segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Peronismo.

 A maquina partidária é a capacidade de influencia geopolítica, financeira e política, que um partido possui, não somente em termos de defender seu território político, como também aumentar sua influencia geopolítica, financeira e hierárquica dentro e fora de seu espectro político.

Na área  geopolítica, uma maquina partidária, as políticas territoriais na relação de poder e influencia dentro de seu espectro político, aonde se visa manter seu poder e influencia política dentro de um determinado seguimento. Uma maquina partidária, envolve no seu sentido geopolítico, o gerenciamento e expansão de poder e influencia de um determinado partido em um determinado espectro político.

Na área  hierárquica, uma maquina partidária é uma esfera de poder aonde um determinado partido administra e mantem sua hierarquia e influencia , em conjunto de expansão territorial, na administração governamental , aonde este partido se torna  a maior agremiação política dentro de um determinado espectro político.

Uma maquina partidária, na sua área hierárquica, garante a influencia absoluta de um determinado partido dentro do seu espectro político. Com uma maquina partidária, na sua área hierárquica, garante a influencia expansionista de um determinado partido, além das bases do seu espectro político.

No âmbito financeiro, uma maquina partidária, garante á um determinando partido, se sobrepor pelo poder econômico. Mantendo sua influencia geopolítica e hierárquica, uma maquina partidária, representa a concepção total na sua "natureza política", em uma clara manifestação da hierarquia econômica, política e territorial de um determinando partido, dentro e fora de seu espectro político. 

Uma maquina partidária, garante a "natureza política" de um determinado partido, no seu total e absoluto poder e influencia expansionista por meio do seu poder econômico, que se traduz na "natureza política", dentro e fora do seu espectro político, em uma influencia geopolítica, hierárquica e financeira, pelo "natureza política" do poder econômico que uma maquina partidária proporciona á um determinado partido político.

Uma maquina partidária, garante á um determinado político, a plena capacidade de estrutura e poder político, para se adaptar organicamente a qualquer mudança em uma sociedade.

O peronismo é um movimento político argentino fundado por Juan Domingo Perón, que se destaca por sua heterogeneidade ideológica e pelo forte apelo popular. Sua influência na política e na sociedade argentina é central e duradoura, mesmo após a morte de seu fundador. 

Principais características

Base populista: O peronismo surgiu com forte apoio da classe trabalhadora e dos sindicatos, impulsionado por reformas trabalhistas e de segurança social promovidas por Perón.

Doutrina justicialista: Os três pilares do justicialismo, a doutrina oficial do movimento, são a soberania política, a independência econômica e a justiça social.

Amplitude ideológica: Embora seja frequentemente associado ao populismo de esquerda, o peronismo abriga uma grande variedade de facções e tem se adaptado a diferentes contextos ao longo da história. Já teve vertentes que adotaram políticas neoliberais (o menemismo) e outras mais próximas do centro-esquerda (o kirchnerismo).

Liderança carismática: O movimento é marcado pela figura de seus líderes, especialmente Juan Domingo Perón e sua esposa, Eva Perón, a "Evita".

Anti-imperialismo e nacionalismo: O peronismo defende o nacionalismo econômico e uma postura de autonomia em relação a potências estrangeiras, priorizando o desenvolvimento da indústria nacional. Segundo a Jornalista , Mestra e Doutora Nadini de Almeida Lopes, no Oitavo e Ultimo Semestre da Habilitação em Jornalismo na Comunicação Social, pelas Faculdades Integradas Alcantara Machado (FIAAM FAAM).

Confira o artigo da autora Margarita Victoria Rodríguez 

 PERONISMO: MOVIMENTO POPULAR DEMOCRÁTICO, OU POPULISMO 

AUTORITÁRIO? (1945-1955) 

Margarita Victoria Rodríguez 

Universidade Católica Dom Bosco’ 

Este trabalho é um estudo histórico do governo peronista

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 (1946-1955), período que 

teve grande influência na vida política argentina, a partir da década de 1940, e que ainda é um 

tema que suscita amplos debates. 

O Peronismo tem sido razoavelmente investigado em seus aspectos políticos, 

econômicos e sociais.  Autores como Ipola (1982), Laclau (1979), Waldmann (1986) têm 

chamado a atenção para algumas das condições econômicas que o originaram: supremacia da 

burguesia sobre as oligarquias agrárias, vitória da indústria sobre a agricultura, a hegemonia 

da cidade sobre o campo, processo de mudanças sociais, entre outros.  

O estudo deste período ganha relevância e atualidade, na medida em que permite 

entender muitas das políticas públicas posteriores que buscavam contestar ou derrogar 

medidas do governo peronista.   

O peronismo apresenta certa semelhança com as políticas adotadas pelos diferentes 

governos na América Latina, em relação ao processo de re-acomodação do capitalismo em 

nível mundial, no período de “entre guerras” e “pós-guerra”.  Assim, foram implementados 

planos de governo que transcenderam a fronteira do “nacional”. 

Citamos, a título de exemplo, algumas medidas adotadas pelo peronismo no período 

que vai de l946 a l955: 

a) Intervenção estatal na esfera econômica.    

b) Nacionalização da economia. 

c) Substituição de importações. 

d) Re-acomodação da burguesia agrária e sua participação na industrialização do país. 

O aparelho estatal criou as condições para o desenvolvimento de uma indústria 

nacional. Octavio Ianni, em seu livro “Estado e Capitalismo”, explica que o Estado teve como 

objetivo o desenvolvimento dos instrumentos e das instituições que tinham por fim a 

realização de operações destinadas ao desenvolvimento da economia nacional. 

No âmbito educativo, o peronismo mostrou um interesse por ampliar as vagas em 

todos os níveis do ensino, contradizendo a política liberal e laica dos períodos anteriores.  

Utilizou os meios de comunicação - cinema, jornal e rádio-, e o aparelho escolar como órgão 

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 difusor de suas idéias. O governo procurou dominar o aparelho educativo, para tanto se valeu 

de complexas estratégias que não obedeciam aos modos institucionais tradicionais.  Assim, 

criou uma série de organizações paralelas, ao sistema oficial, com o objetivo de controlá-lo. 

Perante a falta de um programa escolar com conteúdos e ações concretas e diante às 

resistências encontradas no âmbito educacional, o regime desenvolvesse uma série de 

medidas fundadas numa política de massa que priorizava estratégias paralelas ao sistema 

educacional. Assim o governo privilegiou a reforma administrativa em detrimento da reforma 

pedagógica, pregada nos discursos, mas não efetivada na prática.  Usou simultaneamente a 

escola primária como órgão de difusão e aparelho disciplinador da população, visando 

consolidar a hegemonia política e ideológica do regime. 

Cabe esclarecer que não fazemos uma caracterização do peronismo porque, como 

fenômeno complexo, oferece demasiados perfis e variáveis, e provavelmente acabaríamos por 

formular uma esquematização inoportuna.  Portanto, nos detemos apenas em alguns aspectos 

marcantes do movimento.  

Num primeiro momento, analisamos o contexto social, político e econômico que dei 

origem ao peronismo. A seguir destacamos sua particular interlocução com os trabalhadores e 

a relação do regime peronista com os grupos de poder da sociedade argentina.  E por último, 

elaboramos uma periodização do regime e discutimos as influências filosóficas, políticas e 

ideologias das que foi objeto. 

1. O regime peronista e a construção de uma nova hegemonia 

O movimento peronista surgiu num contexto nacional marcado por mudanças nas 

condições do desenvolvimento econômico. Com a crise mundial de 1929 os países 

desenvolvidos -compradores de produtos primários- adotaram medidas de corte protecionista, 

e a Argentina enfrentou dificuldades para colocar seus produtos tradicionais (carnes e 

cereais), no mercado internacional.  Este fato levou à ruptura do “crescimento para fora” e 

gerou condições para um virtual crescimento interno, propiciando o desenvolvimento da 

indústria leve. Este processo de lenta industrialização provocou a perda da exclusividade do 

poder econômico da burguesia agrária. 

O processo industrializador em gestão corresponde à entrada em cena de novos setores sociais, 

com interesse de influir na composição da estrutura econômica argentina e a presença, organizada 

ou não, de setores do trabalho (PINKASZ, 1989: 21). 

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 Este período é relevante na medida em que se apresenta à população como uma proposta diferente da liberal e 

da conservadora conhecidas até então. 

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 De 1850 a 1930, as economias da América Latina se incorporam ao mercado mundial 

a partir da consolidação dos Estados Nacionais, que criaram as condições necessárias para as 

atividades econômicas. Na Argentina, antes da crise de l930, oligarquias latifundiárias locais 

tinham o poder, e organizaram um Estado central que representava seus interesses, tendo 

como princípio articulador o liberalismo econômico. 

A implantação do Estado oligárquico esteve sustentada pela ideologia liberal, que 

demonstrou uma grande capacidade de absorver a ideologia das massas e integrá-la ao seu 

discurso. O pensamento oligárquico estava alicerçado em duas concepções filosóficas e 

políticas, por um lado a idéia do progresso positivista permitiu o desenvolvimento econômico 

ligado ao mercado mundial. Por outro, a concepção “europeísta”, que defendia as formas de 

vida e os valores europeus como símbolo da “civilização” em desprezo pelas tradições 

populares nacionais, por representar o atraso e obscurantismo. Também a ideologia liberal 

argentina rejeitava o personalismo político. Sendo assim, a presença de líderes políticos, 

como Hipólito Yrigoyen, que faziam contato direto com as massas, prescindindo dos espaços 

tradicionais, gerou ampla desconfiança no poder oligárquico. 

Com efeito, os governos de caráter popular como o de Yrigoyen (1916-1922 e 1928

1929), que possibilitavam o acesso da classe média ao poder político, foram questionados e 

atacados pela oligarquia tradicional. Porém, durante este governo, manteve-se sem mudanças 

o esquema capitalista imperialista de crescimento para fora. 

O governo de Yrigoyen poderia ser caracterizado como nacional-popular, mas não produziu 

modificações substanciais na estrutura econômica e de dominação do país.  O poder seguiu sendo 

controlado, fundamentalmente, pelos grandes proprietários de terras e pelos setores ligados à 

exportação de carne, através dos frigoríficos de propriedade inglesa e norte-americana (AZNAR, 

1982: 293). 

Em 1922, o triunfo eleitoral da União Cívica Radical-UCR levou ao poder Marcelo T. 

de Alvear, que se afastou do ‘populismo’ original do radicalismo.  Seu governo esteve 

constituído por personalidades ligadas aos setores tradicionais, opostos aos interesses da 

classe média e dos proletários.  Nas eleições de 1928, triunfou novamente Yrigoyen, como 

candidato pela UCR.  Nesta segunda presidência, teve que enfrentar uma forte crise 

econômica e social.  Simultaneamente, houve um reagrupamento dos grupos conservadores, 

que abandonaram seu projeto liberal e tomaram posições próximas ao fascismo europeu.   

O crescimento político da UCR e sua inserção nas massas determinaram que, em 

1930, setores da oligarquia delegassem aos grupos conservadores nacionalistas e aos setores 

antiliberais do Exército a tarefa de restaurar a hegemonia da classe oligárquico-liberal que 

interrompeu a continuidade democrática. Finalmente, em 6 de setembro de 1930, mediante 

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 um golpe militar assumiu o governo General José E. Uriburu, ex-deputado conservador e 

propugnador do corporativismo. 

A oligarquia detinha o poder de modo fraudulento e, a partir de l930, aplicava 

estratégias de falsificação da vontade eleitoral.  Entretanto, as Forças Armadas representavam 

para a opinião pública a única instituição que ficava distante das práticas políticas corruptas. 

Retomando o controle do aparelho estatal os grupos ruralistas, que sempre mantiveram 

o poderio econômico.  A oligarquia agrária começou a desenvolver uma transformação do 

modelo de acumulação, mediante a industrialização de produtos primários. 

Mas o sistema político, que tinha atingido um precário equilíbrio dentro do esquema 

conservador, em 1940 entrou novamente em crise, devido aos efeitos da Segunda Guerra 

Mundial. O quadro de abastecimento externo era semelhante ao da primeira Guerra e 

entraram em conflito as mesmas forças internacionais.  Interrompeu-se o ingresso de artigos 

importados favorecendo a indústria nacional.  Na Segunda Guerra, a estrutura fabril argentina, 

tinha uma base mais sólida e diversificada, com tecnologia relativamente moderna e eficiente, 

contava com um desenvolvimento da indústria militar nacional e se havia intensificado o 

desenvolvimento da indústria leve. 

A oligarquia detinha o poder de modo fraudulento e, a partir de l930, aplicava 

estratégias de falsificação da vontade eleitoral.  Entretanto, as Forças Armadas representavam 

para a opinião pública a única instituição que ficava distante das práticas políticas corruptas. 

2. O movimento Peronista e o apóio dos setores populares  

Na década de 1940 as mudanças nas relações econômicas colocaram o país numa 

relação desigual com o mundo capitalista desenvolvido, este fato contribuiu para que a 

sociedade argentina questionasse o poder da oligarquia agrária.  

Os setores conservadores haviam estruturado um regime político que não respondia 

aos interesses da classe média e dos novos setores em ascensão -pequenos proprietários e 

comerciantes, empregados, profissionais-, que haviam apoiado o radicalismo.   Assim, as 

críticas dos grupos liberal-progressistas -representados pela UCR- à política internacional, 

somadas às contradições internas do exército, desencadearam a crise que culminou com o 

golpe militar em junho de 1943, encabeçado pelo General Pedro P. Ramírez, ministro de 

Guerra.  

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 Neste contexto, alguns oficiais jovens, organizaram o Grupo de Oficiais Unidos 

(GOU), onde o Coronel Perón teve direta participação, com o objetivo unificar o exército e 

aprofundar sua doutrina, além de “moralizar e disciplinar a sociedade”. 

O golpe militar contou com a aceitação da população, desvendando o descrédito do 

sistema democrático liberal e dos partidos tradicionais. Depois do golpe, as contradições 

começavam a se manifestar, fora e dentro do Exército.  A Argentina, junto com outros países 

da América Latina, recebiam pressões dos Estados Unidos para que abandonassem sua 

posição neutra e apoiasse os países Aliados, exigindo a ruptura das relações com a Alemanha, 

o que originou sérias discussões sobre as vantagens e desvantagens da medida. 

Quando o Presidente Ramirez rompeu com o Eixo, se desencadeou dentro do exército 

uma profunda crise. O grupo que liderava o Coronel Perón percebia que era impossível 

manter a neutralidade internacional e apoiou a decisão de Ramirez.  Outro grupo, mais 

intransigente queria manter a neutralidade a qualquer custo.  A ruptura da neutralidade 

provocou também o afastamento de alguns grupos nacionalistas que apoiavam o regime 

autoritário. 

Sendo assim, em 1945 o governo militar havia sofrido um desgaste e não contava com 

a mesma credibilidade junto à opinião pública.  Insatisfeita pelo rumo que os militares tinham 

dado à “revolução”, a sociedade requeria a volta à normalidade democrática.  Os grupos 

conservadores, os meios intelectuais democráticos e os estudantes iniciaram uma escalada 

opositora. Paralelamente, mudaram profundamente as relações entre o Estado e o movimento 

sindical.  Os sindicatos tinham maior acesso ao Estado mediante a mediação da Secretaria do 

Trabalho conduzida por Juan D. Perón.  A política trabalhista, aproximou Perón aos 

trabalhadores, e o afastou do resto dos militares. 

Para entender o surgimento do movimento peronista, é necessário levar em 

consideração as importantes mudanças ocorridas na sociedade, dado que o peronismo era 

essencialmente um fenômeno urbano. A partir de 1935, as estruturas produtivas e 

ocupacionais sofreram uma série de transformações como conseqüência do processo de 

diversificação da produção industrial. Por um lado, se produziu uma diminuição das 

imigrações de origem européia, por outro, como conseqüência do desenvolvimento 

agropecuário e do crescimento industrial, se iniciou uma corrente migratória interna -das 

áreas rurais do leste e do norte argentino para Buenos Aires e o litoral-, acentuando-se a 

concentração urbana e o desequilíbrio demográfico. Estes novos operários, em geral, não 

tinham experiência sindical.      

Durante a “década infame” 

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 , a política social do governo, expressava-se através do 

chefe de policia e os empregadores contavam com a força policial para controlar os protestos 

dos trabalhadores. Com a intervenção de Perón no âmbito sindical, esta atividade passou a 

estar diretamente determinada pela política.  Os sindicalistas integravam-se, maciça e 

abruptamente, à classe política num processo de cooptação. “Só alguns sindicatos antigos e 

bem organizados tinham conseguido impor estatutos de proteção para suas ramificações 

trabalhistas. A maioria dos trabalhadores carecia de toda defesa contra a exploração patronal 

e, em geral, de proteção contra a pobreza e a doença.” (WALDMANN, 1986: 37). 

Seis meses após o golpe de Junho de 1943, Perón assumiu o Departamento Nacional 

do Trabalho, que era uma repartição de assessoria, e o transformou num órgão de 

competência mais ampla e com maiores recursos administrativos.  Criou a Secretaria de 

Trabalho e Previdência, e o líder político adquiriu grande prestígio, encarregando-se de 

resolver os problemas trabalhistas. A partir de 1944, Perón iniciou um processo de negociação 

e entendimento com alguns setores sindicais e trabalhistas, em defesa dos interesses dos 

trabalhadores, tarefa esta que até então só havia sido realizada pelos grupos socialistas de 

escasso poder político. Neste sentido, aplicou uma política de cooptação das organizações 

sindicais, aproveitando habilmente o espaço institucional gerado pela divisão da 

Confederação Geral do Trabalho (CGT).  Atraiu o grupo da CGT Nº. l, que se declarou a

partidária e absorveu todas as organizações independentes.  A CGT Nº. 2 manteve-se fiel aos 

princípios doutrinários do velho sindicalismo, defendia a separação entre os sindicatos e o 

poder político. 

Uma nova unidade sindical foi formada, a CGT peronista, que conseguiu cooptar 

alguns líderes do antigo sindicalismo classista e os novos sindicatos surgidos com a 

diversificação da economia. “Dessa forma, o processo de transformação do movimento 

operário, iniciado em 1943, chega a l945 com uma classe trabalhadora quase totalmente 

peronista.” (WALDMANN, 1986: 151). 

As relações entre Estado e trabalhadores estiveram marcadas por contradições e 

conflitos, que culminaram na “crise de outubro”, que provocou a primeira manifestação 

maciça em apoio a Perón. A intervenção do líder em que Perón havia-se convertido, 

desencadeou desconfiança e mal-estar dentro e fora das forças armadas, e o Presidente da 

República o afastou de suas funções, decretando sua prisão. Portanto, pode ser considerado o 

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 Corresponde à década de 1930 após a queda do governo de Yrigoyen, se sucederam governos que praticavam 

a fraude eleitoral. 

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 dia 17 de outubro de 1945 o momento fundacional do movimento peronista, porque acarretou 

uma grande efervescência popular, em defesa das políticas implementadas, na Secretaria de 

Trabalho e Previdência.  Alguns historiadores, afirmam que Perón aceitou esta decisão sem 

questioná-la.  Mas o movimento operário

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 organizou uma mobilização surpreendente para a 

época, proclamando seu retorno. E o governo, frente às pressões, resolveu libertar Perón, e 

permitiu sua participação nas eleições controladas pelo exército. 

Esta data significou um momento marcante na vida do proletariado argentino:  

O 17 de outubro não é uma greve revolucionária, nem uma mobilização pré-insurrecional, nem 

uma revolução democrática à escala, é a data do nascimento do peronismo político.  É o momento 

em que o Exército resolve que governar a sociedade argentina não é tarefa militar, salvo que as 

classes dominantes entendam outra coisa. (HOROWICZ, 1986: 83) 

Esta força trabalhista organizou o Partido Laborista que conduz Perón à vitória 

eleitoral de 1946, obtendo aproximadamente 49% dos votos. Inicialmente o líder não prendia 

criar um novo partido, pois tinha preconceitos em relação ao parlamento porque o associava à 

década infame, caracterizada pela corrupção e fraude eleitoral. 

...em rigor o peronismo é o subproduto, o desprendimento da quebra do poder militar.  E a quebra 

é um resultado direto da vontade do bloco da classe dominante de impedir um governo militar 

direto.  (...) Este desprendimento é o produto da hostilidade da burguesia para a política social 

democrática da Secretaria de Trabalho e Previdência Social, por um lado, e da defesa que os 

trabalhadores fazem dessa mesma política.  O peronismo é a via de acesso, a carta de cidadania 

política, o ingresso dos trabalhadores à república burguesa (HOROWICZ, 1986: 92). 

3 O regime peronista e sua relação com os grupos dominantes 

Além do novo sindicalismo adepto ao governo, também emergiram nesse período 

ouros grupos de industriais ligados essencialmente ao mercado interno, que unidos à ao 

exército (especialmente jovens militares), se constituíram nas forças hegemônicas do novo 

bloco de poder que apoiou ao peronismo. 

Até a década de 1940, o setor industrial estava representado pela União Industrial 

Argentina (UIA), que respondia aos interesses dos grupos industriais mais poderosos.  A 

corporação foi opositora ao grupo militar que assumiu o governo em 1943. Após 1946, 

manteve sua oposição ao regime peronista, quem teve uma relação muito conflitante com esta 

corporação: em 1946, a prescreveu e em 1952, criou a Confederação Geral Econômica, 

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 Os setores abertamente peronistas, com o decisivo apoio militar e policial, organizaram um movimento 

popular para exigir o retorno de Perón.  Neste movimento, teve um destacado papel Eva Duarte (“Evita”), a 

segunda esposa de J.D. Perón. Em 17 de outubro de 1945, volumosas colunas de partidários empreenderam a 

marcha para o centro de Buenos Aires partindo das zonas suburbanas e concentraram-se na Praça de Maio, 

reivindicando a liberdade e o regresso de seu chefe.   

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 constituída pelos setores médios e pequenos das indústrias, sobretudo de Buenos Aires- para 

neutralizar a UIA. 

Os setores industriais médios e pequenos apoiavam Perón porque representava uma 

possível saída para o desenvolvimento da indústria nacional. Apesar do enfrentamento, a UIA 

“...recebeu com benevolência as leis de proteção e fomento à indústria, já que estas 

satisfaziam [suas] reivindicações..." (WALDMANN, 1986, p. 182). As objeções se referiam 

ao estilo aplicado nas reformas sociais e ao personalismo de Perón. 

Os grandes proprietários rurais opuseram-se totalmente à política social e discutiram a 

necessidade de melhorar a situação dos trabalhadores rurais, também Perón manteve relações 

conflituosas com a Sociedade Rural Argentina, corporação muito influente entre os grandes 

proprietários rurais.   

Assim, o peronismo, pressionado pelas demandas de sua base social confrontou-se 

com as organizações dos proprietários mais poderosos do país.  Este enfrentamento se 

manifestou na área econômico-social: aplicou uma política de controle de preços, de salários, 

dos bancos e do câmbio, visando transferir a renda dos setores agropecuários e industriais 

mais importantes para os assalariados e à classe média. O projeto peronista caracterizou-se 

pela distribuição da renda, porém não afetou significativamente as bases econômicas dos 

interesses tradicionais da sociedade argentina.  Desde o ponto de vista político, procurou 

dificultar a expressão autônoma dos grandes proprietários (rurais e industriais) afastando-os 

das decisões de políticas. 

A postura dos industriais era ambígua: por um lado tinham reservas a respeito dos 

métodos dirigistas do governo, e por outro percebiam no peronismo um aliado, dado que num 

breve lapso de tempo havia satisfeito uma série de reivindicações históricas do setor.  

Portanto, consideravam conveniente aceitar os planos de reformas sociais, de forma 

condicional, até que o governo correspondesse às suas demandas econômicas. 

A partir de 1946, Perón prolongou a condução militar implantada desde 1943, dando a 

seu governo uma característica militarista.  Incorporou conceitos tais como: centralização, 

autoridade, obediência, fidelidade, e reformou o sistema político de acordo com o modelo 

militar. Também absorveu no seu discurso termos militares tais como “inimigo”, “traidor”, 

“estratégia”, “tática”, “luta”, “batalha”, “triunfo”, “vitória”, “retirada”, entre outros.     

As concepções militares foram decisivas para a maioria das medidas políticas de controle: 

desconsideram-se as instituições liberais e democráticas, para serem substituídas por um sistema 

hierárquico centralizador. O presidente, que estava à frente desse sistema era, no fundo, um 

supremo comandante político. Seus ministros e assessores políticos cumpriam as funções do 

Estado Maior. A administração estatal equivalia aos quadros de oficiais responsáveis de transmitir 

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 as ordens centrais. O papel da tropa, que devia obedecer e executar as ordens, era assumido pelo 

povo (WALDMANN, 1986: 143). 

Com efeito, Perón, figura carismática, de liderança indiscutível, ganhou um vasto 

número de seguidores de origem heterogênea: operários, forças armadas, parte da classe 

média e setores da burguesia estatal e da nova burguesia industrial, contribuíram para a 

construção da nova doutrina social, fundado na fidelidade e obediência ao regime. 

4. Conformação e periodização do regime peronista 

Para melhor análise deste período, incorporamos a periodização elaborada por Buchrucker 

(1987) que o divide em três etapas: etapa preparatória; primeiro governo peronista e segundo 

governo peronista. 

4.1. Etapa Preparatória: 

Buchrucker (1987) considera que, nesta etapa, Perón recebeu uma forte influência de 

instituições e fatos nacionais e internacionais, que marcaram sua definição política e ação 

posterior.  Entre eles podemos citar: 

a) As Forças Armadas e a participação de Perón no governo de l943. 

Perón participou da loja maçônica militar secreta do Exército: o GOU (Grupo de 

Oficiais Unidos) que elaborou um programa simples de caráter neutral e anticomunista, seus 

integrantes eram uma fração do nacionalismo militar, porém o nacionalismo não era uma 

corrente hegemônica dentro do exército.   

Em 4 de junho de l943, Perón participou do golpe que afastou o presidente Ramão M. 

Castillo (1938-1942) e instaurou um regime militar que procurava “limpar e moralizar” o 

país, reduzindo a participação civil.  Segundo Alejandro Horowicz (1986), o golpe de 1943 

foi resultado da nova relação de forças internacionais que ainda não se tinham cristalizado no 

interior da sociedade argentina num projeto hegemônico.  E como o bloco da classe 

dominante liberal não podia resolver esta tensão, para tanto se valeu do poder das Forças 

Armadas para impor seu projeto.   

Perón teve como mérito ocultar rapidamente o vazio de concepção da 'revolução de l943', e 

apoiando-se nos exemplos fascistas, desenvolve um programa próprio.  Por sua iniciativa foram 

elaborados amplos relatórios sobre a situação das diferentes ramificações econômicas e implantou 

uma política de estímulos e proteção à indústria nacional.  Também por iniciativa própria, realizou 

a indispensável reforma da legislação social, criando uma série de novas instituições no âmbito do 

trabalho e da saúde pública e formulando leis de proteção aos estratos mais baixos da população.  

Por influência dele abandona-se a atitude estritamente neutra e procurou-se maior aproximação 

com os Aliados, cuja vitória sobre as potências do eixo delineava-se cada vez com mais claridade. 

(WALDMANN, 1986, p. 133) 

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 Waldmann reconhece em Perón uma participação quase decisiva no âmbito do 

governo da “revolução de l943”, experiência que contribuiu com sua atuação posterior na 

presidência. 

b) Doutrina Social da Igreja. 

A Doutrina Social da Igreja orientou a concepção filosófica e as políticas sociais do 

regime peronismo.  “A doutrina social da Igreja enfatizava a necessidade de considerar o 

homem em todas as dimensões e não só como uma simples união de Leis econômicas, 

pretendidamente inexoráveis...” (BUCHRUCKER, 1987: 305). 

Segundo Buchruker, depois do golpe de Junho de l943 houve um acordo tácito de 

apoio neutro, entre os dirigentes peronistas e as altas autoridades eclesiásticas, selada pelo 

decreto lei que estabelecia o ensino religioso obrigatório em todas as escolas.  Nas eleições de 

l946, Perón contou com forte respaldo da Igreja, que se sentia atraída por sua doutrina social 

que, inspirava-se nas encíclicas papais.  Porém, importantes setores católicos mostravam-se 

reticentes, e mesmo contrários a esta aliança.  Mas a concepção católica nacionalista, liderada 

pelo Monsenhor Francheschi, acabou triunfando e a Igreja apoiou, no início, o regime 

peronista, porque temia uma possível avanço do comunismo no país. 

c) Os modelos latino-americanos 

Os modelos latino-americanos, implantadas a partir da década de 1930, exerceram 

influência no peronismo.  Existem alguns estudos que tentam estabelecer pontos de 

comparação entre o peronismo e outros movimentos de correntes populistas na América 

Latina. O brasileirista Skidmore (1975), por exemplo, concentrou suas análises nas políticas 

antiinflacionárias de Perón e Vargas. 

Outros trabalhos apresentam um estudo comparativo entre a Aliança Popular 

Revolucionária Americana (APRA), peruana e o peronismo, tentando marcar algumas 

características comuns entre Perón e Víctor Raúl Haya de la Torre, destacando a liderança 

personalista e contraditória, misturada com uma doutrina ‘flexível’.  Ciria (1971) aponta que 

Haya de la Torre influenciou alguns aspetos da política peronista, como por exemplo, a 

intenção de divulgar sua doutrina por toda América, mediante a criação mediante da 

Agrupação de Trabalhadores Latino-americanos, com o apoio da Central Geral de 

Trabalhadores.  Para isto, montou um complexo sistema de diplomacia operária, que chamou 

de agregados operários, que difundiam as idéias e as conquistas do regime peronista pelo 

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 mundo.  Esta iniciativa teve seus antecedentes no México, quando o presidente Álvaro 

Obregón designou agregados trabalhadores nas embaixadas. 

A experiência de Getúlio Vargas no Brasil, (1930-l945), de Lázaro Cárdenas (l936

1940), no México e de Toro y Busch na Bolívia (1936-1939) contribuíram ideologicamente 

no processo formativo do peronismo.   

No que diz respeito ao varguismo, é factível estabelecer certas comparações, Murmis e 

Portantiero (1971), definem três etapas básicas: a) a estruturação e suas formas de articulação; 

b) o controle do poder; e c) a perda do controle do poder.  As mudanças que Vargas 

introduziu no Brasil, em sua primeira etapa de governo, remetem à Argentina de 1955, 

quando Perón é derrubado (Dulles, 1977). 

Murmis e Portantiero (1971) analisam as diferenças entre o varguismo e o peronismo, 

e apontam que no governo de Vargas, a classe operária foi integrada ao regime diretamente, 

mediante organizações estatais. O Ministério de Trabalho se constitui no regulador das 

relações entre os trabalhadores e o Estado.  Os sindicatos funcionavam como apêndices do 

poder, a ação dos trabalhadores no movimento nacional-popular era intermediada pelo 

Estado, que controlava sua mobilização e organização.  No caso do peronismo, o movimento 

operário foi integrado ao Estado, no sentido de efetivar essa integração, pois os sindicatos, 

como aparatos institucionais, são anteriores ao governo de Perón e cumpriam uma função de 

mediação entre os trabalhadores e o poder político. 

No governo de Vargas e de Perón foram implantadas algumas políticas protecionistas 

para beneficiar os setores operários.  A legislação social de Vargas, em 1932, incluía a 

semana de quarenta e oito horas, melhoria do trabalho feminino, comissões mistas para 

resolver problemas trabalhistas. Os juízes do Ministério do Trabalho intervinham nos 

conflitos que não chegavam a uma conciliação, estes tribunais também foram implantados na 

Argentina. 

Vargas, em 1940, anunciou seu Plano Qüinqüenal, para resolver dificuldades 

econômicas produzidas pela segunda grande guerra, e sentar as bases da siderurgia nacional.  

Perón desenvolveu dois Planos Qüinqüenais durante seu mandato. 

Destaca-se, outrossim, idéias e concepções semelhante em relação ao conceito de 

‘justiça social’, ‘relações entre o trabalho e o capital’, ‘colaboração social’, ‘equilíbrio entre o 

individual e coletivo’ (Ianni, 1968). 

12

 Nos discursos de Vargas e de Perón aparecem a idéia de “independência econômica”, 

o elogio do corporativismo e a critica tanto do capitalismo, quanto do comunismo, além de 

defender o fomento da indústria e a estruturação sindicalista consubstanciada com o Estado. 

Em algumas ocasiões, as influências se interceptavam e adquiriam distintos signos: na década de 

cinqüenta Perón tratou de combinar ensaios corporativistas com a representação política 

individual, como na fundação da nova Província Presidente Perón.  Simultaneamente proliferaram 

as confederações de profissionais, empresários, estudantes, esportistas, etc. Vargas já havia 

percorrido um território análogo na carta magna do Estado Novo (1937), porém seu sistema 

político continuou sendo bastante paradigmático. (CIRIA, 1971: 40) 

No que diz respeito à influência das idéias do presidente mexicano Lázaro Cárdenas 

(1934-1940), podemos citar a defesa de uma política centrada na “justiça social”, apoiada na 

democracia caracterizada pela “melhor distribuição da riqueza”.  Outro elemento comum é a 

denuncia das “oligarquias” e das forças econômicas estrangeiras, que tentavam dominar o 

Estado. Da mesma forma que o presidente mexicano, Perón procurou a “unidade” das classes 

operárias e definir um governo que fosse o “árbitro e regulador da vida social”. 

d) O peronismo recebeu influências do nacional-socialismo alemão, do Fascismo italiano e 

do Falangismo espanhol. 

Perón visitou Europa, no início do século XX, e entusiasmou-se com os métodos 

técnicos e organizativos dos italianos e alemães, no campo econômico e social.  Admirava 

tanto a infra-estrutura industrial, quanto os mecanismos de promoção social desses países. 

Entretanto, o peronismo não foi uma mera cópia do fascismo europeu.  Embora, o 

peronismo e o fascismo, foram instaurados por setores opositores ao bloco de poder.  No caso 

peronista, o antagonismo foi administrado dentro dos limites requeridos pelo confronto da 

nova classe dominante, com o bloco de poder tradicional, ou seja, o antagonismo sofre uma 

dose de neutralização.    

Portanto, é mais adequado apontar os empréstimos e adaptações que o regime 

peronista fez destes modelos europeus, do que falar simplesmente de um fascismo argentino.  

É indiscutível que existiam certos elementos comuns aos regimes totalitário europeus, mas 

Perón recebeu também influência de sistemas políticos dos países do “Terceiro Mundo”. 

A seguir, faremos uma breve síntese, tentando apresentar certas características 

próprias do fascismo, visando destacar suas diferenças, no que diz respeito ao regime 

peronista. 

Renzo de Felice (1976) considera o fascismo um fenômeno histórico, que não pode ser 

generalizado fora de Europa. Iniciou-se no período de entre guerras, como conseqüência do 

13

 processo de transformação da sociedade européia, e pela crise da transição -moral e material- 

da sociedade tradicional para a sociedade de massas.  

Segundo este autor, o fascismo se afirmou nos países onde predominava uma 

economia de tipo agrário-latifundiária e, em alguns dos casos, existiam importantes setores 

não integrados ao complexo econômico nacional.  A sociedade enfrentava uma profunda crise 

econômica: alta inflação, desemprego, e aumento do custo de vida. Desde o ponto de vista 

político, a crise do sistema parlamentar fazia com que os setores socialistas, comunistas e 

alguns setores da burguesia questionassem a legitimidade do sistema.  Por outro lado, estes 

países se defrontavam com problemas nacionais (presença de grandes minorias de outras 

nacionalidades) e coloniais, que a guerra não tinha resolvido e que, em muitos dos casos 

agravou.  Estes problemas provocavam uma tensão nacionalista e o surgimento de tendências 

revisionistas em procura pelo “autêntico ser nacional”. 

A tipologia de poder adotada pelo fascismo se afirmou através de uma concepção da 

política e de vida de tipo místico baseada na primazia do ativismo irracional, no desprezo pelo 

indivíduo ordinário, exaltando-se a coletividade nacional e as personalidades extraordinárias 

(elites e super-homens), e o mito do chefe. Assim se desenvolveu um regime político de 

massas, fundado na mobilização contínua, numa relação direta chefe-massa, baseado no 

sistema de partido único, da milícia do partido, e do controle de todas as fontes de informação 

e de propaganda.  Por outro lado, procurava-se criar uma nova classe dirigente (pequena e 

média burguesia), que fosse a expressão do partido, além de montar um forte aparelho militar.  

O papel do Estado foi intensificado, começou a intervir na direção da economia, sendo 

mediador dos conflitos trabalhistas, e os empresários passaram a atuar como funcionários 

estatais.   

Os elementos que caracterizam o fascismo segundo de Felice (1976): 

• O primeiro dos elementos é de tipo geográfico - cronológico: o fascismo foi um fenômeno 

europeu, que se desenvolveu no período de entre guerras.  Existiam pré-condições morais, 

sociais e econômicas, anteriores às grandes guerras, que prepararam as condições para a 

implantação do fascismo.  Porém, a crise estabelecida pela guerra foi a única e verdadeira 

causa de sua irrupção, dado que havia excluído à maioria da população do aparelho produtivo. 

• O segundo elemento é sua base social: a pequena burguesia e o proletariado apoiaram o 

fascismo, entretanto, a burguesia liberal e católica não o aprovou.   

...do ponto de vista de sua base social, o fascismo, foi um fenômeno basicamente de classe média, 

e sua elite também pertenceu a estas classes, ainda com uma característica que não pode ser 

subestimada, especialmente na fase das origens.  Muitos dos chefes fascistas haviam vivido dois 

tipos de experiências particulares que freqüentemente somavam-se entre si: haviam militado em 

14

 partidos ou em movimentos de extrema esquerda em postos de responsabilidade ou haviam 

combatido na guerra.  Esta situação suscitou neles uma atitude particular para encarar situações 

novas (DE FELICE, 1976: 334).   

• O terceiro elemento se refere às condições sócio-políticas: Após a Primeira Grande Guerra, 

tanto os países vencedores quanto os vencidos sofreram profundas transformações.  As 

classes médias afrontaram uma gravíssima crise, causada em parte, por problemas anteriores à 

guerra, vinculados ao processo de transformação e de massificação incipiente da sociedade, a 

acompanhados da mobilidade social vertical. 

Esta crise econômica e social afetou profundamente as camadas médias tradicionais 

agricultores, comerciantes, profissionais, pequenos empresários-, que contavam com bastante 

autonomia. E atingiu também, as novas camadas médias -empregados, pequenos 

comerciantes, intelectuais assalariados-, que estavam pouco integrados e praticamente 

privados de autonomia.  Ambos os setores vivenciavam uma perda progressiva de status 

econômico e social e enfrentavam a afirmação e crescimento do proletariado e da grande 

burguesia. 

Num plano psicológico-político, esta crise da classe média produzia um estado de 

frustração social que, em muitos dos casos, desencadeou uma profunda inquietude, um 

confuso desejo de vingança e rebeldia, que foi assumindo modalidades destrutivas e 

revolucionárias, frente à sociedade excludente.  Esse estado de frustração levou as classes 

médias a apoiar de maneira contundente o fascismo. Entretanto, a base social do peronismo 

estava constituída fundamentalmente pelas classes populares.   

Desde o pondo vista ideológico o fascismo diferenciando-se do peronismo foi uma 

experiência mais “totalitária”, que “mediadora”. E construiu uma doutrina oficial mais 

precisa, com uma estrutura ideológica mais definida.  

... a principal diferença do peronismo em relação ao fascismo italiano, consiste, (...), nas classes 

que pertencem às massas mobilizadas e no tipo de mobilidade.  A mobilidade na Argentina foi 

primária e a classe mobilizada foi a inferior.  O peronismo foi um movimento ‘nacional popular', 

provavelmente típico da mobilidade primária.  Esta apresentava muitos traços totalitários mas, na 

realidade, não era muito diferente do movimento liberal popular -o partido radical- que havia dado 

uma expressão política ao primeiro estágio da mobilidade primária (DE FELICE, 1976: 191). 

Porém, o peronismo acabou incorporando algumas das práticas políticas e idéias de 

caráter totalitárias, por exemplo: ênfase no papel da organização, ou anti-racionalismo, o 

conceito de terceira posição, as idéias de modernidade tecnológica, e o mito de um Estado 

Novo, entre outros.   

15

 O fascismo, da mesma forma que o peronismo teve uma intuição própria da moderna 

política de massa, fundamentada na consciência do papel que “mito” e “organização” 

desempenham nos movimentos coletivos da sociedade moderna. 

O peronismo compartilhou em parte, a ideologia fascista em relação ao mito da 

juventude, considerada com capacidades especiais para dirigir a nação.  Ambos os regimes 

desprezavam a classe dirigente burguesa, por monopolizar o poder, sem compromisso algum 

com o país e a nova sociedade emergente. Portanto era fundamental constituir uma nova 

classe dirigente, formar uma nova consciência e educar uma personalidade integral, na busca 

de uma nova cultura. 

O peronismo se aproximou ao fascismo ao estabelecer um nexo orgânico entre cultura 

e política, explicado pela crise do racionalismo positivista e a difusão de novas “filosofias de 

vida”, idealistas e irracionalistas.  Política e cultura tornaram-se aspectos complementares de 

uma nova cultura política, que exaltava o valor criativo da ação.  Considerava-se a política 

uma via para materializar a formação integral do homem, criando novas realidades históricas, 

formando uma “nova humanidade”. O mito do homem novo vs. regime liberal era um outro 

elemento comum a ambos os movimentos. Ou seja, formar um homem novo capaz de 

enfrentar e contribuir para o desenvolvimento industrial e tecnológico.   

Ambos os regimes atribuíam a responsabilidade pelo atraso econômico aos governos 

liberais e à classe política dominante, que não sabia coordenar os recursos produtivos do país, 

para garantir um desenvolvimento homogêneo e acelerado. Deste modo, a nascente ideologia 

da industrialização era acompanhada por projetos embrionários de reorganização do Estado e 

de mobilização das massas, que propiciaram uma política de desenvolvimento econômico do 

país como potência mundial.    

Tanto o peronismo quanto o fascismo consideravam que o regime liberal, deveria ser 

substituído por novas instituições, capazes de mobilizar as massas com mitos heróicos e 

transformá-las em forças organizadas para a revolução social ou para a política.  Aliás, 

queriam criar uma nova civilização do trabalho, uma comunidade de “produtores” livres e 

autônomos. O nacionalismo afirmou o valor absoluto da nação, concebida como uma espécie 

de grande organismo natural, em que os indivíduos e as classes tinham uma posição 

instrumental e subordinada, ou seja, uma mística do “Estado Novo”. 

O fascismo e o peronismo exaltavam o sistema corporativo e propunham uma política 

que era chamada de terceira via entre capitalismo e comunismo, como resposta moderna e 

eficiente à crise da sociedade contemporânea.   

16

 A massa era, para o fascismo, um material humano que podia ser plasmado através da 

sugestão do mito e da força coercitiva da organização, instrumentos fundamentais para 

nacionalizar as classes sem suprimi-las e para integrá-las em uma nova ordem.  Segundo Gino 

Germani (1958), o totalitarismo, não quer súditos passivos procurava formar soldados 

fanáticos e ‘convictos’, e tratava de mobilizar toda a população. 

Entretanto, o método neutralizador do peronismo foi diferente: aplicou uma mecânica 

que permitiu a subsistência de várias “elites”, que davam apoio no regime, articuladas a 

projetos antagônicos, na prática foi um regime baseado na conciliação das classes sociais.  O 

Estado desempenhou um papel mediador entre as bases de sustentação opostas.  Laclau 

(1979) destaca a pobreza ideológica e a falta de doutrina oficial do peronismo, o que de certo 

modo explica o caráter mediador do Estado. 

e) Influência do pensamento nacionalista 

O movimento nacionalista tem uma tradição contra-revolucionária de origem européia.   

Apoiava-se nas “leis naturais do catolicismo” e defendia a necessidade de reconstruir os 

estados patrimoniais das sociedades anteriores ao século XIX.  A organização social desejada 

era de caráter hierárquico e corporativista. 

Inspirados no catolicismo ultramontano do século XIX, defendiam os conceitos de 

‘salvação’ e ‘hierarquias espirituais’, assim como idéias de Edmundo Burke e Joseph de 

Maistres sobre a política tradicional. Abraçavam conceitos originados no idealismo alemão 

como ‘renovação da essência eterna’, alem de enfatizar a primazia do político sobre o 

econômico como Charles Maurras. Os nacionalistas sempre se apoiaram nos militares e na 

Igreja, temiam a participação das massas. Representavam os interesses econômicos dos 

grandes comerciantes, industriais e banqueiros. 

Na Argentina como representantes intelectuais do nacionalismo, podemos citar Carlos 

Ibarguren, Manuel Gálvez e Leopodo Lugones, que se inspiravam nas idéias de Joseph De 

Maistre, Marcelino Menéndez y Pelayo e Charles Maurras (intelectuais europeus). 

No início o pensamento peronista incorporou muitos objetivos e orientações 

nacionalistas, mas rapidamente afluíram suas diferenças.   

Perón fundou seu regime com apoio popular e seu objetivo fundamental não consistiu em restaurar 

um sistema patriarcal senão, pelo contrário, fixar uma nova sociedade fundada no 

desenvolvimento industrial com apoio dos sindicatos.  Assim, Perón não se converteu num novo 

Rosas, anelado pelos nacionalistas.  Para sua desilusão, segundo os nacionalistas, só ‘acordou os 

baixos instintos das massas’ (HOROWICZ, 1986:138). 

17

 Em fevereiro de 1946, Perón tinha enquadrado seu movimento segundo consignas 

reformistas, tendo como base social a classe operária.  Os nacionalistas, que inicialmente o 

haviam apoiado, estavam arrependidos.  Na verdade, eles pretendiam usar Perón para logo 

ocupar o poder, mas aconteceu o contrário.  O líder conquistou habilmente o povo, e na 

prática, contradizia os ideais nacionalistas, dada sua política de massas.Perón, criticava os 

nacionalistas por sua condição de simples ‘teóricos, intelectuais, carentes de valores práticos’.   

A maior discrepância entre Perón e os nacionalistas estava no conceito de ‘justiça 

social’.  Para os nacionalistas significava “tutela, hierarquia e valores”, para Perón 

expressavam a transformação do status e das condições materiais das massas.   Seu discurso 

apelava para a melhoria das condições de vida dos assalariados e não para a promoção de 

valores morais.  Os Nacionalistas queriam o controle do movimento operário sem concessões.  

Perón, em contrapartida, outorgava certas regalias aos trabalhadores para receber apoio em 

compensação.  Em conseqüência, Perón e os grupos nacionalistas tiveram uma relação mais 

de adversários que de aliados.   

4. 2 Primeiro Governo Peronista (l946-l951): 

O triunfo eleitoral de Perón, candidato do partido Laborista que foi formado nas vésperas das 

eleições com Cipriano Reyes (um sindicalista de orientação socialista), foi produto do 

reagrupamento das forças sociais e setores importantes da sociedade argentina.  Embora o apoio 

fundamental fosse dado pelos setores operários organizados, que demonstraram ter um poder de 

convocatória e mobilização até esse momento impensado, o mesmo complementou-se com grupos 

de trabalhadores rurais do interior, setores de classe média baixa, grupos da burocracia (incluindo 

certos setores do exército) e núcleos de pequenos e médios industriais de ideologia nacionalista. 

Perón e os dirigentes mais ligados a seu projeto haviam conseguido estruturar um amplo 

movimento poli classista pró-estatal (nele o elemento nacional-popular se impunha sobre o 

classista), até então desconhecido na Argentina: uma coalizão majoritária que, dadas as 

características da situação sócio política, mostrava altas possibilidades de manter-se estável e 

dominante (AZNAR, 1982: 296). 

Perón triunfou em 1946, sem uma estrutura partidária consistente, confrontando-se 

com um conjunto de partidos ideologicamente configurados e de longa tradição histórica.   

Uma vez no governo, dissolveu o Partido Laborista, que o levou ao poder, e criou o partido 

Peronista, que oficialmente foi constituído em 1948. Obteve a vitória eleitoral, com o apoio 

dos operários.  As duas terceiras partes do seu caudal eleitoral vinham dos eleitores 

trabalhadores e o terço restante dividia-se em partes iguais, entre a União Cívica Radical 

Renovadora e o Partido Independente. 

O peronismo nutriu-se de quadros provenientes do movimento operário: ex

comunistas, ex-anarquistas e ex-sindicalistas.  Respaldou-se nos dirigentes socialistas, para 

18

 neutralizar a influência dos comunistas e posteriormente, também afastou os socialistas do 

governo, assim como todos os dirigentes que mostraram certa independência. 

Deste modo, a 

...dinâmica da política argentina ficou instaurada: a classe operária, um fragmento das classes 

médias da cidade e do campo e boa parte dos sem bandeira, se alinham por trás da figura de Perón, 

que conta com o aparelho do Estado e o respaldo da Igreja Católica.  De outro lado, o que resta: 

uma pequena porção de trabalhadores, comprometidos politicamente com socialistas e comunistas, 

um fragmento muito ativo das classes médias das grandes cidades e todos os proprietários 

(HOROWICZ, 1986: 106). 

O primeiro governo se caracterizou por uma política de caráter popular e estatizada.  

Peter Waldmann considera que 

...o Estado deve encarregar-se de uma série de funções gerais, o que lhe assegura certa 

superioridade sobre os agrupamentos sociais.  Deve funcionar como árbitro entre eles, 

coordenando suas ações particularizadas, conduzindo os objetivos nacionais comuns, estando 

assim em condições de mobilizar por conta própria os meios necessários para atingir esses 

objetivos (WALDMANN, 1986: 54). 

Nesta etapa, contou com meios econômicos e financeiros que favoreceram sua política 

de governo.  Durante a Segunda Guerra Mundial, o país teve um saldo favorável no comércio 

com a Europa, pela venda de carnes e cereais. O governo militar, dias antes da vitória de 

Perón, sancionou uma série de decretos, que serviram de base para a futura política 

econômica do peronismo.  Nacionalizou o Banco Central e os depósitos bancários, 

estabeleceu um novo regime para o Banco Industrial e criou o Instituto Argentino de 

Promoção e Intercâmbio (IAPI).  Este instituto não nacionalizava o comércio exterior, era só 

um instrumento de direção e controle das exportações: as casas exportadoras operavam por 

conta própria e conservavam uma fatia do mercado onde atuavam diretamente.  O IAPI 

garantia a renda agrária, o objetivo era que, quando os preços internacionais fossem bons, o 

IAPI financiaria o Plano Qüinqüenal, algo que jamais ocorreu.  Na verdade, este Instituto 

funcionou como um dispositivo para defender os interesses latifundiários, comprando 

produtos quando os preços do mercado internacional baixavam. 

O governo de Perón e dos militares da revolução de 1943 tinham os mesmos supostos 

que o programa implantado pelo governo de Juan P. Justo (1932-1938): as exportações 

agrárias deviam aportar divisas para desenvolver atividade industrial, porém sem modificar as 

relações de produção e propriedade existentes.  A diferença radicava na natureza da relação 

entre patrões e empregados, enquanto, o presidente Justo propiciava medidas repressivas e 

19

 uma política ligada à polícia, Perón introduziu um modelo mais flexível; a classe operária não 

era um inimigo irreconciliável, senão uma base eficaz

 4

 TP

 PT

 . 

Tanto o desenvolvimento das empresas industriais nacionais, subsidiadas pelo Estado, quanto as 

reformas sócio políticas, empreendidas até l949, tiveram como fundamento a generosa utilização 

destes fundos (...) Em l950, quando os recursos financeiros começaram a declinar, iniciou-se uma 

mudança de atitude nas forças sócio-econômicas, com respeito a Perón; por outro lado, Perón 

adotou um novo estilo de distribuição.  Em lugar da distribuição relativamente alta dos meios, 

começou a impor uma canalização seletiva, que favorecia os partidários políticos do regime 

(WALDMANN, 1986: 58). 

A atividade industrial cresceu, entre 1946 e 1950

 5

 TP

 PT

 , a situação financeira inicial do 

governo peronista era excepcional, porém havia um déficit na balança de pagamentos. Para 

implementar o Plano Qüinqüenal, o governo necessitava de 1.270 milhões de dólares, embora 

contasse com esse dinheiro, o projeto não foi cumprido, segundo Potasch (1981) devido à 

natureza social do governo peronista: o bonapartismo de fazendeiros e industriais. 

Com efeito, o governo investiu 90% das reservas, em nacionalizar ferrovias e 

empresas de telefones.   

... o programa do governo era o resultado de uma justaposição: um elemento era o Plano 

Qüinqüenal, cuja finalidade - segundo Miranda- estava assegurada pelo IAPI (ou seja, as 

exportações agrárias tradicionais), e o outro eram as nacionalizações, que consumiam o grosso das 

reservas acumuladas’; as nacionalizações aportariam, segundo a propaganda oficial, o quantum de 

autodeterminação, de ‘soberania’, que possibilitaria a execução de todo o programa 

(HOROWICZ, 1986: 111). 

Considerava-se que a nacionalização das ferrovias era a chave para uma política 

independente, pois beneficiaria os latifundiários e produtores, em primeiro lugar, e os 

industriais, em segundo. Mas quando foram nacionalizadas as estradas de ferro, o domínio 

britânico havia diminuído. Sua hegemonia mundial tinha sido substituída pela dos Estados 

Unidos. 

Neste período estatizante o governo iniciou substanciais reformas políticas: uma delas 

foi a promulgação da Constituição em 1949 e algumas leis que a acompanharam, 

evidenciando a vontade intervencionista de ordem estatal. Também implantou o Primeiro 

Plano Qüinqüenal em l947, visando ordenar as atividades econômicas, políticas e sociais do 

país.   

Com respeito à sua relação com as Forças Armadas, neste período, até l950, Perón 

desenvolveu uma política de isolamento e neutralização de influências, intensificou o controle 

4

 TP

 Para este tema ver os trabalhos de: HOROWICZ, Ob.Cit.; CIRIA: 

PT

 1971; POTASH, R. 

El ejército e la política en la Argentina

 Perón y el justicialismo

 U

 , Siglo XXI, Bs.As. 

U

 , Tomo I, 1938-45, Sudamericana, Bs.As., 1981 

U

 U

 5

 TP

 PT

 Em 1946, Argentina dispunha de 1.100 milhões de dólares de reserva.  Esse nível manteve-se durante 1947, 

para começar a cair em 1948; em fins de 1948, diminuíram a 258 milhões de dólares e em 1950 as reservas 

haviam-se evaporado por completo. 

20

 e a manipulação. Para neutralizar o exército, aumentou o número de generais e diminuiu a 

idade média do generalato, contando assim com a aceitação maciça dos jovens oficiais. 

Também explorava a rivalidade entre as armas e entre os distintos níveis hierárquicos.   

A partir de l949, começou a manifestar-se uma paralisação na economia.  Depois de 

vários anos de prosperidade, o país enfrentava sérias dificuldades na balança de pagamentos. 

As divisas acumuladas nos anos de guerra tinham-se esgotado, e tornava-se impossível repô

las, porque a agricultura e a pecuária estavam em fase de paralisia.  Os preços dos produtos 

agropecuários tinham diminuído no mercado internacional, provocando uma defasagem na 

balança de pagamentos. 

Durante o primeiro governo, enquanto se contava com reservas líquidas, se praticou 

uma política econômica de caráter distributivo e de nacionalização de empresas. Porém, 

quando as reservas se esgotaram, foram promovidas medidas de crescente liberação da 

economia. O país submergiu-se numa acelerada inflação, o custo de vida aumentou 

rapidamente, e os salários dos estratos mais baixos da população não acompanharam esta 

defasagem.  Este processo aprofundou-se em 1952, provocando uma mudança na política 

social e econômica. Foi implementado, o Segundo Plano Qüinqüenal, como tentativa de 

reordenar a economia nacional.  O governo conseguiu dominar aos poucos a crise e em l955 

momento do seu afastamento mediante um golpe militar-, a situação tinha-se normalizado em 

grande parte. 

Waldman (1986) considera que o governo foi responsável da deficiente aplicação de 

inúmeras leis e disposições, só uma parte dos fundos destinados ao fomento da indústria eram 

usados para esses fins.  Quase a metade era utilizada para outros objetivos, geralmente para 

cobrir o déficit das empresas estatais.  Só uma parte do crédito era aplicada em investimento. 

A principal reprovação que se formula a Perón é que seu governo praticou uma política de gastos 

que superava em muito as possibilidades econômicas e financeiras do país.  O aumento do 

consumo por ela induzido não respondia ao aumento da produção, que só considerava a 

distribuição da riqueza nacional e descuidava do crescimento econômico (WALDMANN, 1986: 

195). 

Outra crítica formulada ao governo por Prebisch (1981) e outros é a utilização dos 

recursos estatais para fomentar a indústria leve e não para desenvolver a indústria de base, 

que permitira a independência econômica.  Não melhorou o subministro de energia, nem a 

rede de comunicações, nem promoveu a indústria química e metalúrgica em grande escala. 

O novo modelo de Estado apoiou-se doutrinariamente no conceito da “comunidade 

organizada”.  

21

 Foi, portanto, através de um compromisso entre forças sociais organizadas desde o Estado, que o 

pacto populista se concretizou.  Do lado da sociedade civil, ou melhor, do lado das classes 

trabalhadoras urbanas, vemos como sua trajetória de um sindicalismo classista, autônomo e 

minoritário passa para um sindicalismo de massas, dependente e majoritário, traduzindo a forma 

como se deu a inserção política do proletariado na nova sociedade industrial que se formava (DE 

CAMARGO, 1980: 183). 

O peronismo organizou um tipo de Estado que tinha uma forte base de apoio da massa 

trabalhadora. Isto não é difícil de entender se repararmos na ação política desenvolvida por 

Perón, que intentou cooptar o movimento operário argentino. Propagou um modelo de 

movimento operário, organizado baseado numa burocracia sindical forte, ligada diretamente 

ao Estado, fomentando assim um novo fator de poder.   

A política do governo peronista procurou desenvolver um modelo produtivo de 

capitalismo nacional autônomo, mas só consegui implementar parcialmente este projeto. O 

período 1943-1952 caracterizou-se pelo avanço dos investimentos na indústria de capitais 

norte-americanos e um recuo dos capitais ingleses. O processo de capitalização nacional se 

expandiu aceleradamente em todos os ramos da indústria. 

Esta expansão de capitalização obedecia a várias razões:  

a) Aumento das reservas em divisas acumuladas durante o período da Segunda Guerra 

Mundial, como resultado do desequilíbrio entre importações e exportações.   

b) Ampliação do mercado interno como conseqüência da política de pleno emprego e 

incorporação de amplos setores da população ao consumo urbano. 

c) Política de aumento da renda dos setores assalariados a partir de l943. 

Esta situação interna facilitou a implementação de uma política de certa independência 

com respeito aos capitais norte-americanos.  Porém, no final da década de 1940, se produziu o 

esgotamento do modelo de substituição de importações. Argentina teve que importar 

tecnologia e bens de capital para expandir sua atividade industrial, o que originou um 

estrangulamento da capitalização interna, coincidindo com a reacomodação do capitalismo 

internacional e com o fim do perigo de uma possível terceira guerra mundial.  Além disto, os 

Estados Unidos recuperaram a hegemonia mundial. 

4. 3. Segundo Governo Peronista (l952-l955): 

No início da década de 1950, a economia argentina entrou em crise e o governo 

mudou a condução econômica, originado-se conflitos na política interna, que provocaram 

várias greves operárias, acompanhadas de uma forte repressão. Os embates que surgiram entre 

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 os trabalhadores, o empresariado nacional e o Estado indicavam o início da ruptura da aliança 

de classes instaurada em 1946. 

Em 1952, em função da alta inflação, o salário dos operários teve uma forte queda, 

fato que foi gerenciado pelo Estado mediante o controle da Central de Trabalhadores.  Em 

1953 foi criada a Confederação Geral Econômica (CGE) 

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 visando intervir mais nas relações 

capitalistas.  Ao mesmo tempo o governo interveio a Confederação de Associações Rurais de 

Buenos Aires e La Pampa (CARBAP), que reunia os proprietários que viviam da renda 

agrária e geralmente não conseguiam comprar novas terras.  O resto, dos grandes fazendeiros, 

estava nucleado em torno da Sociedade Rural. Portanto, esta intervenção não significou um 

“golpe” contra a oligarquia.     

Em 1954, a economia tinha-se estabilizado: o governo conseguiu administrar a crise 

econômica e política, desencadeadas no início da década.  Mas o regime enfrentava à 

hierarquia eclesiástica, a Igreja, que até então havia mantido excelentes relações, rompeu a 

“aliança” com Perón.  O líder político perdeu o apoio dos nacionalistas católicos que tinham 

acompanhado sua gestão. 

Os conflitos com a Igreja iniciaram-se a partir de 1951, uma vez que o...governo 

tornava-se cada vez mais autoritário e repressivo e a Igreja cada vez mais distante e mais crítica.  

Nesta conjuntura, alguns leigos de tendência democrata-cristã formam grupos com o objetivo de 

constituir um partido que não seria mais oficialista, isto é, que se propunha a sair do controle que o 

governo exercia sobre todas as outras organizações políticas, carregando consigo, inclusive, 

grande número de nacionalistas, que se diziam unicamente católicos e queriam lutar contra o 

'totalitarismo' de Perón (DE CAMARGO, 1980: 195). 

Os jornais peronistas promoveram uma campanha contra os católicos que 

manifestavam nas ruas contra o regime, gerando um clima sumamente repressivo na 

sociedade civil. Diante disto, o Congresso majoritariamente peronista aprovou leis que 

afetavam diretamente os interesses dos católicos:  

1. Revogação da lei do ensino religioso nas escolas. 

2. Legalização da prostituição e do aborto. 

3. Lei que estabelecia a separação da Igreja e o Estado. 

A esta pugna soma-se a radicalização do partido Socialistas e da União Cívica 

Radical, que inicialmente não havia oferecido resistências às políticas do governo peronista. 

Finalmente, o próprio exército opunha-se às mudanças da orientação econômica, além de não 

concordar com a candidatura para a vice-presidência da Nação de Eva Duarte, esposa de 

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 Na CGE reuniram-se os industriais que simpatizavam com Perón e na CARBAP estavam agrupados os 

latifundiários que tinham apoiado o golpe de 1943, mas nenhuma destas duas organizações proporcionava 

comandos civis nem defensores do regime peronista. 

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 Perón, nas eleições de 1951.  Os militares o obrigam a desistir da candidatura, organizaram 

uma rebelião, que foi sufocada, mas era a primeira manifestação de descontentamento das 

Forças Armadas. 

Com efeito, o esgotamento do projeto distributivo, o afastamento de alguns setores da 

coalizão original e o acionar das forças econômicas e militares de oposição, foram os 

elementos determinantes do processo de instabilidade política que culminou com o golpe 

militar em 1955. O final do governo iniciou-se em Córdoba, comandado pelo General 

Eduardo Leonardi (1955-1955), que simpatizava com as idéias nacionalistas. As forças que o 

tinham apoiado não ofereceram a menor resistência.  Isto pode ser explicado segundo De 

Camargo (1980) pelo caráter vertical que se havia dado à direção sindical, que esperava uma 

ordem do Estado para resistir ao golpe.  

Enfim, além da classe operaria, Perón não conseguiu criar bases de sustentação e 

aceitação dentro de outros grupos sociais,. Sua prática política excludente acabou isolando-lo 

politicamente. Setores que primeiramente tiveram uma política neutral, lentamente foram 

tomando uma postura de oposição e os historicamente opositores lhe negaram legitimidade 

política. Isso acabou desencadeando uma profunda polarização entre o movimento peronista e 

as forças opositoras.  Finalmente, a oposição uniu e articulou suas forças contra Perón: a 

classe média fundamentalmente expressadas pela União Cívica Radical e outros partidos 

menores, os proprietários da terra mediante a Sociedade Rural Argentina e os grandes 

industriais nucleados na União Industrial Argentina, acabaram com o regime.    

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WALDMANN, P.: 

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 El Peronismo

 1943-1955. Buenos Aires: Hyspamérica, 1986. O artigo da autora Margarita Victoria Rodríguez 

O peronismo, principal força política da Argentina por décadas, vive uma fragmentação e renovação forçada após as vitórias do presidente ultraliberal Javier Milei nas eleições de 2023 e nas eleições legislativas de outubro de 2025. O movimento busca um novo rumo para recuperar sua relevância e competitividade. 

Derrota nas urnas: Nas eleições legislativas de 2025, o peronismo — liderado pela coalizão Força Pátria (Fuerza Patria, FP), que sucedeu a União pela Pátria — sofreu uma derrota inesperada em 18 das 24 províncias argentinas. A coalizão obteve 31,7% dos votos, enquanto o partido de Milei, A Liberdade Avança (LLA), conquistou mais de 40%.

Confira a noticia no Portal G1 da Rede Globo                      .https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/10/27/vitoria-de-milei-o-que-significa-na-pratica-resultado-das-eleicoes-legislativas-na-argentina.ghtml

E assim caminha a humanidade . 

Imagem ; BBC News 




 




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