aos bilhetes da loteria, mas não
gera igualdade de resultados. Pelo contrá
rio, já que há, necessariamente, vencedores
e perdedores. E nesse mercado, os traba
lhadores que não têm investimento em
capital humano nem participam do jogo
já são, a priori, perdedores. Portanto, existe
confusão entre igualdade de acesso aos
bilhetes de loteria e igualdade de resul
tados, o que explica, por exemplo, que,
mesmo que todos os gerentes de uma
empresa tenham uma mesma produti
vidade potencial, apenas um deles será
promovido a diretor.
Essa situação é absolutamente inconce
bível para a teoria econômica tradicional5,
pois o comportamento maximizador de
lucros das empresas não permitiria esse
desvio entre produtividade e remuneração.
De forma semelhante, os perdedores seriam
irracionais se aceitassem remunerações
abaixo do que seria justificável pela própria
produtividade. Assim, os mercados tende
riam a eliminar desvios entre remunerações
e produtividade.
Há, porém, várias razões para os
mercados não eliminarem esses desvios.
Em primeiro lugar, existe um conheci
mento imperfeito em relação à real produ
tividade de cada um dos trabalhadores, até
mesmo dentro das firmas, problema ainda
mais grave entre elas. Além disso, na reali
dade, a produtividade individual é
interdependente numa organização, assim
como existe divisão de trabalho que faz
com que os trabalhadores dediquem-se a
tarefas distintas, o que dificulta ou até
mesmo deixa sem sentido falar em
comparações de produtividade entre
trabalhadores. Além disso, a própria lógica
de funcionamento dos chamados mercados
internos de trabalho dificulta o ajuste entre
remunerações e produtividade6.
Também é questionável a hipótese de
que o comportamento das firmas, em
especial das grandes corporações, é voltado,
única e exclusivamente, para a maximização
de seus lucros, tendo em vista que elas
passaram a ser dirigidas por tecnoestruturas
que possuem outros incentivos que não
necessariamente, ou apenas, a maximização
de lucros (GALBRAITH, 1982 e 1988).
Como explicar que os trabalhadores
aceitariam remunerações inferiores a sua
produtividade ou ofertariam trabalho
acima do que seria justificável pela remu
neração efetiva, num comportamento
aparentemente irracional?
È necessário, inicialmente, notar que
essa situação é dinâmica. Em um primeiro
momento, os trabalhadores investem em
capital humano com a expectativa de que
esses investimentos resultarão em ascensão
profissional e em expressivas recompensas
financeiras. Para um trabalhador individual,
essas expectativas podem ou não se
concretizar, mas, para os trabalhadores
como um todo necessariamente haverá
aqueles que terão suas expectativas
frustradas, em função da estrutura
piramidal. São os perdedores.
Não há por que supor que os traba
lhadores possam, a priori, ter expectativa
correta e certa a respeito da sua ascensão
profissional, não apenas porque se trata de
situação de conhecimento imperfeito, mas
também porque eles costumam mover-se
por uma busca patológica por sucesso.
Além disso, esse comportamento não pode
ser tomado como irracional, dado que,
por serem elevados os custos de ser
perdedor e grandes os benefícios de ser
vencedor, a competição vira um jogo
típico do dilema do prisioneiro.
Como explicar que os perdedores não
ajustam a sua oferta de trabalho ao longo
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do tempo? Claramente, os trabalhadores
poderiam tentar ajustar sua oferta de
trabalho e seus investimentos em capital
humano ao longo do tempo, de forma a
adequá-los à ascensão profissional
efetivamente conseguida e à respectiva
remuneração, caso sua ascensão tivesse sido
menor que sua expectativa. Contudo, é
preciso notar que a produtividade não é
apenas instrumento de ascensão profissional,
mas também de manutenção do status quo.
Por exemplo, suponha-se que determinado
trabalhador tenha a expectativa de se tornar
presidente de uma corporação e sua dedi
cação em investimento em capital humano
e esforço tenha sido nesse sentido, mas, após
vários anos de carreira, ele venha a perceber
que deve chegar, no máximo, a gerente ou
diretor. Apesar disso, o trabalhador não
poderá reduzir seus esforços de maneira
significativa, pois tem de manter sua posi
ção de gerente ou diretor, que sempre estará
ameaçada pelos demais concorrentes. Além
disso, o fato de que a ascensão profissional
demanda longo tempo na carreira, em
vários torneios sucessivos, diminui o espaço
para o ajuste temporal. Nesse caso, haveria
um problema de inconsistência temporal ou
dinâmica.
Explicada as razões pelas quais os
mercados não ajustam as remunerações à
produtividade, é importante notar que a
visão de loteria está presente em outras
teorias, como as dos mercados do tipo
winner-takes-all (o vencedor leva tudo), para
a qual utilizaremos a sigla MWTA (FRANK;
COOK, 1996), e dos torneios (LAZEAR;
ROSEN)7.
Segundo a primeira teoria(FRANK;
COOK, 1996), o incremento da desigualdade
é resultado da crescente importância, na
economia como um todo, dos “mercados
onde os vencedores levam tudo”. As duas
principais características dos MWTA são
que: a) a recompensa ou o rendimento dos
trabalhadores depende não da performance
individual em termos absolutos, mas, sim,
da performance relativa de cada competidor
em relação aos demais; b) a recompensa
financeira fica concentrada nas mãos dos
poucos indivíduos que tiveram a melhor
performance, com pequenas diferenças no
talento e na produtividade, dando origem
a enormes diferenciais de rendimentos.
Como exemplo de MWTA, poderiam ser
citados os esportes profissionais, o
entretenimento, o mercado de altos
executivos. Contudo, os MWTA estão-se
disseminando e ganhando importância em
toda economia.
Os MWTA seriam resultado de
condições especiais pelo lado da oferta e/
ou da demanda. Pelo lado da oferta, existe
o fato de que os serviços dos melhores
podem ser reproduzidos a um baixo custo
adicional. Por exemplo, o custo marginal
de um DVD do filme vencedor do Oscar
é tão baixo quanto o de qualquer filme.
Portanto, existem economias de escala na
produção ou na distribuição que, por sua
vez, criam tendência para que um produto,
um distribuidor ou um serviço domine o
mercado. Pelo lado da demanda, um
produto torna-se mais valioso a partir do
momento em que um grande número de
consumidores passa a utilizá-lo, como as
fitas de vídeo VHS vis-à-vis as fitas BHS ou
como ocorreu com os sistemas operacio
nais de computadores. São as chamadas
economias de rede.
A tendência de incremento dos MTWA
seria a combinação de expressiva redução
dos custos de transporte, de tendência de
declínio de barreiras tarifárias, de desenvol
vimentos na área de comunicações e de
processamento de informações que tiverem,
como impacto conjunto, a ampliação dos
mercados acessíveis aos melhores produtos
ou produtores em nível internacional.
Enfim, o incremento dos MTWA seria
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As novas formas de exploração do trabalho no capitalismo contemporâneo e as políticas públicas de combate à desigualdade
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reflexo do processo de globalização e/ou
tendência de concentração.
A teoria dos superstars (ROSEN, 1981)8
também aponta fatores semelhantes para
explicar o surgimento da concentração da
renda em alguns poucos trabalhadores. O
fenômeno dos superstars seria aquele em que
um relativamente pequeno número de
agentes recebem enormes remunerações
e dominam as atividades em que estão
engajados, que estão-se tornando cada vez
mais importante no mundo moderno.
Na economia dos superstars (ROSEN,
1981), haveria uma imperfeita substituição
entre os diferentes vendedores. Vendedores
de menor talento seriam fracos substitutos
em relação àqueles de maior talento. A
demanda pelos mais talentosos cresceria
de forma mais que proporcional ao incre
mento do talento. Assim, ouvir uma
sucessão de cantores medíocres não seria
igual a ouvir um cantor excepcional, ou, se
um cirurgião for 10% mais bem sucedido
em salvar vidas que seus demais concor
rentes, a maioria das pessoas estará
disposta a pagar mais que 10% de prêmio
pelos seus serviços.
Além disso, haveria, pelo lado da oferta,
uma forma de consumo conjunto, não
muito diferente dos chamados bens
públicos. Dessa forma, um artista deve fazer
o mesmo esforço tanto para dez quanto
para mil pessoas que estejam assistindo ao
seu show. Assim também deve proceder um
autor com os compradores de seu livro. De
forma mais geral, os custos de produção
não crescem na proporção do tamanho do
mercado do vendedor ou mesmo não
crescem, havendo, portanto, economias de
escala na produção.
Também a teoria de torneios, ou
tournaments (L AZEAR; ROSEN, 1981), admite
a possibilidade, em determinadas circuns
tâncias, de que a remuneração não seja feita
com base na medida absoluta da produ
tividade dos trabalhadores, mas, sim, com
base no desempenho do trabalhador em
relação ao dos demais trabalhadores, o que
se aproxima, novamente, de uma loteria.
Segundo essa visão, apesar da tradicional
visão econômica de que os trabalhadores
devem ser pagos de acordo com o valor
do seu produto marginal, as loterias
competitivas também podem levar a uma
estrutura de incentivos eficiente.
Nesse sistema de premiação, a remu
neração da classificação seria baseada no
ranking, e não na diferença absoluta de
produtividade. Sob determinadas circuns
tâncias, seria ótimo fixar as remunerações
dessa forma. Mais especificamente, quando
os custos de monitoramento são elevados
ou o monitoramento é difícil, incentivando
o shirking ou problemas de moral hazard,
pagar os trabalhadores com base no ranking
tem-se mostrado uma eficiente estrutura de
incentivos. Além disso, esse tipo de esquema
de compensação altera a natureza de risco
enfrentado pelos trabalhadores.
O salário do vice-presidente de uma
particular corporação é bem inferior ao
do presidente e, geralmente, os presidentes
são escolhidos pelo ranking dos vice-presi
dentes. Assim, num dia, um determinado
vice-presidente pode ser promovido a
presidente e seu salário ser triplicado. É
difícil argumentar que sua habilidade ou
produtividade tenha triplicado de um dia
para outro, tornando complicada a tarefa
de compatibilizar tal fato com a teoria
tradicional, que diz que os salários nas duas
ocupações, presidência e vice-presidência,
deveriam ser aproximadamente iguais. Na
realidade, a presidência é o prêmio de um
torneio, de forma que o salário do presi
dente não é fixado de forma a refletir a
corrente produtividade dele, mas, sim, a
induzir a todos os competidores a se
esforçarem para obter a promoção. Essa
interpretação sugere que presidentes de
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grandes corporações ganham grandes
salários, não necessariamente porque são
mais produtivos como presidentes, mas,
sim, porque essa particular estrutura de
salários torna-os mais produtivos ao longo
das carreiras profissionais. Então, a presi
dência é como um torneio que fornece o
incentivo apropriado à aquisição do capital
humano prévio para se atingir tal posição.
Do ponto de vista dos objetivos deste
artigo, cabe notar que tanto a teoria dos
MWTA quanto a dos torneios descrevem
o mercado de trabalho, em algum grau,
como uma loteria, em que a remuneração
não é dada pela produtividade absoluta,
mas pelo ranking. Em especial, a teoria dos
MWTA denota que pequenos diferenciais
de produtividade geram enormes dife
renças de rendimentos.
Também é necessário notar que as
forças que dão origem à concentração de
renda, tanto no MWTA quanto no
fenômeno dos superstars, não podem ser
consideradas exceções às regras de
mercado, mas, pelo contrário, são muitas
vezes tendências naturais do capitalismo.
Pelo lado da demanda, por exemplo, a
diferenciação de produtos no capitalismo,
longe de ser uma exceção, é uma tendência
natural. Os vendedores buscam diferenciar
seus produtos dos demais, pois sabem que,
dessa forma, poderão cobrar preços
maiores. Portanto, a hipótese da teoria
econômica tradicional, de que produtos
homogêneos são perfeitos substitutos entre
si, não é apenas irrealista, como é, acima
de tudo, contra uma tendência natural ou
esperada do próprio capitalismo.
Além disso, a imperfeita substituição
entre os vendedores pode prescindir de
diferenças de talento ou produtividade. Por
exemplo, a lista de best-sellers sempre contará
com número limitado de livros, os quais,
mesmo existindo outros com a mesma
qualidade, terão a preferência do público.
Nesse sentido, a desigualdade deixa de
ser resultado de imperfeições de mercado
e passa a ser uma tendência inerente ao
capitalismo, pois as forças que favorecem
a concentração não são exceções, mas
tendências naturais do funcionamento do
sistema econômico capitalista atual.
A teoria econômica também costuma
relacionar o comportamento da desigual
dade ao grau de desenvolvimento e/ou
ao processo de crescimento econômico.
“O objetivo microeco
nômico que gera o
crescimento macroeco
nômico é a busca pela
desigualdade. Como
esperar a igualdade do
processo de crescimento
macroeconômico, se o
objetivo microeconô
mico que o gera é a
desigualdade?
Existem teorias que defendem que a
desigualdade tende, naturalmente, a se
reduzir, à medida que vai ocorrendo o
desenvolvimento ou crescimento econô
mico (BID, 1998).
Tal tendência decorreria de vários
fatores. Em primeiro lugar, nas etapas
iniciais de desenvolvimento ou acumulação
capitalista, a escassez de capital implica
retornos muito elevados para esse fator de
produção relativo ao trabalho, fator que é
Revista do Serviço Público Brasília 56 (1): 37-55 Jan/Mar 2005
45
As novas formas de exploração do trabalho no capitalismo contemporâneo e as políticas públicas de combate à desigualdade
RSP
abundante. Mas, à medida que vai ocor
rendo o desenvolvimento econômico, o
estoque de capital tende a se elevar, e a
tendência é de redução do retorno do fator
produtivo do capital.
Um mecanismo semelhante ocorre no
caso da educação. Com níveis muito
baixos de escolaridade, os poucos que têm
maior grau de escolaridade tendem a ter
rendimentos muito elevados. À medida
que o nível educacional de toda a popu
lação economicamente ativa vai crescendo,
a tendência é, ceteris paribus, que o retorno
dos trabalhadores com escolaridade mais
elevada reduza-se em relação ao dos
trabalhadores com escolaridade menos
elevada e, assim, poder-se-ia esperar
menor desigualdade educacional entre os
trabalhadores. Então, o progresso educa
cional tenderia a contribuir com a redução
da desigualdade ao longo do tempo.
Os padrões demográficos também
criam uma tendência de redução da
desigualdade, à medida que o desenvolvi
mento vai evoluindo. Taxas de crescimento
da população mais elevadas implicam
maior heterogeneidade no tamanho das
famílias. Nas famílias mais numerosas,
origina-se uma pior distribuição da renda
per capita, além de a mulher participar menos
do mercado de trabalho e de os filhos
tenderem a receber menos educação. À
medida que a taxa de fecundidade cai, em
especial para as famílias mais pobres, tende
a haver melhora da renda per capita, maior
participação da mulher no mercado de
trabalho e maiores avanços educacionais
dos filhos.
Outra razão pela qual tenderia a se
reduzir a desigualdade à medida que vai
evoluindo o desenvolvimento seria a tran
sição do campo para o meio urbano. No
campo, as oportunidades seriam menores,
devido à pequena integração dos mer
cados, às maiores dificuldades de acesso à
educação, às possibilidades de emprego
mais limitadas e ao menor acesso ao
financiamento. Ainda, de forma estereo
tipada, a renda e o nível educacional seriam
menores no campo que na cidade e as
famílias tenderiam a ser mais numerosas
no campo que na cidade. Nas etapas iniciais
do processo de urbanização, as diferenças
de renda entre o campo e a cidade contri
buiriam para elevar a desigualdade de
rendimentos. Entretanto, à medida que vai
avançando o processo de urbanização, o
diferencial de rendimentos entre o campo
e a cidade afetará apenas pequena fração
da população e sua contribuição para a
desigualdade seria reduzida. O mesmo tipo
de raciocínio aplica-se ao processo de
formalização das atividades produtivas.
Em um primeiro momento da formali
zação das relações trabalhistas, os privi
légios de poucos assalariados formais
seriam fonte de desigualdade, mas, à
medida que a formalização avança, esse
processo converte-se em fator de eqüidade.
De modo geral, pode-se dizer que a
formulação teórica que predomina na
literatura sobre desenvolvimento
econômico defende que, nos estágios
iniciais e intermediários do desenvolvi
mento – medidos pela renda per capita –,
o mecanismo que promove o crescimento
acarreta também piora na distribuição de
renda. O fator que explica tal fato é a
transferência da população do meio rural
para o urbano, o que induz ao surgimento
de atividades produtivas cuja complexi
dade exige mão-de-obra mais especia
lizada e remuneração mais elevada, em
função de sua melhor e/ou maior
qualificação. Somente nos estágios mais
avançados do desenvolvimento econô
mico é que a distribuição de renda tornar
se-ia mais igualitária. Tal teoria é conhecida
como a curva de Kuznets, sugerindo
padrão de desigualdade que acompanha
46
Revista do Serviço Público Brasília 56 (1): 37-55 Jan/Mar 2005
Rogério Nagamine Costanzi
RSP
o desenvolvimento dos países, que pode
ser caracterizado como U invertido. Con
tudo, essa teoria vem sendo rejeitada por
um número crescente de autores
(LOCATELLI, 1988).
No Brasil, também o trade-off entre
crescimento e igualdade ficou marcado, na
política econômica, pela política do “cres
cer o bolo primeiro, para depois distribuir”
ou, na sua versão de nouvelle cousine, “crescer,
crescer e crescer” (HENRIQUES, 2000). De
certa forma, a piora na desigualdade, nas
fases iniciais e intermediárias do desenvol
vimento econômico, seria uma necessidade,
pois permitiria a geração de poupança, tão
fundamental para o processo de acumu
lação de capital e crescimento econômico.
Vários autores contestam a visão de
que, necessariamente, para países em
desenvolvimento, o crescimento e a igual
dade são objetivos conflitantes entre si.
Seria bastante questionável a interpretação
que assegura que a distribuição de renda
deve piorar antes de se tornar mais igua
litária. De forma semelhante, contudo, não
se poderia postular a existência de relação
direta entre crescimento e melhora na con
centração de renda, pois, entre os países
em desenvolvimento que apresentaram
altas taxas de crescimento, alguns apresen
taram piora e outros, melhora na distri
buição de renda. Na realidade, haveria
espaço para as políticas públicas influírem
na relação entre crescimento e desigualdade
(LOCATELLI, 1988).
Vários outros autores também ques
tionam o suposto trade-off entre eficiência
e igualdade. Na realidade, alguns autores
argumentam que, ao contrário da visão
tradicional, a desigualdade pode trazer
efeitos negativos para a eficiência econô
mica, pois prejudica, por exemplo, os
investimentos em capital humano
(FERREIRA, 2000).
Do ponto de vista deste trabalho, cabe
destacar que, mesmo que as políticas
públicas tenham algum “espaço” para
influenciar a relação entre crescimento e
desigualdade, existem razões para que haja
limitações nessa influência. Com isso, não
se quer negar que a desigualdade possa
influenciar negativamente o crescimento
econômico ao trazer prejuízos ao investi
mento em capital humano, contudo é
importante salientar que, em algum grau,
o tradicional trade-off entre eficiência e
igualdade é inerente às motivações
econômicas dos agentes individuais em um
sistema econômico capitalista ou, pelo
menos, exacerbadas pelo capitalismo.
Primeiramente, ressalta-se que a
principal motivação dos agentes econô
micos individuais para ações ou tomada
de decisões que geram crescimento econô
mico, como acumulação de capital físico e
humano, é, em geral, a busca pela desigual
dade de renda, mais especificamente, é ter
padrão de renda igual ou melhor à média
da sociedade. Nesse sentido, o objetivo
microeconômico que gera o crescimento
macroeconômico é a busca pela desigual
dade. Como esperar a igualdade do
processo de crescimento macroeconômico,
se o objetivo microeconômico que o gera
é a desigualdade?
Nesse sentido, a desigualdade reproduz
se não mais no imobilismo, mas no
crescimento e por meio dele. O crescimento
passa a ser função dela ou forma de repro
duzi-la. Mostra que a necessidade de a ordem
social “desigualitária” e a estrutura social de
privilégio manterem-se é que produz e
reproduz o crescimento como seu elemento
estratégico (BAUDRILARD, 1995).
A desigualdade é fruto inerente ao
funcionamento dos sistemas econômicos
capitalistas e a busca por desigualdade de
renda dos agentes econômicos individu
ais está por detrás do fenômeno do cres
cimento macroeconômico. Os mecanis
mos de mercado e a sua “mão invisível”9
não são capazes de atenuar, de forma
Revista do Serviço Público Brasília 56 (1): 37-55 Jan/Mar 2005
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As novas formas de exploração do trabalho no capitalismo contemporâneo e as políticas públicas de combate à desigualdade
RSP
significativa, a tendência natural à desigual
dade. Na realidade, a desigualdade pode
ser considerada externalidade negativa10
inerente a um sistema econômico capita
lista em que os indivíduos agem por
interesse próprio.
Além disso, cumpre lembrar também
que a velha máxima de Adam Smith (1723
1790), em sua clássica obra A riqueza das
nações – segundo a qual os indivíduos,
agindo por conta do seu próprio interesse,
geram como resultado, pelas forças de
mercado ou da “mão invisível”, o máximo
bem-estar social –, descarta importantes
externalidades negativas do comporta
mento individualista, que comprometem,
de forma significativa, esse bem-estar social.
Nesse contexto, é dissimulada a análise
liberal que reforça a eficácia do auto-inte
resse no crescimento econômico, mas
despreza justamente a busca pela desigual
dade movida pelo auto-interesse que gera
externalidades negativas inerentes, como a
corrupção e a falta de coesão social.
Análises preconceituosas e estereotipadas
em relação à intervenção do Estado na
economia tendem a vê-las como nocivas
e procuram enfatizar o caráter corrupto
do governo. Entretanto, o Estado não é
um ente estranho à sociedade, mas, pelo
contrário, faz parte dessa mesma socie
dade. A corrupção do Estado não decorre
de ele ser Estado, mas de ser instituição de
sociedade movida pelo auto-interesse.
A teoria econômica tradicional
também exalta a competição de forma
positiva, como instrumento essencial para
a eficiência, desprezando seus efeitos
colaterais negativos inerentes, como a
referida falta de coesão social e a violência
a ela associada.
Considerações finais
O capitalismo passou por profundas
transformações desde seu prelúdio, com
o fim do dualismo caracterizado, por um
lado, pelos capitalistas e, de outro, por uma
massa homogênea de trabalhadores.
Presentemente, os trabalhadores formam
uma massa heterogênea e competem entre
si por ascensão profissional em organi
zações complexas e de estrutura piramidal,
em uma busca patológica por sucesso. O
controle do capital está associado cada vez
menos à sua propriedade e cada vez mais
ao capital humano.
Essas transformações tornaram o mer
cado de trabalho uma loteria, em que os
bilhetes são os investimentos em capital
humano. Nessa loteria, os vencedores apro
priam-se do trabalho dos perdedores. Os
trabalhadores com baixo ou nenhum investi
mento em capital humano estão excluídos
dela e, por essa razão, são, a priori, perde
dores. Como a estrutura das organizações
e dos mercados de trabalho é piramidal,
necessariamente, haverá vencedores e
perdedores. O caráter de loteria do mercado
de trabalho também é encontrado nas
teorias dos MWTA e dos torneios.
Conseqüentemente surge, ao lado da
tradicional apropriação do trabalho pelo
capital, descrita por Karl Marx, em O
capital, nova forma de exploração do
trabalho, que reforça a tendência inerente
à desigualdade do capitalismo. Essa nova
forma de exploração tem como
instrumento o capital humano e ocorre de
forma semelhante à exploração feita pelo
capital físico. Assim, o capital físico e o
capital humano são instrumentos de
legitimação da exploração do trabalho.
Essa nova forma de exploração do
trabalho reforça a tendência inerente ao
capitalismo de geração de desigualdade pela
dicotomia capital–trabalho e impõe impor
tantes limitações nas tradicionais políticas
públicas de combate à desigualdade,
baseadas na democratização dos
investimentos em capital humano. Mesmo
que todos tenham o mesmo capital humano
48
Revista do Serviço Público Brasília 56 (1): 37-55 Jan/Mar 2005
Rogério Nagamine Costanzi
RSP
ou a mesma produtividade, dada a atual es
trutura piramidal do mercado de trabalho,
sempre haverá vencedores e perdedores.
Todos os gerentes de uma firma podem
ter a mesma produtividade potencial, mas
apenas um será promovido a diretor.
De outra parte, a lógica de intensa
especialização e divisão do trabalho, do
ponto de vista tanto social quanto de intra
firma, tornam complexas ou mesmo sem
sentido comparações de produtividade,
tendo em vista que os trabalhadores
executam tarefas distintas. Existe, ademais,
interdependência entre as produtividades
individuais. Mesmo que todos na sociedade
tivessem curso superior completo, pela lógica
da divisão do trabalho alguém qualificado
teria de executar as tarefas de baixa quali
ficação. É uma divisão que não decorre dos
diferenciais de produtividade, e, sim, de
diversos fatores que transcendem a lógica
econômica, como aspectos sociais, culturais
e mesmo questões operacionais.
A desigualdade deixa de ser resultado
das diferenças nos atributos produtivos dos
trabalhadores e passa a ser resultado
inerente aos mercados de trabalho capita
listas e ao capitalismo. Em primeiro lugar,
porque a própria desigualdade nos inves
timentos em capital humano, em especial
em educação, é fruto inerente ao capita
lismo. O capitalismo gera desigualdade, que
origina diferentes investimentos em capital
humano, os quais, por sua vez, ajudam a
reproduzir a desigualdade.
O crescimento macroeconômico
também tem importantes limitações no
combate à desigualdade, na medida em que
essa desigualdade é a finalidade microeco
nômica, que gera o crescimento macroeco
nômico. O crescimento em si é função da
desigualdade, ou a desigualdade é a
finalidade do crescimento.
Na realidade, os indivíduos esforçam
se para ser extremamente produtivos,
investem em capital humano, porque
querem ficar ricos, querem ser desiguais.
A busca individual microeconômica e auto
interessada da desigualdade é que gera o
crescimento macroeconômico. Portanto, o
comportamento individual que produz o
crescimento macroeconômico é, na
realidade, uma busca pela desigualdade. Se
a busca individual e auto-interessada pela
desigualdade é que gera o crescimento,
como conciliar crescimento e igualdade?
Como conseguir igualdade a partir do
“Políticas públicas
de combate à
desigualdade baseadas
na democratização
do capital humano
apresentam impor
tantes limitações, pois
o mercado de trabalho
capitalista está
organizado de
forma que existam
vencedores e
perdedores”
crescimento, se o crescimento resulta da
busca pela desigualdade?
O sistema econômico capitalista
movido pelo auto-interesse gera, como
externalidade negativa inerente à desigual
dade, o tradicional trade-off entre cresci
mento econômico e igualdade em nível
microeconômico, que nunca foi resolvido,
em nível macroeconômico, pelo funcio
namento dos mercados. Os economistas
tradicionais, contudo, jamais procuram
Revista do Serviço Público Brasília 56 (1): 37-55 Jan/Mar 2005
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As novas formas de exploração do trabalho no capitalismo contemporâneo e as políticas públicas de combate à desigualdade
RSP
explicitar que esse trade-off decorre de análise
que toma como implícita uma natureza
humana egoísta e auto-interessada.
A máxima de Adam Smith, em sua
obra A riqueza das nações, segundo a qual o
sistema econômico capitalista, caracte
rizado por indivíduos movidos pelo auto
interesse, geraria o máximo bem-estar
social, despreza importantes externalidades
negativas inerentes a esse tipo de com
portamento.
Em primeiro lugar, a própria questão
já colocada da desigualdade. Mais estranho
que esse lapso, porém, é a análise liberal
que reforça a eficácia do auto-interesse no
crescimento econômico, mas despreza
justamente a busca pela desigualdade
movida pelo auto-interesse, que gera outras
expressivas externalidades negativas, como
a corrupção e a falta de coesão social. A
teoria econômica tradicional também exalta
a competição, de forma positiva, como
instrumento essencial para a eficiência,
desprezando suas externalidades negativas.
Políticas públicas de combate à desi
gualdade baseadas na democratização do
capital humano, mesmo sendo desejáveis
e positivas, apresentam importantes limi
tações, pois o mercado de trabalho
capitalista está organizado de forma que
existam vencedores e perdedores, havendo
ou não diferenciais de produtividade.
As novas formas de exploração do
trabalho explicitam uma relação de
causalidade em que o crescimento macro
econômico é gerado pela busca da desi
gualdade microeconômica. Como o cresci
mento pode reduzir a desigualdade, se é
gerado pela busca da desigualdade? As
forças de mercado, em nível macroeco
nômico, mostram-se incapazes de reverter
esse trade-off. Mais do que isso, o compor
tamento microeconômico auto-interes
sado, que gera o crescimento econômico,
torna inerente ao funcionamento do
capitalismo externalidades negativas
expressivas, como a corrupção, a falta de
coesão social e a violência a elas associada.
O combate à desigualdade demanda,
então, teoricamente, mudanças no
comportamento humano, de forma que
o motor do crescimento macroeconômico
não seja a busca microeconômica pela
desigualdade de renda entre os indivíduos,
assim como a alteração dos valores sociais,
culturais e demais fatores que tornaram o
mercado de trabalho capitalista uma insti
tuição em que, necessariamente, há vence
dores e perdedores. Enquanto a motivação
para produzir for o auto-interesse, a busca
pela desigualdade, pelo sucesso profissional
e pela riqueza, de forma inerente, haverá
contradição entre eficiência e desigualdade.
O trabalho não será a satisfação de neces
sidade, mas, sim, um meio de satisfazer
outras necessidades11. Será possível conciliar
eficiência e eqüidade apenas se a motivação
para a produção for o bem-estar coletivo.
Dado o “receituário” recomendado
para o combate à desigualdade, fica implí
cito que este trabalho aceita que o
comportamento humano e os valores
podem ser objeto de transformação, pois,
caso se adotasse a posição determinista de
que a natureza humana é imutável, não
haveria motivos para intervenções sociais.
Contudo, é necessário reconhecer que
esse diagnóstico levanta importantes
indagações: Como são determinados o
comportamento humano e os valores e
como eles podem ser alterados? Até que
ponto o comportamento humano é
influenciado pelo sistema econômico
capitalista e é independente da conjuntura
sócio-histórica? Embora essas questões
sejam relevantes, este artigo não as discutirá,
pois são tão complexas que fogem ao
escopo deste trabalho, merecendo discussão
específica, impossível de ser feita neste paper.
(Recebido em janeiro de 2005. Versão definitiva em
março de 2005)
50
Revista do Serviço Público Brasília 56 (1): 37-55 Jan/Mar 2005
Notas
Rogério Nagamine Costanzi
RSP
1 Por tradicional exploração do trabalho pelo capital, entenda-se aquela descrita por Marx em O capital.
2 Por literatura econômica tradicional, deve ser entendida a chamada teoria econômica neoclássica
e a teoria do capital humano, que, grosso modo, defendem que os salários são determinados pela
produtividade (marginal). Para uma visão da teoria tradicional, ver Borjas (2000) e Bosworth, Dawkins
e Stromback (1996).
3 Por busca patológica por sucesso, este artigo refere-se a uma busca obsessiva por sucesso
profissional e financeiro, que coloca o mencionado objetivo como o principal sentido da vida e a falta
dele como o resultado inaceitável e psicologicamente insuportável.
4Ver Ferreira (2000), Barros e Mendonça (1995), Barros, Henriques e Mendonça (2000, 2000a) e
Ramos e Vieira (2000).
5 Entende-se a teoria econômica tradicional como a teoria microeconômica neoclássica, que
defende não apenas que o salário seja determinado pela produtividade marginal, mas também que
a maximização dos lucros seja o único e exclusivo objetivo das firmas.
6 Sobre mercados internos de trabalho, ver Doeringer e Piore (1971).
7 Os criadores da teoria dos MWTA foram Frank e Cook (1996). Para ter uma idéia da teoria dos
torneios, ver Lazear e Rosen (1981).
8 Para conhecer a teoria dos superstars, ver o trabalho de Rosen (1981).
9 A “mão invisível” do mercado é a referência feita à expressão criada por Adam Smith, em A
riqueza das nações.
10 A expressão “externalidade negativa”, na literatura econômica, pode ser entendida como
efeito colateral negativo.
11 Ver MARX, Karl, 1963, p. 162.
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As novas formas de exploração do trabalho no capitalismo contemporâneo e as políticas públicas de combate à desigualdade
RSP
Resumo - Resumen - Abstract
As novas formas de exploração do trabalho no capitalismo contemporâneo e as políticas
públicas de combate à desigualdade
Rogério Nagamine Costanzi
O mercado de trabalho sofreu profundas transformações desde o começo do capitalismo até o
momento atual, sendo possível compará-lo a uma loteria, na qual os trabalhadores passaram a
competir entre si por ascensão profissional. Os bilhetes dessa loteria são os investimentos em capital
humano. Nela haverá, necessariamente, vencedores e perdedores, com os primeiros apropriando-se
do trabalho dos últimos. Dessa realidade, surge uma nova forma de exploração do trabalho, cujo
instrumento de legitimação é o capital humano, que reforça a tendência inerente do capitalismo à
geração de desigualdade e coloca limitações à visão tradicional de combate à desigualdade baseada na
democratização do capital humano. O crescimento também tem limitações na redução da desigual
dade, tendo em vista que a motivação microeconômica que gera o crescimento macroeconômico é
justamente a busca pela desigualdade.
Las nuevas formas de explotación del trabajo en el capitalismo comtemporáneo y las
políticas públicas de combate a la desigualdad
Rogério Nagamine Costanzi
El mercado de trabajo pasó por profundas transformaciones desde el inicio del capitalismo
hasta el momento actual, convirtiéndose en una lotería, en que los trabajadores pasaron a competir
entre sí por ascenso profesional. Los billetes de esta lotería son las inversiones en capital humano. En
esta lotería, habrá, necesariamente, ganadores y perdedores, con los primeros apropiándose del
trabajo de los últimos. De esta realidad, surge una nueva forma de explotación del trabajo, cuyo
instrumento de legitimación es el capital humano, que refuerza la tendencia inherente del capitalismo
de generación de desigualdad e impone limitaciones a la visión tradicional de combate a la desigualdad
basada en la democratización del capital humano. El crecimiento también tiene limitaciones en el
combate a la desigualdad, puesto que la motivación microeconómica que genera el crecimiento
macroeconómico es justamente la búsqueda por la desigualdad.
New forms of labour exploitation in contemporary captalism and public policies to
combat inequality
Rogério Nagamine Costanzi
The labour market has undergone deep transformations from the start of the capitalism to the
current moment, becoming a lottery, in which workers started to compete among themselves for
professional development. The tickets of this lottery are the investments in human capital. Here,
there exists, necessarily, winners and losers: the firsts appropriates the work of the latters. A new
form of exploration of the work appears, in which the instrument of legitimation is the human
capital. It strengthens the inherent trend of the capitalism towards inequality generation and imposes
limitations to the traditional vision of inequality reduction based on the democratization of the
human capital. Growth has also limitations to combat inequality, considering that the microeconomic
motivation that generates the macroeconomic growth is exactly the search for inequality.
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Revista do Serviço Público Brasília 56 (1): 37-55 Jan/Mar 2005
Rogério Nagamine Costanzi
RSP
Rogério Nagamine Costanzi
Mestre em Economia pelo Instituto de Pesquisa Econômica da Universidade de São Paulo (IPE/
USP), Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental do Governo Federal, em exercício
na Diretoria de Estudos Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (DISOC/IPEA), ex
chefe de Divisão da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda (1995), ex-coordenador
geral de Emprego do Ministério do Trabalho e Emprego (2000 a 2003).Contato:
rogerio.nagamine@ipea.gov.br. O artigo do autor Rogério Nagamine Costanzi.
O capitalismo financeiro é a fase do sistema capitalista marcada pela fusão entre o capital industrial e o capital bancário, com a predominância das instituições financeiras e da especulação financeira na economia.
Surgiu no final do século XIX e início do século XX, sucedendo o capitalismo industrial.
Principais Características
Fusão de Capitais: Ocorre a união do capital proveniente da indústria com o capital dos bancos e instituições financeiras. Os bancos passam a ter um papel central, financiando a expansão das indústrias e lucrando com juros e investimentos.
Monopólios e Oligopólios: Busca-se o controle de setores da economia por meio da formação de grandes conglomerados, trustes, cartéis e holdings, visando reduzir a concorrência e maximizar lucros.
Especulação Financeira: A obtenção de lucro e riqueza passa a depender fortemente da especulação nas bolsas de valores, onde ações e títulos são negociados como mercadorias. O foco muda da produção (capital produtivo) para o ganho financeiro (capital especulativo).
Atuação Global (Transnacionais): As grandes empresas expandem suas operações para diversos países, tornando-se transnacionais ou multinacionais, buscando mercados maiores, mão de obra mais barata e incentivos fiscais.
Papel da Bolsa de Valores: A bolsa de valores torna-se o coração do sistema, concentrando investimentos e determinando a circulação de grandes volumes de capital.
Influência Política: Os detentores de riqueza e grandes instituições financeiras exercem uma influência significativa nos objetivos da política econômica dos governos.
Em resumo, o capitalismo financeiro desloca o eixo da economia da produção industrial para as atividades bancárias e a especulação financeira, com a busca incessante por monopólios e lucros em escala global.
E assim seguimos.
Confira a noticia no Portal G1 da Rede Globo .https://g1.globo.com/trabalho-
E assim caminha a humanidade.
Imagem ; Portal G1 da Rede Globo.
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