domingo, 6 de dezembro de 2020

O contexto problemático no Brasil.

 A vereadora Rebecca Barbosa, eleita neste ano em Salesópolis, é uma dos 30 transexuais que vão compor as câmaras municipais de todo o país a partir de 2021. Aos 28 anos, formada em direito e tendo atuado como conselheira tutelar, ela carrega histórias de preconceito e luta.

Durante a campanha de 2020, não foi diferente. Rebecca chegou a ouvir que não seria bem-vinda na casa do legislativo por ser LGBT. Agora, sexta vereadora mais votada no município, ainda teme não ter apoio dos colegas, mas diz que vai atuar para garantir os direitos de toda a população.

“Tive preconceito indireto de pessoas, até mesmo da própria mesa legislativa, da casa de vereadores. Falavam que não queriam ter um viado lá dentro”.

“Eu fico cabreira se eu vou ter apoio dentro da Câmara. Eu fico assim, no achismo, se eles vão querer me prejudicar ou se eles vão vestir a nossa camisa, até porque eu não vou entrar só como militante. Eu vou entrar lá dentro como alguém que trabalha pelo povo em todos os sentidos”, afirma Rebecca.

Rebecca se tornou conselheira tutelar pouco depois de se formar, em 2016, quando foi eleita em primeiro lugar. Ela conta que decidiu trabalhar para a população depois de ser agredida e sofrer preconceito durante um assalto, o que a fez refletir sobre seu papel na sociedade.

“Foi um assalto seguido de homofobia. Eu fui agredida, muito, na rua. Quando eu levantei do chão, eu vi que pessoas iguais a mim são pessoas que sofrem qualquer tipo de indiferença e que precisam de ajuda de alguém por elas”, relembra.

Infelizmente, o episódio não foi único. Ela lembra de quando ouviu ofensas homofóbicas e racistas. Foi a primeira vez que o preconceito a atingiu diretamente. Tinha acabado de sair de uma casa noturna em Mogi das Cruzes, com conhecidos, e teve medo.

“Fomos levar minha amiga embora. Quando ela desceu do carro, eu fiquei quieta no meu canto ali, porque era a próxima a descer. Foi quando um rapaz, que estava no banco de trás, olhou para minha cara e falou: ‘não se mexe’. Eu olhei para a cara dele e pensei: ‘ué, não estou fazendo nada'. E ele falou assim: ‘não se mexe, porque se tem uma coisa que eu odeio mais do que preto é viado’”, relembra a vereadora eleita.

“Eu fiquei uns três dias com um nó na garganta, porque eu não imaginava que eu ia ouvir uma coisa horrível daquela”.

Quando iniciou seu trabalho como conselheira, ainda se apresentava como homem gay, mas conta que já via os impactos de sua representatividade na população. Chegou a atender episódios de homofobia entre estudantes e destaca um, quando a família de um adolescente homossexual a procurou depois de ele sofrer bullying onde estudava.

“Quando esse menino de família simples entrou no Conselho Tutelar e apresentou essa situação, na verdade, ele era quieto. Ele nem abria a boca. Só que a mãe e a irmã tomaram as dores dele e foram procurar a gente. Graças a Deus, naquele dia, era meu dia de atendimento. Quando contaram essa situação e ainda ressaltaram que a escola não tomou nenhuma providência eu falei: essa história vai mudar”, relembra.

“Me dirigi até a escola, conversei com a direção e disse que eu já conhecia essa realidade de perto. Eu passei por isso no decorrer da juventude. Falei que deveriam tomar alguma providência, se não eu na posição de conselheira tutelar iria fazer um boletim de ocorrência por negligência e tudo mais.

“Eu tive um start de quando você passa a ser útil na vida da sociedade. Me motivou a querer mais”.

O atuação continuou e ela ganhou visibilidade como a 'conselheira Raí', nome civil e de urna. Decidiu se candidatar ao cargo de vereadora e, embora não tenha sofrido preconceito direto durante a campanha, reconhece que não foi fácil. Ela diz que se preocupa com os próximos passos e teme não ter apoio quando iniciar seu mandato na câmara.

No entanto, acredita que seu posicionamento como vereadora trans trará benefícios ao município, além da visão de uma sociedade mais diversa. Embora seja militante da causa LGBT, Rebecca lembra que suas propostas são para todos, sem distinção. Ela, que tem apoio da família, espera contribuir para uma sociedade melhor.

“Não vou entrar lá só para dar visibilidade ao homossexual. Eu sou a visibilidade do homossexual. Eu sou minha própria bandeira. É a figura transexual agindo como ser humano em todas as áreas, como qualquer outra pessoa faria”, completa Rebecca.

“Nós somos contribuintes da sociedade. Nós vivemos uma constante evolução. A sociedade já evoluiu bastante. Se tiver ao nosso alcance contribuir e fazer com que ela evolua mais, nós vamos fazer isso”.

Ao todo, 11 vereadores integram a Câmara Municipal de Salesópolis. Do total, são três mulheres, incluindo Rebeca, que recebeu 332 votos. Segundo informações da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), o número de vereadores trans em todo o país cresceu 275% neste ano: de 8, passou para 30.

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 171 pessoas se candidataram com nome social para o pleito deste ano, o que não foi o caso de Rebeca, que preferiu utilizar seu nome de nascença por ser mais conhecida assim.

Do total, 140 (ou 81,87%) se identificaram como sendo do gênero feminino, enquanto os outros 31 (ou 18,13%) são do gênero masculino. Todos eles se candidataram a vereador. Foram 3 eleitos e 105 ficaram com suplentes. A reportagem é do Portal G1 da Rede Globo, neste domingo (6).


Á você que está me lendo eu digo :A transfobia é uma gama de atitudes, sentimentos ou ações negativas, discriminatórias ou preconceituosas contra pessoas transgênero, ou pessoas percebidas como tal. A transfobia pode ser repulsa emocional, medo, violência, raiva ou desconforto sentidos ou expressos em relação a pessoas transgênero. 
De acordo com uma reportagem do jornal correio brasiliense Brasil matou ao menos 868 travestis e transexuais nos últimos oito anos, o que o deixa, disparado, no topo do ranking de países com mais registros de homicídios de pessoas transgêneras.
 Segundo o relatório da TGEu, o país registra, em números absolutos, mais que o triplo de assassinatos do segundo colocado, o México, onde foram contabilizadas 256 mortes entre janeiro de 2008 e julho de 2016. Em números relativos, quando se olha o total de assassinatos de trans para cada milhão de habitantes, o Brasil fica em quarto lugar, atrás apenas de Honduras, Guiana e El Salvador, segundo o correio  brasiliense.
Em 2019, 124 pessoas transexuais foram assassinadas no Brasil, segundo o dossiê "Assassinatos e violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2019", feito pela Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) e lançado hoje, Dia da Visibilidade Trans. A pesquisa foi feita em parceria com o IBTE (Instituto Brasileiro Trans de Educação), de acordo com a reportagem do Portal UOL.
O número apresenta uma queda em relação a 2018, quando foram mortos 163 transexuais, mas a redução não é vista como positiva pelas organizações responsáveis pelo relatório. Segundo Bruna Benevides, organizadora do dossiê e secretária de articulação da Antra, a redução no número de mortes pode estar relacionada a um ambiente menos propício a notificações de casos de transfobia, segundo o UOL.
A queda, entretanto, ainda mantém o Brasil como líder mundial no ranking de assassinatos de pessoas trans no mundo. De acordo com uma pesquisa da Spartacus International Gay Guide, revista de viagens direcionada para a população LGBT, o país caiu de 55ª para 68ª no ranking de países seguros para a população LGBTI no mundo em 2019, segundo o UOL.
O Brasil é um país extremamente preconceituoso. Conforme eu já abordei em outras postagens, a história do nosso país é problemática na arte de conviver com a diversidade. O Brasil não é um país seguro na arte de aceitar a diversidade humana.
A diversidade nas eleições de 2020, foram um passo importante para a diversidade na sociedade brasileira. Países verdadeiramente democráticos, são tolerantes e sabem aceitar a diversidade.

E assim caminha a humanidade.

Imagem : Jornal correiobraziliense



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