O patriarcado é o sistema de dominação social que estabelece a supremacia masculina e a subordinação das mulheres, enquanto o machismo é a ideologia que sustenta esse sistema, manifestando-se em atitudes e comportamentos cotidianos. Em outras palavras, o machismo é a expressão cultural e comportamental do sistema patriarcal.
Patriarcado
O patriarcado é a estrutura de poder, a fundação histórica e social da dominação masculina, presente nas instituições e organizações sociais.
Origem: A palavra vem do grego, significando "poder do pai". Historicamente, o patriarca era a figura masculina mais velha que detinha o poder sobre a família, incluindo mulheres, filhos e bens.
Domínio social: O patriarcado não se restringe apenas à família. Ele estrutura a sociedade, colocando os homens no controle da maior parte do poder político, econômico e social. Em uma sociedade patriarcal, as mulheres são vistas como subordinadas em diversas esferas da vida.
Influência institucional: É um sistema que se manifesta nas estruturas sociais, como o estado, a economia e a religião, naturalizando a desigualdade de gênero e produzindo papéis sociais fixos para homens e mulheres.
Consequências: Leva a uma série de opressões, como a violência de gênero, a desigualdade salarial e a invisibilidade do trabalho feminino, inclusive dentro de casa.
Machismo
O machismo é o conjunto de comportamentos, crenças e preconceitos que legitimam e perpetuam a superioridade masculina.
Expressão do patriarcado: A ideologia machista opera para manter e justificar o sistema patriarcal. Enquanto o patriarcado é a estrutura, o machismo é o modo como essa dominação se manifesta no dia a dia.
Manifestações: Inclui atitudes como a desqualificação de mulheres, a interrupção de suas falas, a violência física e verbal, e a misoginia (ódio às mulheres).
Internalização: O machismo pode ser internalizado tanto por homens quanto por mulheres, que muitas vezes reproduzem sem perceber os estereótipos de gênero que a sociedade impõe.
Formas de opressão: Exemplos de machismo vão desde piadas sexistas e assédio moral até as formas mais extremas, como a violência doméstica e o feminicídio.
A relação entre os dois conceitos
A distinção entre patriarcado e machismo é crucial para entender como a opressão de gênero funciona:
Aspecto Patriarcado Machismo
Natureza Estrutural e sistêmico Comportamental e ideológico
O que é O sistema de dominação masculina A crença na superioridade masculina
Onde se manifesta Nas instituições e normas sociais Em atitudes e comportamentos individuais
Função Organiza a sociedade com base na desigualdade de gênero Justifica e reproduz a dominação masculina
Em resumo, o patriarcado é a causa estrutural da desigualdade, e o machismo é o conjunto de ações e ideias que são um sintoma e um instrumento para manter esse sistema. Para combater a opressão de gênero, é necessário confrontar tanto o machismo nas interações cotidianas quanto o sistema patriarcal que o sustenta. Segundo a Socióloga, Mestra e Doutora Lilian de Lucca Torres, no segundo período da Habilitação em Jornalismo na Comunicação Social, pelas Faculdades Integradas Alcântara Machado (FIAAM FAAM).
DOI: http://dx.doi.org/10.14295/revistadaesmesc.v25i31.p239
A VIOLÊNCIA CONTRA A segundo periodo
MULHER COMO EXPRESSÃO DO
PATRIARCADO E DO MACHISMO
VIOLENCE AGAINST WOMEN AS EXPRESSION
OF PATRIARCHY AND MALE CHAUVINISM
Izabele Balbinotti1
RESUMO: Este artigo apresenta um
estudo da influência da cultura pa
triarcal e do machismo na violência
contra a mulher, numa perspectiva
teórica. O trabalho percorre um cami
nho histórico da civilização explican
do como a cultura matricêntrica deu
lugar à patriarcal e como foram se
estabelecendo os papéis masculinos e
femininos na sociedade, aborda ainda
a construção da ideologia do machis
mo e as correntes teóricas de domina
ção para explicar a violência contra a
mulher. Por fim, apresenta a influên
cia do patriarcado e do machismo na
violência de gênero, mostrando que
ainda hoje é no ambiente familiar que
este tipo de violência se apresenta da
forma mais persistente, atingindo a
subjetividade feminina.
PALAVRAS-CHAVE: Patriarcado.
Machismo. Violência contra a Mulher.
1
ABSTRACT: This article presents a
study of the patriarchal culture and
male chauvinism in violence against
women from a theoretical perspec
tive, the work traverses a historical
path of civilization explaining how
matricentric culture gave way to
the patriarchal cultureand how they
were establishing the male and fe
male roles in society. It also brings
the construction of the ideology of
male chauvinism and the theoretical
currents of domination to explain
violence against women. Finally, it
concludes there is an influence of
patriarchy and male chauvinism on
gender violence, showing that it is
in family environment the most per
sistent form of violence, reaching
female subjectivity.
KEYWORDS: Patriarchy. Male
Chauvinism.Violence Against Women.
Advogada e jornalista, especialista em comunicação empresarial (Univali) e em
marketing (INPG), pós-graduanda em direito público (Furb). Email: izabele_bv@
yahoo.com.br.
239
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
1. INTRODUÇÃO
A violência de gênero se apresenta como uma expressão
para fazer referência aos diversos atos praticados contra as mu
lheres como forma de submetê-las a sofrimento físico, sexual e
psicológico, aí incluídas as diversas formas de ameaças. É ca
racterizada, especialmente, pela imposição ou pretensão de su
bordinação e controle do gênero masculino sobre o feminino.
Visando descortinar as origens desse fenômeno, este traba
lho apresenta um estudo da influência da cultura patriarcal e
do machismo na violência contra a mulher, numa perspectiva
teórica. Para isso, foi dividido em três partes: a primeira ex
põe um caminho histórico da civilização explicando como a
cultura matricêntrica, que tinha na mulher sua figura central,
deu lugar à patriarcal e como foram se estabelecendo os papéis
masculinos e femininos na sociedade; na segunda parte, relata
a construção da ideologia do machismo e as correntes teóricas
de dominação para explicar a violência contra a mulher e, por
f
im, na terceirta parte apresenta a influência do patriarcado e
do machismo na violência de gênero.
Para tanto, a pesquisa foi realizada na perspectiva qualitati
va, fundamentada na pesquisa bibliográfica.
2. A VIRADA – DA CULTURA MATRICÊNTRICA
PARA A PATRIARCAL
Há cerca de dois milhões de anos, quando a espécie hu
mana começou a habitar o planeta, as sociedades tinham
como cultura a coleta e a caça de pequenos animais. Naquele
tempo, não havia necessidade de força física para a sobrevi
vência e as mulheres possuíam um lugar central porque eram
consideradas seres sagrados, capazes de dar a vida, ajudar na
fertilidade da terra e dos animais. O masculino e o feminino
governavam juntos. Havia divisão de trabalho entre os sexos,
240
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
mas não desigualdade.
Enquanto as sociedades eram de coleta, as mulheres ocu
pavam um papel primordial para viabilizar a sobrevivência da
espécie em condições hostis. Não havia coerção ou centraliza
ção, mas um rodízio de lideranças entre homens e mulheres.
(MURARO, 2015).
Para Badinter (1986 apud TRAVASSOS, 2003), a separa
ção de tarefas era a garantia da complementaridade entre os
sexos e não de sua negação. Segundo a autora, ocorria uma
dependência recíproca.
A prática da caça é responsável pelo desenvolvimento da
inteligência nos homens, mas a prática da coleta pelas mu
lheres também requer habilidades, energia e inteligência,
principalmente se for considerada a necessidade de dar, pa
ralelamente, atenção aos filhos. Além disso, ambas as ativi
dades exigem a socialização de seus participantes, que pre
cisam aprender a cooperar com seus companheiros (as) de
tarefa, para garantir a sobrevivência individual e do grupo.
(BADINTER, 1986, p. 36-38 apud TRAVASSOS, 2003).
Muraro (2015) conta que nos grupos matricêntricos quase
não existia guerra porque não havia pressão por conquista de
novos territórios. Isso não acontecia nos locais onde a coleta
era escassa e se iniciava a caça de grandes animais, quando a
força física passou a se tornar essencial, marcando o início da
supremacia masculina e da competividade entre os grupos em
busca de novos territórios e de sobrevivência. Foi então que as
guerras se tornaram constantes e os homens mais valorizados
passaram a ser os heróis guerreiros. Começava a ruptura da
harmonia entre homens e mulheres, mesmo que ainda não es
tivesse instalada a lei do mais forte.
No entanto, “[...] nem nas sociedades de coleta nem nas de
caça se conhecia a função masculina na procriação.” (MURA
RO, 2015, p.27). Quando o homem começou a entender sua
241
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
função reprodutora, passou a controlar a sexualidade feminina.
É neste tempo, com a sistematização da atividade agrária, a
partir da invenção do arado, que a espécie humana deixou de
ser nômade e surgiram as primeiras aldeias, depois as cidades,
as Cidades-Estado, os primeiros Estados e os impérios. Segun
do Stearns (2007, p. 31), “[...] o deslocamento da caça e da
coleta para a agricultura pôs fim gradualmente a um sistema de
considerável igualdade entre homens e mulheres”. As socieda
des, então, se tornam patriarcais, baseadas na supremacia do
homem nas relações sociais.
Badinter (1986 apud TRAVASSOS, 2003) destaca que o
patriarcado não se refere apenas a uma forma de família basea
da no parentesco masculino e no poder paterno. O termo de
signa também toda estrutura social que nasça do poder do pai.
Para Millet e Scott, mencionadas por Narvaz e Koller
(2006), o patriarcado é uma forma de organização social na
qual as relações são regidas por dois princípios básicos: as mu
lheres estão hierarquicamente subordinadas aos homens e os
jovens estão hierarquicamente subordinados aos homens mais
velhos. De acordo com as autoras, a supremacia masculina
atribuiu um maior valor às atividades masculinas em detrimen
to das atividades femininas, além de legitimar o controle da
sexualidade, dos corpos e da autonomia feminina.
A partir daí, já não são mais os princípios feminino e mas
culino que governam juntos, mas vigora a lei do mais forte.
As mulheres passam a ter sua sexualidade rigidamente con
trolada pelos homens e o casamento monogâmico traz a obri
gação da mulher sair virgem das mãos do pai para o marido.
Assim, a mulher fica reduzida ao âmbito doméstico e, como
relata Muraro (2015, p.40):
Perde qualquer capacidade de decisão no domínio público,
que se torna inteiramente reservado ao homem. A dicoto
mia entre o privado e o público estabelece, então, a origem
242
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
da dependência econômica da mulher, e esta dependência,
por sua vez, gera, no decorrer das gerações, uma submissão
psicológica que dura até hoje.
Foi neste contexto que a cultura humana passou de ma
tricêntrica a patriarcal, naturalizando processos socioculturais,
como critica Saffioti (1979, p. 11): “[...] quando se afirma que
é natural que a mulher se ocupe do espaço doméstico deixando
livre para o homem o espaço público, está-se, rigorosamente,
naturalizando um resultado da história”. Esta naturalização,
segundo a autora, constitui caminho mais fácil e curto para
legitimar a ‘superioridade’ dos homens.
Assim, torna-se mais evidente o papel da mulher de for
ma secundária. Na Grécia, era reduzida às funções de mãe,
prostituta ou cortesã. Tedeschi (2008 apud FARIAS, 2009,
p.12), analisa “[...] a construção histórico-filosófica dos vários
discursos que em certa época conferiram um caráter científico
e natural aos papéis da mulher, do que significa ser mulher”.
Para tanto, o autor elegeu dois discursos fundamentais para a
compreensão das primeiras representações construídas na his
tória sobre o feminino: o discurso de matriz filosófica grega e
o discurso da moral cristã no mundo medieval.
No discurso de matriz filosófica grega, o autor destaca o
olhar masculino da teoria filosófica, que pensava a mulher
como um objeto, ou seja, ‘criaturas irracionais, sem pensar
próprio’, que deveriam viver sob o controle dos homens.
Representações estas que, segundo o autor, é possível per
ceber no pensamento filósofo de Platão, Aristóteles e Hi
pócrates, que, por meio de um discurso masculino sobre
o corpo feminino, construíram mitos que justificavam a
inferioridade e a fragilidade feminina. Quanto às represen
tações femininas presentes no discurso da moral católica,
o autor ressalta que o modelo judaico-cristão exerceu in
f
luência significativa na definição do lugar ocupado pela
mulher na igreja, na sociedade e na cultura ocidental, não
restando dúvidas de que esse discurso foi fundamental para
243
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
reforçar as desigualdades de gênero. (TEDESCHI, 2008,
apud FARIAS, 2009, p. 12).
Em Roma, embora durante certo período tivessem liberda
de sexual, as mulheres jamais chegaram a ter poder de decisão
no Império. Do terceiro ao décimo século, eram jogadas ao
domínio público quando havia escassez de homens por conta
das guerras e voltavam ao domínio privado quando os homens
reassumiam o seu lugar. Imperava uma persistente tradição in
telectual que apontava a dicotomia homem/cultura e mulher/
natureza marcada por estereótipos, preconceitos e hierarquia
de valores. Segundo Gonçalves (2006, p. 48-49), “[...] essa bi
polaridade era sustentada pela ideia da ‘desigualdade’ entre os
dois sexos, separando e opondo-os”. Assim:
O universo masculino relacionado à cultura, sinônimo de
objetivo, de racional e de público, determinava a sua dita
‘superioridade’ em relação ao universo feminino enqua
drado à natureza ‘reveladora’ de sua suposta propensão ao
emocional, ao subjetivo e ao privado. Não era de se es
tranhar, portanto, a predominância na narrativa histórica
de preocupações com o político e com o público, as quais
entronizavam os homens em suas façanhas e heroicidade,
excluindo duplamente, quase que por completo, as mulhe
res enquanto personagens e produtoras da história. (GON
ÇALVES, 2006, p.48-49).
Às mulheres era reservado um lugar de menor destaque.
Seus direitos e seus deveres estavam sempre voltados para a
criação dos filhos e os cuidados do lar, portanto, para a vida
privada. (SILVA, 2010).
Na alta Idade Média, as mulheres passaram a ter acesso às
artes, às ciências e à literatura. E é logo depois dessa época, no
período que vai do fim do século XIV até meados do século
XVIII, que aconteceu a repressão sistemática do feminino, de
forma generalizada na Europa, com os quatro séculos de ‘caça
às bruxas. (MURARO, 2015).
244
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
Naquele tempo, as mulheres eram vistas especialmente por
sua sensualidade e como ameaça ao poder médico, porque des
de a mais remota antiguidade, eram as curadoras populares, as
parteiras e em algumas tribos primitivas eram as xamãs. “Elas
(as curadoras) eram as cultivadoras ancestrais das ervas que
devolviam a saúde e eram também as melhores anatomistas
do seu tempo.” (MURARO, 2015, p.79-80). Eram também as
parteiras e as médicas populares para todas as doenças.
Com o apoio da religião católica e depois da protestante,
os tribunais da inquisição passaram a acusá-las, processá-las e
julgá-las, condenando-as à morte na fogueira como bruxas. Se
gundo Muraro (2015), esse ‘expurgo’ visava recolocar dentro
de regras de comportamento dominante as massas campone
sas que se rebelavam e, principalmente, as mulheres, como um
controle sobre o corpo e a sexualidade, como defende Foucault
(1988). No mesmo sentido, Pinto (2010) conta que as mulheres
que se rebelaram contra sua condição e que lutaram por liber
dade, muitas vezes pagaram com suas próprias vidas: “A in
quisição da igreja católica foi implacável com qualquer mulher
que desafiasse os princípios por ela pregados como dogmas”.
Já no século XVIII, quando cessou a caça às bruxas, houve
grande transformação na condição feminina. A sexualidade se
normatizou e as mulheres se tornaram frígidas. Também fo
ram reduzidas exclusivamente ao âmbito doméstico, porque
sua ambição era passível de castigo. O saber feminino popular
caiu na clandestinidade e as mulheres não tinham mais acesso
ao estudo como na idade média. Passaram então a transmitir
voluntariamente aos filhos os valores patriarcais já totalmente
interiorizados por elas e isso tem contribuído ainda hoje para a
manutenção da cultura patriarcal, que visa “[...] manter a mu
lher no seu devido lugar.” (MURARO, 2015, p.68).
Assim, a história mostra que as mulheres sempre estiveram
presentes nas relações sociais, em diferentes espaços: de cen
245
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
tro da organização familiar a bruxas e, posteriormente, trans
missoras de valores que buscam legitimar uma condição de
inferioridade feminina.
3. A CONSTRUÇÃO DA IDEOLOGIA DO
MACHISMO
Santos e Izumino (2005) apresentam três correntes teó
ricas utilizadas para explicar a violência contra a mulher. A
primeira, chamada dominação masculina, defende a ideia de
que a violência contra as mulheres é “[...] fruto da reprodução
social de uma ideologia que transforma diferenças entre ho
mens e mulheres em desigualdades hierárquicas autorizadoras
da dominação e opressão da mulher.” (BORGES; LUCCHE
SI, 2015, p. 226). Em outras palavras, a dominação da mulher
ocorreria com a disseminação da ideologia na qual a condição
feminina é definida como inferior à condição masculina, “[...]
naturalizando uma superioridade do homem sobre a mulher
e, consequentemente, a violência por ele perpetrada”. (BOR
GES; LUCCHESI, 2015, p. 226).
Na segunda corrente, defendida por Saffioti (1979) tem-se
a ideia de dominação patriarcal, fundada numa perspectiva fe
minista e marxista do patriarcado, a autora estuda a dominação
masculina na sociedade de classes.
Pode-se dizer que esta corrente sustenta que o patriar
cado não resume a dominação da mulher, a submissão
da mulher ao ‘poder do macho’, à disseminação de uma
ideologia machista, mas esta também é um instrumento
importante de exploração econômica que tem como prin
cipal beneficiário o homem branco, rico e adulto. Neste
sentido, a violência contra a mulher seria fruto desta so
cialização machista conservada pelo sistema capitalista,
desta relação de poder desigual entre homens e mulheres,
que estabelece como destino natural das mulheres a sua
submissão e exploração pelos homens, forçando-as mui
246
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
tas vezes a reproduzir o comportamento machista violen
to. (SAFFIOTI, 1979, p. 150).
A terceira corrente tem como marco o trabalho de Gregori
(1993), que buscou relativizar a relação dominação versus vi
timização. Para a autora, “[...] existe alguma coisa que recorta
a questão da violência contra a mulher que não está sendo con
siderada quando ela é lida apenas como ação criminosa e que
exige punição.” (GREGORI, 1993, p.166). Segundo ela, para
entender a violência contra a mulher não se deve pressupor
uma dualidade maniqueísta entre vítima e algoz, associados
respectivamente a uma passividade e a uma ação destruidora.
A mulher vive de forma ambígua – ora gosta de ser indis
pensável e ora se ressente da limitação de sua liberdade.
Aliás, é justamente esta situação paradoxal que explica ora
a vitimização da mulher pela limitação de sua liberdade e
pela possibilidade de seu corpo frágil sofrer violência, ora
a manipulação que promove de seus medos para mostrar-se
indispensável para o homem que pode ser o seu agressor,
fazendo-o se sentir culpado e pronto para cumprir o papel
por ela esperado. Deste modo, é possível constatar que as
mulheres, muitas vezes inclusive por medo, reproduzem e
reforçam os papéis de gênero, cooperando na produção de
sua falta de autonomia, com o objetivo de obtenção de pro
teção e prazer. Neste contexto, a violência passa a funcio
nar perversamente como uma linguagem entre os parceiros
que mantém a unidade do casal, a partir da preservação de
seus papéis. (GREGORI, p. 1993, p.166).
A partir destas três correntes, torna-se fundamental discor
rer sobre a força do machismo por trás do discurso de domi
nação. Autores como Arrazola e Rocha (1996) caracterizam o
machismo como uma ideologia que determina que os homens
controlem o mercado, o governo e a atividade pública e que as
mulheres sejam subordinadas a eles, dividindo-os nos espaços
público e privado.
O espaço público, dos homens, é o espaço social, que envol
247
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
ve educação, trabalho, política e literatura. Já o espaço privado,
destinado às mulheres, é o espaço da produção e da sobrevi
vência doméstica e familiar. Segundo os autores, neste sentido,
a cultura brasileira valida a esfera pública, social e econômica
(masculina) e desvaloriza a esfera privada (feminina). No mes
mo sentido, Souza, Baldwin e Rosa (2000, p. 08) defendem que
os “[...] papéis de gênero condizem com interpretações tradicio
nais do Brasil como tendo uma cultura machista”.
Ainda abordando os espaços, na dicotomia masculino-fe
minino, Andrade (2005) trabalha a divisão entre público e pri
vado com correspondente divisão social do trabalho e os papéis
diferenciados aos homens e mulheres, além de estereótipos.
A esfera pública, configurada como a esfera da produção
material, centralizando as relações de propriedade, o traba
lho produtivo (e a moral do trabalho) tem seu protagonismo
reservado ao homem enquanto sujeito produtivo, mas não
qualquer homem. A estereotipia correspondente para o de
sempenho deste papel (trabalhador de rua) é simbolizada
no homem racional / ativo / forte / potente / guerreiro /
viril / público / possuidor. A esfera privada, configurada,
por sua vez, como a esfera da reprodução natural, e apa
recendo como o lugar das relações familiares (casamento,
sexualidade reprodutora, filiação e trabalho doméstico) tem
seu protagonismo reservado à mulher, através do aprisiona
mento de sua sexualidade na função reprodutora e de seu
trabalho no cuidado do lar e dos filhos. É precisamente este
o eixo da dominação patriarcal. Os atributos necessários ao
desempenho deste papel subordinado ou inferiorizado de
esposa, mãe e trabalhadora do lar (doméstico), são exata
mente bipolares em relação ao seu outro. A mulher é então
construída femininamente como uma criatura emocional/
subjetiva/ passiva/ frágil/ impotente/ pacífica/ recatada/ do
méstica/ possuída. (ANDRADE, 2005, p.14-15).
A concepção do masculino como sujeito da sexualidade e do
feminino como seu objeto é um valor de longa duração da cul
tura ocidental. Com base no patriarcalismo, o masculino é visto
248
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
como o lugar da ação, da decisão, da chefia da rede de relações
familiares e da paternidade. Da mesma forma, o masculino é
investido na posição social de agente do poder da violência, ha
vendo, historicamente, uma relação direta entre as concepções
vigentes de masculinidade e o exercício do domínio de pessoas,
das guerras e das conquistas, como relata Stearns (2007, p. 34):
A força do patriarcado caiu sobre as mulheres, mas ob
viamente afetou também as definições de masculinidade.
Os homens, independentemente da personalidade de cada
um, deveriam assumir seus papéis de dominantes. Deviam
evitar mimar as mulheres, especialmente em público. Com
frequência, precisavam estar prontos a assumir deveres
militares ou outro tipo de liderança e, em princípio, eram
evidentemente responsáveis pela sobrevivência da família.
Relacionando as formas de viver a masculinidade e a cultu
ra da violência, Minayo(2005) utiliza como referência Macha
do (2001) em sua pesquisa antropológica que teve como parâ
metro a análise de valores de longa duração que estruturam a
cultura ocidental patriarcal. Machado (2001) trabalha o discur
so e a performance de grupo de delinquentes sociais apenados,
nos quais a autora encontra de forma aguçada as características
da cultura machista. Especificamente nas relações conjugais, a
prática cultural considera normal o masculino como a posição
do ‘macho social’, com atitudes e relações violentas justifica
das como ‘atos corretivos’.
Por isso, em geral, quando acusados, os agressores reco
nhecem apenas ‘seus excessos’ e não sua função discipli
nar da qual se investem em nome de um poder e de uma
lei que julgam encarnar. Geralmente quando narram seus
comportamentos violentos, os maridos (ou parceiros) cos
tumam dizer que primeiro buscam ‘avisar’, ‘conversar’
e depois, se não são obedecidos, ‘batem’. Consideram,
portanto, que as atitudes e ações de suas mulheres (e por
extensão, de suas filhas) estão sempre distantes do com
portamento ideal do qual se julgam guardiões e precisam
garantir e controlar. (MINAYO, 2005).
249
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
No mesmo sentido, Borges e Lucchesi (2015) apontam a
violência como a expressão mais evidente da dominação mas
culina. Para os autores, a violência representa o ponto culmi
nante da afirmação da virilidade, como forma de expressão da
superioridade do homem “[...] no discurso da construção social
dos sexos, o que não é muito tolerado, já que denuncia o assu
jeitamento feminino e desta maneira coloca em risco a manu
tenção da ordem masculina”. (BORGES; LUCCHESI, 2015,
p. 234). Como na sociedade romana, “[...] o marido é o juiz
da esposa. Se ela comete uma falta, ele a pune, se ela bebeu
vinho, ele a condena, se ela cometeu adultério, ele a mata”
(STEARNS, 2007, p. 38). Este comportamento tem se repetido
ao longo da história, como aponta Blay (2003, p. 87):
Agredir, matar, estuprar uma mulher ou uma menina são
fatos que têm acontecido ao longo da história em prati
camente todos os países ditos civilizados e dotados dos
mais diferentes regimes econômicos e políticos. A mag
nitude da agressão, porém, varia. É mais frequente em
países de uma prevalecente cultura masculina, e menor
em culturas que buscam soluções igualitárias para as di
ferenças de gênero.
Desta forma, a mentalidade patriarcal, que preconiza o
controle das mulheres e a rivalidade entre homens, está sempre
presente nas agressões por ciúme, refletindo o medo da perda
do objeto sexual e social.
Independente da corrente teórica que busque explicar as
raízes da violência contra a mulher, mostra-se evidente que o
machismo vai muito além de uma conduta construída, apren
dida e reforçada culturalmente a partir de definições de pa
péis de gênero. Como defende Foucault (1988), cada cultura
constrói discursos específicos de masculinidade, por meio de
ideologias masculinas pela fala, mídia, música e literatura
popular, e também pela lei.
250
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
5. A VIOLÊNCIA DE GÊNERO COMO
EXPRESSÃO DO PATRIARCADO E DO
MACHISMO
Para abordar a violência torna-se fundamental discorrer
acerca da sua relação com o poder. E é nas palavras de Arendt
(2009, p. 73) a que se recorre analogicamente2: “[...] onde um
domina absolutamente, o outro está ausente. A violência apa
rece onde o poder está em risco, mas, deixada a seu próprio
curso, conduz à desaparição do poder”.
Nesse sentido, Guimarães e Pedrosa (2017) ressaltam que
uma ação violenta está direcionada à destruição ou ao ataque
da subjetividade do outro e surge no momento em que o su
jeito sente que está perdendo seu poder ou se depara com sua
impotência. Nesta linha, a violência funciona como uma in
terposição à subjetividade, uma forma de impor coerções ao
corpo com o objetivo de atingir a subjetividade, a afetividade e
o pensamento daquele que sofre a violência.
Em suas pesquisas, as autoras citam estudos3 que têm de
monstrado o quanto, de fato, os valores culturais machistas e
patriarcais estruturantes estão associados à grave recorrência
de violência contra as mulheres e às sérias desigualdades de
poder e de direitos enfrentados por elas.
Como trazem Narvaz e Koller (2006), ainda que não se
possa reduzir ao patriarcado a explicação de todas as formas
de desigualdades e de opressão do gênero feminino, a violên
2
3
Disse-se analogicamente porque Arendt aborda em sua obra “Sobre a violência” o
poder sob a ótica da política. No entanto, pode-se aplicar em outros enfoques, como
se faz aqui.
CHAUÍ, Marilena. Ética, política e violência. In Ensaios sobre violência. Vitória:
Edufes, 2003.;DINIZ, Gláucia Ribeiro Starling; ANGELIM, Fábio Pereira. Violência
doméstica: porque é tão difícil lidar com ela? Revista de Psicologia da Unesp;
MACHADO, Lia Zanotta. Perspectivas em confronto: relações de gênero ou
patriarcado contemporâneo? Série Antropologia, 2000; SAFFIOTTI, Heleieth. Já se
mete a colher em briga de marido e mulher. São Paulo em Perspectiva. Revista da
Fundação Seade.
251
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
cia contra as mulheres tem ali seu nascedouro, como sustentam
correntes feministas.
Oliveira (2012) se apoia nesta ideia e defende que a origem
da subordinação feminina foi firmada a partir de um determi
nismo biológico, assim como das construções sociais e eco
nômicas do sistema patriarcal, que definiram a mulher como
‘o outro’, construindo, como acentua Beauvoir (1980), uma
realidade feminina sob um ponto de vista masculino.
Segundo Alves e Cavenagui (2000), estamos diante de um
simbolismo de gênero com sua poderosa estereotipia e carga
estigmatizante.
Este simbolismo (enraizado nas estruturas) que homens
e mulheres, no entanto, reproduzem, apresenta a pola
ridade de valores culturais e históricos como se fossem
diferenças naturais (biologicamente determinadas) e as
pessoas do sexo feminino como membros de um gênero
subordinado, na medida em que determinadas qualidades,
bem como o acesso a certos papéis e esferas (da Política,
da Economia e da Justiça, por exemplo) são percebidos
como naturalmente ligados a um sexo biológico e não ao
outro. De tal maneira que a mulher é construída como
(não) sujeito do gênero feminino. (ALVES; VAVENA
GUI, 2000, p.11).
Millett (1975) também ressalta os estereótipos comporta
mentais atribuídos a cada categoria sexual, justificados pela
experiência biológica. Para a autora, tanto o homem quanto a
mulher seguem um código de conduta que determina gestos,
atitudes e papeis sociais determinados.
O temperamento se desenvolve de acordo com certos es
tereótipos característicos de cada categoria sexual (a mas
culina e a feminina), baseados nas necessidades e nos va
lores do grupo dominante e ditados por seus membros em
função do que mais apreciam em si mesmos e do que mais
convém exigir de seus subordinados: a agressividade, a
inteligência, a força e a eficácia, no macho; a passivida
252
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
de, a ignorância, a docilidade, a ‘virtude’ e a inutilidade
na fêmea. Este esquema fica reforçado por um segundo
fator, o papel sexual, que decreta para cada sexo um códi
go de conduta, gestos e atitudes altamente elaborado. No
terreno da atividade, para a mulher é atribuído o serviço
doméstico e o cuidado com a prole, enquanto que o macho
pode ver realizados seus interesses e ambições em todos
os demais campos da produtividade humana. O restrito
papel que se atribui à mulher tende a frear o seu progresso
no nível da experiência biológica. (MILLET, 1975, p.35,
tradução nossa).
Neste ponto, no final da década de 1960, o feminismo co
meça a lançar ideias para desconstruir os mitos criados e des
crever, sob o ponto de vista das mulheres, o mundo que lhes
fora proposto. Segundo Beauvoir (1980), o destino da mulher
não estaria definido por nenhum desses elementos senão pela
construção social:
Ninguém nasce mulher, torna-se mulher. Nenhum destino
biológico, psíquico, econômico define a forma que a fê
mea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da
civilização que elabora esse produto intermediário entre o
macho e o castrado que qualificam de feminino. (BEAU
VOIR, 1980, p. 9).
Neste contexto, a autoridade familiar e doméstica, além de
ser responsável pela fundação do patriarcado, implica em uma
divisão sexual, considerada natural. Mas segundo Machado
(2012), “[...] o objetivo é exatamente o contrário. É desnatura
lizá-lo, mostrando o seu engendramento social e cultural como
um ‘sistema’ ou como uma forma de ‘dominação’”, onde as
diversas formas de discriminação e de violência contra as mu
lheres são manifestação de relações de poder conhecidas pela
expressão violência de gênero, que tem no componente cultu
ral seu grande sustentáculo.
Guimarães e Pedrosa (2017) contam que o conceito de gê
253
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
nero foi proposto por estudiosas feministas americanas como
Stoller e Gayle Rubin, na década de 70, como objeto de es
tudo. A proposta buscava superar o determinismo biológico
relacionado ao uso do termo sexo ou diferenciação sexual
e destacar a construção social das identidades de homens e
mulheres, desconstruindo definições e papéis referentes ao
masculino e ao feminino.
Na perspectiva pós-moderna, os estudos de gênero trouxe
ram uma nova problemática: repensar as categorias de identi
dade de gênero e as associações entre determinismo biológi
co e diferenciação sexual. Silveira e Nardi (2014) elegeram
estudiosas feministas como Joan Scott e Judith Butler para
compreender o gênero de forma complexa, aberto a múltiplas
interpretações, não limitado à lógica do patriarcado.
Segundo Butler (2012, p. 24), gênero foi inicialmente
compreendido como “[...] os significados culturais assumidos
pelo corpo sexuado”, produzindo uma separação entre sexo,
relacionado à biologia, e gênero, definido pela cultura. A au
tora critica a dissociação feita pelos movimentos feministas
entre cultura e sexo, como se a primeira fosse simplesmente
uma inscrição cultural e o segundo, biológico. Defende que
tanto o sexo não pode ser reduzido a uma característica ana
tômica, por ser também uma construção simbólica; como o
gênero não pode ser reduzido a formulações fixas da cultura - “[...] nesse caso, não a biologia, mas a cultura se torna o
destino.” (BUTLER, 2012, p. 26). Já Scott afirmava que o
gênero era o primeiro exercício de poder sobre os corpos.
(SILVEIRA; NARDI, 2014).
Mas como esse exercício de poder não era o único, Silveira
e Nardi (2014) contam que “[...] logo emergiram proposições
teóricas que sustentaram a existência de três grandes marca
dores sociais que atravessam a produção de subjetividade: a
254
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
classe, o gênero e a raça”. Neste sentido, Saffioti (2009), diz
que mais do que papéis sociais que se aprendem nos processos
de socialização, são as identidades sociais, como o gênero, a
raça, a etnia e a classe que vão alimentando a subordinação, a
partir das experiências vividas.
Vale ressaltar que, ao se acolher as expressões de domi
nação-exploração, utilizadas de forma alternada, mas sempre
juntas, como entendia Safiotti (2009), elas não significam pura
submissão, mas estão ligadas a relações de poder na perspec
tiva de Foucault. Para ele, as relações de poder constituem
“[...] o campo de possibilidades dos modos de subjetivação no
interior dos quais se articulam os processos de resistência.”
(SILVEIRA; NARDI, 2014), ou seja, neste campo de possibi
lidades há jogos de verdade que potencializam determinadas
formas do ser humano se constituir como sujeito.
Quando se fala em dominação, vale destacar sua presença
na relação entre família e patriarcado. Narvaz e Koller (2006)
apontam que a associação entre estes dois termos remete à ori
gem do termo ‘família’, consolidado na Roma Antiga, oriundo
do vocábulo latino famulus, que significa «escravo doméstico».
Conforme relata Xavier (1998), a família romana era centrada
no homem, já que o patriarca tinha sob seu poder a mulher, os
f
ilhos, os escravos e os vassalos, além do direito de vida e de
morte sobre todos eles.
Segundo Saffioti (1979), no Brasil a história da institui
ção familiar teve como ponto de partida o modelo patriarcal,
importado pela colonização e adaptado às condições sociais
de país latifundiário e escravagista. Na mesma linha, Chauí
(1985) aponta que apesar da desintegração do patriarcado ru
ral, que ocorreu de forma diferenciada em diversas regiões do
Brasil, a mentalidade patriarcal permaneceu na vida e na polí
tica brasileira e também no meio urbano, como uma forma de
255
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
dominação sobre a condição feminina.
Nesta perspectiva, a posição da mulher, na família e na
sociedade em geral, desde a colonização até hoje, demons
tra que o patriarcado foi uma das matrizes da organização
social brasileira.
No Brasil Colônia, o que se constata é que o homem é o
chefe da casa e da família, é o líder da sociedade conjugal e é
ele quem domina a esposa e os filhos, nos mesmos moldes da
família romana. Dentro deste contexto, apenas o homem da
família possuía direitos e cidadania plena. Na visão de Ruzyk
(2005, p.119), nessa sociedade colonial, “a esposa tem papel
definido nesta estrutura familiar, como de subordinação, papel
este para o qual é criada desde a mais tenra infância”.
Como defende Andrade (2005), o mecanismo de controle
dirigido às mulheres, enquanto operadoras de papéis femini
nos na esfera privada tem sido nuclearmente o controle infor
mal materializado na família (pais, padrastos, maridos, dele
também coparticipando a escola, a religião e a moral) e, pa
radoxalmente, a violência contra a mulher (crianças, jovens e
adultas), dos maus-tratos à violação e o homicídio.
Nas palavras de Oliveira (2012), na lógica patriarcal, exis
tem alguns modelos comportamentais que devem ser compul
soriamente observados: “[...] a virilidade e a honra como mar
cadores da identidade masculina; a docilidade e a submissão
caracterizando a identidade feminina”. Esta ideologia aponta
para uma posição de superioridade dos machos em relação às
fêmeas da espécie humana, segundo o autor, fazendo surgir a
violência com a justificativa do gênero, que legitima a agres
são, a mutilação e, em casos mais extremos, a morte por mari
dos, companheiros ou pais.
Esta ideologia tem representado o modelo dominante da
família brasileira, sendo que o Estado, também como uma
256
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
expressão do patriarcalismo, somente passou a intervir nas
relações privadas (da família) em tempos recentes. Em 1916,
o Código Civil Brasileiro dispunha que a mulher casada só
poderia trabalhar com a autorização do marido. Em 1934,
uma nova constituição assegurou o voto da mulher. O traba
lho feminino foi regulamentado pela Consolidação das Leis
do Trabalho somente em 1941.
Durante a ditadura Vargas, os movimentos feministas fo
ram reprimidos, sendo retomados novamente no início da Se
gunda Guerra Mundial.
Nesta época, nos países desenvolvidos, os homens foram
para o front de batalha e as mulheres tiveram que traba
lhar para sustentar suas famílias. O Estado de Bem-Estar
Social, característico do pós-Segunda Guerra, em 1945,
girava em torno do pleno emprego masculino e propunha
o cuidado feminino do lar. A mulher, beneficiária do su
porte social assegurado pelo trabalho masculino, não dis
punha das mesmas garantias, a não ser enquanto esposa
ou filha, o que evidenciava sua condição de dependente
do marido/pai. Percebida apenas como uma coadjuvante
no sustento da família, não sua mantenedora. (NARVAZ;
KOLLER, 2006).
Somente em 1962 o Código Civil Brasileiro permitiu que
mulheres casadas pudessem trabalhar sem a autorização de
seus maridos e foi com a Constituição Federal de 1988 e com
o Código Civil de 2002, que alguns direitos femininos já in
cipientes foram consolidados. A família não seria mais regida
pelo pátrio poder, ou seja, pelo poder do pai, como na época
feudal, mas pelo poder familiar, que pressupõe a igualdade de
poder entre os membros do casal. Na Constituição, o princípio
da igualdade entre homens e mulheres vem expresso no artigo
5º, que trata dos direitos e garantias fundamentais.
Para Pateman (1993, p. 167), existe um patriarcado mo
derno, contratual, que estrutura a sociedade civil capitalista
257
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
e mantém as premissas do pensamento patriarcal tradicional.
Uma vez mantido o direito natural conjugal dos homens sobre
as mulheres, como se cada homem tivesse o direito natural de
poder sobre a esposa, há um patriarcado moderno. E este pa
triarcado muitas vezes se reflete em violência de gênero, que,
conforme Souza (2007, p. 35):
[...] se apresenta como uma forma mais extensa e se gene
ralizou como uma expressão utilizada para fazer referên
cia aos diversos atos praticados contra as mulheres como
forma de submetê-las a sofrimento físico, sexual e psico
lógico, aí incluídas as diversas formas de ameaças, não só
no âmbito intrafamiliar, mas também abrangendo a sua
participação social em geral, com ênfase para as suas re
lações de trabalho, caracterizando-se principalmente pela
imposição ou pretensão de imposição de uma subordina
ção e controle do gênero masculino sobre o feminino. A
violência de gênero se apresenta, assim, como um ‘gêne
ro’, do qual as demais são espécies.
Na definição do Conselho Nacional de Justiça, violência
de gênero é a “[...] violência sofrida pelo fato de ser mulher,
sem distinção de raça, classe social, religião, idade ou qualquer
outra condição, produto de um sistema social que subordina o
sexo feminino”. (BRASIL, CNJ – CONSELHO NACIONAL
DE JUSTIÇA. FORMAS DE VIOLÊNCIA). Soihet (2005)
vai além e faz referência ao conceito de violência simbólica ao
examinar a violência nas relações de gênero:
Exaltado como expressão de beleza, inspirador do desejo
fonte de prazer, de vida – através da maternidade -, símbolo
da nação republicana – na França pós-revolucionária, como
no Brasil – o corpo feminino é também lugar de violência,
seja a violência física – espancamentos, estupros etc. – tão
bem conhecida, sejam aquelas outras formas de violências
sutis, engenhosas, entre as quais a violência simbólica, que
igualmente, contribui para a manutenção das desigualda
des. (SOIHET, 2005, p. 305).
258
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
No mesmo sentido, Chartier (1995, p. 42) defende que re
conhecer a dimensão da violência doméstica “[...] ajuda a com
preender como a relação de dominação, que é uma relação his
tórica, cultural e linguisticamente construída, é sempre afirmada
como uma diferença de natureza radical, irredutível, universal”.
É, portanto, no seio familiar, que muitas vezes a violên
cia de gênero se apresenta da forma mais cruel e persistente,
sustentada por valores culturais machistas e patriarcais, que
‘justificam’ comportamentos de dominação, poder e grande in
terferência na subjetividade feminina.
6. CONCLUSÃO
Com o objetivo de trazer ideias sobre as bases da vio
lência de gênero, evidentemente sem esgotar o assunto, esse
trabalho apresentou um estudo da influência da cultura pa
triarcal e do machismo na violência contra a mulher, numa
perspectiva teórica.
Ao percorrer um caminho histórico da civilização, verifi
cou-se que, no início das relações sociais, as mulheres eram
consideradas seres sagrados e havia divisão de trabalho entre
homens e mulheres, mas não desigualdades baseadas na força
física. Com a escassez da coleta e a partida para a caça de gran
des animais, a força masculina começou a ganhar evidência,
mas foi com o desenvolvimento da agricultura que iniciou a
supremacia masculina.
As sociedades se tornaram patriarcais e as mulheres e os
mais jovens passaram a ser subordinados ao “poder do pai”.
Com o controle da sexualidade feminina, as mulheres passa
ram a ficar restritas ao domínio privado e aos homens ficou
reservado o domínio público.
No âmbito privado, a mulher passou a alimentar um sistema
259
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
de dependência, controle e violência. Já o homem fortaleceu o
sistema de dominação, com a busca por poder, competitivida
de e violência. Cada vez mais a desigualdade entre homens e
mulheres era sustentada por estereótipos, preconceitos e hie
rarquias de valores.
Após uma incursão feminina no conhecimento, com aces
so às artes, às ciências e à literatura e posteriormente uma
“caça às bruxas” na alta idade média, a mulher voltou ao es
paço privado e passou a transmitir aos filhos os valores pa
triarcais que a subjugavam.
Neste contexto, também foi importante estudar a constru
ção da ideologia do machismo por trás do discurso de domi
nação, a partir de três correntes teóricas: a corrente de domi
nação masculina (crença em desigualdades hierárquicas, que
autorizam a opressão da mulher porque a condição feminina
é inferior), a de dominação patriarcal (exploração econômica
que beneficia o homem branco, rico e adulto) e a de domina
ção versus vitimização (mulheres reproduzindo e reforçando
os papéis de gênero, se colocando em posição de fragilidade).
Pelo estudo, fica evidente a força do machismo por trás
do discurso de dominação, onde os homens controlam os es
paços públicos (educação, trabalho e política, por exemplo)
e às mulheres resta o espaço privado (unidade doméstica).
Ao homem ficam atribuídas as características de força, viri
lidade, posse e autoridade e à mulher: emoção, passividade,
fragilidade e submissão.
Com os homens assumindo papéis dominantes e buscando
serobedecidos, a violência se mostra como a expressão mais
evidente da dominação masculina, como uma afirmação da vi
rilidade e da superioridade do homem diante da mulher. A ação
violenta como ataque ao outro surge como uma reação quando
o sujeito homem sente que está perdendo seu poder ou se de
260
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
para com sua impotência.
Neste contexto, as correntes feministas contestam o de
terminismo biológico e afirmam que a posição da mulher de
pende da construção social, assim como as diversas formas de
violência contra ela são manifestação de relações de poder sus
tentadas pela cultura.
Em síntese, restou demonstrado que a violência de gênero é
expressão do patriarcado e do machismo, visto que os valores
culturais estão associados às desigualdades e a violência instau
ra a ‘naturalidade’ das diferenças, com estereótipos e códigos de
conduta entre homens e mulheres. Fica, portanto, evidente que é
no ambiente familiar que a violência de gênero se apresenta da
forma mais persistente, atingindo a subjetividade feminina.
REFERÊNCIAS
ALVES, José Eustáquio Diniz; CAVENAGUI, Suzana. Dominação masculina e dis
curso sexista. Informe ANDES, ano XI, n. 97, fev. 2000.
ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A soberania patriarcal: o sistema de justiça cri
minal no tratamento da violência sexual contra a mulher. In: Revista Seqüência, n.
50, p. 71-102, jul. 2005. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arqui
vo/2016/02/4f33baebd636cb77eb9a4bdc2036292c.pdf>. Acesso em: 23 maio 2018.
ARENDT, Hanna. Sobre a violência. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
ARRAZOLA, Laura Duque; ROCHA, Irene. Mulher, natureza, cultura: apontamentos
para um debate. In: G. RABAY (Org.). Mulheres e sociedade. João Pessoa: UFPB/
Editora Universitária, 1996.
BADINTER, Elisabeth. Um é o outro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986 apud
TRAVASSOS, Eliane. Mulher, história e psicanálise. Dissertação de Mestrado em
Psicologia. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Federal de San
ta Catarina. 2003. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/hand
le/123456789/85967/190642.pdf;jsessionid=1DF390F664D40C8AFCE89EAEAAA
2D984?sequence=1>. Acesso em: 23 maio 2018.
BEAUVOIR, Simone de. O Segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
BLAY, Eva Alterman. Violência contra a mulher e políticas públicas. In: Revista Es
tudos Avançados. [online]. v,17, n.49, p. 87-98. 2003. Disponível em: <http://dx.doi.
org/10.1590/S0103-40142003000300006>. Acesso em: 23 maio 2018.
BORGES, Clara Maria Roman; LUCCHESI, Guilherme Brenner. O machismo no ban
co dos réus: uma análise feminista crítica da política criminal brasileira de combate à
261
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
violência contra a mulher. In: Revista da Faculdade de Direito – Universidade Federal
do Paraná, Curitiba, v. 60, n. 3, set./dez. 2015. Disponível em: <http://revistas.ufpr.br/
direito/article/view/41788/26948>. Acesso em: 23 maio 2018.
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 4. ed.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2012.
CHARTIER, Roger. Diferenças entre os sexos e dominação simbólica (nota crítica).
Cadernos Pagu: fazendo história das mulheres. Campinas, Núcleo de Estudos de Gêne
ro, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), n.4, 1995.
CHAUÍ, Marilena. Participando do debate sobre mulher e violência. In: CHAUÍ, Ma
rilena; CARDOSO, Ruth; PAOLI, Maria Celia (Org.). Perspectivas antropológicas da
mulher: sobre mulher e violência. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
CNJ. Formas de violência. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/
lei-maria-da-penha/formas-de-violencia>. Acesso em: 23 maio 2018.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro:
Edições Graal, 1988.
GONÇALVES, Andréa Lisly. História & gênero. Belo Horizonte: Autêntica, 2006,
p.48-49 apud GOMES, Gisele Ambrósio. História, mulher e gênero. Disponível
em:
<http://www.ufjf.br/virtu/files/2011/09/HIST%C3%93RIA-MULHER-E-G%
C3%8ANERO.pdf>. Acesso em: 23 maio 2018.
GREGORI, Maria Filomena. Cenas e queixas: um estudo sobre mulheres, relações
violentas e a prática feminista. São Paulo: ANPOCS, 1993.
GUIMARÃES, Maisa Campos; PEDROZA, Regina Lucia Sucupira. Violên
cia contra a mulher: problematizando questões teóricas, filosóficas e jurídi
cas. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi
d=S0102-71822015000200256&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 23 maio 2018.
IZUMINO, WâniaPasinato; SANTOS, Cecília Macdowell. Violência contra as mulhe
res e violência de gênero no Brasil. In: Revista Estudios Interdisciplinários de America
Latina y El Caribe. Israel: Universidade de TelAviv, v. 1, n. 16, 2005. Disponível em:
<http://www.nevusp.org/downloads/down083.pdf>. Acesso em: 23 maio 2018.
MACHADO, Lia Zanotta. Perspectivas em confronto: relações de gênero ou pa
triarcado contemporâneo? UNB, Departamento de Antropologia – DAN (Série
Antropologia) apud OLIVEIRA, Anderson Eduardo Carvalho de. Atendimento
a homens autores de violência contra a mulher: lacunas, desafios e perspectivas.
Dissertação de Mestrado – Universidade Federal da Bahia. 2012. Disponível em:
<https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/7778/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20
Mestrado%20-%20Anderson%20Eduardo%20Carvalho%20de%20Oliveira.pdf>.
Acesso em: 23 maio 2018.
______. Masculinidades e violências: Gênero e mal-estar na sociedade contemporâ
nea. Série Antropológica. Brasília: UNB, 2001.
MILLETT, Kate. Teoria de la política sexual. In: Política sexual. México: DF, 1975.
MINAYO, Maria Cecilia de Souza. Laços perigosos entre machismo e violência. In:
Ciênc. saúde coletiva. v.10, n.1, Rio de Janeiro. jan./mar. 2005. Disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232005000100005>.
262
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
Acesso em: 23 maio 2018.
MURARO, Rose Marie. Introdução. In: KRAEMER, Heinrich; SPRENGE, James. O
martelo das feiticeiras. Rio de Janeiro: BestBolso, 2015.
NARVAZ, Martha Giudice; KOLLER, Sílvia Helena. Famílias e patriarcado: da pres
crição normativa à subversão criativa. In: Psicol. Soc. v.18, n.1. Porto Alegre. jan/
abr. 2006. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0102-71822006000100007>.
Acesso em: 23 maio 2018.
OLIVEIRA, Anderson Eduardo Carvalho de. Atendimento a homens autores de violên
cia contra a mulher: lacunas, desafios e perspectivas. Dissertação de Mestrado – Uni
versidade Federal da Bahia. 2012. Disponível em: <https://repositorio.ufba.br/ri/bits
tream/ri/7778/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20Mestrado%20-%20Anderson%20
Eduardo%20Carvalho%20de%20Oliveira.pdf>. Acesso em23 de maio de 2018.
PATEMAN, Carole. O contrato sexual. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.
PINTO, Céli Regina Jardim. Feminismo, história e poder. In: Rev. Sociol. Polít.
v.18, n. 36. Curitiba. Jun. 2010. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0104
44782010000200003>. Acesso em: 23 maio 2018.
RUZYK, Carlos Eduardo Pianovski. Famílias simultâneas: da unidade codificada à
pluralidade constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.
SAFFIOTI, Heleieth. A mulher na sociedade de classes: mitos e realidade. Rio de Ja
neiro: Rocco, 1979.
______. Ontogênese e filogênese do gênero: ordem patriarcal de gênero e a violência
masculina contra mulheres. Série Estudos/Ciências Sociais/FLASCO-Brasil. 2009.
Disponível em: <http://flacso.redelivre.org.br/files/2015/03/Heleieth_Saffioti.pdf>.
Acesso em: 22 maio 2018.
SILVA, Sérgio Gomes da. Preconceito e discriminação: as bases da violência contra a
mulher. In: Psicologia ciênc. prof. Brasília, v. 30, n.3. set. 2010. Disponível em: <http://
dx.doi.org/10.1590/S1414-98932010000300009>. Acesso em: 23 de maio de 2018.
SILVEIRA, Raquel da Silva; NARDI, Henrique Caetano. Interseccionalidade gênero,
raça e etnia e a lei Maria da Penha. 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/
psoc/v26nspe/03.pdf>. Acesso em: 23 maio 2018.
SOIHET, Rachel. Corpo feminino e formas de violência: discursos e práticas. In:
SWAIN, Tania Navarro; MUNIZ, Diva do Couto Gontijo (Orgs). Mulheres em ação:
práticas discursivas e práticas políticas. Florianópolis: Mulheres; Belo Horizonte: PUC
Minas, 2005.
SOUZA, Eros de; BALDWIN, John; ROSA, Francisco Heitor da. A construção social
dos papéis sexuais femininos. In: Psicol. Reflex. Crit. Porto Alegre, v.13, n. 3. 2000.
Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722000000300016>. Acesso em:
23 maio 2018.
SOUZA, Sérgio Ricardo de. Comentários à lei de combate à violência contra a mulher.
22. ed. Curitiba: Juruá, 2007.
STEARNS, Peter. História das relações de gênero. São Paulo: Contexto, 2007.
TEDESCHI, Losandro Antônio. História das mulheres e as representações do femi
263
REVISTA DA ESMESC, v.25, n.31, p. 239-264 , 2018
nino. Campinas: Curt Nimuendajú, 2008 apud FARIAS, Marcilene Nascimento de. A
história das mulheres e as representações do feminino na história. Estudos Feministas.
Florianópolis. Set./Dez. 2009.
XAVIER, Elodia. Declínio do patriarcado: a família no imaginário feminino. Rio de
Janeiro: Record, Rosa dos Tempos, 1998.
Recebido em: 29/05/2018
Aprovado em: 15/08/2018
Confira a noticia .https://tnonline.uol.com.br/
E assim caminha a humanidade.
Imagem ; Sirte Click Manaus .
Nenhum comentário:
Postar um comentário