sábado, 18 de outubro de 2025

Capitalismo .

  ­O capitalismo é um sistema socioeconômico predominante na maioria dos países, que se baseia na propriedade privada dos meios de produção, na busca pelo lucro e na economia de mercado. 

Princípios e Características Fundamentais

Propriedade Privada: Indivíduos e empresas, e não o Estado, são proprietários da maioria dos bens e dos meios de produção (fábricas, terras, ferramentas, etc.).

Busca pelo Lucro: O principal objetivo da atividade econômica é a acumulação de capital (riqueza) na forma de bens e dinheiro.

Economia de Mercado: A produção e distribuição de bens e serviços são regidas pela lei da oferta e da demanda, com mínima intervenção governamental (especialmente na teoria liberal clássica, proposta por Adam Smith).

Livre Concorrência: Empresas competem entre si no mercado, o que, em tese, regula preços e estimula a inovação e a eficiência.

Divisão de Classes Sociais: O sistema é marcado pela estratificação social, geralmente entre a burguesia (donos dos meios de produção) e o proletariado (trabalhadores que vendem sua mão de obra em troca de um salário).

Trabalho Assalariado: A maioria das pessoas trabalha para um salário, em vez de produzir para seu próprio sustento. 

Fases do Capitalismo

O sistema capitalista se adaptou e evoluiu ao longo do tempo, passando por diferentes fases: 

Capitalismo Comercial (ou Mercantil): Focado no comércio e na acumulação de metais preciosos, predominante durante as Grandes Navegações (séculos XV ao XVIII).

Capitalismo Industrial: Impulsionado pela Revolução Industrial, com foco na produção fabril em larga escala e no liberalismo econômico (mínima intervenção estatal).

Capitalismo Financeiro (ou Monopolista): Caracterizado pela grande concentração de capital nas mãos de bancos e grandes corporações (monopólios e oligopólios), que controlam o mercado. 

O capitalismo é frequentemente discutido em oposição ao socialismo, que defende a administração coletiva ou estatal dos meios de produção e uma distribuição de bens mais igualitária. 

Os donos do capital enriquecem as custas da exploração do trabalho 

A base do enriquecimento capitalista reside na apropriação do valor excedente (a mais-valia) produzido pelos trabalhadores. Os trabalhadores vendem sua força de trabalho em troca de um salário, mas o valor que eles produzem durante a jornada de trabalho é maior do que o valor que recebem como pagamento.

Apropriação do excedente: A diferença entre o valor produzido e o salário pago é retida pelo capitalista (o dono dos meios de produção, como fábricas e equipamentos) como lucro. Essa apropriação do fruto do trabalho alheio é o que Marx define como exploração.

Divisão de classes: Essa dinâmica cria uma divisão social fundamental entre duas classes antagônicas: a burguesia (donos do capital) e o proletariado (trabalhadores que possuem apenas sua força de trabalho para vender). 

Outras perspectivas econômicas, no entanto, argumentam contra a teoria da exploração, sugerindo que o capital aumenta o valor do trabalho e que o lucro é uma recompensa legítima pelo risco, inovação e fornecimento de meios de produção por parte do capitalista. 

Os  donos do capital enriquecem pela exploração do trabalho é alago real no  capitalismo, enquanto economistas de outras vertentes têm visões diferentes sobre a origem do lucro e a relação entre capital e trabalho. 

Confira o artigo do autor  Rogério Nagamine Costanzi logo abaixo. 


 As novas formas de

 exploração do trabalho no

 capitalismo contemporâneo

 e as políticas públicas de

 combate à desigualdade

 Rogério Nagamine Costanzi

 “Há certos tipos de relações sociais e de contradições sociais, determinado

 tipo de desigualdade que outrora se perpetuava no imobilismo, que agora se

 reproduzem em e através do crescimento. Tal constatação exige outra perspec

tiva acerca do crescimento. Não diremos como os mais eufóricos: ‘O cresci

mento produz abundância e, portanto, igualdade’; também não aceitamos a

 visão inversa extrema: ‘O crescimento é causa da desigualdade’. Invertendo o

 falso problema – diremos que o crescimento em si é função da desigualdade. A neces

sidade que a ordem social ‘desigualitária’ e a estrutura social de privilégio têm

 de se manter é que produz e reproduz o crescimento como seu elemento

 estratégico. Por outras palavras, a autonomia interna do crescimento

 (tecnológico, econômico) é fraca e posterior em relação à determinada pela

 estrutura social.”

 (BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo, p. 52.)

 Introdução

 O capitalismo passou por profundas alterações desde o seu prelúdio, quando

 Karl Marx (1818-1883) analisou-o em sua obra O capital. Atualmente, não existe

 mais  dualidade tão clara entre capitalistas, de um lado, e a massa homogênea

 de operários, de outro, como havia em seu início. Os trabalhadores formam,

 presentemente, um grupo heterogêneo. Houve, ademais, separação entre

 propriedade e controle do capital, pelo menos nas grandes corporações.

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As novas formas de exploração do trabalho no capitalismo contemporâneo e as políticas públicas de combate à desigualdade

 RSP

 Em vista de tais mudanças, podemos

 comparar o mercado de trabalho, em

 especial o qualificado, a uma verdadeira

 loteria, em que os trabalhadores competem

 entre si por ascensão profissional. Aqui, os

 investimentos em capital humano torna

ram-se os bilhetes desta loteria. E, de forma

 semelhante ao que acontece em uma loteria,

 há sempre vencedores e perdedores.

 O capital humano também tornou-se

 instrumento para a exploração do trabalho,

 à semelhança do capital físico. Os vencedo

res exploram os perdedores, com os

 primeiros apropriando-se do produto do

 trabalho dos últimos. Tanto o capital

 humano quanto o tradicional, descrito por

 Marx, em O capital, passaram a constituir

 instrumentos de legitimação da apropriação

 do trabalho alheio e da exploração. Os traba

lhadores, com baixo ou sem investimento

 em capital humano, assim, já estão, a priori,

 excluídos da loteria em que se transfor

maram os mercados de trabalho capitalistas;

 nesse sentido, já são perdedores.

 As formas de exploração introduzidas

 pelo capital humano, ao se somarem à tradi

cional exploração do trabalho pelo capital,

 reforçaram ainda mais a tendência inerente

 à geração de desigualdades pelo capita

lismo1. Os diferenciais de salários justificados

 pelo capital humano tornaram-se elementos

 adicionais à dicotomia capital-trabalho para

 explicar a crescente desigualdade engendrada

 pelo modo de produção capitalista.

 Dentro desse conceito teórico,

 também surgem importantes implicações

 para as políticas públicas de combate à

 desigualdade. Diferentemente da tradi

cional visão econômica, na qual a

 desigualdade é fruto das diferenças

 produtivas entre os trabalhadores, surge

 um quadro em que ela é resultado

 inerente ao capitalismo.

 Com o intuito de analisar, de modo

 mais detalhado, essa nova forma de

 exploração do trabalho do capitalismo e

 seu impacto sobre a desigualdade, este

 artigo buscará fazer uma revisão crítica da

 literatura sobre a desigualdade, seguindo

se  as considerações finais.

 Revisão crítica da literatura

 sobre a desigualdade

 No arcabouço da literatura econômica

 tradicional2, as causas para explicar os

 diferenciais de salários e a desigualdade

 podem ser divididas em três grandes

 grupos:

 a) diferenças nas preferências e carac

terísticas produtivas dos trabalhadores,

 sejam aquelas natas ou adquiridas por meio

 de investimentos em capital humano;

 b) segmentação, normalmente credi

tada a alguma imperfeição de mercado;

 c) discriminação (BARROS; MENDONÇA,

 1995. BID, 1998. FERNANDES, 2002.

 FERREIRA, 2000. RAMOS; VIEIRA, 2000.

 RAMOS; VIEIRA, 2001).

 No caso de diferenças dos atributos

 produtivos dos trabalhadores, o mercado

 de trabalho funcionaria como revelador de

 desigualdades. Nos casos de segmentação

 e de discriminação, o mercado de trabalho

 funcionaria como gerador delas. Remune

rações distintas como forma de compensar

 diferenças não pecuniárias entre postos de

 trabalho ou como decorrência de dotações

 desiguais de qualificações serviriam para

 revelar diferenças de qualidade entre postos

 de trabalho e trabalhadores. Contudo, ao

 remunerar, de maneira distinta, indivíduos

 que possuem, em princípio, o mesmo

 potencial produtivo e trabalham em postos

 de trabalho similares, tanto via segmentação

 quanto sob a forma de discriminação, o

 mercado de trabalho estaria funcionando

 como gerador de desigualdades.

 A diferenciação entre os dois casos

 seria importante, pois, além de implicarem

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Rogério Nagamine Costanzi

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 graus de indesejabilidade diferentes,

 também demandam políticas de natureza

 distinta para combatê-las. Se as principais

 causas da desigualdade fossem os diferen

ciais compensatórios e aqueles decorrentes

 da heterogeneidade dos trabalhadores,

 então elas não residiriam no funcionamento

 do mercado de trabalho, sendo fruto de

 desigualdades preexistentes (BARROS;

 MENDONÇA, 1995. RAMOS; VIEIRA, 2000.

 RAMOS; VIEIRA, 2001).

 A tradicional teoria econômica está

 focada, principalmente, nas diferenças

 produtivas dos trabalhadores ou nos

 distintos graus de acumulação de capital

 humano para explicar os diferenciais de

 salários (BECKER, 1964). Em um mundo

 sem diferenças de produtividade entre os

 trabalhadores e de mercados em concor

rência perfeita, não existiriam diferenciais

 de salários. Nesse cenário, as decisões dos

 trabalhadores seriam independentes entre

 si e estáticas.

 Existem, todavia, profundas limitações

 nessa teoria. Esse modelo (neoclássico) é

 condizente com os primórdios do capita

lismo, quando o mercado de trabalho era

 mais homogêneo, com dualidade bem clara

 entre os capitalistas e a massa de operários,

 homogênea, que realizavam tarefas

 repetitivas no processo de produção em

 série. Hoje, contudo, o mercado de traba

lho é marcado por grande heterogenei

dade, com agressiva competição entre os

 trabalhadores por ascensão profissional.

 Essa transformação está ligada, entre

 outros fatores, à mudança de empresas

 familiares, de estrutura simples, a empre

sas com administração profissional, geren

ciadas por organizações complexas e de

 hierarquia piramidal.

 A atual heterogeneidade do mercado

 de trabalho torna as decisões dos traba

lhadores sobre a oferta de trabalho

 interdependentes e dinâmicas (COSTANZI,

 1995). As decisões são dinâmicas, por

que a variável relevante não é mais apenas

 o salário corrente dado pelo mercado, mas

 também, ou mesmo principalmente, a

 expectativa de renda futura. Os traba

lhadores esforçam-se de maneira intensa,

 no início de suas carreiras, por salários

 apenas razoáveis, ou até mesmo

 pequenos, não pela irracionalidade, mas,

 sim, pela busca patológica3 de ascensão

 profissional, típica das atuais sociedades

 capitalistas. As decisões individuais dos

 trabalhadores sobre a oferta de trabalho

 também se tornaram interdependentes,

 tendo em vista que a estrutura piramidal

 das organizações implica, necessariamente,

 concorrência dos trabalhadores entre si

 por sucesso profissional. Por sinal, essa

 disputa é uma das características mais

 marcantes do mercado de trabalho atual,

 mas é negligenciada na teoria econômica

 tradicional.

 Desse diagnóstico surgem importantes

 implicações. Diante de uma situação de

 informação imperfeita a respeito do futuro,

 os trabalhadores que não tiveram sua

 expectativa de ascensão profissional efeti

vada, até como conseqüência natural da

 busca patológica de sucesso e da estrutura

 piramidal das organizações, acabam tendo

 ofertado mais trabalho do que efetivamente

 teria ocorrido na situação de conhecimento

 perfeito do futuro. Nesse caso, o excesso

 de oferta de trabalho, obviamente, deve ser

 absorvido pelos trabalhadores que tiveram

 ascensão profissional de acordo com o

 esperado ou acima dele. A exploração do

 trabalho não mais ocorre, exclusivamente,

 pelo capital físico, mas, também, pela

 exploração dos vencedores pelos perde

dores. Além do tradicional instrumento de

 legitimação da exploração do capital físico,

 o capital humano também se tornou uma

 forma adicional de apropriação do trabalho

 alheio.

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As novas formas de exploração do trabalho no capitalismo contemporâneo e as políticas públicas de combate à desigualdade

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 Nessa situação, a oferta de trabalho

 seria, em algum grau, meramente uma

 loteria. Os trabalhadores ofertam trabalho,

 não porque possuem certeza absoluta da

 renda, mas porque esperam aumentar a

 probabilidade de ganhar os prêmios

 destinados aos vencedores. Os prêmios em

 questão são a ascensão profissional e as

 recompensas financeiras correspondentes.

 Contudo, como as organizações possuem

 estruturas piramidais, necessariamente

 haverá vencedores e perdedores nesse

 jogo, em que os primeiros apropriam-se

 de parte do trabalho dos últimos. Os

 bilhetes dessa loteria são os investimentos

 em capital humano.

 Como citado anteriormente e de

 forma mais geral, a teoria econômica

 tradicional pode ser resumida como aquela

 que defende que o salário é determinado

 pela produtividade. Em um cenário em

 que os trabalhadores têm a mesma

 produtividade, os salários seriam iguais e

 não existiria desigualdade entre os

 trabalhadores.

 Caso os trabalhadores tenham dife

renças na produtividade, o eficiente e justo

 mercado de trabalho capitalista apenas

 traduziria tal fato para os salários. Nesse

 contexto, é possível justificar os diferen

ciais de salários e a desigualdade resultante,

 principalmente por conta das diferenças

 entre os trabalhadores, no tocante às suas

 características produtivas, sejam estas natas

 ou adquiridas por meio de investimentos

 em capital humano, em especial pela

 educação. Um trabalhador pode ganhar

 um milhão de vezes a mais que outro,

 porque é um milhão de vezes mais

 produtivo.

 Entretanto, é fato que alguns “trabalha

dores” recebem remunerações, em curtos

 períodos de tempo, que trabalhadores

 médios jamais conseguirão ganhar em toda

 a sua vida profissional. Mesmo com essas

 evidências empíricas contrárias, a literatura

 econômica tradicional continua a justificar

 a desigualdade principalmente com base

 no capital humano. Tanto é assim que uma

 visão predominante a respeito das causas

 da desigualdade crescente observada nas

 últimas décadas é a de que ela seria resul

tado de alterações ou mudanças tecno

lógicas viesadas para trabalhadores

 qualificados, em detrimento dos não-quali

ficados, o que teria incrementado a

 demanda dos primeiros em prejuízo dos

 últimos. Uma das causas para esse compor

tamento da demanda seria a disseminação

 da tecnologia da informação, em especial

 a revolução trazida pelos computadores.

 Essa teoria é conhecida como skill-biased

 technical changes (BOUND; JOHNSON, 1992.

 JUHN; MURPHY; PIERCE, 1993. KATZ;

 MURPHY, 1992. LEVY; MURNANE, 1992).

 Além disso, no caso dos países em

 desenvolvimento, o processo de abertura

 comercial teria levado a importação de

 tecnologia complementar ao trabalho

 qualificado e/ou substituta do trabalho de

 baixa qualificação, na chamada

 skill-enhancing trade hypothesis (ARBACHE;

 CORSEUIL, 2001. ROBBINS, 1996. SOARES;

 SERVO; ARBACHE, 2001).

 Alguns estudos empíricos também

 apontam para as diferenças nas caracte

rísticas entre trabalhadores como o prin

cipal fator explicativo individual para a

 desigualdade, em especial a educacional

 (BARROS; MENDONÇA, 1995. BID, 1998.

 FERREIRA, 2000; RAMOS; VIEIRA, 2000.

 RAMOS; VIEIRA, 2001). Contudo, como não

 há dados sobre a produtividade efetiva,

 esses trabalhos utilizam-se de características

 observáveis, como ocorre em educação,

 na forma de proxies da real produtividade,

 impondo sérias limitações às conclusões

 desses trabalhos.

 De qualquer forma, o diagnóstico da

 desigualdade como fruto de distintos

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Rogério Nagamine Costanzi

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 investimentos em capital humano tem

 importantes implicações para o direcio

namento das políticas públicas de combate

 à desigualdade. Se o principal fator indi

vidual para os diferenciais de rendimentos

 é a desigualdade educacional, é fundamental

 que a busca por mais igualdade seja feita

 primordialmente pela redução dos dife

renciais educacionais. De certa forma, a

 redução da desigualdade seria, assim, grosso

 modo, um problema do Ministério da

 Educação, e não um resultado inerente ao

 funcionamento do mercado de trabalho

 capitalista, ou ao capitalismo.

 Mesmo admitindo que a teoria do

 capital humano pode ser considerada um

 avanço em relação à a teoria neoclássica

 estática em concorrência perfeita, pois

 incorporou questões dinâmicas e a hetero

geneidade dos mercados e explica, parcial

mente, os diferenciais de salários, ela

 também apresenta limitações e vem sendo

 contestada por vários autores, inclusive

 com evidências empíricas (CARD; DINARDO,

 2002. FRANK; COOK 1996. GALBRAITH,

 2000. SNOWER, 1999).

 Cabe aqui destacar as seguintes críticas.

 Em primeiro lugar, a visão tradicional, ao

 colocar como a principal causa para a

 desigualdade os diferenciais de produti

vidade, acaba por legitimá-la. A desigual

dade, como fruto de diferenciais de

 produtividade, não pode, de acordo com

 esse ponto de vista, ser considerada injus

tiça inerente ao capitalismo; ao contrário,

 os mercados de trabalho capitalistas são

 justos ao recompensarem cada trabalhador

 com a remuneração merecida pelo seu

 potencial produtivo.

 Mesmo que alguns autores tradicionais

 reconheçam a questão da desigualdade de

 oportunidades e os diferentes graus de

 acesso à educação e ao investimento em

 capital humano4, o problema é que, na

 realidade, a desigualdade de acumulação

 de capital humano é inerente ao sistema

 econômico capitalista. O capitalismo gera

 desigualdade que, por sua vez, gera

 distintas oportunidades que reproduzem

 a concentração de renda de uma geração

 a outra, criando uma inércia intergeracional

 da desigualdade. Nesse sentido, a desigual

dade derivada de diferenciais educacionais

 não pode ser considerada justa, mas um

 resultado inerente ao próprio funciona

mento do capitalismo.

 “Os trabalhadores

 esforçam-se de maneira

 intensa, no início de

 suas carreiras, por

 salários apenas

 razoáveis, ou até

 mesmo pequenos, não

 pela irracionalidade,

 mas, sim, pela busca

 patológica de ascensão

 profissional, típica das

 atuais sociedades

 capitalistas”

 Além disso, mesmo reconhecendo que

 diferenças nos atributos produtivos dos

 trabalhadores influenciam, em algum grau,

 os rendimentos e a produtividade, os

 salários dos trabalhadores variam, de

 forma significativa, em relação ao que seria

 esperado por suas características produ

tivas. Existem várias razões para tal fato.

 Voltamos a utilizar a metáfora da

 loteria. Conforme mencionado anterior

mente, o mercado de trabalho capitalista

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As novas formas de exploração do trabalho no capitalismo contemporâneo e as políticas públicas de combate à desigualdade

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 atual pode ser comparado a uma loteria,

 na qual os bilhetes são os investimentos

 em capital humano. O mesmo investi

mento em capital humano dá igualdade

 de acesso aos bilhetes da loteria, mas não

 gera igualdade de resultados. Pelo contrá

rio, já que há, necessariamente, vencedores

 e perdedores. E nesse mercado, os traba

lhadores que não têm investimento em

 capital humano nem participam do jogo

 já são, a priori, perdedores. Portanto, existe

 confusão entre igualdade de acesso aos

 bilhetes de loteria e igualdade de resul

tados, o que explica, por exemplo, que,

 mesmo que todos os gerentes de uma

 empresa tenham uma mesma produti

vidade potencial, apenas um deles será

 promovido a diretor.

 Essa situação é absolutamente inconce

bível para a teoria econômica tradicional5,

 pois o comportamento maximizador de

 lucros das empresas não permitiria esse

 desvio entre produtividade e remuneração.

 De forma semelhante, os perdedores seriam

 irracionais se aceitassem remunerações

 abaixo do que seria justificável pela própria

 produtividade. Assim, os mercados tende

riam a eliminar desvios entre remunerações

 e produtividade.

 Há, porém, várias razões para os

 mercados não eliminarem esses desvios.

 Em primeiro lugar, existe um conheci

mento imperfeito em relação à real produ

tividade de cada um dos trabalhadores, até

 mesmo dentro das firmas, problema ainda

 mais grave entre elas. Além disso, na reali

dade, a produtividade individual é

 interdependente numa organização, assim

 como existe divisão de trabalho que faz

 com que os trabalhadores dediquem-se a

 tarefas distintas, o que dificulta ou até

 mesmo deixa sem sentido falar em

 comparações de produtividade entre

 trabalhadores. Além disso, a própria lógica

 de funcionamento dos chamados mercados

 internos de trabalho dificulta o ajuste entre

 remunerações e produtividade6.

 Também é questionável a hipótese de

 que o comportamento das firmas, em

 especial das grandes corporações, é voltado,

 única e exclusivamente, para a maximização

 de seus lucros, tendo em vista que elas

 passaram a ser dirigidas por tecnoestruturas

 que possuem outros incentivos que não

 necessariamente, ou apenas,  a maximização

 de lucros (GALBRAITH, 1982 e 1988).

 Como explicar que os trabalhadores

 aceitariam remunerações inferiores a sua

 produtividade ou ofertariam trabalho

 acima do que seria justificável pela remu

neração efetiva, num comportamento

 aparentemente irracional?

 È necessário, inicialmente, notar que

 essa situação é dinâmica. Em um primeiro

 momento, os trabalhadores investem em

 capital humano com a expectativa de que

 esses investimentos resultarão em ascensão

 profissional e em expressivas recompensas

 financeiras. Para um trabalhador individual,

 essas expectativas podem ou não se

 concretizar, mas, para os trabalhadores

 como um todo necessariamente haverá

 aqueles que terão suas expectativas

 frustradas, em função da estrutura

 piramidal. São os perdedores.

 Não há por que supor que os traba

lhadores possam, a priori, ter expectativa

 correta e certa a respeito da sua ascensão

 profissional, não apenas porque se trata de

 situação de conhecimento imperfeito, mas

 também porque eles costumam mover-se

 por uma busca patológica por sucesso.

 Além disso, esse comportamento não pode

 ser tomado como irracional, dado que,

 por serem elevados os custos de ser

 perdedor e grandes os benefícios de ser

 vencedor, a competição vira um jogo

 típico do dilema do prisioneiro.

 Como explicar que os perdedores não

 ajustam a sua oferta de trabalho ao longo

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 Revista do Serviço Público  Brasília 56 (1): 37-55 Jan/Mar 2005

Rogério Nagamine Costanzi

 RSP

 do tempo? Claramente, os trabalhadores

 poderiam tentar ajustar sua oferta de

 trabalho e seus investimentos em capital

 humano ao longo do tempo, de forma a

 adequá-los à ascensão profissional

 efetivamente conseguida e à respectiva

 remuneração, caso sua ascensão tivesse sido

 menor que sua expectativa. Contudo, é

 preciso notar que a produtividade não é

 apenas instrumento de ascensão profissional,

 mas também de manutenção do status quo.

 Por exemplo, suponha-se que determinado

 trabalhador tenha a expectativa de se tornar

 presidente de uma corporação e sua dedi

cação em investimento em capital humano

 e esforço tenha sido nesse sentido, mas, após

 vários anos de carreira, ele venha a perceber

 que deve chegar, no máximo, a gerente ou

 diretor. Apesar disso, o trabalhador não

 poderá reduzir seus esforços de maneira

 significativa, pois tem de manter sua posi

ção de gerente ou diretor, que sempre estará

 ameaçada pelos demais concorrentes. Além

 disso, o fato de que a ascensão profissional

 demanda longo tempo na carreira, em

 vários torneios sucessivos, diminui o espaço

 para o ajuste temporal. Nesse caso, haveria

 um problema de inconsistência temporal ou

 dinâmica.

 Explicada as razões pelas quais os

 mercados não ajustam as remunerações à

 produtividade, é importante notar que a

 visão de loteria está presente em outras

 teorias, como as dos mercados do tipo

 winner-takes-all (o vencedor leva tudo), para

 a qual utilizaremos a sigla MWTA (FRANK;

 COOK, 1996), e dos torneios (LAZEAR;

 ROSEN)7.

 Segundo a primeira teoria(FRANK;

 COOK, 1996), o incremento da desigualdade

 é resultado da crescente importância, na

 economia como um todo, dos “mercados

 onde os vencedores levam tudo”. As duas

 principais características dos MWTA são

 que: a) a recompensa ou o rendimento dos

 trabalhadores depende não da performance

 individual em termos absolutos, mas, sim,

 da performance relativa de cada competidor

 em relação aos demais; b) a recompensa

 financeira fica concentrada nas mãos dos

 poucos indivíduos que tiveram a melhor

 performance, com pequenas diferenças no

 talento e na produtividade, dando origem

 a enormes diferenciais de rendimentos.

 Como exemplo de MWTA, poderiam ser

 citados os esportes profissionais, o

 entretenimento, o mercado de altos

 executivos. Contudo, os MWTA estão-se

 disseminando e ganhando importância em

 toda economia.

 Os MWTA seriam resultado de

 condições especiais pelo lado da oferta e/

 ou da demanda. Pelo lado da oferta, existe

 o fato de que os serviços dos melhores

 podem ser reproduzidos a um baixo custo

 adicional. Por exemplo, o custo marginal

 de um DVD do filme vencedor do Oscar

 é tão baixo quanto o de qualquer filme.

 Portanto, existem economias de escala na

 produção ou na distribuição que, por sua

 vez, criam tendência para que um produto,

 um distribuidor ou um serviço domine o

 mercado. Pelo lado da demanda, um

 produto torna-se mais valioso a partir do

 momento em que um grande número de

 consumidores passa a utilizá-lo, como as

 fitas de vídeo VHS vis-à-vis as fitas BHS ou

 como ocorreu com os sistemas operacio

nais de computadores. São as chamadas

 economias de rede.

 A tendência de incremento dos MTWA

 seria a combinação de expressiva redução

 dos custos de transporte, de tendência de

 declínio de barreiras tarifárias, de desenvol

vimentos na área de comunicações e de

 processamento de informações que tiverem,

 como impacto conjunto, a ampliação dos

 mercados acessíveis aos melhores produtos

 ou produtores em nível internacional.

 Enfim, o incremento dos MTWA seria

 Revista do Serviço Público  Brasília 56 (1): 37-55 Jan/Mar 2005

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As novas formas de exploração do trabalho no capitalismo contemporâneo e as políticas públicas de combate à desigualdade

 RSP

 reflexo do processo de globalização e/ou

 tendência de concentração.

 A teoria dos superstars (ROSEN, 1981)8

 também aponta fatores semelhantes para

 explicar o surgimento da concentração da

 renda em alguns poucos trabalhadores. O

 fenômeno dos superstars seria aquele em que

 um relativamente pequeno número de

 agentes recebem enormes remunerações

 e dominam as atividades em que estão

 engajados, que estão-se tornando cada vez

 mais importante no mundo moderno.

 Na economia dos superstars (ROSEN,

 1981), haveria uma imperfeita substituição

 entre os diferentes vendedores. Vendedores

 de menor talento seriam fracos substitutos

 em relação àqueles de maior talento. A

 demanda pelos mais talentosos cresceria

 de forma mais que proporcional ao incre

mento do talento. Assim, ouvir uma

 sucessão de cantores medíocres não seria

 igual a ouvir um cantor excepcional, ou, se

 um cirurgião for 10% mais bem sucedido

 em salvar vidas que seus demais concor

rentes, a maioria das pessoas estará

 disposta a pagar mais que 10% de prêmio

 pelos seus serviços.

 Além disso, haveria, pelo lado da oferta,

 uma forma de consumo conjunto, não

 muito diferente dos chamados bens

 públicos. Dessa forma, um artista deve fazer

 o mesmo esforço tanto para dez quanto

 para mil pessoas que estejam assistindo ao

 seu show. Assim também deve proceder um

 autor com os compradores de seu livro. De

 forma mais geral, os custos de produção

 não crescem na proporção do tamanho do

 mercado do vendedor ou mesmo não

 crescem, havendo, portanto, economias de

 escala na produção.

 Também a teoria de torneios, ou

 tournaments (L AZEAR; ROSEN, 1981), admite

 a possibilidade, em determinadas circuns

tâncias, de que a remuneração não seja feita

 com base na medida absoluta da produ

tividade dos trabalhadores, mas, sim, com

 base no desempenho do trabalhador em

 relação ao dos demais trabalhadores, o que

 se aproxima, novamente, de uma loteria.

 Segundo essa visão, apesar da tradicional

 visão econômica de que os trabalhadores

 devem ser pagos de acordo com o valor

 do seu produto marginal, as loterias

 competitivas também podem levar a uma

 estrutura de incentivos eficiente.

 Nesse sistema de premiação, a remu

neração da classificação seria baseada no

 ranking, e não na diferença absoluta de

 produtividade. Sob determinadas circuns

tâncias, seria ótimo fixar as remunerações

 dessa forma. Mais especificamente, quando

 os custos de monitoramento são elevados

 ou o monitoramento é difícil, incentivando

 o shirking ou problemas de moral hazard,

 pagar os trabalhadores com base no ranking

 tem-se mostrado uma eficiente estrutura de

 incentivos. Além disso, esse tipo de esquema

 de compensação altera a natureza de risco

 enfrentado pelos trabalhadores.

 O salário do vice-presidente de uma

 particular corporação é bem inferior ao

 do presidente e, geralmente, os presidentes

 são escolhidos pelo ranking dos vice-presi

dentes. Assim, num dia, um determinado

 vice-presidente pode ser promovido a

 presidente e seu salário ser triplicado. É

 difícil argumentar que sua habilidade ou

 produtividade tenha triplicado de um dia

 para outro, tornando complicada a tarefa

 de compatibilizar tal fato com a teoria

 tradicional, que diz que os salários nas duas

 ocupações, presidência e vice-presidência,

 deveriam ser aproximadamente iguais. Na

 realidade, a presidência é o prêmio de um

 torneio, de forma que o salário do presi

dente não é fixado de forma a refletir a

 corrente produtividade dele, mas, sim, a

 induzir a todos os competidores a se

 esforçarem para obter a promoção. Essa

 interpretação sugere que presidentes de

 44

 Revista do Serviço Público  Brasília 56 (1): 37-55 Jan/Mar 2005

Rogério Nagamine Costanzi

 RSP

 grandes corporações ganham grandes

 salários, não necessariamente porque são

 mais produtivos como presidentes, mas,

 sim, porque essa particular estrutura de

 salários torna-os mais produtivos ao longo

 das carreiras profissionais. Então, a presi

dência é como um torneio que fornece o

 incentivo apropriado à aquisição do capital

 humano prévio para se atingir tal posição.

 Do ponto de vista dos objetivos deste

 artigo, cabe notar que tanto a teoria dos

 MWTA quanto a dos torneios descrevem

 o mercado de trabalho, em algum grau,

 como  uma loteria, em que a remuneração

 não é dada pela produtividade absoluta,

 mas pelo ranking. Em especial, a teoria dos

 MWTA denota que pequenos diferenciais

 de produtividade geram enormes dife

renças de rendimentos.

 Também é necessário notar que as

 forças que dão origem à concentração de

 renda, tanto no MWTA quanto no

 fenômeno dos superstars, não podem ser

 consideradas exceções às regras de

 mercado, mas, pelo contrário, são muitas

 vezes tendências naturais do capitalismo.

 Pelo lado da demanda, por exemplo, a

 diferenciação de produtos no capitalismo,

 longe de ser uma exceção, é uma tendência

 natural. Os vendedores buscam diferenciar

 seus produtos dos demais, pois sabem que,

 dessa forma, poderão cobrar preços

 maiores. Portanto, a hipótese da teoria

 econômica tradicional, de que produtos

 homogêneos são perfeitos substitutos entre

 si, não é apenas irrealista, como é, acima

 de tudo, contra uma tendência natural ou

 esperada do próprio capitalismo.

 Além disso, a imperfeita substituição

 entre os vendedores pode prescindir de

 diferenças de talento ou produtividade. Por

 exemplo, a lista de best-sellers sempre contará

 com número limitado de livros, os quais,

 mesmo existindo outros com a mesma

 qualidade, terão a preferência do público.

 Nesse sentido, a desigualdade deixa de

 ser resultado de imperfeições de mercado

 e passa a ser uma tendência inerente ao

 capitalismo, pois as forças que favorecem

 a concentração não são exceções, mas

 tendências naturais do funcionamento do

 sistema econômico capitalista atual.

 A teoria econômica também costuma

 relacionar o comportamento da desigual

dade ao grau de desenvolvimento e/ou

 ao processo de crescimento econômico.

 “O objetivo microeco

nômico que gera o

 crescimento macroeco

nômico é a busca pela

 desigualdade. Como

 esperar a igualdade do

 processo de crescimento

 macroeconômico, se o

 objetivo microeconô

mico que o gera é a

 desigualdade?

 Existem teorias que defendem que a

 desigualdade tende, naturalmente, a se

 reduzir, à medida que vai ocorrendo o

 desenvolvimento ou crescimento econô

mico (BID, 1998).

 Tal tendência decorreria de vários

 fatores. Em primeiro lugar, nas etapas

 iniciais de desenvolvimento ou acumulação

 capitalista, a escassez de capital implica

 retornos muito elevados para esse fator de

 produção relativo ao trabalho, fator que é

 Revista do Serviço Público  Brasília 56 (1): 37-55 Jan/Mar 2005

 45

As novas formas de exploração do trabalho no capitalismo contemporâneo e as políticas públicas de combate à desigualdade

 RSP

 abundante. Mas, à medida que vai ocor

rendo o desenvolvimento econômico, o

 estoque de capital tende a se elevar, e a

 tendência é de redução do retorno do fator

 produtivo do capital.

 Um mecanismo semelhante ocorre no

 caso da educação. Com níveis muito

 baixos de escolaridade, os poucos que têm

 maior grau de escolaridade tendem a ter

 rendimentos muito elevados. À medida

 que o nível educacional de toda a popu

lação economicamente ativa vai crescendo,

 a tendência é, ceteris paribus, que o retorno

 dos trabalhadores com escolaridade mais

 elevada reduza-se em relação ao dos

 trabalhadores com escolaridade menos

 elevada e, assim, poder-se-ia esperar

 menor desigualdade educacional entre os

 trabalhadores. Então, o progresso educa

cional tenderia a contribuir com a redução

 da desigualdade ao longo do tempo.

 Os padrões demográficos também

 criam uma tendência de redução da

 desigualdade, à medida que o desenvolvi

mento vai evoluindo. Taxas de crescimento

 da população mais elevadas implicam

 maior heterogeneidade no tamanho das

 famílias. Nas famílias mais numerosas,

 origina-se uma pior distribuição da renda

 per capita, além de a mulher participar menos

 do mercado de trabalho e de os filhos

 tenderem a receber menos educação. À

 medida que a taxa de fecundidade cai, em

 especial para as famílias mais pobres, tende

 a haver melhora da renda per capita, maior

 participação da mulher no mercado de

 trabalho e maiores avanços educacionais

 dos filhos.

 Outra razão pela qual tenderia a se

 reduzir a desigualdade à medida que vai

 evoluindo o desenvolvimento seria a tran

sição do campo para o meio urbano. No

 campo, as oportunidades seriam menores,

 devido à pequena integração dos mer

cados, às maiores dificuldades de acesso à

 educação, às possibilidades de emprego

 mais limitadas e ao menor acesso ao

 financiamento. Ainda, de forma estereo

tipada, a renda e o nível educacional seriam

 menores no campo que na cidade e as

 famílias tenderiam a ser mais numerosas

 no campo que na cidade. Nas etapas iniciais

 do processo de urbanização, as diferenças

 de renda entre o campo e a cidade contri

buiriam para elevar a desigualdade de

 rendimentos. Entretanto, à medida que vai

 avançando o processo de urbanização, o

 diferencial de rendimentos entre o campo

 e a cidade afetará apenas pequena fração

 da população e sua contribuição para a

 desigualdade seria reduzida. O mesmo tipo

 de raciocínio aplica-se ao processo de

 formalização das atividades produtivas.

 Em um primeiro momento da formali

zação das relações trabalhistas, os privi

légios de poucos assalariados formais

 seriam fonte de desigualdade, mas, à

 medida que a formalização avança, esse

 processo converte-se em fator de eqüidade.

 De modo geral, pode-se dizer que a

 formulação teórica que predomina na

 literatura sobre desenvolvimento

 econômico defende que, nos estágios

 iniciais e intermediários do desenvolvi

mento – medidos pela renda per capita –,

 o mecanismo que promove o crescimento

 acarreta também piora na distribuição de

 renda. O fator que explica tal fato é a

 transferência da população do meio rural

 para o urbano, o que induz ao surgimento

 de atividades produtivas cuja complexi

dade exige mão-de-obra mais especia

lizada e remuneração mais elevada, em

 função de sua melhor e/ou maior

 qualificação. Somente nos estágios mais

 avançados do desenvolvimento econô

mico é que a distribuição de renda tornar

se-ia mais igualitária. Tal teoria é conhecida

 como a curva de Kuznets, sugerindo

 padrão de desigualdade que acompanha

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 Revista do Serviço Público  Brasília 56 (1): 37-55 Jan/Mar 2005

Rogério Nagamine Costanzi

 RSP

 o desenvolvimento dos países, que pode

 ser caracterizado como U invertido. Con

tudo, essa teoria vem sendo rejeitada por

 um número crescente de autores

 (LOCATELLI, 1988).

 No Brasil, também o trade-off entre

 crescimento e igualdade ficou marcado, na

 política econômica, pela política do “cres

cer o bolo primeiro, para depois distribuir”

 ou, na sua versão de nouvelle cousine, “crescer,

 crescer e crescer” (HENRIQUES, 2000). De

 certa forma, a piora na desigualdade, nas

 fases iniciais e intermediárias do desenvol

vimento econômico, seria uma necessidade,

 pois permitiria a geração de poupança, tão

 fundamental para o processo de acumu

lação de capital e crescimento econômico.

 Vários autores contestam a visão de

 que, necessariamente, para países em

 desenvolvimento, o crescimento e a igual

dade são objetivos conflitantes entre si.

 Seria bastante questionável a interpretação

 que assegura que a distribuição de renda

 deve piorar antes de se tornar mais igua

litária. De forma semelhante, contudo, não

 se poderia postular a existência de relação

 direta entre crescimento e melhora na con

centração de renda, pois, entre os países

 em desenvolvimento que apresentaram

 altas taxas de crescimento, alguns apresen

taram piora e outros, melhora na distri

buição de renda. Na realidade, haveria

 espaço para as políticas públicas influírem

 na relação entre crescimento e desigualdade

 (LOCATELLI, 1988).

 Vários outros autores também ques

tionam o suposto trade-off entre eficiência

 e igualdade. Na realidade, alguns autores

 argumentam que, ao contrário da visão

 tradicional, a desigualdade pode trazer

 efeitos negativos para a eficiência econô

mica, pois prejudica, por exemplo, os

 investimentos em capital humano

 (FERREIRA, 2000).

 Do ponto de vista deste trabalho, cabe

 destacar que, mesmo que as políticas

 públicas tenham algum “espaço” para

 influenciar a relação entre crescimento e

 desigualdade, existem razões para que haja

 limitações nessa influência. Com isso, não

 se quer negar que a desigualdade possa

 influenciar negativamente o crescimento

 econômico ao trazer prejuízos ao investi

mento em capital humano, contudo é

 importante salientar que, em algum grau,

 o tradicional trade-off entre eficiência e

 igualdade é inerente às motivações

 econômicas dos agentes individuais em um

 sistema econômico capitalista ou, pelo

 menos, exacerbadas pelo capitalismo.

 Primeiramente, ressalta-se que a

 principal motivação dos agentes econô

micos individuais para ações ou tomada

 de decisões que geram crescimento econô

mico, como acumulação de capital físico e

 humano, é, em geral, a busca pela desigual

dade de renda, mais especificamente, é ter

 padrão de renda igual ou melhor à média

 da sociedade. Nesse sentido, o objetivo

 microeconômico que gera o crescimento

 macroeconômico é a busca pela desigual

dade. Como esperar a igualdade do

 processo de crescimento macroeconômico,

 se o objetivo microeconômico que o gera

 é a desigualdade?

 Nesse sentido, a desigualdade reproduz

se não mais no imobilismo, mas no

 crescimento e por meio dele. O crescimento

 passa a ser função dela ou forma de repro

duzi-la. Mostra que a necessidade de a ordem

 social “desigualitária” e a estrutura social de

 privilégio manterem-se é que produz e

 reproduz o crescimento como seu elemento

 estratégico (BAUDRILARD, 1995).

 A desigualdade é fruto inerente ao

 funcionamento dos sistemas econômicos

 capitalistas e a busca por desigualdade de

 renda dos agentes econômicos individu

ais está por detrás do fenômeno do cres

cimento macroeconômico. Os mecanis

mos de mercado e a sua “mão invisível”9

 não são capazes de atenuar, de forma

 Revista do Serviço Público  Brasília 56 (1): 37-55 Jan/Mar 2005

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As novas formas de exploração do trabalho no capitalismo contemporâneo e as políticas públicas de combate à desigualdade

 RSP

 significativa, a tendência natural à desigual

dade. Na realidade, a desigualdade pode

 ser considerada  externalidade negativa10

 inerente a um sistema econômico capita

lista em que os indivíduos agem por

 interesse próprio.

 Além disso, cumpre lembrar também

 que a velha máxima de Adam Smith (1723

1790), em sua clássica obra A riqueza das

 nações – segundo a qual os indivíduos,

 agindo por conta do seu próprio interesse,

 geram como resultado, pelas forças de

 mercado ou da “mão invisível”, o máximo

 bem-estar social –, descarta importantes

 externalidades negativas do comporta

mento individualista, que comprometem,

 de forma significativa, esse bem-estar social.

 Nesse contexto, é dissimulada a análise

 liberal que reforça a eficácia do auto-inte

resse no crescimento econômico, mas

 despreza justamente a busca pela desigual

dade movida pelo auto-interesse que gera

 externalidades negativas inerentes, como a

 corrupção e a falta de coesão social.

 Análises preconceituosas e estereotipadas

 em relação à intervenção do Estado na

 economia tendem a vê-las como nocivas

 e procuram enfatizar o caráter corrupto

 do governo. Entretanto, o Estado não é

 um ente estranho à sociedade, mas, pelo

 contrário, faz parte dessa mesma socie

dade. A corrupção do Estado não decorre

 de ele ser Estado, mas de ser instituição de

 sociedade movida pelo auto-interesse.

 A teoria econômica tradicional

 também exalta a competição de forma

 positiva, como instrumento essencial para

 a eficiência, desprezando seus efeitos

 colaterais negativos inerentes, como a

 referida falta de coesão social e a violência

 a ela associada.

 Considerações finais

 O capitalismo passou por profundas

 transformações desde seu prelúdio, com

 o fim do dualismo caracterizado, por um

 lado, pelos capitalistas e, de outro, por uma

 massa homogênea de trabalhadores.

 Presentemente, os trabalhadores formam

 uma massa heterogênea e competem entre

 si por ascensão profissional em organi

zações complexas e de estrutura piramidal,

 em uma busca patológica por sucesso. O

 controle do capital está associado cada vez

 menos à sua propriedade e cada vez mais

 ao capital humano.

 Essas transformações tornaram o mer

cado de trabalho uma loteria, em que os

 bilhetes são os investimentos em capital

 humano. Nessa loteria, os vencedores apro

priam-se do trabalho dos perdedores. Os

 trabalhadores com baixo ou nenhum investi

mento em capital humano estão excluídos

 dela e, por essa razão, são, a priori, perde

dores. Como a estrutura das organizações

 e dos mercados de trabalho é piramidal,

 necessariamente, haverá vencedores e

 perdedores. O caráter de loteria do mercado

 de trabalho também é encontrado nas

 teorias dos MWTA e dos torneios.

 Conseqüentemente surge, ao lado da

 tradicional apropriação do trabalho pelo

 capital, descrita por Karl Marx, em O

 capital, nova forma de exploração do

 trabalho, que reforça a tendência inerente

 à desigualdade do capitalismo. Essa nova

 forma de exploração tem como

 instrumento o capital humano e ocorre de

 forma semelhante à exploração feita pelo

 capital físico. Assim, o capital físico e o

 capital humano são instrumentos de

 legitimação da exploração do trabalho.

 Essa nova forma de exploração do

 trabalho reforça a tendência inerente ao

 capitalismo de geração de desigualdade pela

 dicotomia capital–trabalho e impõe impor

tantes limitações nas tradicionais políticas

 públicas de combate à desigualdade,

 baseadas na democratização dos

 investimentos em capital humano. Mesmo

 que todos tenham o mesmo capital humano

 48

 Revista do Serviço Público  Brasília 56 (1): 37-55 Jan/Mar 2005

Rogério Nagamine Costanzi

 RSP

 ou a mesma produtividade, dada a atual es

trutura piramidal do mercado de trabalho,

 sempre haverá vencedores e perdedores.

 Todos os gerentes de uma firma podem

 ter a mesma produtividade potencial, mas

 apenas um será promovido a diretor.

 De outra parte, a lógica de intensa

 especialização e divisão do trabalho, do

 ponto de vista tanto social quanto de intra

firma, tornam complexas ou mesmo sem

 sentido comparações de produtividade,

 tendo em vista que os trabalhadores

 executam tarefas distintas. Existe, ademais,

 interdependência entre as produtividades

 individuais. Mesmo que todos na sociedade

 tivessem curso superior completo, pela lógica

 da divisão do trabalho alguém qualificado

 teria de executar as tarefas de baixa quali

ficação. É uma divisão que não decorre dos

 diferenciais de produtividade, e, sim, de

 diversos fatores que transcendem a lógica

 econômica, como aspectos sociais, culturais

 e mesmo questões operacionais.

 A desigualdade deixa de ser resultado

 das diferenças nos atributos produtivos dos

 trabalhadores e passa a ser resultado

 inerente aos mercados de trabalho capita

listas e ao capitalismo. Em primeiro lugar,

 porque a própria desigualdade nos inves

timentos em capital humano, em especial

 em educação, é fruto inerente ao capita

lismo. O capitalismo gera desigualdade, que

 origina diferentes investimentos em capital

 humano, os quais, por sua vez, ajudam a

 reproduzir a desigualdade.

 O crescimento macroeconômico

 também tem importantes limitações no

 combate à desigualdade, na medida em que

 essa desigualdade é a finalidade microeco

nômica, que gera o crescimento macroeco

nômico. O crescimento em si é função da

 desigualdade, ou a desigualdade é a

 finalidade do crescimento.

 Na realidade, os indivíduos esforçam

se para ser extremamente produtivos,

 investem em capital humano, porque

 querem ficar ricos, querem ser desiguais.

 A busca individual microeconômica e auto

interessada da desigualdade é que gera o

 crescimento macroeconômico. Portanto, o

 comportamento individual que produz o

 crescimento macroeconômico é, na

 realidade, uma busca pela desigualdade. Se

 a busca individual e auto-interessada pela

 desigualdade é que gera o crescimento,

 como conciliar crescimento e igualdade?

 Como conseguir igualdade a partir do

 “Políticas públicas

 de combate à

 desigualdade baseadas

 na democratização

 do capital humano

 apresentam impor

tantes limitações, pois

 o mercado de trabalho

 capitalista está

 organizado de

 forma que existam

 vencedores e

 perdedores”

 crescimento, se o crescimento resulta da

 busca pela desigualdade?

 O sistema econômico capitalista

 movido pelo auto-interesse gera, como

 externalidade negativa inerente à desigual

dade, o tradicional trade-off entre cresci

mento econômico e igualdade em nível

 microeconômico, que nunca foi resolvido,

 em nível macroeconômico, pelo funcio

namento dos mercados. Os economistas

 tradicionais, contudo, jamais procuram

 Revista do Serviço Público  Brasília 56 (1): 37-55 Jan/Mar 2005

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As novas formas de exploração do trabalho no capitalismo contemporâneo e as políticas públicas de combate à desigualdade

 RSP

 explicitar que esse trade-off decorre de análise

 que toma como implícita uma natureza

 humana egoísta e auto-interessada.

 A máxima de Adam Smith, em sua

 obra A riqueza das nações, segundo a qual o

 sistema econômico capitalista, caracte

rizado por indivíduos movidos pelo auto

interesse, geraria o máximo bem-estar

 social, despreza importantes externalidades

 negativas inerentes a esse tipo de com

portamento.

 Em primeiro lugar, a própria questão

 já colocada da desigualdade. Mais estranho

 que esse lapso, porém, é a análise liberal

 que reforça a eficácia do auto-interesse no

 crescimento econômico, mas despreza

 justamente a busca pela desigualdade

 movida pelo auto-interesse, que gera outras

 expressivas externalidades negativas, como

 a corrupção e a falta de coesão social. A

 teoria econômica tradicional também exalta

 a competição, de forma positiva, como

 instrumento essencial para a eficiência,

 desprezando suas externalidades negativas.

 Políticas públicas de combate à desi

gualdade baseadas na democratização do

 capital humano, mesmo sendo desejáveis

 e positivas, apresentam importantes limi

tações, pois o mercado de trabalho

 capitalista está organizado de forma que

 existam vencedores e perdedores, havendo

 ou não diferenciais de produtividade.

 As novas formas de exploração do

 trabalho explicitam uma relação de

 causalidade em que o crescimento macro

econômico é gerado pela busca da desi

gualdade microeconômica. Como o cresci

mento pode reduzir a desigualdade, se é

 gerado pela busca da desigualdade? As

 forças de mercado, em nível macroeco

nômico, mostram-se incapazes de reverter

 esse trade-off. Mais do que isso, o compor

tamento microeconômico auto-interes

sado, que gera o crescimento econômico,

 torna inerente ao funcionamento do

 capitalismo externalidades negativas

 expressivas, como a corrupção, a falta de

 coesão social e a violência a elas associada.

 O combate à desigualdade demanda,

 então, teoricamente, mudanças no

 comportamento humano, de forma que

 o motor do crescimento macroeconômico

 não seja a busca microeconômica pela

 desigualdade de renda entre os indivíduos,

 assim como a alteração dos valores sociais,

 culturais e demais fatores que tornaram o

 mercado de trabalho capitalista uma insti

tuição em que, necessariamente, há vence

dores e perdedores. Enquanto a motivação

 para produzir for o auto-interesse, a busca

 pela desigualdade, pelo sucesso profissional

 e pela riqueza, de forma inerente, haverá

 contradição entre eficiência e desigualdade.

 O trabalho não será a satisfação de neces

sidade, mas, sim, um meio de satisfazer

 outras necessidades11. Será possível conciliar

 eficiência e eqüidade apenas se a motivação

 para a produção for o bem-estar coletivo.

 Dado o “receituário” recomendado

 para o combate à desigualdade, fica implí

cito que este trabalho aceita que o

 comportamento humano e os valores

 podem ser objeto de transformação, pois,

 caso se adotasse a posição determinista de

 que a natureza humana é imutável, não

 haveria motivos para intervenções sociais.

 Contudo, é necessário reconhecer que

 esse diagnóstico levanta importantes

 indagações: Como são determinados o

 comportamento humano e os valores e

 como eles podem ser alterados? Até que

 ponto o comportamento humano é

 influenciado pelo sistema econômico

 capitalista e é independente da conjuntura

 sócio-histórica? Embora essas questões

 sejam relevantes, este artigo não as discutirá,

 pois são tão complexas que fogem ao

 escopo deste trabalho, merecendo discussão

 específica, impossível de ser feita neste paper.

 (Recebido em janeiro de 2005. Versão definitiva em

 março de 2005)

 50

 Revista do Serviço Público  Brasília 56 (1): 37-55 Jan/Mar 2005

Notas

 Rogério Nagamine Costanzi

 RSP

 1 Por tradicional exploração do trabalho pelo capital, entenda-se aquela descrita por Marx em O capital.

 2 Por literatura econômica tradicional, deve ser entendida a chamada teoria econômica neoclássica

 e a teoria do capital humano, que, grosso modo, defendem que os salários são determinados pela

 produtividade (marginal). Para uma visão da teoria tradicional, ver Borjas (2000) e Bosworth, Dawkins

 e Stromback (1996).

 3 Por busca patológica por sucesso, este artigo refere-se a uma busca obsessiva por sucesso

 profissional e financeiro, que coloca o mencionado objetivo como o principal sentido da vida e a falta

 dele como o resultado inaceitável e psicologicamente insuportável.

 4Ver Ferreira (2000), Barros e Mendonça (1995), Barros, Henriques e Mendonça (2000, 2000a) e

 Ramos e Vieira (2000).

 5 Entende-se a teoria econômica tradicional como a teoria microeconômica neoclássica, que

 defende não apenas que o salário seja determinado pela produtividade marginal, mas também que

 a maximização dos lucros seja o único e exclusivo objetivo das firmas.

 6 Sobre mercados internos de trabalho, ver Doeringer e Piore (1971).

 7 Os criadores da teoria dos MWTA foram Frank e Cook (1996). Para ter uma idéia da teoria dos

 torneios, ver Lazear e Rosen (1981).

 8 Para conhecer a teoria dos superstars, ver o trabalho de Rosen (1981).

 9 A “mão invisível” do mercado é a referência feita à expressão criada por Adam Smith, em A

 riqueza das nações.

 10 A expressão “externalidade negativa”, na literatura econômica, pode ser entendida como

 efeito colateral negativo.

 11 Ver MARX, Karl, 1963, p. 162.

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Rogério Nagamine Costanzi

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As novas formas de exploração do trabalho no capitalismo contemporâneo e as políticas públicas de combate à desigualdade

 RSP

 Resumo - Resumen - Abstract

 As novas formas de exploração do trabalho no capitalismo contemporâneo e as políticas

 públicas de combate à desigualdade

 Rogério Nagamine Costanzi

 O mercado de trabalho sofreu profundas transformações desde o começo do capitalismo até o

 momento atual, sendo possível compará-lo a uma loteria, na qual os trabalhadores passaram a

 competir entre si por ascensão profissional. Os bilhetes dessa loteria são os investimentos em capital

 humano. Nela haverá, necessariamente, vencedores e perdedores, com os primeiros apropriando-se

 do trabalho dos últimos. Dessa realidade, surge uma nova forma de exploração do trabalho, cujo

 instrumento de legitimação é o capital humano, que reforça a tendência inerente do capitalismo à

 geração de desigualdade e coloca limitações à visão tradicional de combate à desigualdade baseada na

 democratização do capital humano. O crescimento também tem limitações na redução da desigual

dade, tendo em vista que a motivação microeconômica que gera o crescimento macroeconômico é

 justamente a busca pela desigualdade.

 Las nuevas formas de explotación del trabajo en el capitalismo comtemporáneo y las

 políticas públicas de combate a la desigualdad

 Rogério Nagamine Costanzi

 El mercado de trabajo pasó por profundas transformaciones desde el inicio del capitalismo

 hasta el momento actual, convirtiéndose en una lotería, en que los trabajadores pasaron a competir

 entre sí por ascenso profesional. Los billetes de esta lotería son las inversiones en capital humano. En

 esta lotería, habrá, necesariamente, ganadores y perdedores, con los primeros apropiándose del

 trabajo de los últimos. De esta realidad, surge una nueva forma de explotación del trabajo, cuyo

 instrumento de legitimación es el capital humano, que refuerza la tendencia inherente del capitalismo

 de generación de desigualdad e impone limitaciones a la visión tradicional de combate a la desigualdad

 basada en la democratización del capital humano. El crecimiento también tiene limitaciones en el

 combate a la desigualdad, puesto que la motivación microeconómica que genera el crecimiento

 macroeconómico es justamente la búsqueda por la desigualdad.

 New forms of labour exploitation in contemporary captalism and public policies to

 combat inequality

 Rogério Nagamine Costanzi

 The labour market has undergone deep transformations from the start of the capitalism to the

 current moment, becoming a lottery, in which workers started to compete among themselves for

 professional development. The tickets of this lottery are the investments in human capital. Here,

 there exists, necessarily, winners and losers:  the firsts appropriates the work of the latters.  A new

 form of exploration of the work appears, in which the instrument of legitimation is the human

 capital. It strengthens the inherent trend of the capitalism towards inequality generation and imposes

 limitations to the traditional vision of inequality reduction based on the democratization of the

 human capital. Growth has also limitations to combat inequality, considering that the microeconomic

 motivation that generates the macroeconomic growth is exactly the search for inequality.

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 Revista do Serviço Público  Brasília 56 (1): 37-55 Jan/Mar 2005

Rogério Nagamine Costanzi

 RSP

 Rogério Nagamine Costanzi

 Mestre em Economia pelo Instituto de Pesquisa Econômica da Universidade de São Paulo (IPE/

 USP), Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental do Governo Federal, em exercício

 na Diretoria de Estudos Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (DISOC/IPEA),  ex

chefe de Divisão da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda (1995), ex-coordenador

geral de Emprego do Ministério do Trabalho e Emprego (2000 a 2003).Contato:

 rogerio.nagamine@ipea.gov.br. O artigo do autor  Rogério Nagamine Costanzi.

O capitalismo financeiro é a fase do sistema capitalista marcada pela fusão entre o capital industrial e o capital bancário, com a predominância das instituições financeiras e da especulação financeira na economia. 

Surgiu no final do século XIX e início do século XX, sucedendo o capitalismo industrial. 

Principais Características

Fusão de Capitais: Ocorre a união do capital proveniente da indústria com o capital dos bancos e instituições financeiras. Os bancos passam a ter um papel central, financiando a expansão das indústrias e lucrando com juros e investimentos.

Monopólios e Oligopólios: Busca-se o controle de setores da economia por meio da formação de grandes conglomerados, trustes, cartéis e holdings, visando reduzir a concorrência e maximizar lucros.

Especulação Financeira: A obtenção de lucro e riqueza passa a depender fortemente da especulação nas bolsas de valores, onde ações e títulos são negociados como mercadorias. O foco muda da produção (capital produtivo) para o ganho financeiro (capital especulativo).

Atuação Global (Transnacionais): As grandes empresas expandem suas operações para diversos países, tornando-se transnacionais ou multinacionais, buscando mercados maiores, mão de obra mais barata e incentivos fiscais.

Papel da Bolsa de Valores: A bolsa de valores torna-se o coração do sistema, concentrando investimentos e determinando a circulação de grandes volumes de capital.

Influência Política: Os detentores de riqueza e grandes instituições financeiras exercem uma influência significativa nos objetivos da política econômica dos governos. 

Em resumo, o capitalismo financeiro desloca o eixo da economia da produção industrial para as atividades bancárias e a especulação financeira, com a busca incessante por monopólios e lucros em escala global. 

E assim seguimos.

Confira a noticia no Portal G1 da Rede Globo                                               .https://g1.globo.com/trabalho-e-carreira/noticia/2025/10/18/grecia-jornada-13-horas.ghtml

E assim caminha a humanidade.

Imagem ; Portal G1 da Rede Globo. 




 


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