terça-feira, 14 de outubro de 2025

Patrimonialismo

 Patrimonialismo é um conceito desenvolvido pelo sociólogo Max Weber para descrever um sistema de organização política e administrativa onde não há distinção entre o público e o privado, o poder estatal é exercido com base no poder pessoal do governante ou grupo, e os interesses privados prevalecem sobre os públicos. Essa prática resulta na apropriação dos bens e funções do Estado por interesses pessoais e familiares, caracterizando um governo que se confunde com o património particular dos que o administram. 

Características principais do patrimonialismo:

Não há separação entre público e privado:

As ações e o património do Estado são vistos como extensão do património pessoal do governante ou de um grupo. 

Predomínio do interesse privado:

Os interesses e privilégios de uma elite pessoal (ligada ao governante) sobrepõem-se aos interesses da coletividade e do bem público. 

Relações pessoais sobre impessoalidade:

As relações de amizade, parentesco e clientelismo são mais valorizadas do que o mérito e a impessoalidade na gestão pública. 

Apropriação dos cargos e recursos públicos:

Cargos e funções públicas são distribuídos com base em laços pessoais e familiares, e não por mérito ou qualificação. 

Origem e contexto:

O conceito foi desenvolvido por Max Weber para descrever monarquias e repúblicas pré-modernas, mas suas manifestações persistem em diferentes formas ao longo da história. 

No Brasil, a prática tem raízes históricas desde o período colonial, onde a colônia era vista como propriedade do rei, e se manifestou em formas como o coronelismo na República Velha, que transformava o domínio político numa extensão da fazenda pessoal. 

Consequências:

O patrimonialismo enfraquece as instituições democráticas, a representatividade e a eficiência da administração pública. 

Estimula a corrupção, a criação de cabides de emprego e o inchaço da máquina pública para acomodar grupos de interesse. 

Patrimonialismo no Brasil é a fusão entre o público e o privado, onde o poder e os recursos do Estado são utilizados para fins particulares, como o benefício próprio, de aliados ou de grupos ideológicos. Essa prática tem raízes históricas profundas na colonização portuguesa, legando ao país um sistema onde a administração pública e os interesses pessoais se confundem, e a distinção entre o que é do governo e o que é do indivíduo se torna praticamente inexistente. 

Origens e características do patrimonialismo no Brasil:

A forma como o Estado colonial se organizou, com a concessão de terras e poderes aos senhores feudais, estabeleceu uma prática onde a distinção entre o público e o privado inexistia .

A vinda da corte portuguesa em 1808 resultou na necessidade de acomodar um grande número de pessoas, levando à criação de cargos públicos para alocar membros da corte e justificar seus ganhos, configurando um inchaço da máquina pública. 

A característica central do patrimonialismo é a mistura de bens e interesses públicos com os do político, que passa a considerar a administração como seu próprio patrimônio. 

A forma de acesso a cargos públicos é, muitas vezes, inacessível por mérito e privilegiada para pessoas do círculo pessoal do governante ou de grupos específicos, em detrimento da meritocracia. 

O patrimonialismo no Brasil contribui para a corrupção, a formação de redes de compadrio e o uso das instituições estatais para interesses privados, enfraquecendo a democracia e a eficiência do Estado. 

Confira abaixo a dissertação do autor dos autores Janaína Rigo Santin1 e Anna Gabert Nascimento2 



PATRIMONIALISMO NA GESTÃO PÚBLICA: O 

CASO DO BRASIL 

Janaína Rigo Santin1 

Anna Gabert Nascimento2 

Resumo: A pesquisa faz uma abordagem histórica da prática do 

patrimonialismo na administração pública brasileira, a fim de 

verificar se a crise política atual pode ser fruto de um histórico 

de má gestão e de corrupção no trato com a coisa pública no 

Brasil, somado ao desinteresse de grande parte da população 

com as questões públicas e/ou coletivas. O artigo visa relacionar 

as práticas patrimonialistas reproduzidas historicamente com a 

crise política e econômica atual, as quais estão presentes em to

dos os âmbitos do pacto federativo (Município, Estado e União). 

Entende-se que para superar este estado de coisas é preciso o 

engajamento massivo da população nas questões públicas, par

ticipando ativamente da política, em especial em âmbito local, 

bem como na exigência de maior transparência nas ações dos 

governantes, a fim de fortalecer a fiscalização e o controle so

cial.  

Palavras-Chave: Prestação de Contas, Patrimonialismo, Admi

nistração Pública, Burocracia.  

PATRIMONIALISM IN PUBLIC MANAGEMENT: THE 

1Pós- doutorado em Direito pela Universidade de Lisboa (Bolsa CAPES). Doutora 

em Direito UFPR. Mestre em Direito pela UFSC. Advogada e professora do Mestrado 

em Direito e do Doutorado em História da UPF. Professora da faculdade de Direito 

da UCS. Professora Visitante do Mestrado em Direito da Universidade Agostinho 

Neto, em Luanda, Angola. 

2Estudante da Graduação do Curso de Direito da Universidade de Passo Fundo. Bol

sista de iniciação científica FAPERGS. 

Ano 5 (2019), nº 6, 1157-1178 

_1158________RJLB, Ano 5 (2019), nº 6 

BRAZILIAN CASE  

Abstract: This research takes a historical approach to the prac

tice of patrimonialism in the Brazilian public administration, in 

order to verify if the current political crisis is the result of a his

tory of mismanagement and corruption in dealing with public in 

Brazil, coupled with the disinterest of part of the population with 

public and/or collective issues. The article aims to relate the re

produced patrimonial practices with the current political and 

economic crisis, which is present in all areas of the federative 

pact (Municipality, State and Union). It is understood that over

coming this state requires the massive engagement of the popu

lation around public management by demanding greater trans

parency from the rulers in order to strengthen supervision and 

social control. 

Keywords: Accountability, Patrimonialism, Public administra

tion, Bureaucracy. 

INTRODUÇÃO 

quadro de incertezas políticas e econômicas iden

tificado em grande parte da gestão pública brasi

leira neste limiar do século XXI coloca em evi

dência algumas falhas históricas na condução da 

coisa pública, tanto por órgãos da administração 

direta quanto por entes da administração indireta e seus servido

res. Práticas clientelísticas, costumeiramente presentes nas rela

ções público-privado, acabam por reduzir a receita financeira 

disponível para garantir, por meio de políticas e serviços públi

cos, a efetividade de tutelas constitucionais, especialmente aque

las previstas como direitos sociais.  

Infelizmente, criou-se um sentimento popular de que o 

clientelismo e a apropriação privada da coisa pública são 

RJLB, Ano 5 (2019), nº 6________1159_ 

práticas presentes exclusivamente do período recente da história 

do país, a partir da redemocratização e da proibição da censura. 

Todavia, em verdade, esses atos de conduta indevidos estão evi

denciados na política desde o período colonial brasileiro, per

passando por diversas formas e modelos de gestão, grupos e par

tidos políticos. Em verdade, o que se tem pós Constituição Fe

deral de 1988 é uma imprensa livre e um aprimoramento da au

tonomia dos órgãos de controle, o que acaba por revelar práticas 

patrimonialistas e clientelistas que são históricas, mas que, atu

almente, estão sendo desveladas e muitas delas punidas.  

Assim, a presente pesquisa visa problematizar as práticas 

históricas de malversação e apropriação privada da coisa pú

blica, bem como do patrimonialismo e seus correlatos, como o 

coronelismo, o filhotismo, o mandonismo, o clientelismo, o em

preguismo e o nepotismo. Trata-se de uma forma de conduzir a 

coisa pública que acompanha os diversos contextos históricos do 

país, sempre reinventando-se, perpassando e permanecendo pre

sente até os dias atuais.  

Por conseguinte, buscar-se-á investigar possíveis solu

ções para superar este tipo de conduta, a partir da participação 

popular em sentido amplo e estrito, bem como do fortalecimento 

das instituições de controle sobre as instituições públicas. A pes

quisa é de revisão bibliográfica, a partir dos métodos histórico e 

lógico-dedutivo, na partir da hipótese de que a atual crise polí

tica, econômica e institucional do Brasil advém de um grande e 

longo processo histórico de apropriação privada da coisa pú

blica, que perdura desde o período colonial, permanece e se rein

venta até os dias atuais. 

1. 

PATRIMONIALISMO: CONCEITOS E ABORDA

GENS HISTÓRICAS.  

É notório que há problemas com a gestão do país, devido 

à malversação do dinheiro público e à corrupção, fatores estes 

_1160________RJLB, Ano 5 (2019), nº 6 

somados à grande crise e recessão que vem se alastrando por 

diversos governos neste limiar do Século XXI. O Brasil passou 

por diversos modelos de administração pública em sua história. 

Logo na época colonial foi inserido no país o modelo patrimoni

alista, que perdurou por todo o império e permaneceu durante a 

maioria dos governos, até assumir matizes das mais diversas 

para se reinventar no período pós democratização.   

O patrimonialismo entende que não há separação do Es

tado e pessoa privada, ou seja, os interesses do detentor de poder 

se tornam parte de seu governo (Holanda, 1995, p. 145-146). 

Ainda, de acordo com Weber, uma das principais bases de sus

tentação do poder está no patrimônio, o qual se mantém vincu

lado a benefícios e fragmentos de poder perante o Estado. (We

ber, 1996, p. 217)  

Este tipo de pensamento e conduta é uma forma de ad

ministração que pode ser observada desde o Brasil Colônia, 

quando o país era de domínio dos portugueses.  Perpetrou-se 

também após a independência e durante grande parte dos gover

nos republicanos no país. Nas palavras de Bresser Pereira, na 

história política brasileira o “nepotismo e o empreguismo, senão 

a corrupção, eram norma.” (Pereira, 1998, p. 241)  

Sendo assim, o governante, ao não fazer essa separação 

entre público e privado, pode se beneficiar, aumentando o seu 

poderio político e até mesmo, em alguns casos, financeiro. Atra

vés desses subterfúgios, o aparelho estatal acaba por se formar 

por pessoas que não são dotadas de capacidade para estar no po

der, já que, uma das facetas dessa apropriação privada da res 

publica é o nepotismo, ou seja, o gestor utiliza-se dos chamados 

cargos de confiança, de livre nomeação e exoneração, para fixar 

pessoas de sua parentela ou por meio de barganha política. Para 

Lopes, “O patrimonialismo entende o cargo como um dom rece

bido do senhor ou do rei. O ofício (ou cargo) é um auxilium, 

servitium da vassalagem, correspondente à fidelidade pessoal 

que se estabelece.” (Lopes, 2019, p.171) Tal modelo não reúne, 

RJLB, Ano 5 (2019), nº 6________1161_ 

de regra, medidas que visem beneficiar a população em sua to

talidade, mas sim prol dos individualismos do detentor de poder 

e de seus afilhados políticos, sendo colocado em segundo plano 

os interesses de classes sociais mais desfavorecidas. 

Durante o domínio da Coroa Portuguesa, o país sofreu 

com graves problemas, que eram causados pela forma de go

verno lusitano. Segundo Raymundo Faoro,  

A coroa conseguiu formar, desde os primeiros golpes da recon

quista, imenso patrimônio rural (bens “reguengos, “regalen

gos”, “regoengos”, “regeengos”) cuja propriedade se confun

dia com o domínio da casa real, aplicado o produto nas neces

sidades coletivas ou pessoais, sob as circunstâncias que distin

guiam mal o bem público do bem particular. (Faoro, 2012, p.1)  

Logo, ao tornar privado o patrimônio público, os primei

ros gestores do Estado colonial brasileiro governavam apenas 

para o cumprimento de seus respectivos interesses, anexando 

territórios e se eximindo de obrigações com a população comum. 

Segundo o padre Antônio Vieira, em uma de suas cartas, fica 

muito clara a situação política do Brasil Colonial, ao afirmar que 

“neste Estado há uma só vontade e um só entendimento e um só 

poder, que é o de quem governa.” (Vieira, 1925, p.458) Exclu

íam-se das decisões políticas da época nativos e escravos, con

siderados res, bem como mulheres e pessoas de baixo nível so

cial.3  (Carvalho, 2008, p.293) Quem detinha o poder eram aque

les que possuíam terras, títulos de nobreza e relações com a Co

roa, bem como, “comerciantes voltados ao comércio externo.” 

(Fausto, 1995, p.70) 

Os interesses desta elite colonial eram sempre preponde

rantes ao do restante da população, e tomavam medidas que cla

ramente seriam para benefício próprio, visando adquirir cada 

3Nas palavras de José Murilo de Carvalho, essas pessoas eram de grande uso nos 

trabalhos agrícolas de comércio internacional. Desta forma, eram os grandes respon

sáveis pelos ganhos do governo no período colonial. Havia ainda, escravos empe

nhando-se para que seus senhores pudessem realizar comércio agrícola nacional, bem 

como, achava-se muitos desses realizando atividades nas cidades. Tratava-se de uma 

mão de obra barata e eficaz. (Carvalho, 2008, p.293). 

_1162________RJLB, Ano 5 (2019), nº 6 

vez mais poder e agregação de patrimônio. Por sua vez, a maio

ria da população era analfabeta e carente de infraestrutura e um 

mínimo para viver com dignidade. Esta parcela mais era forçada 

a trabalhar para os senhores de engenho. Mais grave ainda era a 

situação dos escravos, trazidos forçosamente da África, eram li

gados a um dono no qual eram obrigados a corresponder com 

todos os seus desejos. Tratados como objeto, seus direitos eram 

mínimos e, na maioria dos casos, nulos. Além disso, pessoas li

vres desafortunadas eram vítimas desse sistema, afinal, não ti

nham representatividade nenhuma, apenas eram subordinados à 

nobreza e à burguesia. (Carvalho, 2002, p.17-23) 

No entanto, movimentos populares começam a ser orga

nizados pelas castas que eram consideradas medianas economi

camente. Essas inquietações populares davam-se pela alta co

brança de impostos e em crítica a leis autoritárias do governo 

português, fazendo nascer reivindicações pelo processo de inde

pendência. Umas delas resultou na chamada inconfidência mi

neira,4 na qual participou essa população considerada emergente 

na época. (Luz, 2003, p. 440-442) Os inconfidentes, naquele pe

ríodo, eram uma parcela da população que não podia exercer a 

sua opinião sobre as decisões feitas por uma classe social consi

derada superior. Tiradentes, o principal líder, buscava poder in

corporar bens ao seu patrimônio e ter uma maior “projeção so

cial”. Entretanto, também defendiam interesses coletivos, como 

a defesa do desenvolvimento do Brasil, a partir da implementa

ção de pequenas indústrias e da exploração de minério, que 

4Foi uma revolta em Minas Gerais, liderada por Joaquim José da Silva Xavier (Tira

dentes) em 1792, na qual pessoas nascidas no Brasil, desprovidas de poder, uniram

se contra a coroa portuguesa em face à discordância com uma limitação feita por uma 

lei lusitana que, segundo Tiradentes, as propriedades individuais não poderiam ultra

passar “10.000 Cruzados”, sem que houvesse mínimas expectativas de um cresci

mento patrimonial e representativo político da classe.  Somando isso a uma elevada 

carga tributária, populares revoltam-se contra o governo. Havia um sentimento de es

tarem desafortunados em um local onde havia muitas riquezas, como o ouro. Com o 

apoio de intelectuais da época, dão início a uma das mais representativas revoltas pró 

independência. (Luz, 2003, p. 440-442) 

RJLB, Ano 5 (2019), nº 6________1163_ 

ficavam bloqueadas devido a uma forte cobrança de tributos por 

parte do governo português e por leis que limitavam o cresci

mento pessoal patrimonial de brasileiros. (Luz, 2003, p. 441).   

A Constituição do Império do Brasil de 1824 estabeleceu 

que os detentores do poder seriam o Imperador D. Pedro I, uma 

Assembleia Geral, e o Judiciário. Era, pois, constituída de quatro 

poderes, o Legislativo, Moderador, Judicial e Executivo. O Im

perador era titular do Poder Executivo e do Poder Moderador, 

considerado superior aos demais poderes, já que tinha a possibi

lidade de intervir em cada um deles. Havia o voto censitário; ou 

seja, para votar e para ser membro da Assembleia Geral, o su

jeito deveria corresponder a alguns requisitos, como o de ter um 

número considerável de patrimônio e ser do gênero masculino. 

Excluíam-se, assim, pessoas de baixa renda, mulheres e escravos 

do poder político (Brasil, 1824). Isto posto, práticas patrimonia

listas eram naturalmente empregadas, já que havia uma zona de 

conforto estabelecida para os detentores do poder da época, que 

poderiam decidir facilmente sobre o patrimônio público, sem 

maiores mecanismos de controle de seus atos e decisões. 

Contudo, ao verificar um cenário econômico desgastado 

e uma constância de desigualdades e direitos negados, houve um 

apelo popular por mudanças, mediante revoltas regionalizadas, 

como a Confederação do Equador5 contra o governo de Dom 

Pedro I (Fausto, 1995, p.152). Esses fatores, somados à morte de 

Dom João VI, que deixou o trono português vago, levam ao Im

perador Dom Pedro I a abdicação de seu mandato, para de ime

diato dirigir-se para a Europa, assumindo o cargo deixado por 

seu pai, o de rei de Portugal. (Fausto, 1995, p. 154-156) 

Pedro de Alcântara, filho de Dom Pedro e único na linha 

sucessória, tinha apenas 5 anos na época, e precisa assumir o 

trono brasileiro sem, entretanto, exercê-lo. Desta forma, o país 

5Segundo Boris Fausto, foi uma revolta causada pela “nomeação de um governador 

não desejado,” somado ao fato de movimentos pró “ideias republicanas, antiportugue

sas e federativas”. (Fausto, 1995. p.152.) 

_1164________RJLB, Ano 5 (2019), nº 6 

passa a ser governado por regentes nomeados até que o herdeiro 

do comando do Império brasileiro atingisse a maioridade. Esse 

período foi um dos mais turbulentos da história, em face ao pa

trimonialismo advindo dos regentes, o que agravou as condições 

de vida da população comum, desencadeando revoltas com vis

tas a fortalecer a economia das províncias, bem como diminuir 

a elevada tributação. Não havia confiança nos gestores que co

mandavam o Império, liderados pelos partidos “conservador e 

liberal”.  Em vista disso, em 23 de julho de 1840, Dom Pedro II 

é emancipado aos 14 anos e é coroado Imperador do Brasil, fa

zendo que a maioria das revoltas do período regencial fossem 

acalmadas, já que um de seus principais objetivos eram o de ter 

um novo Imperador no poder. (Fausto, 1995, p.161-174)  

Há de se constatar que no período de reinado de Dom 

Pedro II, havia um temor por parte dos grupos estadistas de que 

a classe média da época, trabalhadores e intelectuais, viessem a 

ser influenciados por ideais liberais advindos das revoluções 

burguesas na Europa, e em um futuro viessem a exigir o direito 

ao sufrágio universal (Rocha, 1995, p.15). Além disso, culmi

nando com a pressão feita pelas classes trabalhadoras, advinha 

da Europa também uma intensa influência para que houvesse a 

liberação dos escravos. Essa pressão se dava muito pela estrutura 

de mercado internacional, que pós revolução industrial necessi

taria cada vez mais de consumidores para seus produtos. Havia 

assim, um forte temor dos gestores brasileiros perante a Ingla

terra, que era uma das principais interessadas nesse processo. 

(Carvalho, 2008, p.293-306) Em 1888, a Lei Imperial de nº 

3.353, conhecida como Lei Áurea, é assinada pela princesa Isa

bel6 (Carvalho, 2008, p. 293-306), com o objetivo de extinguir a 

6Nesse período houve uma pressão proveniente da Inglaterra, que após a Revolução 

Industrial buscava consumidores para seus produtos. Desta forma, não seria lucrativo 

haver escravos, já que eles sendo considerado como Res, não teriam condições finan

ceiras de comprar itens ingleses. Além disso, a Inglaterra buscava com que o açúcar 

proveniente de suas colônias fosse mais barato que de outros países. Entretanto, com 

uma mão de obra mais barata, os países escravagistas poderiam fazer um preço melhor 

RJLB, Ano 5 (2019), nº 6________1165_ 

escravidão no Brasil. (BRASIL, 1888)   

Todavia, após essa libertação, não houve políticas públi

cas para que os escravos tivessem condições adequadas para se

rem integrados a uma sociedade na qual quem tinha valor social, 

com direitos políticos e participação em decisões, eram pessoas 

que possuíam alto poder financeiro (Carvalho, 2002, p. 17). 

Sendo assim, a população recém liberta foi subordinada à popu

lação mais abonada política e financeira da época, que não tinha 

interesse em implementar programas de desenvolvimento social 

e de distribuição de renda. Assim, as propriedades rurais conti

nuariam com os mesmos proprietários, não existindo possibili

dade de uma ascensão financeira e representativa dos agora ci

dadãos livres. Sucedeu-se, portanto, um novo período miséria 

para as classes mais baixas, agora exploradas como trabalho as

salariado, agravando as diferenças no país. Havia também um 

absolutismo por parte do poder moderador, no qual se colocava 

acima de todos os outros poderes e cidadãos da sociedade.  

Ideias republicanas e liberais passam a imperar no país, 

sob o comando do jurista Rui Barbosa, o qual “propunha a so

berania racional como substituta do Poder Moderador.” Desta 

forma, “os privilégios e títulos de nobreza seriam extintos, cons

tituindo o saber e a propriedade as únicas condições para a ob

tenção de cidadania plena” (Rocha, 1995, p. 67). Contudo, ao 

estabelecer essa linha de raciocínio, deve-se considerar que na

quela época, a maioria da população era analfabeta e, ademais, 

o patrimônio da época era concentrado na mão de poucos. Para 

que, efetivamente, o republicanismo e as ideias liberais fossem 

implantados no país, era necessário educar seu povo. Assim, 

para Rui Barbosa, a instrução era “a condição necessária para o 

exercício da liberdade política e da plena obtenção da cidadania. 

Todos os homens têm direito de serem iguais e livres, mas 

que o inglês. Outrossim, a igreja também buscava com que houvesse a abolição, sendo 

que, naquele período os únicos países cristãos que ainda existiam escravos eram Es

panha, que já estava em processo de abolição, e Brasil. Com essa pressão internacional 

e com receio de represálias, assinou-se a Lei Áurea. (Carvalho, 2008, p. 293-306.) 

_1166________RJLB, Ano 5 (2019), nº 6 

somente a instrução pode fornecê-los o direito de exercer os di

reitos políticos.” (Rocha, 1995, p. 70) 

A Proclamação da República no Brasil deu-se em 15 de 

novembro de 1889 (BRASIL, 1889), como resultado de uma su

cessão de fatos, como o descontentamento com o resultado das 

eleições da época, obtidos de forma ilícita, inconformismo mili

tar com a Guerra do Paraguai e polêmicas geradas pela liberta

ção dos escravos (Fausto, 1995, p. 216-221). Em 1891, é escrita 

uma nova Constituição, agora republicana, escrita pelas mãos de 

Rui Barbosa. Convocam-se novas eleições, nas quais participam 

a junta militar e a civil. Todavia, quem poderia votar eram ape

nas homens, alfabetizados e maiores de 21 anos, mantendo-se a 

exclusão de parte da população: “analfabetos, mendigos, os pra

ças militares”. (Fausto, 1995, p. 251) Foi instituído também na 

Constituição de 1891 que o voto não seria secreto. (BRASIL, 

1891). Sendo assim, o poder continuaria nas mãos de quem tinha 

condições de intimidar ou de fazer a de compra de votos, ofere

cendo dinheiro ou troca de favores. Instituiu-se, assim, nos pri

meiros anos da República, o chamado “voto de cabresto”, que 

era caracterizado por violência política, clientelismo e demais 

ações imorais praticadas para a perpetuação no comando pú

blico. (Leal, 2012, p.42) 

Inspirado no modelo estadunidense7 (Rocha, 1995, 

p.125), os Constituintes, sob o comando de Rui Barbosa, estabe

lecem a descentralização do poder político no Brasil, substi

tuindo o modelo unitário imperial pelo modelo federativo repu

blicano. Instaurou-se no país o federalismo8, no qual haveria 

7Mesmo adotando o mesmo modelo de sucesso estadunidense, não se foi levado em 

conta que haveria grandes diferenças entre os dois países, Rocha explica que “O pro

blema federativo nacional era, então, o oposto do que tinha sido os dos Estados Uni

dos, pois enquanto na América do Norte estados independentes cederam parte de sua 

soberania a união, no Brasil o governo central deveria ceder parte de sua soberania às 

províncias. ”  (Rocha, 1995, p.125). Ver também (Santin; Rodigheri, 2016) 

8

 Indaga José Afonso da Silva que “O federalismo, como expressão do Direito Cons

titucional, nasceu com a Constituição norte-americana de 1787. Baseia-se na união de 

coletividades políticas autônomas, quando se fala em federalismo, em Direito 

RJLB, Ano 5 (2019), nº 6________1167_ 

autonomia dos estados perante a união. No entanto, é de suma 

importância ressaltar que esse modo acabou prejudicando algu

mas unidades da federação, eis que, pelas dimensões continen

tais do país, com diferentes valores étnicos e variações entre as 

localidades, apresentaram-se disparidades entre os entes da fe

deração, e assim houve a facilitação de políticas de caráter oli

gárquico, como a aliança entre mineiros e paulistas. (Ferreri, 

1995, p.27-28) 

Esse pacto entre os governos do sudeste foi chamado de 

“política do café com leite”. Dado que, a região de Minas Gerais 

tinha uma farta produção de leite e São Paulo possuía uma ex

tensa produção de café. (Fausto, 1995, p. 270-271)   Isto posto, 

essa forma de condução do comando central do país coaduna-se 

com a forma eleitoreira da época, na qual quem tinha poder eram 

os grandes proprietários de terra. (Leal, 2012, p. 39-41) Quem 

escolhia os representantes políticos eram a população mais afor

tunada daquele período, como os grandes coronéis. Segundo Ra

imundo Faoro, o povo, mesmo exercendo a democracia do voto, 

tem de se submeter a uma pessoa superior intelectual ou econo

micamente. Nesse contexto, existe a figura do coronel, que co

manda várias pessoas e mantém seu poder pela troca de favores, 

violência política e cooptação do público pelo privado. (Faoro, 

2012, p. 542)  

Para Leal, “é sobretudo um compromisso, uma troca de 

proveitos entre o poder público, progressivamente fortalecido, e 

a decadente influência social dos chefes locais, notadamente dos 

senhores de terra.” (Leal, 2012, p.40) Caracterizando-se assim, 

uma das descendências do patrimonialismo da época do Impé

rio: o coronelismo, que teve sua maior aplicação na história bra

sileira durante este período. Janotti refere que no coronelismo da 

primeira república, as autoridades, os chamados coronéis, 

Constitucional, quer-se referir a uma forma de Estado, denominada federação ou Es

tado Federal, caracterizada pela união de coletividades públicas, dotadas de autono

mia político-constitucional, autonomia federativa.” (Silva, 2014, p. 101) 

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impunham ao povo votante, a eleição de representantes por eles 

escolhidos. Tratava-se de uma política de compromissos, “con

chavos” e “toma-lá-dá-cá” entre os governos estaduais e os go

vernos locais, com troca de favores e violência política para ma

nutenção do poder (Janotti, 1981, p. 7)  

Sendo assim, no período da república velha havia uma 

grande repressão das classes subalternas, perpetuando-se no po

der aqueles que o detinham. A cooptação e a violência política 

às oposições eram uma constante, com a submissão de grande 

parte da população a ordens dos grandes proprietários de terra, 

em troca de favores9 ou até mesmo por serem ameaçadas, já que 

o voto não era secreto. (Rocha, 1995, p. 151-152) Além disso, 

no modelo de Estado brasileiro da primeira república é explícita 

a ideia dos gestores em prejudicar grupos da sociedade comum, 

quando estes elaboravam movimentos para reduzir a exploração 

das classes dominantes. (Ianni, 1984, p. 14) 

Porém, em 1929, houve uma das maiores crises econô

micas mundiais já vistas, culminando com o fim da primeira re

pública. Após o término da Primeira Guerra Mundial, com a Eu

ropa devastada em face aos acontecimentos, os Estados Unidos 

passam a lucrar com a exportação de seus produtos. Era notório 

o crescimento das indústrias; porém, não houve um grande pla

nejamento no que se refere à geração das mercadorias. A super

produção gerada por este processo desequilibrado de industria

lização desencadeia uma enorme crise nos Estados Unidos, já 

que, o poder aquisitivo das pessoas nacionais não cresceu, e o 

comércio internacional diminuiu. Somada a isso, uma queda na 

bolsa de valores de Nova York, que após chegar em seu auge, 

começa a decair. Desta forma, no dia 24 de outubro de 1929 

acontece o denominado “crash da Bolsa de Nova York”, que 

afeta o mundo todo. (Mazzuccelli, 2009, p. 179-189) 

9Segundo Paul Singer, configura-se também como Clientelismo quando o candidato 

a gestor faz barganhas eleitoreiras. Ou seja, em troca de favores, a população vota 

naquele governante. São os “cabos eleitorais” (Singer, 1965, p. 77). 

RJLB, Ano 5 (2019), nº 6________1169_ 

O Brasil também foi acometido com a crise, dado que na 

época era um grande exportador de café. Também aqui havia 

uma extensa produção, voltada à lucratividade dos barões do 

café da época, que visavam com o produto da exportação do café 

adquirir mais propriedades e gerar cada vez mais poder para si. 

No entanto, ao se instaurar o desequilíbrio econômico global, a 

oferta de produtos era maior do que a procura. No Brasil, os 

grandes proprietários das lavouras de café tiveram um declínio, 

já que havia uma grande quantidade de café, todavia não existia 

demanda para a sua comercialização. (Furtado, 2005)  

As elites oligárquicas do sul do país, aliadas com alguns 

estados do nordeste, aproveitaram este momento para, a partir 

da liderança de Getúlio Dornelles Vargas, reforçar-se o discurso 

de que a matriz econômica precisaria ser mudada, com a indus

trialização e urbanização do país. Também seria necessário alte

rar o exercício do poder político, com o fim da “política café 

com leite”, a fim de abranger outros estados que não só Minas 

Gerais e São Paulo.  Veja-se: 

Em 1929 a oligarquia cafeeira, principal força do bloco agrário, 

entra em crise. A revolução de 30 assinala a transição para uma 

época na qual se dinamizam processos econômicos, políticos, 

culturais, demográficos e outros tais como os seguintes: indus

trialização, urbanização, sindicalismo estatal, intervencio

nismo governamental crescente na economia, fortalecimento 

do aparato estatal, principalmente do executivo. (Ianni, 1984, 

p. 16)  

Getúlio Vargas sustentava em seus discursos um viés 

marcadamente nacionalista e populista, defendendo a busca por 

direitos sociais. Da mesma maneira, defendia a implementação 

de indústrias nacionais, onde mais tarde, dentro de seu governo, 

foram fundadas diversas estatais como a Companhia Siderúrgica 

Nacional, a Vale do Rio Doce, a Petrobrás, entre outras. Por

tanto, os proprietários de terra, devastados com a crise de 1929, 

corroborada com a ascensão de Vargas, passam a contar com um 

declínio do seu poder político. (Fausto, 1995, p. 325-328) Esta

vam delineados os fatores que desencadearam a Revolução de 

_1170________RJLB, Ano 5 (2019), nº 6 

1930,10 que resultou na indicação e na confirmação de Getúlio 

Dornelles Vargas como presidente da República, findando a re

pública velha. (Fausto, 1995, p.323)   

Em seu governo, Vargas instaura no Brasil algumas mo

dificações de forte apelo popular como, por exemplo, a justiça 

do trabalho, o voto feminino e direitos trabalhistas, como a im

plementação do salário mínimo e de férias remuneradas. (Santin, 

2017, p. 120). Este novo modelo de industrialização levou a um 

grande êxodo rural e ao fortalecimento do meio urbano, que cada 

vez mais era habitado. Tais fatores favoreceram o crescimento 

da economia e, com isso, a melhora nos índices educacionais da 

população brasileira. (Fausto, 1995, p. 325-326). 

Contudo, Vargas era, em essência, autoritário. Em seu 

segundo mandato, não consegue manter sua popularidade de

vido a denúncias de atos que envolviam corrupção e malversa

ção do dinheiro público. Assim, mesmo com a conquista de di

reitos sociais, a população ainda continuou tendo que conviver 

com antigas práticas nefastas de governo, que provocaram inú

meras greves no período final de governo de Getúlio Vargas. 

(Fausto, 1995, p. 406-412) A partir do Atentado da Rua To

nelero,11 pedidos para que o presidente deixasse seu cargo se in

tensificam pela perda do seu controle sob as forças armadas. No 

entanto, o gestor máximo da nação suicida-se antes de ser de

posto. (Fausto, 1995, p. 416-417) 

Ao findar a chamada Era Vargas, novos governantes su

cederão a ele, todavia o patrimonialismo e a corrupção continu

arão em evidência, percorrendo o período do golpe militar, per

passando pela redemocratização, sendo ainda muito recorrente 

10  Foi um conflito entre as classes litigantes de poder, que buscavam colocar não mais 

um representante paulista ou mineiro na presidência do Brasil. Desta forma, cria-se 

uma situação de tensão, onde várias denominações da sociedade estão incorporadas. 

Esta revolução, tem como estopim o assassinato de João Pessoa. (Fausto,1995, p. 323) 

11 Segundo Boris Fausto, foi um atentado que visava vitimar a vida de Lacerda, um 

dos grandes opositores de Vargas. No entanto, ao deferir os tiros, o malfeitor Alcino 

do Nascimento acaba por atingir o major da Aeronáutica, Rubens Vaz. (Fausto, 1995. 

p. 416-417) 

RJLB, Ano 5 (2019), nº 6________1171_ 

na atualidade. Em cada uma destas administrações públicas, se

jam elas de forma direta ou indireta, acumularam-se problemas 

nos quais levaram pouco a pouco o país a estagnar-se em uma 

crise política, econômica e institucional.  

Com o avanço da industrialização, grandes obras e em

presas públicas alavancaram o país, em especial após a edição 

do Decreto Lei 200/67, que fomentou o agigantamento da admi

nistração indireta no Brasil, com a criação de inúmeras empresas 

públicas, autarquias, sociedades de economia mista e fundações. 

Porém, há de se constatar que muitas dessas obras e/ou empresas 

foram feitas com o intuito de arrecadar, de forma ilegal e imoral, 

recursos para incrementar o patrimônio daqueles que as promo

veram. A confusão entre o público e o privado sempre foi nefasta 

na política e na economia brasileira. Nas palavras de Barrucho, 

ainda que se houvesse um crescimento no que tange a economia, 

como no caso do “milagre econômico”, muitas dessas ações ge

raram dívidas históricas incessantes até a atualidade, bem como 

prejudicaram as classes menos favorecidas da época. (Barrucho, 

2018) 

Nos atuais governos, operações policiais evidenciam 

cada dia mais o uso do patrimonialismo e corrupção, já que o 

que é percebido é o uso de dinheiro público para benefício par

ticular, com vistas ao financiamento, manutenção e reprodução 

daqueles que estão no poder. (Ministério Público Federal, 2019)  

Portanto, é certificado que o republicanismo no uso do 

dinheiro e da máquina pública sempre foi algo muito falho. Em 

consequência disso, os recursos para execução de políticas pú

blicas e serviços para garantia dos direitos sociais, previstos 

constitucionalmente, são cada vez mais reduzidos, já que pare

cem não ser convenientes aos detentores do poder.  

2. 

A PARTICIPAÇÃO POPULAR NO SÉCULO XXI 

Assim como referido anteriormente, práticas 

_1172________RJLB, Ano 5 (2019), nº 6 

patrimonialistas acompanham a gestão pública brasileira desde 

a colonização portuguesa, onde a representação das classes me

nos favorecidas era praticamente nula. Contudo, principalmente 

após a redemocratização do país e a edição da Constituição Fe

deral de 1988, com a conquista do direito ao sufrágio universal 

a todo e qualquer cidadão, maior de dezesseis anos, independen

temente de raça, gênero ou condição social ou econômica, con

forme o artigo 14 da Constituição Federal da República Federa

tiva do Brasil de 1988.12 A democracia semidireta foi a escolha 

do constituinte, na qual há uma combinação entre democracia 

representativa e participativa: “todo poder emana do povo, que 

o exerce por meio de representantes eleitos ou, diretamente, nos 

termos desta Constituição” (parágrafo único do artigo 1.) Decor

rência disso, paulatinamente foram sendo reconhecidos na legis

lação infraconstitucional os direitos de participação do cidadão 

no exercício do poder político, tanto no executivo, quanto no le

gislativo e no judiciário.  

Importa ressaltar que a participação de todos os “poten

cialmente envolvidos” deve ser feita para que haja a efetivação 

de interesses públicos, mesmo essas pessoas estando fora do âm

bito estatal. Sendo assim, em governos democráticos, deve-se 

haver uma participação popular não apenas com o voto, mas 

também com indivíduos que atuem ativa e constantemente em 

todas as esferas do poder do Estado. (Goczeviski, 2015, p. 125) 

Desta forma, há várias maneiras de participar: a) na esfera do 

executivo, na definição das políticas públicas por meio dos con

selhos gestores; b) na esfera do judiciário, com o amicus curiae, 

o tribunal do júri para delitos dolosos contra vida, bem como os 

juízes leigos, conciliadores e mediadores no processo civil e pe

nal; c) na esfera do legislativo, na edição de leis com o plebis

cito, referendo e iniciativa popular; d) na execução de políticas 

públicas, por meio de parcerias entre governo e o público não 

12 Refere que, “a  soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto 

direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei. ” (Brasil,1988).   

RJLB, Ano 5 (2019), nº 6________1173_ 

estatal, também chamado de terceiro setor; e) no controle do po

der, de forma individual ou organizada, ou mesmo utilizando-se 

do ombudsman, fiscalizando a efetividade e qualidade dos ser

viços e da administração pública. Trata-se de inúmeras formas 

de o cidadão exercer seu papel ativo na construção de uma soci

edade mais justa e igualitária.  

Jürgen Habermas cita que, “Os direitos de participação 

política remetem a institucionalização jurídica de uma formação 

pública da opinião e da vontade, a qual culmina em resoluções 

sobre leis e políticas.” (Habermas, 1997, p. 190) Evitar, com a 

atuação efetiva da sociedade civil no âmago da sociedade polí

tica, da colonização do mundo da vida pelas esferas sistêmicas 

do Estado e do Mercado, que só visam poder e dinheiro para si 

e seus companheiros. Inserir mecanismos de racionalidade co

municativa nas esferas sistêmicas, para que se abram efetiva

mente para os interesses dos mais fracos. Dowbor refere que “é 

indiscutível que aproximar o poder de decisão e de controle so

bre os processos de desenvolvimento, das pessoas que arcarão 

com o benefício ou o prejuízo, e que estão, portanto, diretamente 

interessadas nos resultados, constitui simplesmente boa visão 

administrativa.” (Dowbor, 2016, p.37) 

Todavia, a participação popular atualmente resume-se ao 

período eleitoral, onde de 4 em 4 anos há discussão de quem irá 

representar os interesses dos membros da sociedade brasileira, 

seja em âmbito municipal, estadual ou federal. Devido a um des

crédito com a classe política, a maioria das pessoas denominadas 

“comuns”, integrantes da sociedade civil, não buscam aprimorar 

estudos sobre propostas e vida pública pregressa de seu eleito, a 

fim de qualificar seu voto. Também são influenciadas facilmente 

pelas pesquisas eleitorais, pelas campanhas midiáticas e as evi

dentes fake News, decisivas nas últimas eleições. Abre-se, assim, 

espaços para que possíveis candidatos mal-intencionados ve

nham adentrar no poder.  

Todos estes fatores corroboraram com a grave crise 

_1174________RJLB, Ano 5 (2019), nº 6 

institucional e financeira do país, que não é apenas de responsa

bilidade de um governo, e sim de todo um histórico de falhas na 

condução da administração pública, corroborada com o enfra

quecimento e, por vezes, cooptação das instituições de controle. 

Tais fatores, conjugados à apatia política e a inércia da popula

ção em lutar no combate de fraudes, corrupção e práticas patri

monialistas, com vistas a dirigir os recursos públicos a quem re

almente deles necessita, os mais fracos. Este enfraquecimento 

dos direitos sociais atinge o constitucionalismo e levam a um 

descrédito da própria democracia brasileira.  

CONCLUSÃO 

Portanto, o artigo abordou algumas passagens da história 

política brasileira, a fim de focar em erros e situações-problema 

na condução da coisa pública por parte de muitos dos governan

tes, desde o período do Brasil colônia, as quais se reinventam e 

permanecem até os dias atuais, sendo que todas estas matizes 

estão voltadas para o patrimonialismo e para a  apropriação pri

vada da coisa pública.  

Esse sistema nefasto levou o país a um déficit gigantesco 

nas finanças públicas e, como consequência, na má realização 

de serviços públicos e insuficiente cumprimento de tutelas cons

titucionais para a população, levando também ao falecimento de 

diversas partes do sistema estatal.  

Como consequência desta precária situação do Estado e 

de muitas de suas instituições de administração direta ou indi

reta, a classe política começa mais uma vez entrar em descrédito 

com o seu povo. Todavia, esse descontentamento leva a um de

sinteresse com os assuntos coletivos, fazendo com que as classes 

mais necessitadas sejam afetadas. Afinal, a partir desse fator os 

maus administradores públicos criarão uma espécie de zona de 

conforto. Essa na qual, fará com que apenas os seus interesses e 

de seus aliados sejam realizados, deixando a maioria da 

RJLB, Ano 5 (2019), nº 6________1175_ 

população à mercê apenas de propostas eleitoreiras que, na mai

oria dos casos, não são concretizadas. 

Isto posto, deve-se analisar que as maiores conquistas da 

sociedade brasileira foram através de movimentos populares, 

como nos casos da Inconfidência Mineira, de Canudos, das Di

retas Já, dentre outros movimentos e manifestações, onde se ob

servou que a população saiu de sua comodidade e seu “berço 

esplêndido” e foi lutar pela concretização de seus direitos e por 

melhores condições de vida. 

É de suma importância ressaltar que o Estado só trará 

condições mais justas a todos, com o cumprimento de suas obri

gações sociais em prol de uma igualdade material, e não apenas 

formal, se houver um engajamento de todos na fiscalização e 

busca por transparência nos governos e representantes políticos. 

Inserir mecanismos de razão comunicativa na esfera sistêmica 

estatal, por meio da participação da sociedade civil nas audiên

cias públicas, nos conselhos gestores e com o ombudsman. De

vem também verificar os portais da transparência de seus esta

dos, municípios e do governo federal, pois de nada adianta uma 

lei que garanta o acesso público a todos os dados administrati

vos, quando não há pessoas para fiscalizar estes dados. Exercer 

sua cidadania não só no sufrágio eleitoral, mas também com me

canismos de cobrança do exercício do mandato aos seus repre

sentantes, para que assim, cumpram com o disposto no ordena

mento jurídico do país.  

Não há como haver progresso sem que o povo tenha a 

consciência de que a responsabilidade sobre o desenvolvimento 

do país é de todos os seus cidadãos, que devem além de votar, 

atuar conjuntamente com seus eleitos, para que assim, velhas 

práticas não idôneas de gestão sejam extintas no futuro. Cons

truir assim, uma sociedade de bem-estar para todo e qualquer 

indivíduo e não apenas para as classes dominantes, historica

mente no poder e se reproduzindo nele.  

_1176________RJLB, Ano 5 (2019), nº 6 



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A corrupção tem sido alago recorrente no Brasil . E certamente o nível de percepção de preocupação com a corrução aumentou muito no Brasil. Haja vista as radicalizações que levam a negação da politica e das instituições democráticas . A corrupção endêmica e supra partidária que temos no Brasil , enfraquece a crença nos poderes da República, o que afeta a democracia como um todo.


Sinais de enfraquecimento do combate à corrupção

Anulações e acordos questionáveis: A Organização dos Estados Americanos (OEA), em março de 2025, e a Transparência Internacional têm manifestado preocupação com decisões judiciais que anularam provas e acordos em casos de grande corrupção, como a Lava Jato. Essas ações geram incerteza jurídica e podem minar a confiança da população.

Decisões judiciais questionáveis: Decisões do ministro do STF, Dias Toffoli, como a anulação de provas da Odebrecht (2023) e a suspensão da multa da empresa (2024), foram citadas pela OEA como ações que "poderiam minar a confiança pública".

Críticas aos acordos de leniência: Relatos indicam que promotores têm se envolvido em acordos obscuros para fornecer leniência a empresas corruptas, e que conflitos de interesse têm permeado decisões judiciais. 

Corrupção "suprapartidária" e sistêmica

A corrupção no Brasil não se restringe a um partido ou grupo político, mas é um problema enraizado que afeta o sistema como um todo. 

"PEC da Blindagem": A tentativa de tramitação de um projeto de emenda constitucional em setembro de 2025, apelidado de "PEC da Blindagem" por críticos, foi altamente controversa e resultou em protestos massivos. Alegou-se que o processo legislativo ignorou a participação pública, reforçando a percepção de falta de transparência e de que interesses específicos são priorizados.

Envolvimento em múltiplos setores: Casos de corrupção recentes, como a fraude em fundos de pensão da Petrobras (Petros) e o suborno envolvendo a Agência Nacional de Transportes Tque estão ligados à capacidade de implementar políticas públicas concretas, a corrupção é percebida como um marcador de sentimento anti-establishment. 

errestres (ANTT), demonstram que a corrupção afeta diversas esferas do setor público.

Polarização política e corrupção: A polarização política tem sido associada à forma como as acusações de corrupção são tratadas. Em vez de problemas de saúde ou educação, Casos recentes de corrupção (2025)

Corrupção na mineração: Em setembro de 2025, a Polícia Federal investigou um esquema de suborno de $38 milhões na mineração, que levou à prisão de dezenas de pessoas em Minas Gerais por extração ilegal de minério de ferro.

Fraude na ANTT: Em junho de 2025, uma empresa foi penalizada pela CGU por falsificar notas fiscais para ocultar a entrega de presentes de alto valor a funcionários da ANTT.

Fraude em fundo de pensão: Em julho de 2025, o MPF denunciou 19 pessoas por um esquema de lavagem de dinheiro que desviou fundos do Petros, o fundo de pensão da Petrobras. 

Iniciativas anticorrupção e desafios

Apesar dos desafios, há esforços em andamento para combater a corrupção. 

Plano de Integridade e Anticorrupção (CGU): A Controladoria-Geral da União (CGU) lançou um plano para 2025–2027, com foco em fortalecer as ferramentas de prevenção e monitoramento de riscos de conflitos de interesse. O plano também busca integrar questões ambientais, sociais e de governança (ESG).

Cooperação internacional: O Brasil tem participado de fóruns como o G20 e o BRICS para fortalecer a cooperação e a recuperação de ativos em casos de corrupção, incluindo o rastreamento de fundos em paraísos fiscais e criptomoedas.


                       .

Confira a noticia no Portal G1 da Rede Globo.                                   .https://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2025/10/14/operacao-policia-civil-sobrinha-ex-prefeito-dr-pessoa-teresina.ghtml

 

E assim caminha a humanidade    

Imagem ; Site Politize. 




 

 









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