quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Lobby .



O Poder Legislativo federal no Brasil é exercido pelo Congresso Nacional, que é um órgão bicameral, ou seja, composto por duas casas legislativas: a Câmara dos Deputados e o Senado Federal. 

Estrutura do Congresso Nacional

Câmara dos Deputados:

Representa a população de cada estado e do Distrito Federal.

É composta por 513 deputados federais.

Os deputados são eleitos pelo sistema proporcional para um mandato de quatro anos.

Senado Federal:

Representa os estados e o Distrito Federal, garantindo o equilíbrio da federação.

É composto por 81 senadores, sendo três para cada uma das 27 unidades federativas.

Os senadores são eleitos pelo sistema majoritário para um mandato de oito anos. 

Principais funções

As funções do Poder Legislativo federal podem ser divididas em duas categorias principais: 

Função legislativa:

Elaborar, debater e aprovar leis que regulam diversos aspectos da vida em sociedade.

Essas leis podem ser emendas constitucionais, leis complementares, leis ordinárias, entre outras.

Função fiscalizadora:

Fiscalizar o Poder Executivo, ou seja, as ações do presidente da República e de sua administração.

O Congresso Nacional é responsável por julgar as contas do presidente e supervisionar a execução orçamentária da União.

O Tribunal de Contas da União (TCU) atua como órgão auxiliar nesse processo. 

Processo legislativo

O sistema bicameral exige que a maioria das propostas de lei seja discutida e aprovada pelas duas casas. Se uma proposta é iniciada na Câmara dos Deputados, ela precisa ser revisada e aprovada pelo Senado, e vice-versa, até que seja aprovada e encaminhada para sanção do presidente. 

Diferenças de representação

A Câmara dos Deputados e o Senado Federal possuem papéis diferentes no processo legislativo, refletindo as necessidades de diferentes grupos da sociedade: 

A Câmara prioriza a representação do povo, discutindo temas de grande importância e impacto para a população.

O Senado garante a representação dos estados, assegurando que as unidades federativas tenham voz, independentemente de seu tamanho ou população. Segundo o meu livro sobre a Cosntituição do autor Guilherme Pena de Moraes.

Confira abaixo o artigo do autor João Guilherme Jansen de Araujo

A PROMOÇÃO DE LOBBYING NA CONSOLIDAÇÃO DO AGRONEGÓCIO NO 

BRASIL 

João Guilherme Jansen de Araujo1 

Resumo 

A prática de lobbying promovida pelo agronegócio no Brasil é uma realidade que ultrapassa a 

barreira da influência indireta sobre o Estado e passa a agir de dentro das camadas do mesmo. 

Grandes proprietários de terra se elegem como deputados e senadores, integram a Frente 

Parlamentar da Agropecuária (bancada ruralista), criam instituições como a Confederação 

Nacional da Agropecuária a fim de garantir o sucesso do agronegócio, em detrimento da 

agricultura camponesa que é a grande produtora de alimentos para o mercado interno. Como 

resultado, as leis, as políticas públicas e o crédito disponibilizado para o setor primário 

(agroestratégias) em sua grande maioria beneficiam o setor do agronegócio aumentando a 

produção de commodities reduzindo os alimentos disponíveis e gerando alta no preço dos 

mesmos. 

Palavras-chave: lobbying, agronegócio, bancada ruralista, agroestratégias. 

Introdução 

A ex-ministra da agricultura e atual senadora Kátia Abreu, em entrevista a Mônica 

Bergamo, para a Folha de São Paulo, em uma de suas primeiras conversas com a impressa 

sendo ministra, afirma que no Brasil não existem latifúndios, portanto não haveria necessidade 

de reforma agrária profunda, ainda que haja evidencias da improdutividade de quase 30% das 

terras em grandes propriedades rurais (COSTA, 2012). Esse é um exemplo prático da influência 

do agronegócio nas esferas governamentais, principalmente por se tratar da fala de alguém, que 

além de senadora é presidente da CNA, ex-ministra da agricultura e vem buscando garantir os 

interesses do agronegócio: defesa de transgênicos, luta contra a PEC do trabalho escravo, etc.  

Existem algumas estratégias políticas que garantem os interesses do agronegócio, entre elas 

estão: o lobbying, a formação de uma bancada ruralista, a contratação de pessoas com ligações 

importantes no governo por empresas do ramo agroindustrial, o financiamento de campanhas 

eleitorais, etc.  

O objetivo desse artigo é mostrar como o agronegócio é privilegiado através de 

agroestratégias, dentre elas: lobby, financiamento rural e campanhas destinadas ao público 

1Geografia UFPR – guilherme.jansen@outlook.com 

VIII Simpósio Internacional de Geografia Agrária e IX Simpósio Nacional de Geografia Agrária 

GT V – Políticas públicas e perspectiva de desenvolvimento para o campo 

ISSN: 1980-4555 

geral, como a campanha Sou Agro (paradigmática no sentido de mudar a opinião pública sobre 

o papel do agronegócio na sociedade), fazendo um comparativo com quem, produz nossos 

alimentos. Para isso foram levantadas informações na mídia, documentos do BNDES, artigos 

científicos, relatórios de entidades como ETC Group, etc.  Deste modo primeiro são 

apresentadas informações sobre a pratica de lobby, formação da bancada ruralista, uma análise 

da campanha “Sou agro”, ressaltando as agroestratégias e a necessidade do aumento das áreas 

agricultáveis, em seguida são apresentados dados sobre os montantes destinados aos 

agronegócios comparando com a quantidade destinada a agricultura camponesa e por fim, uma 

análise que identifica quem nos alimenta em realidade. 

1. A Bancada ruralista 

Em primeiro lugar, para situar o debate é importante entender uma definição atribuída ao termo 

lobbying, no livro “Lobby: O que é. Como se faz. Ética e transparência na representação junto 

a governos”, Said Farhat (2007, p 54), jornalista que foi secretário de comunicação social 

durante o governo de João Figueiredo diz:    

Toda atividade organizada, exercida dentro da lei e da ética, por um grupo de interesses 

definidos e legítimos, com o objetivo de ser ouvido pelo poder público para informá-lo 

e dele obter determinadas medidas, decisões, atitudes.  

A origem do termo lobbying remete à prática de esperar os governantes nas entradas 

(lobbys) de seus gabinetes com informações consideradas importantes ou privilegiadas a 

respeito de determinado tema sobre o qual se estivesse legislando ou que fosse do interesse de 

um determinado grupo.  

Partindo para as questões do campo, no artigo “Reciprocidade e Análise das Políticas 

Públicas Rurais no Brasil”, Eric Sabourin (2012) afirma que:  

É natural que o Brasil, país-continente de agricultura tão diversificada, não disponha de 

uma única política agrícola; porém a tendência que prevaleceu depois da 

redemocratização consiste em satisfazer a cada setor de acordo com sua capacidade de 

reivindicação. Em decorrência, privilegiou-se o apoio à agricultura patronal, que dispõe 

de muito mais força no congresso nacional e nos governos dos principais estados. 

VIII Simpósio Internacional de Geografia Agrária e IX Simpósio Nacional de Geografia Agrária 

GT V – Políticas públicas e perspectiva de desenvolvimento para o campo 

ISSN: 1980-4555 

No Brasil, no tocante ao agronegócio, o conceito de lobbying ultrapassa essa barreira de 

uma simples influência indireta sobre a forma como se legisla e representantes do agronegócio 

assumem o papel de legislador garantindo que se governe para seu grupo de interesse.  

Assim se inicia o processo de formação da bancada ruralista2, formalmente chamada de 

FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária) e outras organizações que buscam garantir que a 

agenda do agronegócio seja cumprida, como a União Democrática Ruralista (UDR) e a 

Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).  

Esse processo se inicia com o fim da ditadura e a reestruturação da democracia, 

momento em que se deu um acirramento da questão social no campo e entra na ordem do dia, 

durante a assembleia constituinte de 1988, a discussão sobre o direito à propriedade privada 

rural e assim informalmente surge a FPA garantindo esse direito.  

Nos anos que se seguiram, apesar da informalidade, a bancada continuava agindo, 

defendendo posições benéficas para o agronegócio e, portanto, em detrimento ou ampliando a 

subordinação da agricultura camponesa. Em 1995, foi fundada a Frente Parlamentar da 

Agricultura, que em 2008 viria a se tornar Frente Parlamentar da Agropecuária.  

Atualmente, de acordo com o site oficial, a FPA conta com mais de 200 parlamentares, 

sendo considerada o grupo de influência mais bem sucedido do estado brasileiro e vem 

cumprindo seu papel na defesa do desenvolvimento do agronegócio como saída viável para o 

crescimento do país e para o problema da fome, não só no Brasil, também internacionalmente, 

englobando discussões como a potencialidade do Brasil a ser celeiro do mundo. No entanto, os 

defensores do agronegócio acreditam que seja necessário uma expansão das terras passíveis de 

exploração rural e um avanço tecnológico impulsionado pelo crédito rural. 

Alfredo Wagner Berno de Almeida, traz um panorama importante sobre o que ele 

denomina de agroestratégias, em síntese seriam uma série de medidas do agronegócio dentro 

dos meandros de poder “com o fim de expandir seu domínio sobre amplas extensões de terras 

no Brasil” (ALMEIDA, 2009). 

A partir disso identifica-se que nos últimos anos várias pesquisas indicam para uma 

solução aparentemente sustentável através do agronegócio e nesse sentido a necessidade de 

2Para uma melhor elucidação do tema ler: “O PRONAF na agricultura: sua criação, distribuição 

e principais resultados” de Alana Miguel Serafini Fernandes (2013) ou “A questão agrária no 

Brasil e a bancada ruralista no congresso nacional”, de Sandra Helena Gonçalves Costa(2012). 

VIII Simpósio Internacional de Geografia Agrária e IX Simpósio Nacional de Geografia Agrária 

GT V – Políticas públicas e perspectiva de desenvolvimento para o campo 

ISSN: 1980-4555 

políticas que atendam suas reivindicações, de forma concisa: mais terras, menos impostos, e 

financiamento para novos maquinários e fomento de agroindústrias.  

No que tange o interesse da FPA em ampliar as fronteiras agrícolas, entra a questão da 

retirada de entraves jurídico-formais e político-admistrativos que criam áreas de preservação 

ambiental e reserve terras de comunidades tradicionais (ALMEIDA, 2009) como quilombolas, 

faxinalenses e indígenas, portanto ameaçando as demarcações de terra já concluídas, impedindo 

o reconhecimento de novas demarcações.  

Outro fator que entrou na pauta do aumento de terras disponíveis foi o novo Código 

Florestal. O Código que foi especialmente moldado por essa bancada ruralista para atender seus 

interesses, permite por exemplo, o uso de uma quantidade cada vez maior das áreas de 

preservação permanente (APP); diminuição das áreas a serem preservadas dentro das 

propriedades rurais já existentes, por exemplo: a mata ciliar de rios, nascentes e córregos 

(ALMEIDA, 2009). 

Essa necessidade do aumento da quantidade de terras disponíveis está ligada 

diretamente à produção de commodities. O Brasil tem se destacado, ano a ano como produtor 

de grãos, carne in natura e produtos sucroalcooleiros. Entre os motivos determinantes do 

aumento dessas produções está a sintonia do governo brasileiro e grupos como a CNA, com as 

políticas estabelecidas internacionalmente por organizações como o Fundo Monetário 

Internacional e o Banco Mundial (BM), dentre elas a expansão das áreas produtivas sob o 

preceito de combater a fome. Mesmo quando mundialmente está claro que uma das causas 

importantes do aumento do preço dos alimentos está diretamente ligado à diminuição das áreas 

destinadas a de comida. 

2. A mudança da representação do agronegócio frente à sociedade: a campanha “Sou 

agro” 

O agronegócio movimenta incontestável valor econômico e forças políticas na 

sociedade porém, sob o estigma de ser a razão principal da degradação do meio ambiente e da 

diminuição das florestas nativas. Nesse contexto, surge o movimento “Sou agro”, analisado por 

Regina Bruno, no artigo intitulado “Movimento Sou Agro: marketing, habitus e estratégias de 

poder do agronegócio” (2012). A argumentação que justifica a necessidade da ação 

desenvolvida é que o estereótipo de destruição natural em massa é causado por falta de 

VIII Simpósio Internacional de Geografia Agrária e IX Simpósio Nacional de Geografia Agrária 

GT V – Políticas públicas e perspectiva de desenvolvimento para o campo 

ISSN: 1980-4555 

informações a respeito do movimento agroindustrial, ou seja, as camadas urbanas da sociedade 

teriam limitado conhecimento de causa dos setores empresariais rurais, necessitando então 

através de campanhas midiáticas de grande alcance das massas que se fomente a imagem 

positiva do agronegócio.  

O Brasil pode perfeitamente ser potência dos alimentos, da energia limpa e dos produtos 

advindos da combinação da ciência com a megabiodiversidade. Contar a realidade do 

agro, mostrando os benefícios sociais, econômicos e ambientais que o setor gera para a 

toda sociedade é um processo fundamental para pautar o futuro do Brasil com base no 

desenvolvimento sustentável 3 

A prerrogativa da solução da problemática da fome é um dos principais pontos utilizados 

na construção dessa imagem supervalorizada dos setores ligados ao agro. Os subterfúgios 

utilizados para a supervalorização do movimento “Sou Agro” é o de reconhecimento do agro 

em todas as esferas da vida do cidadão: de forma universalizada estariam todos submetidos e 

dependentes desse setor imprescindível para a sobrevivência de todos (BRUNO, 2012). 

Tudo é agro. Não existe nenhum cidadão que não tenha uma ligação com o agronegócio, 

que começa com o lençol da cama em que se dorme, os alimentos, o combustível que 

faz o veículo se movimentar. 4 

Segundo Girardi (2010), neste contexto de expansão e hegemonia do agronegócio um 

dos grandes problemas do campo é a violência, não somente a violência direta contra 

camponeses e movimentos sociais, ou a violência passiva (ocorre quando o Estado fecha os 

olhos para os atos diretos de violência), bem como a violência indireta exercida por fazendeiros, 

empresários e governos na promoção de lobbying, a atuação direta desses mesmos empresários 

e fazendeiros como deputados e senadores, com o fim de garantir o bem estar de suas 

propriedades, a criminalização dos movimentos sociais e assim impedir o acesso à terra. 

Na contrapartida do processo de valorização do agro o que se ressalta é o uso desses 

artifícios de marketing em benefício de interesses patronais que justifiquem a degradação da 

fauna e flora, a omissão em relação à violência no campo, a concentração fundiária e o acúmulo 

continuado e acelerado de capital, que contradizem todo o discurso defendido em suas 

mobilizações teoricamente preservacionistas e de melhora da qualidade de vida geral. 

3www.agro.basf.com.br (Acessado por Regina Bruno em 31/8/2012) 

4www.jvagro.fgv.br/en/node/176 (Acessado por Regina Bruno em 31/8/2012). 

VIII Simpósio Internacional de Geografia Agrária e IX Simpósio Nacional de Geografia Agrária 

GT V – Políticas públicas e perspectiva de desenvolvimento para o campo 

ISSN: 1980-4555 

3. Financiamento 

Além do lobbying promovido diretamente dentro das esferas do estado no fomento do 

agronegócio, o sistema financeiro figura entre um de seus impulsionadores mais ferrenhos. 

Tanto bancos públicos, como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, quanto privados, 

entre eles o Itaú-Unibanco ou Santander, a maioria deles têm pelo menos uma linha de crédito 

rural ou funcionam como agentes de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento 

Econômico e Social (BNDES), uma vez que este em sua maioria disponibiliza crédito 

indiretamente. 

Uma característica marcante das operações de financiamento do BNDES ao setor 

primário é o predomínio das operações indiretas, ou seja, dos repasses através da rede 

de agentes financeiros credenciados. Em 1999, 93% dos desembolsos (em valor) foram 

indiretos, o que significa dizer que a interferência direta do BNDES no fluxo de 

financiamentos para o setor é muito pequena, ou, de outra maneira, que a alocação 

obedece a critérios de mercado, pois a seleção é realizada pelos bancos comerciais 

repassadores de recursos (FILHO et al, 2000). 

O crédito rural é fundamental na expansão da produção agrícola, pois dá condições de 

aquisição e renovação de maquinário, compra de insumos, internacionalização de empresas 

nacionais, ampliação de propriedades agrícolas, cooperativas, agroindústrias, contratação de 

mão de obra, construção e reforma de infraestrutura necessária para escoamento de produção. 

Nesse sentido, o BNDES é fundamental na expansão agrícola brasileira, principalmente 

nas últimas décadas. Desde a sua criação o Banco tem como missão o avanço das atividades 

industriais através do financiamento de parques industriais, infraestrutura e fontes de energia, 

no sentido de substituir as importações e diminuir a participação da agropecuária no PIB. Mas 

na década de 1980 o governo brasileiro passou a transferir a função de financiador do campo 

das mãos de outros bancos para o BNDES, e nas décadas de 1990 e 2000 houve um processo 

de expansão do crédito rural oferecido, lhe conferindo cada vez mais o dever de financiar o 

crescimento do agronegócio. (FILHO et al, 2012). 

Em 2013, o BNDES desembolsou R$ 26,5 bilhões para a agroindústria (BNDES, 2014). 

É preciso desmembrar esse montante para entender melhor a que setores está sendo destinado 

esse dinheiro. De acordo com dados fornecidos pelo banco no informe setorial de junho de 2014 

e demostrados na tabela 1 que foi retirada do informe, afere-se que: produção de soja, desde do 

VIII Simpósio Internacional de Geografia Agrária e IX Simpósio Nacional de Geografia Agrária 

GT V – Políticas públicas e perspectiva de desenvolvimento para o campo 

ISSN: 1980-4555 

cultivo até os produtos finais, receberam a maior parte dos valores do BNDES para a 

agroindústria em 2013, cerca de 44,0% ou R$ 11,7 bilhões; cana-de-açúcar R$ 4,1 bilhões; a 

cadeia de carnes em todos os seus processos recebeu 12,8% dos desembolsos e recebeu o valor 

de R$ 3,4 bilhões; a cadeia de bebidas recebeu R$ 815 milhões; a cadeia do leite atingiu o valor 

de R$ 1,24 bilhão em 2013. Outras cadeias produtivas receberam o valor de R$ 5,2 bilhões, 

destaque para as cadeias de café, com valor de R$ 797 milhões, e fruticultura, com valor de R$ 

584 milhões (BNDES, 2014) 

Somando os valores destinados à produção de commodities (grãos, produtos 

sucroalcooleiros e carnes) chegamos a quase 20 bilhões de reais, em comparação com esse 

montante expressivo, o valor destinado através do BNDES, no mesmo ano, ao Programa 

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) foi “de R$ 1,68 bilhão, 

distribuídos em um total de 60.622 operações. Nesse programa, foram alocados 6,3% do total 

dos desembolsos e 29,9% de todas as operações realizadas pelo BNDES para a agropecuária 

em 2013” (BNDES, 2014). 

Outra faceta importante do BNDES a ser analisada é de ser agente do Estado brasileiro 

no incentivo a internacionalização de empresas nacionais. O artigo “O BNDES e o Apoio à 

Internacionalização das Empresas Brasileiras: Algumas Reflexões” de Alem e Cavalcanti 

(2005) mostra a importância de: 

VIII Simpósio Internacional de Geografia Agrária e IX Simpósio Nacional de Geografia Agrária 

GT V – Políticas públicas e perspectiva de desenvolvimento para o campo 

ISSN: 1980-4555 

Orientar a criação de uma linha capaz de estimular a inserção e o fortalecimento 

de empresas brasileiras no mercado internacional, pelo apoio à implantação de 

investimentos ou projetos a serem realizados no exterior, promovendo o 

incremento das exportações brasileiras (ALEM E CAVALCANTI, 2005) 

Operações de fusão, aquisição, venda de divisões entre outras servem para ampliar o 

poder e influência dessas empresas e a participação delas na mesa das pessoas. Exemplificando 

esse poder mostra-se que em países desenvolvidos 80% das operações de distribuição de 

alimentos está nas mãos dessas grandes corporações (CABEZA, 2010). 

Um dos exemplos mais recentes de incentivo para a internacionalização é o da criação 

da BRFoods, empresa que surgiu da união entre Sadia e Perdigão em 2009, momento em que a 

Sadia sofria problemas financeiros pela primeira vez desde sua fundação, por esse motivo “o 

governo neste momento interviu, através do BNDES, e manifestou interesse em ajudar a unir 

Perdigão e Sadia em uma única empresa” (BROERING, 2012). 

4. Alimentação 

A partir das informações analisadas anteriormente surge a necessidade de entender a 

produção de alimentos e a fome, assim a questão da resolução da problemática da fome é 

complexa de ser analisada. Há uma mistificação sobre quem alimenta a população, muito se 

credita a cadeia industrial de alimentos, por seus números exorbitantes de lucros e seu amplo 

desenvolvimento tecnológico, no entanto percebe-se a discrepância dos fatos quando 

analisada essa questão de forma mais profunda.   

Por mais que a centralidade da produção de valor agregado possa parecer auto evidente, 

essa característica claramente distingue a agricultura camponesa dos outros tipos de 

agricultura. Embora o modo empresarial também se oriente para a produção de valor 

agregado, o seu progresso é construído essencialmente pelo aumento de escala da 

produção, o que muitas vezes é viabilizado pela aquisição de outras unidades produtivas 

(frequentemente as pequenas). Dessa forma, a apropriação das oportunidades de 

produzir valor agregado também faz parte da sua estratégia. A agricultura capitalista 

centra-se na produção de lucros, mesmo que isso implique a redução do valor agregado 

total. (PLOEG, 2009). 

Tentando buscar uma resposta, o ETC Group publicou “Con el caos climático, quién 

nos alimentará: ¿La cadena industrial de producción de alimentos o la red campesina?” 

VIII Simpósio Internacional de Geografia Agrária e IX Simpósio Nacional de Geografia Agrária 

GT V – Políticas públicas e perspectiva de desenvolvimento para o campo 

ISSN: 1980-4555 

(2013) obteve diversos dados em sua pesquisa, segundo eles, hoje cerca de 30% dos alimentos 

são cultivados pela cadeia industrial, que utiliza-se de 70 à 80% da área cultivável do mundo, 

enquanto a rede campesina provê 70% da comida que vai à mesa das pessoas em todo mundo 

utilizando de 20 à 30 por cento da terra cultivável. Estima-se que o monocultivo industrial é 

muito mais prejudicial à saúde humana se comparado a agricultura campesina, que na 

“contramão” do processo industrial é baseada no capital ecológico. Dentre tantos fatores 

desfavoráveis, é a agricultura camponesa que promove resistência de todo processo 

agroindustrial. 

A resistência não é mais uma forma de reação, mas sim de produção e ação [...]. 

Resistência não é mais aquela dos trabalhadores da fábrica; é uma resistência 

completamente nova baseada na inventividade [...] e na cooperação autônoma 

entre sujeitos produtores [e consumidores]. É a capacidade de desenvolver 

novas potencialidades constitutivas que vão além das formas prevalecentes de 

dominação (NEGRI, 2006 apud PLOEG, 2009)  

O camponês tem sua vida marcada pela luta diária contra o sistema imposto, sua relação 

com o meio em que vive é por si só determinado pela escapatória com soluções ambientais 

simples que os desviam dos diversos contratempos implantados pelo agronegócio.  

A agricultura camponesa não atinge parâmetros para que se possa equiparar em fatores 

numéricos a superioridade produtiva em relação ao agronegócio, tendo em vista que os 

camponeses não tem o mesmo espaço físico e tampouco o poderio econômico equivalente para 

a comparação, mas podemos analisar por outro viés.  

A agricultura camponesa tem por características a diversidade na produção agrícola, a 

intensa relação do ser com o meio ambiente, o desmatamento dos biomas não é característico 

desse tipo de agricultura, esses fatos nos elucidam o quanto o meio ambiente estaria preservado 

garantindo ao homem qualidade de vida e diminuição dos desastres naturais.  

O envolvimento às práticas agroecológicas também assegura a soberania em relação à 

propriedade da terra, promovendo a fixação das pessoas à terra, entre elas as comunidades 

tradicionais e indígenas, que minimizaria de forma exponencial o êxodo rural.  

Felizmente, milhares de pequenas explorações tradicionais ainda existem na 

maior parte das paisagens rurais do terceiro mundo. A produtividade e 

sustentabilidade de tais agro ecossistemas podem ser otimizadas com métodos 

agroecológicos e, desta maneira, podem formar a base da soberania alimentar, 

definida como o direito da cada nação ou região a manter e desenvolver sua 

VIII Simpósio Internacional de Geografia Agrária e IX Simpósio Nacional de Geografia Agrária 

GT V – Políticas públicas e perspectiva de desenvolvimento para o campo 

ISSN: 1980-4555 

capacidade de produzir colheitas de alimentos básicos com a diversidade de 

cultivos correspondente. O conceito emergente de soberania alimentar enfatiza 

o acesso dos agricultores à terra, às sementes e à água, enfocando a autonomia 

local, os mercados locais, os ciclos locais de consumo e de produção local, a 

soberania energética e tecnológica e as redes de agricultor a agricultor 

(ALTIERI, 2010) 

Os “resistentes” também utilizam de mecanismos para garantir a variedade de 

alimentos, desenvolvendo técnicas de produção que se mostram eficientes independente da 

época do ano, alternando os cultivos estabelecendo maior tempo de utilização dos solos, 

garantindo a preservação da diversidade grãos e sementes para gerações futuras, além de 

desenvolverem e melhorarem diversos tipos de sementes nativas.  

A luta por autonomia, resultante dessa condição, tem como objetivo e 

materializa-se na criação e no desenvolvimento de uma base de recursos 

autogerida, envolvendo tanto recursos sociais como naturais (conhecimento, 

redes, força de trabalho, terra, gado, canais de irrigação, terraços, esterco, 

cultivos, etc.). A terra constitui pilar central dessa base de recursos, não só do 

ponto de vista material, mas também simbólico. Ela representa o suporte para 

atingir um certo nível de independência. Ela é, assim como foi, o porto seguro 

a partir do qual o mundo hostil deve ser encarado e confrontado. Daí vem a 

centralidade da terra em muitas das lutas camponesas do passado e do presente 

(PLOEG, 2009). 

Considerações Finais 

O modo empresarial utiliza-se das agroestratégias como lobby, bancada ruralista e o 

discurso do aumento da produtividade, do desenvolvimento das tecnologias para justificar sua 

atuação, o contexto que observa-se para alcançar esse fim é obscuro, a estimulação de 

monoculturas por exemplo, desencadeia uma série de problemas ambientais como a diminuição 

da biodiversidade e a deterioração dos solos, o já citado favorecimento de interesses de 

empresas que beneficiam o fomento de grandes latifúndios e resultam num controle de mercado 

e acabam por aniquilar as possibilidades de competição mercantil de agricultores camponeses, 

além de estimular o desmatamento das florestas e assim promovendo a diminuição do bioma 

para favorecimento da expansão pecuária.  

Miguel A. Altieri, 2010, em seu Artigo intitulado: Agroecologia, agricultura camponesa 

e soberania alimentar, identifica vários pontos positivos na produção camponesa, entre eles: 

VIII Simpósio Internacional de Geografia Agrária e IX Simpósio Nacional de Geografia Agrária 

GT V – Políticas públicas e perspectiva de desenvolvimento para o campo 

ISSN: 1980-4555 

áreas de produção camponesa que se mostram mais produtivas por hectare plantado quando 

comparadas com as grandes propriedades rurais. 

Com isso então podemos concluir que o processo produtivo da agricultura camponesa, 

recebendo os incentivos econômicos e sociopolíticos devidos e tendo sua importância 

valorizada, minimiza uma série de problemas sociais, como a fome, e ambientais que são 

acarretados no atual modelo da agricultura convencional. 

Referências Bibliográficas 

ALEM, A. C.; Cavalcanti, C. E. O BNDES e o Apoio à Internacionalização das Empresas 

Brasileiras: Algumas Reflexões. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, v. 12, n. 24. dez. 2005. 

ALMEIDA,

 Alfredo 

Wagner

 Berno

 de.

 AGROESTRATÉGIAS

 E 

DESTERRITORIALIZAÇÃO: DIREITOS TERRITORIAIS E ÉTNICOS NA MIRA DOS 

ESTRATEGISTAS DOS AGRONEGÓCIOS. In: ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de et 

al. Capitalismo globalizado e recursos territoriais. Rio de Janeiro: Lamparina, 2010. 

ALTIERI, Miguel A. Agroecologia, agricultura camponesa e soberania alimentar. Revista 

NERA. Presidente Prudente: Unesp, 2010. 

BEL FILHO, Egmar del et al. Apoio do BNDES à agroindústria: retrospectiva e visão de 

futuro. 2012. Disponível

 em: 

<http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhe

 cimento/livro60anos_perspectivas_setoriais/Setorial60anos_VOL2Agroindustria.pdf>. 

Acesso em: 10 mar. 2015.  

BERGAMO, Mônica. Não existe latifúndio no Brasil, diz nova ministra da Agricultura. 2015. 

Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/01/1570557-nao-existe-mais

latifundio-no-brasil-diz-nova-ministra-da-agricultura.shtml>. Acesso em: 15 mar. 2015.  

BNDES (Brasil). Informe Setorial: O BNDES e a agroindústria em 2013. 2014. Disponível 

em: 

<http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhe

 cimento/setorial/Informe_2014_01.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2015.  

BROERING, Laurent Wiliam. O PAPEL DOS RECURSOS POLÍTICOS NO PROCESSO 

DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS: Estudo de caso da Brasil Foods. São 

Paulo, 2012. Disponível 

em:<http://gvpesquisa.fgv.br/sites/gvpesquisa.fgv.br/files/publicacoes/caso_brasil_foods_

_versao_final_final_finalx.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2015. 

VIII Simpósio Internacional de Geografia Agrária e IX Simpósio Nacional de Geografia Agrária 

GT V – Políticas públicas e perspectiva de desenvolvimento para o campo 

ISSN: 1980-4555 

BRUNO, Regina Angela Landim. MOVIMENTO SOU AGRO: marketing, habitus e 

estratégias de poder do agronegócio. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS, 36., 2012, 

Forataleza. Anais. Águas de Lindoia: Anpocs, 2012. p. 1 - 29. 

CABEZA, Manuel Delgado. EL SISTEMA AGROALIMENTARIO GLOBALIZADO: 

IMPERIOS ALIMENTARIOS Y DEGRADACIÓN SOCIAL Y ECOLOGICA. Economía 

Crítica,Sevilla, v. 10, p.32-61, 2010. 

COSTA, Sandra Helena Gonçalves. A questão agrária no Brasil e a bancada ruralista no 

congresso nacional. 2012. 325 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Geografia, Departamento 

de Geografia, Universade de São Paulo, São Paulo, 2012. Disponível em: 

<http://www.mstemdados.org/sites/default/files/2012_SandraHelenaGoncalvesCosta_VCorr.p

 df>. Acesso em: 25 abr. 2015.  

 o

 ETC GROUP. Con el caos climático, quién nos alimentará:: ¿La cadena industrial de producción de 

alimentos

 la red

 campesina?. 

2013.

 <http://www.etcgroup.org/sites/www.etcgroup.org/files/WhoWillFeedUs 

SPANISH-Sep 20.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2015. 

 Disponível

 Annotated

 em: 

 Version

FARHAT, Said. Lobby: O que é. Como se faz. Ética e transparência na representação junto a 

governos. São Paulo: Ed. Peirópolis, 2007. 

FAVERET FILHO, Paulo; LIMA, Eriksom Teixeira; PAULA, Sergio Roberto Lima de. O 

PAPEL DO BNDES NO FINANCIAMENTO AO INVESTIMENTO 

AGROPECUÁRIO. Disponível

 em: 

<http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhe

 cimento/bnset/set1204.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2015. 

FERNANDES, Alana Miguel Serafini. O PRONAF na agricultura: sua criação, 

distribuição e principais resultados. 2013. 57 f. TCC (Graduação) - Curso de Ciências 

Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013. Disponível em: 

<http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/79225/000900902.pdf?sequence=1>. 

Acesso em: 25 abr. 2015.  

FRENTE PARLAMENTAR AGROPECUARIA (Brasil). História da FPA. Disponível em: 

<http://fpagropecuaria.org.br/fpa>. Acesso em: 09 jun. 2015. 

VIII Simpósio Internacional de Geografia Agrária e IX Simpósio Nacional de Geografia Agrária 

GT V – Políticas públicas e perspectiva de desenvolvimento para o campo 

ISSN: 1980-4555 

PLOEG, J. D. V. Sete Teses Sobre a Agricultura Camponesa. In: Agricultura Familiar 

Camponesa na Construção do Futuro. PETERSON, P. (org) Rio de Janeiro: AS-PTA, 2009, p. 

17-32. 

REPORTER BRASIL. A ilusão da escolha nos supermercados brasileiros. 2015. Disponível 

em: <https://ninja.oximity.com/article/A-ilusão-da-escolha-nos-supermerc-1>. Acesso em: 21 

abr. 2015. 

SABOURIN, Eric. RECIPROCIDADE E ANÁLISE DE POLITICA. O artigo do autor João Guilherme Jansen de Araujo

A palavra lobby tem significados diferentes dependendo do contexto, mas os mais comuns se referem a um espaço físico em um prédio ou à atividade de influência política. 

Na política e relações governamentais

O que é: A prática de influenciar decisões de autoridades públicas (Executivo, Legislativo ou Judiciário) para defender os interesses de um grupo específico. É exercida por empresas, entidades, associações, ONGs ou cidadãos organizados.

O lobista: É o profissional que atua nessa área, fazendo a ponte entre grupos de interesse e o poder público. Seu trabalho envolve análise técnica de propostas, estratégia de ação, busca por aliados e convencimento dos tomadores de decisão.

Lobby e corrupção: Embora a palavra seja muitas vezes associada a práticas ilícitas, o lobby ético e transparente não é crime e é considerado uma ferramenta legítima de participação democrática em muitos países. A ilegalidade acontece quando há suborno ou tráfico de influência.

Lobby no Brasil: A atividade não é regulamentada por uma lei específica, o que gera insegurança jurídica e contribui para o estigma negativo. Projetos de lei estão em tramitação no Congresso para tornar a prática mais transparente. 

O Lobby  do Agro é forte no Congresso Nacional.

Confira a reportagem no UOL                              .https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2025/10/22/lobby-do-agro-esta-por-tras-de-89-emendas-na-reforma-tributaria.htm

 

E assim caminha a  humanidade.

Imagens ; Portal UOL. 




 



Nenhum comentário:

Postar um comentário