domingo, 28 de setembro de 2025

Centrão.

 O Centrão é um grupo informal e pragmático de parlamentares brasileiros, majoritariamente de centro e centro-direita, que se articula para obter poder e recursos em troca de apoio ao governo em exercício, independentemente de sua ideologia. Ele não é um partido político único, mas um bloco formado por diversas siglas que atuam de forma coordenada no Congresso Nacional. 

Características principais:

Pragmatismo e Fisiologismo: O grupo é conhecido por negociar apoio político em troca de cargos, ministérios, verbas e emendas parlamentares. Sua atuação é orientada por interesses próprios e não por uma ideologia partidária consistente.

Poder de barganha: Por reunir uma parcela significativa dos deputados, muitas vezes mais de um terço da Câmara, o Centrão se torna fundamental para a governabilidade de qualquer presidente. Sem seu apoio, a aprovação de projetos e medidas no Congresso se torna difícil.

Composição e liderança: A composição do Centrão varia ao longo do tempo. Partidos como PP, PL, Republicanos, MDB, PSD e União Brasil são frequentemente associados ao grupo. Lideranças influentes dentro desses partidos, como o presidente da Câmara, também são consideradas expoentes do Centrão.

Em fevereiro de 2025, o senador Davi Alcolumbre (União-AP) foi eleito presidente do Congresso, reforçando a influência do grupo no comando do Legislativo. O resultado das eleições municipais de 2024 também fortaleceu o Centrão, que obteve a maioria das vitórias em prefeituras com partidos como PSD, MDB e PL, aumentando seu poder de barganha em negociações com o Executivo. 

 O termo "Centrão" surgiu na Assembleia Constituinte de 1987, quando um grupo de parlamentares se uniu para influenciar os rumos da nova Constituição.

 Em 2014, o grupo foi revigorado sob a articulação do ex-deputado Eduardo Cunha. Desde então, ele se tornou uma força central, influenciando eventos políticos importantes, como o impeachment de Dilma Rousseff.

Parceiro do Executivo: O Centrão manteve alianças estratégicas com governos de diferentes espectros ideológicos, como os de Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (MDB), Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Mecanismos de influência: O grupo se beneficia de mecanismos como o chamado "orçamento secreto", que direciona recursos para os redutos eleitorais dos parlamentares, e da possibilidade de indicar nomes para cargos no governo. 

O papel do Centrão é, portanto, central para a dinâmica do presidencialismo de coalizão brasileiro, mas é alvo de críticas por sua atuação baseada em interesses políticos e econômicos, e não em propostas programáticas. 

Centrão: passado, presente e futuro 

Por Antônio Augusto de Queiroz (*) 

A ideia de escrever sobre a trajetória do Centrão, que nasceu em 

oposição às propostas de parlamentares que depois iriam constituir o 

núcleo duro do PSDB, veio a propósito da adesão desse grupamento 

suprapartidário e de perfil conservador/liberal/fisiológico à candidatura do 

tucano Geraldo Alckmin, uma ironia do destino. O texto está dividido em 

três tópicos: um sobre o passado, que conta como surgiu e atuava o Centrão 

na Constituinte e no governo Sarney. O segundo historiando o 

comportamento do Centrão nos governos, especialmente de FHC e do PT. 

E o terceiro tenta antecipar as condicionantes do Centrão na próxima 

legislatura, independentemente de quem seja o presidente eleito. 

Surgimento e passado do Centrão 

O Centrão nasceu na Constituinte por motivações ideológicas e teve 

como mentor intelectual o então senador do PDS de Mato Grosso, Roberto 

Campos, mas as condições para sua constituição ou organização se deram 

pela resistência dos conservadores ao rumo que estava tomando o arranjo 

político que resultou na Nova República, com a aliança entre PMDB e 

parcela dissidente do PDS (organizados na Frente Liberal, que deu origem, 

em 1985, ao PFL) para eleger Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. 

Na Nova República, durante o período Constituinte, logo ficou 

evidente para os conservadores1 que um núcleo pensante e de centro

esquerda do PMDB – que depois veio a criar o PSDB – iria a liderar o 

processo de elaboração da nova Constituição, tanto na definição das regras 

decisórias quanto na indicação dos relatores das duas primeiras fases de 

discussão da Carta Magna. E outra parcela do partido, de centro, assumiria 

a relatoria-geral, a presidência e a vice-presidência da Constituinte, como 

de fato aconteceu. 

A responsabilidade pela definição do processo de elaboração e das 

regras decisórias da Constituinte foi do então senador Fernando Henrique 

Cardoso, que relatou o projeto de resolução que resultou no regimento 

1Distribuídos em vários partidos: PMDB, PFL,PDS, PTB, PL e PDC. 

interno, a principal motivação da rebelião que levou à criação do Centrão. 

No regimento, FHC ignorou o projeto prévio de Constituição, que Sarney 

havia solicitado a uma comissão de juristas, e começou do zero, propondo 

uma metodologia de elaboração da Constituição em diversas fases, 

iniciando por 24 subcomissões, cujo trabalho seria articulado em oito 

comissões, cada uma correspondente a um capítulo da futura Constituição, 

passando por uma comissão de sistematização até a decisão final do 

plenário. 

A designação dos relatores das subcomissões e das comissões 

temáticas, por sua vez, coube ao então líder do PMDB na Constituinte, o 

senador Mário Covas, que indicou parlamentares com visão social e 

progressista para as relatorias, tanto para as subcomissões quanto para as 

comissões temáticas, embora os relatores destas últimas fossem mais 

moderados. 

Já para a presidência e a relatoria-geral foram eleitos, 

respectivamente, os deputados Ulysses Guimaraes (PMDB/SP) e Bernardo 

Cabral (PMDB/AM), ambos de perfil de centro. Como vice-presidente ficou 

o então presidente do Senado, senador Mauro Benevides (PMDB/CE), 

também de centro. 

O debate nas subcomissões e comissões foram intensos e revelaram 

as disputas entre progressistas e conservadores. Nesse embate, como as 

relatorias estavam em mãos de parlamentares progressistas, estes levavam 

vantagem e foram poucos os casos em que os conservadores derrotaram 

ou modificaram os relatórios, o que foi criando ambiente para a união dos 

conservadores nas fases finais: comissão de sistematização e plenário. 

Contrariados com os textos saídos das comissões e organizados pelo 

relator da comissão de sistematização, os conservadores resolveram se 

organizar no Centrão para modificar o regimento interno com o objetivo de 

mudar substancialmente a proposta constitucional. O regimento vedava a 

apresentação de emendas abrangentes, envolvendo mais de um 

dispositivo. 

O primeiro ato desse grupamento informal foi um manifesto, lido em 

plenário pelo deputado Daso Coimbra (PMDB/RJ), defendendo mudança no 

regimento interno. O segundo foi um abaixo assinado pela mudança 

regimental subscrito por 319 constituintes.  

Ainda que sem um caráter orgânico, era possível identificar os porta

vozes e ‘quatro interesses que se organizaram em torno do Centrão e seus 

principais interlocutores: o primeiro interesse era liberal, representado por 

Luís Eduardo Magalhães (PFL/BA), Expedito Machado (PMDB/CE) e Luis 

Roberto Ponte (PMDB/RS); o segundo era conservador em relação aos 

valores, liderado pelo evangélico Daso Coimbra (PDMB/RJ), por Amaral 

Neto (PDS/RJ) e Bonifácio de Andrada (PDS/MG); o terceiro era ruralista, 

representado por Roberto Cardoso Alves (PMDB/SP) e Ricardo Fiúza 

(PFL/PE); e o quarto interesse era  governista, representado por José 

Lourenço (PFL/BA), Carlos Santana (PMDB/BA) e Gastone Righi (PTB/SP).   

Entre os temas que os liberais gostariam de rever estavam 

basicamente os direitos trabalhistas, os monopólios das estatais na 

exploração de atividade econômica em setores estratégicos da economia e 

o conceito de empresa brasileira de capital nacional. No caso dos ruralistas, 

o objetivo era evitar a reforma agrária, mexer nos direitos indígenas e 

eliminar os avanços previstos no capítulo do meio ambiente. Os 

conservadores queriam modificar o título dos direitos e garantias 

individuais e o Capítulo da Comunicação Social, considerados muito 

permissivos e até nocivos à preservação dos valores das famílias. E para os 

governistas, além do Capítulo da seguridade social, que aumentava muito 

as despesas governamentais, o foco central era o retorno do 

presidencialismo, como sistema de governo, além de evitar a redução de 

seis para quatro anos do mandato do então presidente Sarney. 

Frente a um pedido subscrito por mais de 300 constituintes, que 

representava a maioria absoluta do colegiado, o presidente da Constituinte, 

Ulysses Guimarães, não teve outra alternativa a não ser acatá-lo, 

designando o vice-presidente da Constituinte, senador Mauro Benevides, 

para elaborar a mudança do regimento, que trouxe como principais 

novidades a emenda aglutinava e o DVS, até hoje praticados no Congresso. 

O Destaque para Votação em Separado (DVS) permitia, via abaixo 

assinado, excluir artigos e até capítulos da Constituição da votação global 

do texto base para que fossem submetidos a uma votação específica, 

ficando fora da Constituição o texto destacado se não alcançasse a maioria 

absoluta dos votos, o que seria impossível sem o apoio do Centrão. A 

emenda aglutinativa, por sua vez, permitia a junção de várias emendas, 

desde que subscritas por líderes, para formar um novo texto, e muitas 

foram feitas apenas com o propósito de prejudicar emendas contrárias ao 

interesse do Centrão, já que as emendas que fossem objeto de fusão ou 

aglutinação seriam consideradas prejudicadas e não poderiam ser 

destacadas para votação. 

Vencida a batalha da mudança regimental, o Centrão percebeu que 

não teria condições de elaborar todas as emendas ao texto constitucional 

dentro do prazo fixado e, diante da impossibilidade de sua ampliação, 

cometeu seu primeiro pecado, fraudando o protocolo para a entrega das 

emendas. A pedido de Ricardo Fiuza e de Bonifácio de Andrada, o então 

secretário-geral da Mesa, Paulo Afonso, orientou a funcionária da Comissão 

de Constituição e Justiça, que recebia as emendas, que saltasse, 

alternadamente, a numeração das emendas recebidas, para que os espaços 

vazios pudessem ser preenchidos com as emendas do Centrão no dia 

seguinte, conforme relato do próprio Paulo Afonso2. 

Com a mudança regimental, que passou a dar preferência aos textos 

(emendas e substitutivos) do Centrão – e considerando o caráter 

excessivamente liberal, do ponto de vista econômico, atrasado, de ponto 

de vista social e da reforma agrária, e conservador, do ponto de vista dos 

valores –   impõe-se a necessidade de negociação mais amplas, que foi 

quando consolidou-se a ideia do colégio de líderes, instância encarregada 

de buscar o consenso entre as diversas forças políticas em tornos dos temas 

a serem votados, sob pena de impasse. É nesse momento que surge o MUP

Movimento Unidade Progressista, o embrião do PSDB. 

Passado – a relação do centro com os diversos governos 

A estratégia do Centrão – na relação com o governo Sarney – teve 

êxito parcial, especialmente em relação à questão agrária, à duração do 

mandato de Sarney, que ficou em cinco anos e não em quatro anos como 

queriam os futuros tucanos, e também em relação ao sistema de governo, 

tendo conseguido derrotar o parlamentarismo e manter o 

presidencialismo. 

A contrapartida do apoio ao governo Sarney foi generosa e 

individual, sob a forma de perdão de dívida junto a instituições oficiais, de 

liberação de recursos do orçamento para as bases eleitorais dos 

constituintes, e principalmente mediante a concessão aos aliados – ou a 

2Paulo Afonso Martins: O Congresso em meio século. Coleção memória do servidor, pag. 173 

alguém indicado por eles, inclusive parentes – de canais de rádio e de 

televisão. 

               Os três principais operadores no governo para pagar a fatura do 

Centrão foram o então ministro das Comunicações, Antônio Carlos 

Magalhães, o ministro da Habitação, Prisco Viana, e o ministro da Indústria 

e Comércio, deputado Roberto Cardoso Alves, o Robertão, que ficou 

conhecido por colocar em prática e assumir publicamente a célebre frase 

da oração de São Francisco de Assis “é dando que se recebe”. 

                No governo Collor, apesar da presença dos integrantes do Centrão 

na base e nos postos-chave na área social, o ambiente foi muito 

tumultuado. Em primeiro lugar porque governou um ano com o Congresso 

que dava sustentação ao governo Sarney, que foi muito atacado em sua 

campanha. E segundo pela postura messiânica do governo, que 

rapidamente foi perdendo legitimidade perante os principais atores 

políticos do País, inclusive no setor empresarial. Em terceiro pela rejeição 

popular ao confisco da poupança e à prática de corrupção por aliados do 

presidente, que levaram ao processo de impeachment.   

Apesar do curto e tumultuado período do governo Collor, o Centrão 

teve uma colheita generosa, especialmente no período do processo de 

impeachment. O principal operador do governo Collor para atender aos 

pleitos do Centrão era o ministro da Ação Social, Ricardo Fiuza, que assumiu 

a pasta em janeiro de 1992, no momento mais crítico do governo. 

                Durante o governo Itamar, embora fizesse parte do governo e de 

sua base de apoio, o Centrão tinha como prioridade a revisão constitucional 

e estava preocupado com a defesa de alguns de seus membros então sob 

investigação na CPI dos Anões do Orçamento. A revisão se inviabilizou, de 

um lado, pelas disputas internas entre PMDB e PFL pela relatoria, e, de 

outro, pelo desinteresse do presidente da República na revisão, pelo 

funcionamento e repercussão da CPI dos Anões do Orçamento e pela 

contundente oposição da esquerda. 

                Existe uma tradição no Congresso Nacional, segundo a qual 

sempre que Câmara e Senado se reúnem conjuntamente, a sessão tem a 

presidência de uma casa e a relatoria é da outra, e quando o presidente é 

do maior partido, a relatoria cabe ao segundo maior partido ou vice-versa. 

A disputa pela relatoria da revisão constitucional se deu porque o 

PMDB, que já tinha a presidência do Congresso Revisional, na pessoa do 

presidente do Senado, senador Humberto Lucena (PMDB/PB), também 

reivindicava a relatoria para um deputado do partido, sob o fundamento de 

que o presidente da revisão não estava vinculado a partido, já que 

constitucionalmente a Presidência da Revisão era do presidente do Senado, 

independentemente de que partido fosse. Já o PFL, sob o fundamento de 

que um senador do PMDB presidia a revisão, reivindicava o posto de relator 

para o deputado Luís Eduardo Magalhães, com o objetivo de promover as 

mudanças defendidas pelo Centrão. No final ganhou a disputa o PMDB, que 

designou o então deputado Nelson Jobim, que produziu 81 pareceres 

incorporando todas as propostas do Centrão. 

Nos governos FHC, o apoio do Centrão foi determinante na 

aprovação das reformas da ordem econômica, considerando que propostas 

idênticas já tinham sido subscritas pelo Centrão para a fracassada revisão 

Constitucional e incorporadas nos pareceres do então relator, Nelson 

Jobim. 

A fatura do Centrão nos governos FHC foi cobrada em quatro 

votações relevantes: a PEC da reeleição, a PEC da reforma administrativa, a 

PEC da reforma da Previdência, que foram concluídas; e também no PL da 

flexibilização da CLT, que não chegou a ser concluída, tendo sido retirada 

do Senado pelo presidente Lula. 

A melhor colheita nesse período, sem dúvida nenhuma, foi na 

votação da reeleição, na qual os membros do Centrão ganharam 

triplamente: do governo federal, dos governos estaduais e dos prefeitos, 

todos interessados em dois mandatos consecutivos. 

Tal como nos governos anteriores, o Centrão também assumiu 

postos-chave no governo FHC, especialmente nas áreas social e de 

infraestrutura. Entretanto, FHC, diferentemente do governo Sarney, não 

fazia concessões individuais, exceto na votação da emenda da reeleição, no 

qual consta que aliados receberam financiamentos individualmente. 

O método preferido de FHC para fazer concessões era o coletivo e 

sempre mediante medida provisória ou projeto de lei, para retirar do 

governo dele a acusação de fisiologismo, além de dividir responsabilidades 

com o Congresso. Foi nesse período que cresceram no Congresso as 

chamadas bancadas informais, porque elas se organizavam para receber os 

favores do governo, que eram dados por segmento: o financeiro, o ruralista, 

etc. 

Os três recursos de poder para manter a base unida, de Sarney a 

FHC, sempre foram: cargos, recursos de orçamento (por emenda ou 

convênio) e negociação do conteúdo da política pública. 

Nos governos do PT, com exceção do PFL, o Centrão manteve-se 

unido e apoiando o governo, embora cobrando caro por esse apoio, 

inclusive no período que antecedeu à adesão do PMDB ao governo. As 

concessões, até as negociações para ingresso do PMDB do governo, eram 

duas das três modalidades praticadas nos governos anteriores: cargos e 

recursos do orçamento. 

Quando o PMDB veio para a base do governo Lula, sem o qual o 

governo não teria votos suficientes para aprovar as reformas tributária e da 

Previdência, os partidos do Centrão tiveram que ceder alguns ministérios 

para o novo aliado, já que o PT não estava disposto a abrir mão de 

ministérios3. A fatura para isto, entretanto, foi alta. Além de exigir 

compensações pecuniárias do PT, passou a cobrar do governo cargos em 

estatais com capacidade de arrecadar – como Petrobras e Eletrobras, etc – 

dando origem, respectivamente, ao mensalão e ao petrolão. 

Durante os governos do PT houve dois momentos bem distintos: o 

governo Lula e o governo Dilma. No governo Lula, exceto no período de 

namoro do governo com o PMDB, a relação política era boa.  No governo 

Dilma, embora o Centrão continuasse ocupando postos-chave no governo, 

a relação política nunca foi boa. 

O Centrão, entretanto, nunca confiou muito no PT, especialmente no 

governo Dilma, tanto que aprovaram a Emenda Constitucional 86/2015, 

para tornar impositivo o pagamento das emendas parlamentares, temendo 

que a presidente pudesse priorizar somente a liberação de emendas da 

esquerda. Para tanto utilizaram uma PEC apresentada em 2006 pelo 

senador Antônio Carlos Magalhães (PFL/BA). 

No governo Dilma, o Centrão nunca teve grandes colheitas, como 

ocorreu nos governos Collor, FHC e Lula. A relação sempre foi conflituosa, 

tanto que escalaram seu principal líder, Eduardo Cunha, para concorrer à 

3Ainda assim, em 2004, o PT teve que abrir mão do Ministério da Previdência e, em 2005, do Ministério 

da Saúde para o PMDB, e Ricardo Berzoini deu lugar a Amir Lando e Humberto Costa a Saraiva Felipe. 

Presidência da Câmara. Nesse posto estratégico, o Centrão teria meios de 

pressionar o governo a atender seus pleitos, sob pena de oposição 

ostensiva do presidente da Casa. 

Eduardo Cunha foi eleito presidente da Câmara e, mesmo assim, a 

relação não melhorou. O desfecho final da guerra entre Cunha e Dilma foi 

precipitada pela recusa do PT em votar a favor de Cunha no Conselho de 

Ética. O presidente da Câmara, em represália à negação do PT de votar a 

favor do arquivamento de um processo que tramitava contra ele no 

Conselho de Ética da Câmara, abriu o processo de impeachment da 

presidente Dilma.   

Presente 

Com a cassação de Eduardo Cunha houve uma cisão no grupo a 

ponto de não terem conseguido eleger o seu candidato à sucessão, o 

deputado Rogério Rosso (PSD/DF). O eleito para o mandato tampão foi o 

deputado Rodrigo Maia (DEM/RJ), inclusive com votos dos partidos de 

esquerda no segundo turno, porque queriam derrotar o Centrão. 

O Centrão escalou novas lideranças, como o deputado Artur Lira 

(PP/AL), e logo se rearticulou, inclusive atraindo o apoio do presidente da 

Câmara, Rodrigo Maia, que precisava do grupo para renovar seu mandato, 

já que a esquerda, com exceção de parcela do PCdoB, não estava disposta 

a reeleger um liberal para a Presidência da Casa, como fizeram no segundo 

turno da eleição para o mandato tampão de Maia. 

Desde sua criação na Constituinte, nunca o Centrão tinha sido tão 

prestigiado quanto no governo de Michel Temer. Em primeiro lugar, em 

agradecimento aos votos pelo impeachment da ex-presidente Dilma. Em 

segundo pela rejeição de duas denúncias contra o presidente. E terceiro, 

pelo voto em favor de reformas impopulares, como o congelamento do 

gasto público, a reforma trabalhista e a privatização de estatais, inclusive a 

abertura do pré-sal ao capital estrangeiro. 

Mesmo num ambiente de crise fiscal aguda, a colheita do Centrão foi 

generosa, especialmente sob a forma de perdão de dívidas, de renúncias e 

anistias fiscais. A bancada ruralista, poucas vezes, teve tantos benefícios 

quanto no atual governo. 

Futuro 

O Centrão marcha para a próxima legislatura profundamente viciado 

em favores governamentais e já fez aliança com o candidato do PSDB à 

Presidência em troca de cargos no próximo mandato, inclusive a 

presidência da Câmara. 

Antes do resultado da eleição, já é possível antecipar que o Centrão 

estará na base de apoio do próximo presidente, mesmo que o eleito não 

seja Geraldo Alckmin. 

Entretanto, mudanças de paradigma de natureza econômico-fiscal, 

de um lado, e, de natureza ético-moral, de outro, não deixarão muita 

margem para concessões generosas ao Centrão na próxima gestão 

presidencial. 

A primeira mudança de paradigma – de natureza econômico/fiscal – 

se expressa, na dimensão econômico-liberal, pela recusa do mercado a 

qualquer tipo de intervenção governamental em seus negócios, inclusive 

via regulação, e na dimensão fiscal, pela rejeição à ampliação do gasto 

público, que não seja sustentável. 

O próximo governo, seja de que matiz ideológica for, não poderá ser 

perdulário fiscalmente, até pela inexistência de margem para tanto, 

devendo fazer o que é necessário, inclusive fortes ajustes com corte de 

gastos, e não o que lhe seja conveniente politicamente. 

Mudanças recentes na legislação, como a Lei das Estatais e a extinção 

de um grande número de cargos em comissão de livre provimento, 

substituídos por funções comissionadas privativas de servidores de 

carreira, tornam um pouco mais difícil a barganha por cargos públicos no 

Executivo e nas empresas estatais, embora não as impossibilitem 

totalmente. 

A segunda mudança de paradigma – de natureza ético-moral – se 

expressa, de um lado pela intolerância da sociedade a qualquer desvio de 

conduta na relação dos agentes públicos com o setor privado, e, de outro, 

pela ação dos órgãos de fiscalização e controle, que dispõem de leis4 e 

amplos meios para identificar rapidamente a prática de corrupção e crimes 

4 Leis: de acesso à informação, de transparência, atualização da lei de lavagem de dinheiro, de 

responsabilização da pessoa jurídica, de combate ao crime organizado e deleção premiada, de votação 

aberta na cassação de mandatos, etc. 

como formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, advocacia 

administrativa, tráfico de influência, dentre outros. 

A tendência para a próxima legislatura, pela mudança de paradigma, 

é que o Centrão não encontre um ambiente dócil para continuar recebendo 

benefícios governamentais em troca de votos. É muito provável que se 

frustrem ou se tentarem continuar suas práticas anteriores sejam contidos: 

ou pela falta de recursos ou pela responsabilização por prática de desvios 

éticos-morais. E ainda poderão ser forçados a promover uma ampla 

reforma política, inclusive com o fim do voto obrigatório e a permissão da 

candidatura avulsa, sob pena de completa desmoralização da 

representação parlamentar. 

No entanto, a continuar a dependência do Executivo de negociar 

pontualmente e a cada votação a adesão de políticos sem qualquer 

compromisso programático às suas propostas, tende a ser preservada a 

força intrínseca de uma coalização de centro direita, orientada pelo “toma 

lá-dá cá” que tem caracterizado o Centrão em toda a sua existência. 

(*) 

jornalista, consultor, analista político e diretor de 

Documentação do Diap. Acompanha o Congresso há mais de 30 anos.

Confira a reportagem no UOL.                             .https://noticias.uol.com.br/colunas/carla-araujo/2025/09/28/caciques-do-centrao-jogam-xadrez-pecas-sao-tarcisio-michelle-e-ratinho-jr.htm

E assim caminha a humanidade. 

Imagem ; Site Gazeta do Povo. 



 




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